Magia Egípcia
Quando o avião fez uma curva fechada para entrar no espaço aéreo de Cairo, Rony que estava a sono solto, girou o pescoço e deixou a cabeça cair sobre o ombro da irmã.
- Argh! Não sei porque a mamãe nos obrigou a trazer o Rony – disse Gina, empurrando o irmão de volta a seu lugar. Apesar de empurrá-lo com força, nem assim Rony acordou.
- Talvez ele nos seja útil! – disse Hermione, segurando o assento nervosamente enquanto o avião pousava. – Vocês conhecem o Egito na prática... eu só o conheço na teoria...
- Como assim, Mione? – perguntou Gina, curiosa.
- Já li muito sobre magia egípcia. O Egito é o berço de toda magia.
- Sim... isto descobri pelas ruas de Cairo e de Gizé... ah... Gizé... é maravilhosa... feia, mas linda ao mesmo tempo... você vai ver... ai... desculpe, Mione... eu .... eu sou uma boba – disse Gina, sem graça esquecendo-se da cegueira de Hermione.
- Tudo bem, Gina... eu adoraria poder ver. Gostaria muito de conhecer o Egito, ver as pirâmides, os museus, as cidades antigas, a cultura... infelizmente isto não é possível. Mas não se sinta mal por mim. – disse Hermione simplesmente.
- UÉ? Já chegamos? – perguntou Rony, meio abobalhado, acordando no exato minuto que o avião parou.
- E agora, Mione? Para onde vamos? – perguntou Gina, levantando-se para desembarcar.
- Eu fiz reservas num hotel muito bom, no centro de Cairo, o hotel Tahrir. Tem um museu egípcio bem conceituado ali perto. Pensei em visitá-lo ainda esta tarde.
- Vamos visitar museus? – perguntou Rony, incrédulo – Achei que esta viagem era para salvar Harry...
- E é, Rony... – disse Hermione, olhando para o nada – acontece que Voldemort veio para este lugar por algum motivo e aposto meus já inúteis olhos que, seja o que for, está no passado: no antigo Egito. O primeiro lugar no qual podemos obter alguma informação é o museu. Agora devemos ir...
O hotel Tahrir Squares era muito melhor do que eles pensavam. De frente para o rio Nilo, numa área nobre do Cairo, Gina e Rony estavam espantados com o luxo do hotel e a visão maravilhosa da cidade. Hermione havia reservado um pequeno apart, com três quartos-suítes e uma sala. Quando chegaram, Hermione deixou a mochila de lado e foi direto para um dos quartos, totalmente cansada, mas os irmãos Weasleys quiseram aproveitar para olhar pela varanda.
- Você já pensou que um dia iríamos voltar aqui? – perguntou Gina para Rony.
- Não... Quando estivemos aqui, anteriormente, não pudemos escolher um bom hotel. Ficamos em uma pousada bruxa, mas este lugar não é para bruxos como nós.
- É só por alguns dias. – disse Gina, apreciando a movimentação na rua abaixo. - É o que espero.
- Você acha que vamos conseguir achar Harry neste lugar? – perguntou Rony receoso.
- Não sei, Rony! Estou rezando para que consigamos... mas o que mais me preocupa não é isso.
- Ah não? E o que é então?
- Se acharmos Harry, Rony, acharemos também a Voldemort. E é ele quem me preocupa...
Depois de muitos minutos apreciando a vista, os gêmeos escutaram um barulho e saíram da varanda. Na sala, Hermione colocava sobre uma mesa alguns livros.
- Eu não acredito! – disse Rony, incrédulo – Você trouxe LIVROS em seu malão? Você está louca, Hermione? Não teremos tempo para ler livros.
- Esses livros talvez salvem nossas vidas. – disse Hermione, sem muita empolgação e sacou a varinha, apontando para os livros – Eu fiz um feitiço para transformar as letras em alto relevo. Ainda não sei ler em braile...
- Eu posso ler para você se quiser. – Gina se ofereceu.
- Eu quero, sim. Mas agora acho que é a vez de vocês descansarem. Durmam pelo menos umas duas horas... quero ir logo ao Museu. Enquanto isso, vou tentar ler algumas coisas...
TRÊS HORAS DEPOIS...
- O que é para ver, Hermione? – perguntou Gina, tentando achar alguma pista entre os diversos sarcófagos e artefatos egípcios na sala superlotada de turistas que vieram visitar o museu, enquanto Rony estava entediado tentando achar alguma coisa “lógica” num papiro com estranhos desenhos.
- Eu não sei – disse Hermione, crispando as mãos, desejando poder ver como nunca. – Acho que alguma coisa, muito antiga... um... deixe-me ver... algo sobre Seth.
- Seth? – perguntou Gina, sem saber exatamente do que se tratava.
- Seth é o deus do mal. – explicou Hermione. – Se Voldemort está aqui, certamente é porque quer fazer alguma coisa do mal, algum feitiço ou algum encantamento relacionado a Seth.
- Tá! – disse Gina, passando por um corredor de artefatos onde nenhum trazia o nome de Seth. – E como é esse tal Seth?
- Tem o corpo de um homem e a cabeça de um animal parecido com um bode.
Gina achou um artefato. Estava protegido por uma redoma de vidro.
- Artefado retirado das ruínas de Kefren. – leu Gina em voz alta para Hermione que mantinha uma das mãos no ombro da amiga e a outra passava por sobre a redoma.
- Uhm... – disse Hermione pensativa.
- Kéfren? Quefren não é uma das pirâmides? – perguntou Gina que já havia escutado aquele nome.
