Minha vida não tem como piorar. Decididamente, quando o destino resolveu me presentear com um pouco de azar, ele caprichou.

   Quer saber os motivos da minha infelicidade? Então tá, aí vai:

   1- Não tenho emprego.

   2- Não tenho dinheiro.

   3- Não tenho casa.

   4- Não tenho mais uma banda.

   É, eu tinha uma banda, mas acabei de ser expulso dela. Dá pra acreditar? Me jogaram pra fora da minha própria banda, que eu criei com tanto esforço! Meus -ex- companheiros mencionaram alguma coisa sobre muito entusiasmo ao tocar, vestes exageradas, e tenho certeza que disseram algo sobre eu ter me jogado na plateia na nossa última apresentação. Isso até teria dado certo se o público tivesse me segurado. Mas talvez o fato de que só havia umas 20 pessoas no bar tenha contribuído para meu salto ter dado errado.

   Enfim, dá pra perceber que essa experiência foi traumática pra mim. Estou deitado nesse colchão há dois dias, desde que minha vida praticamente acabou. Não tenho tomado banho e só como porcarias desde então. Na verdade, isso não muda muita coisa, porque eu só como porcarias mesmo.

   – Zac? Ainda está aí? - Que som é esse? Será um anjo que veio me avisar que está na minha hora? Mas essa não seria a tarefa da Dona Morte?

   – Zac? - Ah, não, é só meu irmão Josh. Eu já mencionei que meu nome é Zac? Acho que nessa hora tô mais pra fracassado, mas tudo bem.

   – Será que tem batatas fritas enfiadas em seus ouvidos, ou você está só se fingindo? – A cabeça de Josh apareceu na porta do meu mísero (e atulhado de lixo) quartinho. Eu vivo dizendo a Josh que ele se daria bem como galã de novela, mas ele sempre finge que não me ouve. Ele é professor substituto. Mas eu não posso falar nada, porque atualmente eu vivo ás custas dele.

   – JOOOSSHIIIEEEEE! – Ah, não. Isso sim poderia exercer o papel de Dona Morte. Mas enquanto ela não leva a minha e a pobre alma do meu irmão para o inferno, ela se contenta em ser a querida esposa de Josh, e meu pesadelo. Jenna. Aquela que destruiu minha vida antes de eu acabar com ela novamente. Nós – digo, eu e o Josh – fazíamos parte de uma banda antes dela aparecer, e roubar o coração de meu irmão, o fazendo sair da banda, me levando junto. Pois é, anos se passaram, Josh foi transformado em um zero á esquerda, e nossa antiga banda de garagem agora faz sucesso nas capas da Bilboard e da Rolling Stone quase todo mês.

   – Já estou indo, querida – berrou Josh. E se dirigindo a mim – Eu e Jenna vamos sair, provavelmente vamos voltar tarde. – Ele fez menção de sair, mas logo voltou – E não destrua o apartamento enquanto estivermos fora.

   Abri a boca para dizer para ele ficar tranquilo, mas tudo o que saiu de lá foi um monstruoso arroto. Josh revirou os olhos e saiu do quarto. Minutos depois ouvi a porta de entrada bater. Ótimo. Sozinho em casa.

   Eu estava me questionando se valia ou não a pena fazer o esforço de levantar e assaltar a geladeira quando o telefone tocou. Praguejando baixinho, corri até ele, esperançoso. Podia muito bem ser da loteria, avisando que eu ganhei um prêmio milionário, ou 6 euros na popular. Ah, mas eu não me lembro de ter apostado nada, mas já que estou aqui...

   – Alô?

   – Boa tarde, o Sr.Farro se encontra?

   – Sim, é ele. Do que se trata?

   – Aqui é do internato de Hogwarts, e estamos procurando por um professor substituto, e o senhor foi muito bem indicado pelo instituto Durmstrang. Antes de decidir, Senhor Josh, note que Hogwarts é uma das melhores escolas do Reino Unido, e é reconhecida pela sua rigidez e pela sua boa iniciação no mercado de trabalho. O salário aqui também é muito bom.

   – Olha, eu acho que houve um enga... Espera, a senhora disse salário?

   – Sim, oferecemos um alto valor, no mínimo a quantia de três salários mínimos por mês...

   – Eu aceito. Quando começo?

   Eu mal sabia que ao dizer essas palavras, estava me metendo na maior furada de toda a minha vida.