Único
Lílian sorriu.
-Eu te perdôo, Sev.
Acordei, e teria dado um salto se não me sentisse estranhamente paralisado.
-Severo?-uma voz distante me chamou.-Olá, Severo!
-Dumbledore?-Pisquei com força e fiz menção de se levantar.
O ex-diretor me impediu.
-Eu morri?-foi a única coisa lógica que pude perguntar.
-Não, não morreu.-o homem sorriu.
-Mas como...-ouvi um barulho e voltei me para ele. Senti um aperto no coração.
Lílian Potter ajudava o marido a se levantar da cama, ambos parecendo um tanto tontos. De relance, vi o gêmeo Weasley morto durante a batalha e Lupin e Tonks que eu sabia terem morrido também. Dessa vez Alvo não me impediu de me levantar, embora o máximo que consegui foi me sentar, pois minha cabeça rodava.
-A vida é um tanto misteriosa, Severo.-foi tudo que Dumbledore respondeu. Não precisei de muito para perceber que ele ainda estava esperando outra tentaiva de eu me levantar. O que até mesmo eu, tinha que admitir ser impossível no momento. Eu não sabia o que dizer ou fazer, então continuei a observá-la. A razão de estar ali, ao lado de Dumbledore.
-Você me salvou?-perguntei de canto de boca.
-Sim.-respondeu ele sério.
-Por quê? Eu não merecia isso.
-Se não fosse por você Harry jamais teria chegado até aqui. Você errou e se arrependeu Severo, todos nós erramos. E não permito que se culpe por mais um minuto. Lílian está viva, mas não esqueça a lição que ela te passou.
-Não irei.-prometi sinceramente.
A verdade é que perdê-la me mostrara o quanto era ruim o caminho que segui, e saber que agora ela voltara... só me fazia querer mostrar que mudei. Que mudei de verdade.
-Lilían!-chamou Alvo.
Fiquei apreensivo com o que o professor ia dizer. O conhecia bem demais para saber que não seria nada de bom. A mulher aproximou-se com as sombrancelhas erguidas.
-Sim?-sua voz era doce do modo como eu lembrava, os olhos verdes transpirando bondade.
-Como estão todos?
-Estão bem, prontos para sair daqui.
-Tenha calma.-pediu Alvo.-Não queremos matá-los de susto. Além disso, Severo deve ir primeiro.
-Eu?-ergui as combrancelhas.
Droga!
Não queria voltar a cuidar de Potter tão cedo, era óbvio que se tratava do garoto.
-Harry confia em você. Você o ajudou a derrotar Voldemort e as pessoas sabem disso. Além do mais sua volta não será uma surpresa tão grande quanto a nossa.
-Um momento...-Black interrompeu.-O seboso morreu?-ele sorriu pra mim.
Me controlei para não fazer uma besteira.
-Sirius...-avisou Dumbledore e então voltou-se para mim, me encarando com severidade.-Descanse Severo, depois decidimos o que fazemos.
Pensei em replicar, mas simplesmente deixei meu corpo amolecer e me entreguei ao sono.
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-Boa Sorte, Severo!-Dumbledore desejou a mim. Não respondi. Julguei imprudente contar a ele que tudo aquilo soava tão impossível que ninguém acreditaria.-Não seja tão pessimista!
Dei de ombros e sai da sala em que ficamos por pelo menos dois dias. Eu não sabia se encontraria Potter e os amigos, não sabia se alguém estaria em Hogwarts e muito menos se acreditariam em mim.
-Potter!-chamei me aproximando a passos longos e pesados. Foi divertido ver a cara de espanto do garoto quando este me olhou de cima à baixo.
-Snape!?-além de Potter, seus dois preciosos amigos, Weasley e Granger, pareciam acreditar ver um fantasma à sua frente.
-O diretor pede sua presença.-falei e segui para o corredor do sétimo andar, sentido o trio me seguir. Usando legilemência, vi que nenhum deles estava entendo a situação (o que era óbvio), mas também vi que todos sabiam sobre as lembranças que eu confidenciara à Potter.
