Unico.



Hermione segurou com mais firmeza a mão de Rose. O Beco diagonal estava cheio, vesperá de volta as aulas era sempre a mesma confusão, a mesma gritaria. Um empurra-empurra sem fim. Deu uma ultima olhada para as sacolas, aparentemente tinha comprado tudo o que Rose precisaria para o seu primeiro ano em Hogwarts.


Não sabia, ao certo, quando reparara que ele estava ali, apenas alguns metros dela. Sentiu-se novamente aquela Hermione Granger, solteira, de 18 anos, cheia de sonhos e ideais. 


I heard that you're settled down


(Eu fiquei sabendo que voce se estabeleceu)


That you found a girl and you're married now


 (Que voce achou uma garota e que agora está casado)


 


Ele ainda não havia visto, parecia tão absurdamente entretido na loja de Quadribol. Seus olhos cinzas pareciam brilhar intensamente... mas naquele momento seu coração parou. E Hermione viu, Draco abaixar-se levemente, para falar com alguem ainda bem menor que ele. Seus joelhos fraquejaram por um instante, seu coração falhou. Como não havia reparado naquela pequena cópia, que parecia mover-se como o pai, agir como o pai.


E um nó formou-se na garganta de Hermione. Draco estava feliz, seus gestos pareciam tranquilos, comedidos como sempre foram, só que naquele momento, era natural, não parecia estar se controlando.


E ali estava, vindo na direção dele... e lá estava a prova que, assim como ela, Draco havia seguido em frente. A voz de Draco chegou limpida aos ouvidos de Hermione, como se jamais houvesse deixado de escuta-la por tão longo tempo.


- Achei que não fosse nos encontrar, querida. - disse Draco para uma mulher morena que havia acabado de aproximar-se.


- Não há como perder voces dois aqui no Beco... se voces não estão comigo,certamente estão aqui. - disse a mulher sorrindo e beijando a face do filho em seguida. - Está tudo comprado.


I heard that your dreams came true


(Eu fiquei sabendo que seus sonhos tornaram-se realidade)


Guess she gave you things, I didn't give to you


(Suponho que ela te deu coisas que eu não dei)


 


- Mãe? – Rose puxou a mão de Hermione, tentando chamar a atenção da mãe. – Mãe?


- Oi, Rose... – a voz de Hermione não passou de um simples sussurro, um simples eco.


- Voce está bem?


- Claro...


Era claro que ela não estava bem. Por que, depois de tantos anos, Merlim estava pregando aquela peça? Para que encontra-lo? Qual era a finalidade de ser obrigada a relembrar de uma época que infelizmente não iria voltar mais. Uma época em que...


Naquele instante, o mundo de Hermione parou. Congelou. O tempo simplesmente deixou de existir. Os olhos de Draco estavam fixos nela, estavam-na encarando, medindo-a, prestando atenção a cada detalhe.


E por breves instantes, os olhos dele perderam o foco, pareciam cheios de... magoa. Cheios de tristesa, decepção. Sua feição dura e séria era a resposta que Hermione precisava. Ele jamais havia esquecido... jamais havia esquecido dela e de seus supostos motivos... tolos.


Old friend


(Velho amigo)


Why are you so shy


(Por que voce está assustado?)


 


- Vamos embora, Astória. – a voz de Draco saiu grave.


- O que aconteceu, querido?


- Vamos embora.


E mais uma vez, Draco Malfoy dava sua ultima palavra, seu veredicto. Hermione sentiu sua filha puxar sua mão mais uma vez. Deveria, como sempre que o via, estar fazendo papel de ridícula. Jamais deveria ter ido ao Beco aquele dia, sabia das chances de encontra-lo... e seu coração sabia que, de alguma maneira iria vê-lo, e que, por mais que impedisse, todos os momentos voltariam ao seu consciente como um raio que parte uma arvore ao meio. Mais uma vez, saia machucada... machucada de um encontro do qual nenhuma palavra havia sido falada diretamente.


Infelizmente, Draco permanecia tão transparente para ela quanto a 12 anos atrás. Decifrava-o com uma facilidade... isso jamais aconteceu com Rony, e tinha a sensação que jamais aconteceria.


- Voce está chorando, mamãe? – perguntou Rose, em sua ingenuidade.


Um riso rouco escapou dos lábios de Hermione. Chorar não era exatamente a palavra, talvez não houvesse nenhum termo possível para reproduzir o que acontecia dentro dela naquele instante. Talvez, um dia, alguém pudesse colocar em palavras... mas infelizmente, aquele dia ainda não havia chego.


