Capítulo único
Um sentimento estranho surgiu em Harry; uma emoção bem diferente da raiva e dor que tinham preenchido seu peito desde a morte de Sirius. Isso foi pouco tempo antes de perceber que estava sentindo pena de Luna.
- Por que as pessoas escondem suas coisas? - ele perguntou, franzindo as sobrancelhas.
- Oh... Bem... - ela deu de ombros. - Eu acho que eles pensam que eu sou um pouco estranha, você sabe. Algumas pessoas me chamam de "Louca" Lovegood, na verdade.
Harry olhou para ela e o sentimento voltou mais forte e doloroso.
- Isso não é motivo para que eles peguem suas coisas - disse sem rodeios. - Você quer ajuda para encontrar tudo?
- Oh, não - disse sorrindo. - Elas acabam aparecendo, sempre voltam no final. Era só por que eu queria empacotar tudo hoje. De qualquer forma... Por que você não está no jantar?
Harry deu de ombros.
- Eu só não tive vontade.
- Não - disse Luna, observando-o com seus olhos estranhamente úmidos e protuberantes. - Eu acho que você não estaria mesmo. Aquele homem que os Comensais da Morte mataram era seu padrinho, não? Gina me contou.
Harry mostrou que sim mas percebeu que por alguma razão não se importava que Luna falasse sobre Sirius. Ele tinha acabado de lembrar que ela, também, podia ver Testrálias.
- Você... - ele começou. - Quero dizer, quem... Alguém que você conhecia morreu?
- Sim - disse Luna simplesmente -, minha mãe. Ela era uma bruxa extraordinária, sabe, mas gostava de experimentar e um dos seus feitiços deu errado um dia. Eu tinha nove anos.
- Sinto muito - Harry murmurou.
- Sim, foi bem horrível - disse Luna de maneira casual. - Eu ainda sinto muita tristeza por causa disso, às vezes. Mas eu ainda tenho o papai. E, de qualquer forma, isso não significa que eu nunca mais verei a mamãe, não é?
- Ahn... Não é? - disse Harry sem certeza.
Ela sacudiu a cabeça sem acreditar.
- Ah, vamos lá. Você os ouviu, atrás do véu, não foi?
- Você quer dizer...
- Naquela sala com a passagem em arco. Eles estavam escondidos, longe de nossas vistas, isso é tudo. Você os escutou.
Eles se entreolharam. Luna estava sorrindo levemente. Harry não sabia o que dizer ou o que pensar; Luna acreditava em tantas coisas extraordinárias... Ainda assim, tinha certeza de que tinha ouvido vozes atrás do véu também.
Talvez eles tivessem mais em comum do que ele imaginara.
- Tem certeza de que não quer ajuda para encontrar suas coisas? - disse ele.
- Oh, não - disse Luna. - Prefiro esperar que elas apareçam por si. – ela parou e o avaliou por alguns segundos. – Acho que você é quem precisa de companhia, Harry. Está com uma cara péssima.
- Eu... Eu... – ele não sabia o que responder, e ela apenas esticou a mão na direção dele.
- Venha, vamos dar uma volta.
Ele aceitou a mão que a garota lhe ofereceu e seguiu com ela. Talvez ele devesse sentir-se constrangido por estar andando de mãos dadas com Luna, mas com ela era... Diferente.
Eles seguiram o jardim escurecido pela noite que chegava. As luzes das torres do castelo, juntamente com a lua, já alta no céu, eram as únicas fontes de iluminação do lugar. Eles seguiram em silêncio até o lago e sentaram-se à beira dele.
Ao longe a Lula gigante mergulhava preguiçosamente na noite amena.
Harry abraçou os joelhos e encarou o horizonte, Luna apenas permaneceu do seu lado, fitando-o de forma intrigante.
- Luna – disse ele, por fim – você acha que... Naquele arco... Acha que eram... Espíritos? Acha que Sírius está lá, atrás daquele véu?
- Se forem espíritos que não encontraram o caminho. Acha que... Acha que Sirius está lá?
Dessa vez ela não respondeu de imediato, apenas fitou-o nos olhos por alguns minutos.
- Eu não conhecia Sirius, Harry, mas eu soube que ele era amigo do seu pai e do professor Lupin – ele assentiu uma vez – Então ele devia ser uma boa pessoa. Tenho certeza que ele está em um bom lugar.
Ele apenas assentiu, tornando a olhar o horizonte. Tudo estava silencioso.
- É lindo, não é? – Ele olhou para ela, e notou que Luna olhava para as estrelas brilhantes no céu – Dá pra acreditar que elas estão lá há milhares de anos? Elas viram tudo: Todas as guerras, todas as histórias, todas as descobertas.
Ele apenas sorriu para as estrelas.
- Obrigado Luna.