-Professor...você é um, digamos, fantasma?-Granger perguntou.
Fingi não ouvir e continuei meu caminho. A porta da sala precisa se materializou, abri-a e entrei.
-Feche a porta Weasley!-ordenei.
Os três se imobilizaram, disfarçadamente um sorriso desdenhoso surgiu em meus labios.
-Mas que m...?-era típico de Weasley esse vocabulário tão sujo. O diretor não deixou-o terminar.
-Tenho certeza de que todos vamos nos acostumar a esse ideia.-ele sorriu com seu nariz torto e óculos de meia lua.-Severo, por favor sente-se.-obedeci automaticamente sem questionar.-Temia que pudesse desmaiar.-acrescentou ele.
Pensei confuso no que é que ele estava se referindo. Meus olhos encararam meu reflexo no espelho e tentei não me assustar, ou pelo menos não demostrar isso. Eu estava terrivelmente branco, parecendo de fato um fantasma.
-Devemos consultar Madame Ponfrey assim que sairmos daqui.-foi o que Lílian disse, e eu quase sorri, apesar de eu saber que ela só falara por educação.
-Assim que acabarmos as explicações, querida.-ele procurou meu olhar para ajudá-lo, mas eu ignorei o gesto completamente, deixando que ele próprio se explicasse.
A conversa foi chata e entediante. Houveram abraços e saudações, mas a mim não dirigiram uma única palavra.
-Ala hospitalar, então.-preferi não dizer nada, apenas encarei-o.-Sem discussão, Severo.
Não insisti. Era uma ordem e eu não podia desacatá-lo, apesar de tudo.
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Sentia aqueles olhos verdes me queimando, ela soubera de tudo que acontecera. Ou quase. O café da manhã do dia seguinte trouxera várias notícias boas consigo ou para quem as recebera, o que não era meu caso. Suspirei e fechei os olhos, sentindo uma leve tonteira que se tornara habitual. Agora outro par de olhos verdes se voltava em minha direção, esses um tanto preocupados.
-Professor?-o queridinho de Dumbledore, Harry Potter chamou.
Fingi não ouvir. Não queria saber o que ia me dizer. Não me importava sua preocupação. O garoto desistiu.
-Tem uma parte da história que você ainda não souberam...
Congelei. Sentia a curiosidade ao meu redor. Potter não podia fazer isso... simplesmente não podia. Entretando, para a minha surpresa, ele apenas explicou que eu havia me arrependido do que fizera e ajudara Dumbledore como agente duplo.
-E a morte de Dumbledore?-Lupin me encarou.
-Um plano.-Alvo respondeu sorrindo.-Severo mudou de lado antes que Voldemort caisse, Tiago.-acrescentou para o maldito Potter que duvidava de mim mais do que era arrogante.
-Provas?-Potter pai perguntou.
-Se Dumbledore confia nele, eu também confio.-Harry respondeu.
Houve uma certa concordância na mesa. Eu poderia sorrir, se não odiasse tanto aquelas pessoas. Ou talvez não odiasse, na verdade eu só tinha olhos para Lílian.
-Apesar de confiar no julgamento de Dumbledore, não me sinto segura em relação a isso.-Lílian falou e senti o coração pesar.
-Desculpe dizer, mas... acho que Lílan tem razão.-Minerva se meteu na conversa.-E nenhum de nós irá confiar em Severo sem saber o motivo...
-Então não irão confiar.-interrompi sem expressão.
O pânico me invadia por dentro, eu mal conseguiria respirar.
-Ora Severo...
-Você prometeu Dumbledore. Nenhuma palavra.-avisei de forma ameaçadora.
Senti a desconfiança e a curiosidade crescer entre as pessoas em volta da mesa. O diretor suspirou.
-Mas eu não prometi nada.-Harry falou com cautela.
-É mesmo, Potter?-o garoto parou e lembrou-se do quinto ano, aonde havia prometido não contar nada e a ninguém sobre a lembrança que vira na penseira durante uma das aulas de oclumência.