It ain't like you to hold back


(Voce não é de se segurar)


Or hide from the light


(Ou esconder-se da verdade)


Com passos vacilantes, Hermione seguiu seu caminho. Deveria encontrar o marido em alguns minutos na sorveteria, prometera, antes de sair de casa, comprar um sorvete para Rose e outro para Hugo. Aquele era para ser um dia divertido... era para ser.


- Mãe, onde estamos indo? – perguntou Rose puxando a mãe de Hermione mais uma vez.


- Para sorveteria, querida. – respondeu evasiva. – Lembra?


- Mas nós já passamos pela sorveteria.


Hermione piscou algumas vezes até perceber que havia passado, e muito, do local onde ficava a sorveteria. Pode ver, ao longe, Draco sumindo... sumindo aos poucos, talvez fosse para sempre... talvez.


- É verdade, mas voce não gostaria de comprar uma coruja para voce? – perguntou Hermione tentando concentrar-se em alguma outra coisa que não fosse Draco.


- Um bicho? Isso é sério, mãe? – os olhos azuis de Rose arregalaram-se de felicidade. – Eu quero um gato! – disse a menina empolgada. – Todo branco! Com os olhos cinzas...


- Nada de olhos cinzas. – a voz de Hermione soou rude, e ela arrependeu-se naquele mesmo instante. – Desculpe, querida... voce pode escolher o que voce quiser. A loja de bichos é ali na frente.


I hate to turn up out of the blue uninvited


(Eu odeio aparecer do nada, sem ser convidada)


But I couldn't stay away, I couldn't fight it


(Mas eu não pude me manter longe, eu não consegui lutar contra isso)


- Voces demoraram. – comentou Rony ao ver Hermione aproximar-se da sorveteria.


- Fomos comprar um gato. – disse Hermione forçando um sorriso. – Querido, preciso de um favor seu.


- Claro.


- Leve as crianças para casa, preciso comprar algumas coisas, alguns livros... e bem...


- Não precisa me explicar, pode ir tranqüila. Não se preocupe conosco. Terminando o sorvete vamos para casa.


- Por que voce não vai, mamãe? – perguntou Hugo, sentado no colo de Rony.


- Eu preciso comprar uns livros meu anjinho.


E naquele momento, depois de muitos anos, a pergunta que tanto atormentou Hermione voltou a pairar em sua mente: E se, naquele dia, ela houvesse tido coragem e fugido com Draco? Como seria sua vida agora? Será que aquele menino seria seu filho?


- Voce está bem, querida?


- Claro, Rony. – respondeu a castanha sorrindo. – Bem, acompanho vocês até a lareira, depois vou comprar os livros e mais algumas coisas.


O caminho até as lareiras haviam passado totalmente desapercebido. Seus pensamentos estavam longe, em algum lugar a muito tempo esquecido, ou melhor, a muito tempo enterrado. Em um canto que Hermione jurara esquecer... mas ela mesmo havia aprendido que, havia coisas que não se podia fugir... não se podia ignorar.


Deu um beijo em Rose, um beijo em Hugo e beijou Rony carinhosamente. Ah se ele soubesse o que ela estava escondendo dele a tantos anos... ah se ele descobrisse... passou as mãos pelo cabelo bem cuidado. Precisava caminhar, colocar seus pensamentos no lugar... precisava enterra-los mais uma vez, mas antes... antes deveria se permitir chorar de dor mais uma vez.


As ruas do Beco iam ficando cada vez mais vazias conforme mais adentro ela ia. Conhecia aquele lugar como a palma da mão... um aperto forte em seu braço e um puxão quase a fizeram cair.


I hoped you'd see my face and that you'd be reminded


( Eu tinha esperança de que voce me olhasse e lembrasse)


That for me, it isn't over


(Para mim, não acabou)


- O que voce está fazendo aqui, Granger?


Aquela voz não deveria estar ali, aquela voz não deveria estar tão perto dela. Aquela voz jamais deveria se dirigir a ela novamente. Havia um juramento mudo... um juramento que estava sendo quebrado naquele exato momento.


- Dra... Malfoy? – sua voz era apenas um sussurro, algo quase inaudivel. – E... eu...


Sem saber como ou quando, a boca de Draco Malfoy calou Hermione com um beijo cheio de saudade, amor, raiva, magoa, decepção... um misto de sentimentos que nenhum dos dois jamais iria conseguir colocar em palavras, jamais conseguiria contar para alguém.


