Capítulo ùnico



Os olhos eram de um castanho-esverdeado espetacular, ela se lembrava, descendo as escadas que davam para o jardim. Tinham uma faixa negra, mudando para o verde concreto e depois castanho quando se chegava ao centro da pupila. Durante toda a extensão dessa mudança de cores, havia pequenas linhas negras, contrastando com a borda. Os cílios espessos emolduravam aquele olhar coerente e intenso.

Não era um cervo normal, ela sabia. Aquele era especificamente manso e tinha olhos inexplicavelmente humanos. Ela podia ver-se refletida nos olhos do animal, se este estivesse perto o suficiente.

Ela vinha todos os dias encostar-se a uma das árvores que margeavam a Floresta Proibida para ler um livro. Não era algo que estava em seu cotidiano desde sempre, mas à alguns meses ela sentira necessidade de estar sozinha com o mundo. Aquela árvore se encontrava em um lugar que atendia à esse requisito.

Era sempre a mesma árvore. Não era uma árvore alta, mas tinha o tronco grosso, galhos compridos, as raízes saíam do chão e a copa era cheia de flores amarelas. O gramado em volta era ralo, mas bem verde e saldável; as pétalas das flores caíam por cima dele, formando um tapete amarelo. Era uma árvore espetacular em todas as estações do ano: no outono, suas folhas adquiriam um tom laranja avermelhado e seu tronco se desbotava; no verão e na primavera as flores nasciam; no inverno, todas as folhas caiam e o tronco adquiria um tom categórico de marrom fosco.

Fora no outono do sexto ano que ela vira o cervo pela primeira vez. Estava de baixo da árvore, cercada pelas folhas alaranjadas que caíram dos galhos da árvore, lendo um livro. Era um dia frio, o céu estava azul, mas o vento era gélido. O sol não conseguia esquentar o ambiente o suficiente. A garota usava uma calça jeans, um suéter verde musgo e botas marrons, os cabelos ruivos caíam em cascata nas costas. Uma colcha xadrez se encontrava em volta de seu corpo.

Ela se encontrava absorta pelas palavras de um romance, quando ouvira o barulho de passos. De inicio, não reconheceu o barulho. Não pareciam ser passos humanos. E ficou meio apavorada quando o cervo apareceu do meio das árvores. Ele era maravilhoso, glorioso, espetacular. Sua galhada era grande e forte, seu corpo era musculoso e seu pelo era lustroso. Mas foram os olhos que tomaram todo o pânico dela.

Os olhos cheios de consciência e reconhecimento. Estavam longe de ser olhos selvagens. Eram olhos mais que brilhantes, concluiu, avançando pelo jardim.

Sem entender o porquê, ela decidiu simplesmente ignorar o cervo.

Depois daquele episódio, o cervo passou a aparecer todos os dias em que ela voltava para ler embaixo da árvore, de forma que, quando o outono passou, e chegou o inverno, ela já estava acostumada com sua presença. Chegava a falar com ele, mas, claro, sem obter qualquer resposta.

Com o tempo, o cervo passou a sentir-se cada vez mais à vontade, deitando-se ao lado dela, apoiando a cabeça em seu colo, ou apenas observando as páginas dos livros, parecendo quase interessado em seu conteúdo. Tornara-se quase comum ser observada por aqueles olhos castanho-esverdeados, por isso ela se punha a ler em voz alta, todas as vezes que o cervo se deitava ao seu lado.

Não sabia exatamente o porquê de fazê-lo. Tinha certeza de que o animal não fazia ideia do que ela lia ou dizia. Por esses e outros motivos, ela parava a leitura e punha-se à acariciar a cabeça do cervo.

Ela sentia-se à vontade para falar de tudo e de nada com ele. Contava-lhe sobre seu dia, sobre as coisas que lhe irritavam, sobre as coisas que gostava. Dizia-lhe coisas sem nexo, contava-lhe histórias. Sabia que o cervo não tinha consciência de nada que ela lhe dizia, mas ele parecia sempre prestar atenção, diferente das outras pessoas com quem convivia. Então, ela sempre lhe contava. E ele sempre ouvia.

Quando ela finalmente juntava suas coisas para ir embora, o animal a olhava diferente, como se perguntasse o porquê de ela ir tão cedo.

Dizia a si mesma que estava ficando louca e prometia não dar mais tanta trela ao bendito cervo. Afinal, ele era apenas um animal. Mas todas as vezes que ela retornava à árvore, pegava-se esquadrinhando a floresta com os olhos, procurando por ele.

A aparição do cervo era um segredo. Ninguém sabia além dela. A garota não havia contado à absolutamente ninguém. E mesmo que o tivesse feito, quem acreditaria nela? Era ver para crer... e ela não queria dividir a companhia do cervo. Não queria compartilhar o milagre que eram seus olhos. Talvez estivesse mesmo ficando louca.

Com os pensamentos povoados pelo romance novo que leria e pelo bendito cervo, Lily Evans se dirigiu calmamente à sua árvore preferida e sentou-se, esperando o animal aparecer para começar sua leitura. Mas, estranhamente, o cervo, naquele dia, não apareceu.

X$X

James Potter entrou no salão comunal. Tinha a cabeça baixa, os ombros caídos, um sorriso um tanto culpado na face. Ele parecia radiante. Estivera observando Lily atravessar o jardim sozinha. E viu a decepção brindando seu rosto ao ver que ninguém esperava por ela naquele dia.

- O que houve, Pontas? – perguntou-lhe Sirius, curiosamente.

- Eu consegui – James respondeu simplesmente.

Sirius franzia a testa em confusão.

- Conseguiu o que?

- Consegui fazer com que Lily sentisse minha falta. – disse, depois deu de ombros. – Não exatamente da maneira que eu esperava.

E subiu as escadas do dormitório, deixando Sirius mergulhado na confusão. Um espaço da sua mente se perguntou o que ele queria dizer. O outro espaço se perguntou o que James estaria fazendo no castelo àquela hora, afinal, ele e Lily sempre sumiam na mesma hora todos os dias nos últimos três meses.

X$X

N/A: é uma fic bem bobinha e sem noção, mas como eu a escrevi, decidi que não custava nada postar. Espero ter agradado à alguém e peço comentários, nem se for para xingar.

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Comentários (3)

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