- Somos amigos Harry. Não tem por que agradecer, e é pra isso que os amigos existem. São nossos anjos da guarda. – ela pegou sua mão novamente – Eu nunca havia tido amigos antes de vocês.
Ele não soube o que responder, então apertou sua mão à dela, e tornou a olhar as estrelas.
Estar com Luna era, no mínimo, estranho – para não falar inusitado. Antes do início daquele ano ele nem ao menos havia notado a garota na escola, mas ali, à luz do luar, confortando ele... Ela lhe pareceu tão normal como qualquer outra pessoa em Hogwarts.
¹- Eu não lembro se nos livros alguém diz exatamente o que tem no véu, então fiz minha própria interpretação.
- As pessoas estão enganadas. – ele disse, olhando para ela. – você não é louca. Só é... diferente.
- A maior parte das pessoas encara as diferenças como loucura, Harry. Você deveria saber disso melhor que ninguém, já que aparentemente tem uma conexão com a mente de você-sabe-quem.
- Elas estão erradas. – ele repetiu, sorrindo para ela – Basta te conhecer melhor para saber...
Ela soltou as mãos, e pousou seus dedos na bochecha do moreno.
- Você é muito gentil, Harry. Mesmo sofrendo... Tem uma palavra de carinho para os amigos. Isso é um dom raro.
Ele sorriu e sentiu a pele corar.
Talvez sob a luz pálida da lua não fosse possível notar o rubor na pele deles.
- Consegue sentir? – ela tornou a falar, sem tirar a mão do rosto dele
- O que?
- A magia. Ela está em todo lugar, Harry. Sempre presente na vida de todos nós, basta fecharmos os olhos e... Apenas sentirmos. Vamos, feche os olhos – Ela retirou seus óculos com calma e passou os dedos nas pálpebras dele, forçando-o a fechar os olhos. – Agora respire fundo e... Sinta.
Ele o fez. Talvez fosse sua imaginação, mas algo parecia formigar em sua pele. Não era o ar frio, nem a mão da garota que ainda descansava em seu rosto, mas algo... Mágico. Também não era a magia que sempre emanava das terras de Hogwarts, era diferente. E, de repente, seu estômago parecia anestesiado, e a pele da amiga parecia mais quente na sua.
Ele abriu os olhos, alarmado, mas Luna não pareceu perceber. Ela manteve os olhos fechados, tinha um sorriso breve no canto dos lábios e o vento soprava o perfume floral que ela usava. Sem nem ao menos perceber ele aproximou os rostos, e, segundos antes dos lábios se tocarem, Luna abriu os próprios olhos.
Mas não teve tempo de ver muito mais que os olhos verdes do moreno se aproximando. Os lábios se chocaram desajeitados, mas, surpreendentemente encaixaram-se rapidamente. Harry passou a mão para a nuca da loira, e esta envolveu seus dedos trêmulos nos cabelos negros do rapaz.
Harry não pôde deixar de comparar ao beijo com Cho. Com Luna fora mais... Calmo, mais romântico até, e, é claro, mais seco.
Eles separaram-se devagar, Luna pegou mais uma vez sua mão, entrelaçando os dedos. Ela quebrou o silêncio, com a voz não mais que um sussurro.
- Eu nunca havia beijado ninguém antes. – confessou.
Ele apenas riu, sem nem mesmo acreditar no que havia acabado de acontecer. Harry nunca havia se quer imaginado algo parecido com aquilo. Ela pegou seus óculos e colocou nele novamente.
- Dizem que o momento é mágico e único. Que... Que sentimos como se borboletas voassem pela barriga. – ela olhou para ele, esperando uma resposta.
Mas ele não disse nada, apenas continuou fitando o horizonte.
- Quando você vai entender Harry? – ela suspirou, olhando na mesma direção que ele – No momento em que cruzou o caminho dela, seus destinos foram traçados. Como... Como uma profecia. Hora ou outra ela irá se cumprir.
Ele a olhou incrédulo, sem entender o que ela queria dizer.
- Como assim?
- A Gina, é claro. – ele arregalou os olhos, olhando para ela – você sabe que ela gosta de você, Harry. E eu sinto que... Que vocês se completam. Mais hora, menos hora, você vai acabar notando isso também. Assim como Rony e Hermione...
- Venha, você não deveria estar aqui fora. – ela levantou-se, e ele a seguiu.
Andaram, ainda com as mãos entrelaçadas, e em silêncio em direção ao castelo.
Eles pararam diante às portas de carvalho que separavam o grande salão do Hall.
- Nunca se esqueça Harry: Dias difíceis estão por vir, mas seus amigos estarão sempre ao seu lado. Até o fim. – ela lhe deu um beijo na bochecha e virou-se para entrar no salão.
Harry virou as costas e voltou ao dormitório, mas não sem antes ouvi-la dizer, sonhadora:
- Tomara que tenha sobrado pudim.
Mário Quintana
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