Amor além do Ontem
Subversões – challenge especial de Harry Potter
Fic: Além do Amanhã
Autor: Den Chan
Gênero: Drama/Romance
Shipper: Draco/Harry
Cronologia: Pós-Hogwarts
Classificação: R
N/A: A bosta do tá comendo os hífens de todos os meus arquivos, então, paciência. Eu editei e recoloquei todos mas ele apagou de novo. Não tenho mais paciência pra mexer nele não... Vou colocar entre aspas.
Ato I – Amor além do Ontem
Eu podia ouvir a chuva caindo do lado de fora da janela, mas jamais ousaria olhar naquela direção. Aliás, eu não sei porquê retornei aqui hoje, se eu não consigo nem olhar pra lá...
"Harry, você já decidiu?"
Olhei para os olhos cor de chocolate de Hermione. Ela parecia sentir-se tão mal quanto eu. Eu não havia permitido que Ron viesse comigo. Aliás, eu queria estar sozinho. Mas Mione sempre fez o que queria. E, nesse caso, ela queria vir comigo.
"Não sei."
"Você nem consegue virar o rosto na direção do cemitério, Harry. Eu sei o que você está passando. Vamos embora. Vamos deixá-lo descansar em paz."
Eu entendi o recado, mas não concordei. Hermione tinha tanto medo quanto eu de voltar àquele lugar. O lugar onde tudo começou, e tudo terminou. A Nova Era das Trevas viu seu fim naquele cemitério, mas ali teve início a nossa agonia.
"Não. Eu preciso fazer isso, de uma vez por todas. Ou não poderei dormir."
"Eu sei...", ela se deu por vencida. "Eu também."
"Você não teria vindo aqui se não fosse para entrar lá comigo, Mione", eu dei um sorriso fraco.
Ela devolveu o sorriso, tão abatida quanto eu.
"Então vamos logo, antes que eu endoide."
Ela levantou-se, e eu não vi outra escolha senão segui-la. Meu corpo não me permitiria sair de Hogsmead sem entrar naquele cemitério e pôr um ponto final nessa história de uma vez por todas. Ganhamos a rua, e a chuva lambeu nossos corpos, colando nossas roupas, tentando inutilmente lavar o sombrio lado negro da nossa alma. Agarrei a mão dela, atravessamos a rua, passamos pelo portão e paramos.
Respiramos fundo, olhando um para o outro. Observei detidamente o rosto de Hermione, que eu sabia estar retornado aos tempos de simples criança, como eu. Toda a segurança, a altivez, a independência dos meus vinte e dois anos havia sumido. No lugar ficara apenas o pequeno Harry, assustado, sempre pronto a fugir se ouvisse o menor ruído que indicasse a presença do primo Dudley.
Assim como Hermione tinha retornado a ser apenas uma menina, ávida para conhecer tudo, inteligente até dizer chega, mas tão insegura e sem confiança em si mesma que procurava esconder isso sob uma falsa máscara de descaso, aquela que usara na primeira vez que nos encontramos, no trem. Uma falsa auto-suficiência que ela relutara bastante em nos deixar ver, e que depois de quase mais de dez anos estava de volta.
"Por favor, Harry, vamos logo...", a voz dela tremia, sinal de que suas emoções estavam começando a ficar fora de controle.
Eu nem mesmo conseguia achar minha voz. Engoli em seco, agitei a cabeça numa concordância e retomamos o nosso caminho.
Fomos passando por lápides de vários tipos. Das mais simples, com uma módica cruz de madeira cortada na faca e letras gravadas com ela também, até as mais exuberantes, de mármore negro e letras douradas, fotos altivas dos ocupantes do terreno logo abaixo de nossos pés. Eu me sentia estranho por estar pisando sobre tantos corpos. Depois de quase dois anos do fim da guerra, era estranho saber que novamente haviam corpos mortos jazendo ao alcance de meus pés. Eu sempre passava mal quando sentia o cheiro de enxofre exalando dos restos recém-mortos das vítimas de Voldemort. Hoje, entretanto, sem o enxofre e sem o Lorde das Trevas por perto, eu não senti enjôo.
