SALA COMUNAL



Vítor beijou a sua mão... fez uma trilha de beijos pelo seu braço, até alcançar o seu ombro. Ali, depositou um único beijo e suas mãos enlaçaram a cintura de Hermione, que sorriu com esforço. Seus lábios se tocaram mais uma vez, sem pressa. Hermione fechou os olhos e aproveitou o momento, até que...


- HERMIONE!


Ela vislumbrou uma figura ruiva e aborrecida, meio escondida em uma das roseiras. Ronald Weasley franziu o cenho e cerrou os punhos, como se estivesse prestes a chorar. Ele abriu a boca duas vezes, mas as palavras se perderam em sua garganta e ele recuou.


- RONY! ESPERE! POR FAVOR!


Hermione olhou para trás mais uma vez, antes de abandonar um Vítor incrédulo com a mão ainda estendida no ar.


- Rony... !


Hermione surpreendeu-se erguida sobre os cotovelos na cama, suando frio e com algo que lembravam lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Com algum esforço, ela se levantou e enxugou o suor com a manga do pijama, repetindo para si mesma “foi só um sonho, foi só um sonho”.


Rapidamente, ela se lembrou da briga que tivera com Rony no Baile de Inverno. Talvez aquele fosse o motivo de suas lágrimas, e do sonho estranho. Ignorando esses pensamentos, ela procurou por um relógio e viu que já eram três da manhã.


Cogitou deitar-se novamente, mas no minuto em que teve essa ideia, o sono se esvaiu dela como se uma voz em sua cabeça dissesse “você não pode dormir! Não pode!”. Mesmo sabendo que essa ideia era completamente insana e sem sentido, Hermione desceu as escadas para a cavernosa sala comunal e se sentou perto da lareira.


O fogo crepitava lentamente, e uma brisa morna entrava pelas janelas. Ela descansou a cabeça sobre os joelhos e permitiu que as lágrimas banhassem o seu rosto.


Acima de sua cabeça, um Rony preocupado dormia num sono inquieto.


Ele pegou a areia com as mãos em concha. Ela permanecia em sua mão por um breve minuto, e então escorria lentamente por entre seus dedos, embora ele fizesse força para prendê-la. Por mais que o garoto se esforçasse, a areia sempre lhe escapava, insistentemente. Por fim, ele desistiu.


Rony acordou com o pijama grudando em seu corpo por causa do suor. Ele se sentou em sua cama e pensou brevemente no sonho que tivera. A areia escorria por suas mãos... assim como Hermione. Ela parecia tão perto, mas de repente... puf! Lá estava ela, distante outra vez. Inalcançável.  Ele enxugou o suor da testa com as mãos e desejou ardentemente que houvesse uma linha etária que permitisse que apenas bruxos acima de dezessete anos pudessem se apaixonar, assim como a do Cálice de Fogo.


Rony se deitou novamente e tentou voltar a dormir por alguns minutos que lhe pareceram horas. Por fim, ele se levantou e desceu as escadas para a sala comunal na ponta dos pés, quase dando meia-volta ao se deparar com uma sombra escura projetada diante da lareira. Entretanto, o dono da sombra foi mais rápido e virou-se para ele. Era Hermione.


- O que você está fazendo aqui? – perguntou ela, pondo-se de pé.


- O mesmo que você.


Ela ficou de pé por mais um segundo, mas então se sentou e virou-lhe as costas mais uma vez.


- E-eu devia ter te convidado, não é? – perguntou Rony, se sentindo bobo.


Ela deu de ombros sem se virar para encará-lo. Então o garoto ouviu o barulho inconfundível de alguém fungando, e suas bochechas arderam. Ela estava chorando?


- Hermione...


A garota se virou, irritada, e sua testa quase se chocou com a de Rony, que estava parado atrás dela. Ela soltou uma exclamação.


- Ah!


Hermione fez menção de se virar novamente, mas Rony puxou o seu pulso e reuniu coragem antes de dizer:


- Quer dançar comigo?


- O que? – de repente, surgiu uma barreira em sua garganta, impedindo-a de falar.


Ela se levantou e mirou Rony com curiosidade. Ele estava trêmulo.


- Mas não tem música... – disse por fim.


- E daí? – Rony deu de ombros.


- Isso não é nada sensato.


Mas que diabos ela estava dizendo? Nada mais era sensato. Rony estendeu as mãos e garota hesitou antes de uni-las com as suas. Sua expressão não se alterou.


- Então, você e o Krum... – disse Rony, enquanto se movimentava desajeitadamente. Uma de suas mãos estava na cintura de Hermione, e a outra, junto à dela. Já Hermione, sabia dançar muito bem.


- Não faça perguntas sobre ele. – disse ela, pousando a cabeça no ombro do garoto.


De uma coisa ela tinha certeza: se alguém os visse dançando, acharia aquilo uma cena muito estranha. Afinal, estavam de pijamas, e não havia música nenhuma. O único som era o do fogo dançando na lareira e a respiração descompassada de ambos. Mas, felizmente, eles estavam sozinhos ali.


- Sabe, Hermione – começou Rony, sem parar de dançar. – eu sempre soube que você era uma garota.


- Interessante.


Fez-se silêncio. Eles continuaram a dançar, agora dando passos mais largos, vagando pela sala comunal. Hermione girou com leveza, mas infelizmente, tropeçou no pé de Rony. Ela estava quase caindo quando o garoto agarrou-a com uma das mãos.


- Não pense que eu irei perdoá-lo por isso. – disse ela, referindo-se à dança.


- Eu não quero mesmo ser perdoado – disse Rony, carrancudo.


Seus rostos estavam a centímetros de distância. Hermione respirava com dificuldade, talvez pela proximidade, ou talvez pela posição crítica em que estava. Rony ajudou-a a pôr-se de pé e ela disse:


- Que bom que não faz diferença pra você. – e se virou, abandonando Rony sozinho na sala comunal. O ruivo tocou os lábios, imaginando como seria beijar a boca que há um minuto estivera tão próxima da sua.

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