-Defitinivamente eu e Rony não juramos nada.-afirmou Granger.
Fuzilei-a com o olhar, mas ela não pareceu notar.
-Deseja uma bebida, Severo?-Dumbledore parecia se divertir com meu pânico, agora um tanto visível no meu comportamento.
“Não, apenas sua cabeça na minha parede, Alvo” pensei. O diretor riu.
-Eu bem que mereço.
Desviei o olhar. Todos estavam muito curiosos com o ocorrido. Nós não demos explicações. Eu gostava de deixar as coisas do jeito que estavam, há muito me acostumei a não ter nada a perder. E Alvo... bem, Alvo era Alvo, adorava deixar as pessoas no escuro.
-Bom, o professor Snape...
-GRANGER!-avisei.
-...ele nunca quis...
-WEASLEY!
-...te...
-Chega.-sibilei baixinho segurando a varinha com força dentro das vestes. Dumbledore concordou seriamente.
-Acho que já o incomodamos o suficiente. Quando ele achar próprio, irá contar. E Severo, sente-se antes que desmaie.
Obedeci carrancudo. Ninguém falou mais nada.
-Monstro!-O desagradável elfo doméstico aparatou a frente do garoto-celebridade.
-O mestre me chamou?-o elfo fez uma reverência exagerada.
-MONSTRO!-esbravejou Black.
-Sirius!-ralhou Granger.
-Sim. Você o encontrou?-Potter os ignorou.
-Claro meu senhor. Foi um pouco difícil devo dizer, mas Monstro se esforçou muito.-o elfo estendeu para o garoto um livro antigo que reconheci imediatamente.
-Professor.-o garoto estendeu o livro. Hesitei antes de pegá-lo.-Obrigado... ajudou muito.
Não comentei nada. Me concentrei naqueles olhos verdes e tentei encontrar um motivo para o gesto. Nada, mas não seria por bondade. Era um Potter afinal...
Novamente o silêncio se fez e alguns minutos mais tarde eu me encontrei sentado embaixo de uma grande árvore a beira do lago.
-Quero conversar com você, Snape.-Lílian murmurou de um lugar a cima de minha cabeça.
-Sobre?-a fitei surpreso.
Se não fosse Lílian, eu teria facilmente abusado de legilemência.
-Harry. Ele me disse para conversar com você. Não sei por quê.-seu tom era sério.
Só viera por causa do filho.
Suspirei pesadamente e indiquei que se sentasse. Ela não pareceu gostar da idéia.
-Eu nem sei por onde começar.
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-Todo esse tempo?-Lílian me encarava chocada.
-Eu tentei te dizer, mas naquele dia...-segurei uma lágrima.-Eu realmente não quis, não quis mesmo, Evans.
-Potter.-corrigiu me ela.
Assenti.
-Mas Dumbledore... ele sabe?
-É o motivo para confiar em mim.-confidenciei.-É o que seu filho, Weasley e Granger tentaram dizer.
-Ameaçaram.-corrigiu me Lílian novamente. Percebi que ela mordia o lábio, nervosa.-Você devia ter dito antes...
-E você teria acreditado?
-Não. Nem mesmo agora, na verdade... isso parece tão impossivel. Sério, Sev.-nem pensei em disfarçar meu agrado por ela me chamar daquele jeito.-Digo, Severo.
-Lílian...-ela me encarou, esperando mais. Engoli em seco.-Eu sei o que fiz e sei que não tem mais volta. Mesmo assim... me perdoa?-demorei para conseguir pedi-lo, mas não obtive resposta.
-Por?-ela fingiu não saber.
-Por tudo. Por ter sido um idiota desde que entramos em Hogwarts, por ter me envolvido com as artes das trevas, por aquele dia no lago...-agora eu definitivamente não pude deixar de escapar uma lágrima.
-Eu não sei...
-Então pense.-implorei suavemente.-Não quero uma resposta agora, apressada.-ela concordou.
Ficamos em silêncio por um bom tempo, apenas observando a lula gigante no lago.
THE END
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