Quando nos aproximamos da lápide em especial que procurávamos, eu senti a culpa revirando no meu corpo. Hermione abaixou-se, quase caindo pela falta de forças nas pernas, e leu as inscrições:
Aqui jaz Albus Percival Wulfric Brian Dumbledore
Nasceu como um simples mortal
Viveu como uma lenda
Morreu como o filho mais amado de Deus
As datas nos eram irrelevantes. Nós lembrávamos claramente do dia, da hora, do minuto e do segundo da morte de Albus Dumbledore, porquê nós estávamos lá. Aliás, isso é bom relembrar, fomos nós os culpados da morte dele. Eu lembro claramente...
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Harry correu para trás de uma lápide. Parecia até ironia do destino. Fora naquele mesmo cemitério que ele ajudara a trazer o Lorde das Trevas de volta à vida, e era nele que estavam travando sua última batalha. Ambos estavam no fim de suas forças. Provavelmente o último golpe decidiria tudo.
O barulho ao redor havia sido bloqueado pela sua mente. As batalhas entre Comensais da Morte e Aurores, além de bruxos comuns que se ofereciam para ajudar na mais importante batalha da história, ou simplesmente corajosos que surgiam do nada para ajudar, não importa a qual lado, eram travadas em algum lugar onde ele já não mais estava. Agora só existia o pequeno semi-círculo demarcado por magia negra, onde dentro se encontravam ele, Voldemort, Hermione (presa por magia ao lado deste último), Dumbledore, Draco Malfoy e Quin Shacklebolt.
"E então, Potter? Não vai decidir?" Voldemort argüiu, com aquele tom superior de quem se sabe em vantagem.
Ele havia proposto a Harry um acordo. Hermione em troca dele mesmo. Dumbledore e Quin haviam sido imobilizados por Draco, o mais novo e mais bem-cotado dos Comensais do Lorde. Draco havia galgado suas posições à semelhança do pai, mas com algumas diferenças que satisfizeram mais Voldemort do que o próprio bruxo. Harry olhou para ele, tentando passar-lhe uma mensagem com o olhar, mas o loiro apenas sorriu cinicamente, como era de seu feitio, e passou o dedo pela garganta, imitando uma decapitação.
Harry não conseguia acreditar. Sua relação com Draco Malfoy sempre fora estremecida, e sempre seria, não importando se amigos ou inimigos. Mas eles haviam criado um forte laço no último ano de Hogwarts. Um laço escondido de tudo e de todos, e que hoje só trazia ao rapaz solidão e desapontamento. Draco o havia traído e passado para o lado dos Comensais da Morte, justo quando eles...
"Vamos lá, Potter, não vou ficar aqui o dia todo. Temos muito a fazer ainda hoje, depois de acabarmos com vocês", a voz ácida do próprio Draco interrompeu o curso de seus pensamentos, e Harry lembrou-se que tinha de manter a mente fechada.
Voldemort era ótimo legilimente, e Draco também. Ele pensou ter ouvido um tom de aviso naquela voz, não uma ameaça, mas voltou a concentrar-se em Voldemort.
"Solte-a!", berrou, tomado pela raiva.
Porquê tudo tinha que dar errado justo naquela hora? Porque todos tinha que sentir o impulso de correr em seu encalço e se colocar em perigo para salvar sua vida? Aquilo só o deixava mais nervoso. E os impulsos levaram Hermione ao local onde ela se encontrava – bem na mira da varinha de Voldemort, que já brilhava num tom verde na ponta.
"Não antes de você se pronunciar, jovem tolo", sibilou Voldemort, com aquela voz reptiliana que o deixava ainda mais irritado.
"Hermione não vai morrer. Ninguém aqui vai morrer além de você, seu desgraçado!", berrou Harry, que já não tinha nervos sadios para agüentar a pressão. Fizera dezoito anos não fazia nem dois meses, e agora via-se frente a frente na luta que decidiria não só seu destino e o do homem à sua frente, mas o de muita gente que dependia da vitória de um deles. "Solte-a ou eu o mato!"
"Quanta bravura...", continuou o bruxo das trevas, tão calmo quanto o próprio Harry estava furioso.