Quanto tempo ficaram ali, naquele corredor mal iluminado, Hermione não soube dizer... Se alguem lhe parasse naquele momento, não saberia nem quem era, e nem como chegara ali. Estar com Draco era daquele jeito, era único... irá irreal.


- Isso não é certo... – murmurou Hermione muito tempo depois. – Isso...


- Não deveria ter acontecido? – perguntou com a voz grave.


- É...


Never mind, I'll find someone like you
(Não importa, eu encontrarei alguém como voce)


I wish nothing but the best for you, tôo


(Eu não desejo nada que não for o melhor para voce)


- Por que, Draco? – perguntou a castanha com os olhos fechados.


- Eu cansei de te esperar... – os olhos dele tinham um brilho triste. – Eu...


- Eu entendo. Não precisa falar... me perdoe. – uma lagrimas solitária rolou pela bochecha corada de Hermione.


 


Don't forget me, I beg, I remember you Said


(Não me esqueça, eu imploro. Eu lembro do que voce me disseJ


Sometimes it lasts in Love


(As vezes, o amor dura)


But sometimes it hurts instead


(Mas as vezes ele fere)


 


- Qual é o nosso caso, Draco?


- Caso? – perguntou o loiro com a testa franzida.


- Voce não se lembra? – perguntou ela em um sussurro. – Voce me disse, um dia, que nós poderíamos ter dois finais... que nossa história só poderia terminar em dois tipos de casos. 


- As vezes o amor dura, as vezes ele machuca... – repetiu Draco, de olhos fechados, perdendo-se em um passado por demais distante. – Somos os dois casos, Hermione.


- Eu me...


- Não, voce não deve se arrepender. – murmurou ele... no fundo, ele sabia sentir o mesmo que ela... exatamente o mesmo. – Nós não devemos nos arrepender, Hermione. No final das contas, a vida foi boa conosco...


- A vida foi boa. A única culpada sou eu... fiz as opções erradas.


- Nós somos os culpados. – disse ele acariciando os cabelos da castanha. – As escolhas não foram somente suas.


E daquela vez, Hermione o puxou ao seu encontro. Quantas vezes teria a oportunidade de te-lo daquela maneira para si? 12 longos anos... anos os quais que passaram desapercebidos. As coisas apenas foram acontecendo... e naquele momento, eles souberam que apenas empurraram, apenas aceitaram o que a vida estava oferecendo. Aceitaram alguém que os ajudaria acalentar a dor, alguém parecido, mas totalmente diferente... alguém que jamais preencheu o vazio.


You'd know how the time flies


(Voce soube como o tempo voou)


Only yesterday was the time of our lives


(Somente ontem, o tempo foi nosso)


- Eu gostaria de poder parar o tempo. – confessou Hermione. – Parar não, gostaria de voltar... terminar de construir o que ficou pela metade.


- Nada ficou pela metade. De alguma maneira, construímos algo... apesar de estarmos longe um do outro.


- A vida não foi muito justa...


- A vida nunca é justa. Sinto por não termos aproveitado tudo o que deveríamos. Sinto por não ter reconhecido os sinais...


- Não sinta, meu amor... – os olhos de Hermione brilharam. – como voce disse, ainda pudemos aproveitar... pouco, mas pudemos. E, eu agradeço por ter essas lembranças... – os dois sorriram cúmplices. – Lembranças que são apenas nossas... nossas e de mais ninguém, Draco.


Por muitas vezes, Draco pegou-se lembrando dos momentos, dos poucos, que pode passar ao lado de Hermione. Das vezes em que deixara corada de raiva, das vezes que a deixara corada de tanto ama-la. As vezes... as vezes que a deixara corada por magoa-la. E no final, eram nelas que ele se apegava em um final de dia... era nelas que ele se apagava quando deitava ao lado de sua esposa.


We were born and raised in a summery haze


(Nós nascemos e fomos criados em uma neblina de verão)


Bound by the surprise of our glory days


(Unidos pela surpresa dos nossos dias de glória)


Hermione pode sentir, estava quase na hora... quase na hora de dizer adeus novamente. Draco deveria voltar para Astória e ela para Rony. Deveriam voltar a viver suas vidas, e se apegar aqueles momentos para suprir a saudades que, na maior parte do tempo, parecia sufoca-la. Parecia quer mata-la aos poucos... sua mente era cruel...


