Um convidado inesperado

 

Estávamos os dois sozinhos na sala, sentados no sofá. As chamas crepitavam silenciosamente na lareira. Nossos pais e avós haviam saído de casa cedo naquele dia, dizendo que iriam à um compromisso familiar. Eu e Scorpius estávamos sozinhos na mansão, e o colega que Scorpius irira trazer para passar o Natal conosco estava prestes a chegar.
"Você vai ou não me contar quem é?", perguntei pelo que me parecia a milésima vez, quase sem paciência. Scorpius parecia divertir-se com a situação, então se recusava terminantemente a dizer quem era a pessoa que teria o prazer da nossa ilustre companhia durante cinco semanas.
"Não conto, porque senão vai estragar a surpresa", ele repetia. Quem liga para surpresas, afinal? Eu odeio surpresas.
"Então me dê uma dica", supliquei.
"Não", ele respondeu divertido. Maldito irmão.
"Por que não?"
"Porque assim você iria descobrir!", eu soltei um riso abafado.
"Essa é a finalidade da dica, cérebro!" bufei e revirei os olhos. Pensei por um tempo. "E se eu não gostar da pessoa que você convidou?", argumentei.
"Você não gosta", ele afirmou.
"Ha! Isso foi uma dica!". Foi a vez de ele rir e revirar os olhos. Maldita mania dos Malfoy de revirar os olhos. Não sei como eles ainda não saltaram do nosso rosto.
"E depois dessa dica você conseguiu descobrir quem é a pessoa?", ele disse levantando uma sombrançelha, mania que ele pegou do meu pai.
Suspirei. Respondi um "não" voltando a me escorar no sofá e fechando os olhos. Ele soltou uma gargalhada gostosa, e eu me juntei a ele. Ficamos assim, rindo abertamente um do lado do outro, até que as batidas na porta ecoaram no andar de baixo.
O convidado havia chegado.
Nos entreolhamos, e ele sorriu maléficamente. Quando eu fiz menção de me levantar, ele me empurrou denovo no sofá, e saiu em disparada para a porta de entrada. Eu gritei "Ei!", e comecei a correr atrás dele, rindo. Como eu era tão rápida como Scorpius, alcancei-o antes de chegar na porta da frente da mansão.
"Quer abrir?", perguntei arfando, me apoiando com as mãos no joelho.
"Faça as honras". Ele apontou o braço gentilmente para a porta, e eu inclinei a mão para a maçaneta.
Mas quando eu abri, não fiquei exatamete contente com a figura que se encontrava ali parada.
"Olá", ele exclamou abrindo um enorme sorriso. Eu continuei estabilizada no chão, sem nem piscar. O que Albus Severus estava fazendo na minha casa? Não, Scorpius não podia ter convidado ele para dormir sobre o mesmo teto que nós. Papai ia ter um surto. Será que ele já sabia sobre isso? Scorpius não iria trazer o filho do maior inimigo do papai para dormir aqui em casa...ou iria? Ajeitei minha roupa e fiquei seria.
Eu não conseguia dizer nada, só fiquei ali parada encarando o convidado. Sabia que meu irmão era companheiro de dormitório de Potter, mas não imaginava que ele teria a audácia de convidá-lo.
O sorriso desapareceu imediatamente do rosto de Potter, e ele desviou a mão suspendida no ar para passar nos cabelos pretos e despenteados. Parecia nervoso.
Então... meu irmão havia convidado um Potter para passar as férias conosco? Será que papai já sabia disso? Continuei estática enquanto Potter passava por mim e cumprimentava Scorpius.
"Lyra, eu já conversei com papai. ", Scorpius disse como se tivesse lido meus pensamentos. "Você estava na biblioteca, e ele fez o maior escândalo. Mas mamãe o convenceu, por mais que ele ainda não aprecie a ideia". Eu concordei com a cabeça. Eu era, realmente, a única que não sabia. respirei fundo e me dirigi à Albus:
"Seja bem-vindo à mansão Malfoy, Potter. Meu quarto é absolutamente proibido, e assim também a parte denominada 'Lyra' da biblioteca. Não faça barulhos ou ruídos muito altos antes de 8h da manhã. Respeite todas essas regras e conviveremos bem". Sorri sínicamente e estiquei minha mão, que ele apertou satisfeito.
"Quer ajuda com sua... mala?", Scorpius perguntou olhando para a mochila escolar que ele carregava. Albus negou com a cabeça e segurou a mochila, com um esforço acima do normal. "Você trouxe só isso?", meu irmão perguntou, procurando em volta por uma mala inexistente.
"Está com um feitiço indetectável de extensão", Potter explicou colocando a mochila por sobre o ombro. Eu e Scorpius concordamos e começamos a andar, eu indo na frente. Os meninos cochichavam e riam a toda hora atrás de mim. Ao chegarmos no corredor do segundo andar que dava para meu quarto, me virei bruscamente para Albus e Scorpius, que pararam de cochichar.
"Escute, Potter. Desse corredor", apontei para o corredor atrás de mim, "em diante você não passa. Área restrita. Proibida. Ok?". Ele concordou com a cabeça, e os dois garotos voltaram a andar por um corredor à esquerda. Eu continuei andando, e fechei a porta do meu quarto depois de entrar.
Tirei meus sapatos e me joguei no meu sofá, contemplando meu quarto. Era o único quarto da casa -- depois da biblioteca -- que não era escuro e sombrio. À meu pedido, as paredes foram pintadas de branco. Todos os móveis de madeira eram claros, e o chão era forrado por um carpete rosa-bebê. Quase todos os quartos habitados da casa, como meu quarto, o quarto de Scorpius, o quarto de nossos pais e o dos nossos avôs, tinham lareira. A lareira do meu quarto era cercada por almofadas, puffs, e poltronas aconchegantes. A parede atrás da minha cama era uma imensa estante de livros -- trouxas e bruxos -- que eu colecionava. E logo ao lado da porta, havia um sofá rosa-claro gigante. O que eu me encontrava deitada nesse momento.
Fechei os olhos e suspirei. Nunca havia desejado tanto estar tendo um pesadelo.

 





N/A: Esse capítulo está um pouco pequeno em relação aos outros que eu já escrevi, mas eu juro que o próximo vai ser maior! =D Comentem, por favor. Não sabem como um comentário me deixa feliz.

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