"Deixe-os, Tom",a voz serena de Dumbledore, sempre pronto a ajudá-los, surgiu. Ele tinha nos olhos o brilho da força, do poder de quem sabe exatamente seus próprios limites – e como superá-los. Mas daquela vez ele não tinha mais nenhuma carta nas mangas. "Eu entrego minha vida em troca da dela."
"NÃO!" Hermione gritou, chamando a atenção de todos para si. "Não faça isso! Sua vida é muito mais valiosa que a minha."
"Nenhuma vida é mais valiosa que outra, minha jovem", o ancião respondeu, sorrindo. "Mas nós temos a irritante tendência de achar que podemos ditar o que acontece ou não na vida dos outros", completou ele, agora olhando para Voldemort.
"Ah, o bom e velho, muito velho, Dumbledore", riu Voldemort. "Sempre com algo de profunda eloqüência para transmitir aos alunos", e fechou o cenho de repente, assemelhando-se mais ainda a uma cobra. "Esqueça, velhote. Eu já não sou mais seu aluno, nem tampouco obedeço suas ordens. E você já não poderá lidar comigo, se eu acabar com o jovem Potter. Você sabe disso."
"Sim, eu sei", respondeu ele, para a surpresa de Draco, Hermione, Quin e Harry."Mas eu jamais permitirei que você tire mais uma vida inocente nesta batalha, meu caro Tom. Hermione é nascida trouxa, mas merece respeito e consideração tanto quanto qualquer bruxo."
"Uma sangue-ruim, Dumbledore! Um sangue sujo, que mancha de vergonha nosso povo. E os amantes de trouxas e sangues-ruins também! É apenas o começo da nossa destruição. Nós, bruxos, uma raça superior, poderosa. Poderíamos conseguir nos tornar deuses, você e eu."
"Não, Voldemort", Harry surpreendeu a todos e a si mesmo quando interferiu."Ninguém deve se considerar um deus, senão como sobreviveremos? Estaremos eternamente em discórdia, uns matando aos outros, querendo provar-se superiores", ele brandiu a varinha na direção do assassino de seus pais. "Eu não vou permitir que você destrua o amor entre famílias, entre amigos, a confiança e a lealdade que existe entre as pessoas como você destruiu tudo isso entre meus pais e Peter Pettigrew. Entre meus pais e mim."
"Oh, pobre garoto...", Voldemort ironizou."Eu uma vez ofereci a você uma aliança, jovem Potter... Você negou na época. Mas era apenas uma criança. Agora já é crescido, e mais poderoso do que nunca, graças a esse velho crápula.", apontou Dumbledore. "Não gostaria de reconsiderar? Não vejo motivos para perder um aliado tão forte..."
"Para quê? Para você me descartar assim que cumprir meus objetivos? Para que eu veja todos os meus amigos e as pessoas que eu amo sendo destruídas uma por uma nas suas mãos? Ou você me daria a honra de cuidar deles eu mesmo? É, imagino que sim, seu sadismo vai além da minha razão... NÃO! PELA ÚLTIMA VEZ, NÃO!"
A resposta teve o poder de provocar em Voldemort a distração que eles precisavam. O bruxo brandiu a varinha para Harry, e num esforço que ia além de qualquer força mágica, Hermione o empurrou com o próprio corpo, fazendo-o perder o equilíbrio e caindo por cima dele. Dumbledore, que parecia ter estado encenando todo aquele tempo, gritou “Expelliarmus!” e tudo que Harry pôde ver foi um clarão de luz. No segundo seguinte, Voldemort erguia-se, enquanto Hermione era libertada. Só que ele ainda tinha um trunfo – a varinha da garota, que ele pegara antes de cair.
E foi com ela que ele gritou “Avada Kedavra” na direção de Dumbledore e deu um pontapé para que o destino finalmente se concretizasse.
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Eu retornei ao tempo presente ao ouvir o choro de Hermione, que agora apoiava-se no frio cimento que cobria o lugar onde os restos mortais do maior bruxo que já existiu descansavam. Ela sacudia o corpo com tanta força entre os soluços que era impossível para mim distinguir o que era gotas de chuva e o que era lágrimas.