- Está quase na hora...


- Eu sei. – confessou Draco. – Não se sinta culpada por nós, Hermione. Não se culpe pelo que não aconteceu... não sabemos o dia de amanha. – ele acariciou o rosto de Hermione suavemente. – Talvez tenhamos muito o que aprender... talvez não seja a hora...


- Nossa hora pode nunca chegar, Draco.


- Prefiro pensar que essa hora está guardada em algum lugar do futuro. Em um momento onde poderemos, por fim...


Hermione respirou fundo, e o abraçou fortemente. Precisava lembrar daquele cheiro, precisava de algo para se apegar quando chegasse ao fundo do poço e não soubesse mais para onde correr. Não soubesse para onde ir... quando não enxergasse mais a luz. O cheiro de Draco a invadiu, trazendo uma sensação de reconforto... estava pronta.


- Draco, meu querido... vamos encarar esse momento como um presente de Merlim. Um presente único.


- Eu já vejo assim. – disse ele sério. – Não poderia ter recebido um presente melhor que esse... veio na hora certa.


- Eu já não tinha mais esperanças. – ela admitiu. – Já não conseguia me lembrar de voce com clareza...


Nothing compares, no worries or cares


(Nada se compara, não se preocupe ou se importe)


Regrets and mistakes they're memories made


(Lamentos ou erros são feitos pela memória)


Draco colocou o rosto de Hermione entre suas mãos. Havia chego a hora... estava na hora de deixa-la mais uma vez... deixa-la partir. Não poderia prende-la, assim como ela não poderia prende-lo. Havia uma vida lá fora que esperava por eles, haviam pessoas que dependiam deles. Do amor, do carinho... de um simples sorriso.


- Está na hora, meu amor. – sussurrou Draco.


- Eu não quero me despedir de voce, Draco.


- Não encare isso como uma real despedida, certo? Vamos encarar como um até logo.


- Um “Até Logo” sem prazo de validade. – murmurou ela, com a voz embargada pelas lagrimas. – Prometa-me que voltaremos a nos ver... que seja de longe.


- Nos veremos em breve...


- Não se esqueça de nós, Draco.


- Eu jamais iria esquecer de nós dois... voce ainda é o meu ponto de referencia, Hermione. E sempre vai ser. Não há como substitui-la.


- Meu coração será eternamente seu, Draco... saiba que se eu morrer...


- Shiii... não fale isso. – ele a recriminou colocando um dedo sobre os lábios dela. – Uma vez, eu jurei que o meu coração seria eternamente seu... e ele permanece.


Draco a puxou para um ultimo beijo... um beijo com gosto de despedida. Um beijo que ele iria levar consigo para o resto da sua vida. Passou uma de suas mãos no rosto de Hermione, tentando memorizar cada traço, cada sarda, cada expressão.


Relutante, ela deu dois passos para trás... dois passos em direção a vida que a esperava longe dele.


Who would have known how bitter-sweet this would taste


(Quem poderia advinhar o gosto amargo que isso traria?)


Hermione saiu da lareira, sua casa parecia tranqüila. Um cheiro agradável invadiu suas narinas, fazendo seu estomago reclamar de fome. Ouviu as vozes de Rose e Hugo virem da cozinha, e logo em seguida a de Rony chegou aos seus ouvidos. Sorriu tranquilamente, era assim que deveria ser. Por algum motivo, a vida havia lhe dado isso... deveria agradecer, e aceitar... quem sabe um dia?


- Mamãe! – a voz de Hugo lhe despertou. – voce demorou. O que voce comprou? – perguntou o menino tentando olhar a sacola.


- Coisas de gente grande. – respondeu carinhosa.


- Oi querida, achei que fosse demorar um pouco mais. – Rony aproximou-se e beijou a testa da esposa. – Está tudo bem?


- Claro. O que temos para jantar?


Never mind, I'll find someone like you


(Não importa, eu acharei alguém como voce)


I wish nothing but the best for you, tôo


(Eu não desejo nada, além do melhor para voce)


Don't forget me, I beg, I remembered you Said


(Não se esqueça de mim, eu imploro, lembre-se do que disse:)


Sometimes it lasts in Love


(As vezes o amor dura)


But sometimes it hurts instead


(As vezes ele machuca)

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Comentários (1)

  • Serena Dummont

    eu simplesmente amooo essa música, parabéns essa é a fic mais emocionante que eu já li. Simplesmente amei!!!

    2013-09-15
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