"Mione..."
"Desculpa! Desculpa!",ela berrava, agarrada à lapide. A mim, parecia que estava se desculpando com Dumbledore. "Foi tudo minha culpa!"
"Não, não foi, Mione.", eu respondi, agachando-me ao lado dela, sentando na grama e puxando-a para sentá-la em meu colo. Ela não tinha culpa de nada. "A culpa foi minha", disse eu, de repente recuperando a voz. "A culpa foi toda minha."
"Se eu não tivesse entrando no círculo...", ela balbuciou, seu corpo tremendo. Eu a abracei forte, incapaz de encontrar palavras.
"Se eu não tivesse esperando tanto...", murmurei comigo mesmo."Talvez ele estivesse vivo. Ele e muitos outros."
"Não, Harry", ela segurou meu rosto entre as mãos, daquele jeito doce que me fazia sentir ainda mais intensamente a falta da minha mãe.
Como era possível sentir falta de alguém que você mal chegou a conhecer, de quem você pouco lembra, eu não sei. Mas sei que tudo que eu queria agora era ter meus pais ali, me abraçando, me embalando como a um bebê.
"A culpa nunca foi nem nunca vai ser sua", Mione continuou. "Você fez tudo, Harry, tudo que podia... e o que não podia... para dar fim àquele caos em que nós vivíamos", ela virou o rosto para o túmulo, enquanto suas mãos escorregavam de meu rosto para meu pescoço, me abraçando do jeito que eu precisava. "Você foi o mais machucado nessa guerra toda, Harry, desde o começo... desde antes de nós nascermos. Desde que Voldemort decidiu tornar-se o que ele era."
"Mas fui eu quem recebeu o bilhete e não contou a Dumbledore que Voldemort estava me chamando. Eu fui sozinho para lá", respondi. Até hoje não havia entendido porque cargas d’água Voldemort havia-me mandado um bilhete. "Eu que fui até o cemitério, e esqueci de queimar o maldito bilhete."
"Se você tivesse queimado o “maldito bilhete”, Harry Potter..",.disse ela, irritada."Você não estaria aqui hoje, e Voldemort teria vencido."
"Não, Mione. Dumbledore acabaria por detê-lo. Ele sempre conseguiu..."
"Não fale uma coisa dessas!", ela me interrompeu, furiosa. "Dumbledore não era o pivô desta guerra, Harry. Era você. Se não fosse você, não seria mais ninguém. Dumbledore não teria entregado sua vida a Voldemort se não tivesse plena certeza de que já havia feito tudo que lhe cabia, e que a partir daquele momento dependia apenas de você. E você honrou os esforços dele, Harry. Você o derrotou. Você matou Voldemort."
Você matou Voldemort. Maldita profecia! Ele lembrava de ter ficado tão furioso ao ver o corpo sem vida do diretor estendido no chão, e depois disso algo além de seu controle o tomou, e tudo então era negro. A única coisa de que ele lembrava após aquele momento, fora o canto de Fawkes, tão triste, tão cortante, tão desesperado... Ela chorava sobre seu corpo, curando-lhe todas as feridas e ficando com uma imensa dor para si. Aquela ave sempre fora o orgulho de Dumbledore... E agora ele estava morto.
Hermione, Draco, Quin e Luna Lovegood, surgida sabe-se lá de onde, olhavam fixamente para ele naquele momento. Era a última coisa da qual ele lembrava, antes de ser tomado pelo efeito das lágrimas de Fawkes e cair num sono profundo.
"Você fez muito mais do que qualquer um de nós poderia fazer para honrar a morte de Dumbledore, Harry. Eu não sei porquê justo você foi o escolhido para cumprir a profecia, mas você o fez, e melhor não poderia ter feito. Eu tenho certeza que Dumbledore está olhando para nós agora e sorrindo, pedindo para que paremos de nos agoniar e brincando que não poderá descansar em paz antes de pararmos de atormentá-lo com lembranças tristes."
Eu a encarei, surpreso. Um novo brilho surgira nos olhos de Hermione, e ela agora sorria ternamente para mim.
"Mione? Mas você agora mesmo estava chorando, atormentada... Como pode estar tão calma, ter tanta certeza?", disse eu, perturbado pela súbita serenidade dela, que ainda tinha o rosto sendo banhado por lágrimas contínuas.
"Lembra quando eu virei ao rosto, ao falar do caos em que nós vivíamos?", perguntou ela.
"Sim, mas o que isso t..."
"Quando eu virei o rosto, deparei-me com aquilo", ela apontou com o indicador uma pequena flor, uma sempre-viva que crescia ao lado do túmulo de nosso amigo. Sempre-vivas na Inglattera?, estranhei, pois nosso clima não era o ideal para seu desenvolvimento.
"Uma sempre-viva? E só uma...", reparei, por fim.
"Sim, Harry. Eu posso estar sendo dramática, ou romântica demais, mas quando eu olhei para a flor, algo quente circulou meu coração. Foi quase como se eu estivesse sendo abraçada, acarinhada, por uma mão cálida. Alguém que me amava muito estava querendo acabar com o meu sofrimento."
Eu a afastei um pouco de meu corpo, para poder visualizar-lhe o rosto perfeitamente.
"Mione, você não está achando que..."
"É ele, Harry. Eu sei que ele está aqui conosco." repetiu ela, com ênfase.
"Mas então porquê ele não aparece para nós? Nós podemos ver fantasmas, esqueceu, Mione? Hogwarts é cheia deles", eu respondi, resistindo à explicação.
"Ele está se manifestando, Harry, mas não como uma figura translúcida. Ele está se manifestando através da flor."
Eu passei a observar atentamente a pequena flor. Lentamente, como uma carícia de mãe ou pai, a calma foi retornando ao meu espírito e a paz ao meu coração. Exatamente como Hermione descrevera. Era como sentir alguém que te ama muito te abraçando, te desejando o melhor, querendo ver você feliz e sem aborrecimentos novamente.
"Ele está nos dizendo para continuarmos, Harry", disse Hermione, mas eu continuei a encarar a flor, apenas escutando-a. "O nome dela, sempre-viva, diz muito. Ele estará sempre conosco, sempre vivo nas nossas lembranças e nas de todos os bruxos do mundo. Se ele já era lenda, já fez história, agora ele é a história. Ele é glorioso. E nós também. 'Nenhuma vida é mais valiosa que outra', ele me disse. Na hora eu não pude entender. Mas agora eu entendo."
E eu também entendia. Ele queria que continuássemos em frente. Ele batalhara por aquela paz, aquela vida que nós tínhamos agora, e se ele próprio não podia vivê-la e gozar dela, ele queria que nós o fizéssemos por ele. Fora por isso que ele dera sua vida em troca da nossa. Porque ele continuaria a viver em todos nós, nos livros em que seu nome seria escrito, nos corações que o amavam, que o adoravam. Ele não se fora realmente.
"Eu... acho que entendi o recado", balbuciei, ainda surpreso com todas aquelas conclusões.
"Tenho certeza que sim", Hermione riu, e de repente nós dois levantamos as cabeças para o céu. Nenhum de nós havia notado que já havia parado de chover."Teremos muitos anos à frente, Harry. Ele fez a parte dele, e preferiu terminar sua vida então, do que continuar aqui quando sua missão já havia se concretizado. Você cumpriu a primeira parte da sua vida."
Eu apenas a observei, enquanto ela levantava e me puxava junto.
"Você enterrou o terror e criou para nós um futuro claro, cheio de alegria e luz. E eu não vou me permitir passar mais que esses quatro anos chorando e morrendo e fazendo com que ele morra também comigo, pois eu acabaria por esquecê-lo. Agora eu vou lembrar das boas épocas, e me alegrar toda vez que perceber que tive a honra e o imenso prazer de conhecer alguém como você, como Dumbledore. Eu tenho uma vida, um marido e uma família pra cuidar e amar."
Eu sorri para ela, enxugando as lágrimas que ainda desciam do rosto dela, e ela fez o mesmo comigo. Eu nem percebi que havia começado a chorar.
"Você deve agora iniciar a nova vida que deu de presente a si mesmo, Harry. A vida que você enterrou com Dumbledore quatro anos atrás. A vida que não te deixa dormir de noite, porquê você sabe que tem algo escorregando de seus braços e fugindo. É a sua nova chance, Harry. E você sabe o que deve fazer."
Nós caminhamos de mãos dadas até o portão que guardava aquele lugar, palco de tantos momentos alegres e tristes. Viktor nos aguardava do lado de fora. Eu imaginei que ele apareceria. O apanhador mais famoso da Bulgária não deixaria a esposa grávida sumir assim e esperaria de mãos abanando. Mas eu entendi que ele ficou do lado de fora por respeito a nós dois.
Eu e Mione havíamos vivido aquilo juntos, e deveríamos completar aquilo juntos, sem mais ninguém. Quer dizer, talvez Draco devesse ter vindo conosco, afinal, ele estava lá também. Quin superara a dor muito antes de nós, pois havia convivido mais intensamente com Dumbledore e sabia a mensagem do nosso grande amigo.
Draco, entretanto, mesmo tendo sido espião da Ordem da Fênix e libertado Dumbledore nos últimos segundos de vida para que ele pudesse desarmar Voldemort e ajudar Hermione, havia sumido logo depois. Havia me abandonado de novo. Eu tinha notícias esporádicas dele, pelos jornais. Mas ele jamais me escrevera. Nem tampouco eu o procurara. Quatro anos...
"Está na sua hora de dar a mais alguém a chance de viver intensamente, Harry", disse Hermione, abraçada a Viktor, extremamente serena. "Você sabe de quem eu estou falando."
"Eu não o vejo, Mione, você sabe disso."
Hermione e Viktor eram os únicos que sabiam do meu rápido e intenso relacionamento com Draco Malfoy. Eles estranharam no começo, mas depois haviam aceitado e me ajudavam sempre que possível quando eu entrava em quase-depressão na época em que aquele sonserino miserável me deixou pela primeira vez.
"Corra atrás da sua felicidade, Potter", disse Viktor, que havia melhorado muito seu inglês. Ele fora mais um dos espiões de Voldemort para a Ordem da Fênix."Eu jamais me perdoaria se não tivesse corrido atrás da minha", disse ele, que havia deixado Hermione crescer e se formar em Hogwarts antes de voltar à vida dela, depois do baile do quarto ano. Ele tivera de batalhar para tê-la, mas merecia cada gota de amor que existia no coração de Hermione.
Eu e a minha amiga grifinória havíamos nos tornado mais amigos ainda na época em que Viktor voltara, pois coincidia com a época das turbulências de meu relacionamento com Draco. Depois que eu me abri com ela sobre o nosso “caso”, ela ganhara coragem para falar da corte que Viktor lhe fazia e corria para meu apartamento quase toda noite depois que saía com ele, confusa sobre seus sentimentos.
Eu sempre soubera que ela tinha uma quedinha por Ron, e ele por ela, mas aparentemente ela fizera a decisão certa ao escolher Viktor, pois eu nunca a vira tão feliz. Eles já tinha uma menina, Ava, com pouco mais de um ano. Eu era seu padrinho, e a menininha era uma das poucas coisas que me fizera sorrir nesses quatro anos.
"Vamos, Herm-o-nini", disse Viktor, que ainda lutava para pronunciar corretamente o nome da esposa. "Estaremos nos Weasleys se precisar de nós, Harry Potter", completou, com um sorriso sereno, e os dois aparataram.
Eu virei para olhar novamente o local do túmulo de Dumbledore, respirei fundo e comecei a caminhar em direção à estação de trem. Eu não estava pronto para encontrar Draco novamente. Não ainda. Mas pretendia recuperar minha vida a começar daquele instante. Eu jamais decepcionei Dumbledore.
Não seria agora que começaria a fazê-lo...
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N/A: Sei que não tem nada de D/H nesse cap, mas paciência, eu não sei partir direto pro romance sem antes explicar toda a situação... ) A partir do próximo, aí sim, vai haver algo de que vocês gostam muito. R&R please. C-ya!
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