- Exatamente! – disse Hermione, um pouco animada. – É a pirâmide que tem a esfinge na frente. Diga-me Gina, existe alguma inscrição na escultura que você está vendo.
Gina olhou atentamente para o artefato e viu estranhas inscrições.
- Acho que sim. Mas não sei o que quer dizer?
Hermione sorriu.
- Viu... eu disse que meus livros ainda nos salvariam. Eu descobri um feitiço para traduzir inscrições egípcias e hieróglifos, basta apontar para o objeto. Veja se tem alguém vindo.
- Está lotado, Mione, acho arriscado fazer magia.... – Gina começou a falar, mas Hermione já havia sacado a varinha e pronunciado algo.
- Olhe de novo! – disse Hermione.
Gina olhou atentamente para a escultura enquanto Hermione guardava a varinha no bolso da calça: o que antes eram rabiscos e desenhos indecifráveis agora eram frases bem legíveis.
- Aqui diz: “Seth matou Osíris que havia tomado Íris por esposa, mas Osíris levantou-se dos mortos...”. O que isto quer dizer?
- É uma lenda egípcia: os egípios adoravam a muitos deuses. Geralmente os deuses eram mistos entre homens e animais. Essa é a lenda mais conhecida da mitologia egípcia. Osíris casou-se com Íris e foi morto por Seth. Mas Osíris tinha um filho chamado Hórus que ressuscitou Osíris. – explicou Hermione, enquanto tentava ordenar os pensamentos - Não sei até que ponto isso pode ser importante para nós, mas com certeza, já é algo. Acho que devemos ir para Gizé e tentar investigar o que encontrarmos. Está claro que devemos seguir a trilha deixada por Seth.
- Hum...
- Vocês já são o segundo grupo que se interessa por Seth – disse um homem que se aproximou das meninas com curiosidade.
Gina se virou para ver o homem que lhe falava. Era elegante e trajava um terno muito fino.
Ele analisou as duas, demorando-se sobre Hermione, principalmente sob seus olhos.
- Bom... – disse ele, por fim – deixe-me que eu me apresente: Ahrur Fagir, curador do museu egípcio de Cairo.
O homem se aproximou de Gina e beijou a sua mão. Depois, tomou a mão de Hermione que estava sobre o ombro de Gina e a beijou também, demoradamente.
- Estou encantado com vossa beleza! – disse Ahrur, sedutoramente – mas gostaria de saber o nome de vossa graça.
- Hermione Granger! – disse Hermione, entediada. – Você disse que é o segundo grupo. Você quer dizer que já veio alguém aqui antes e demorou-se sobre esse artefato.
- Sim... um homem muito elegante, acho que era inglês. Seu nome era Lucius Malfoy.
Gina apertou nervosamente o braço de Hermione e cochichou em seus ouvidos.
- Lucius esteve aqui, Mione!
- Sim... – Hermione sussurrou e depois voltou-se para o curador – Você sabe para onde “esse grupo” foi?
- Ah... acho que eles estavam indo para Gizé! – Ahrur informou – Havia um estranho homem junto com o senhor Malfoy. Ele usava capuz e era muito alto. Parecia muito rico e excêntrico. Figuras assim sempre aparecem em Cairo à procura de Mistérios...
O homem nem bem terminara de falar quando Gina e Hermione saíram esbaforidas do museu, arrastando um Rony confuso com elas.
GIZÉ
O Jipe ganhava chão, enquanto Hermione e Gina lutavam contra o pó que impregnava seus pulmões. Alheio às condições terríveis da estrada, Rony dormia tranqüilamente no banco da frente, ao lado de Gugir, o motorista e guia turístico que Hermione contratara.
Mesmo quando cruzavam Cairo, antes de chegar à Gizé, a imponente construção das três mais famosas pirâmides de todo o mundo levanta-se ao céu chamando a atenção de Gina. Ela já conhecia aquele lugar, já o visitara antes, mas era sempre uma imagem fantástica. Esperava somente que Hermione pudesse ver aquele mundo fantástico.
Quando chegaram a pirâmide de Miquerinos, a primeira de Gizé e a maior de todas, o jipe parou para deleite das garotas que, mesmo usando calça e blusas leves, estavam quase que sufocadas com o calor e a poeira. Elas terminaram de tomar água do cantil que Gugir trazia quando Rony levantou espreguiçando-se.
- Nossa! – disse o garoto – Já havia me esquecido do quão bonito é esse lugar!
Gina tossiu disfarçadamente e pisou no pé do irmão que se deu conta de que Hermione estava cega e que não podia ver o fascínio do lugar.
- Foi mal! – Rony sussurrou no ouvido de Gina enquanto Hermione apanhava um livro na sua bolsa.
- Onde estamos? – ela perguntou ao guia.
- Na pirâmide de Miquerinos! – respondeu Gugir em seu sotaque carregado.
Precisamos ir até a pirâmide de Quefren.
- Não querem visitar Miquerinos antes? – Gugir perguntou espantando o comportamento daquela garota cega que parecia saber muito bem o que queria.
- Não temos tempo.
Eles seguiram estrada até muito perto da segunda pirâmide, a pirâmide de Kéfren. Ela era a segunda maior pirâmide do Egito e se destacava pela crosta a mais em sua ponta. Sob a entrada da pirâmide, Hermione parou de chofre. E começou a passar os dedos freneticamente sobre o livro.
- O rei Kefren era da quarta dinastia. Ele fez o culto à vários deuses, dentre eles Seth. -
Hermione virou-se para o lugar onde supostamente deveria estar a Esfinge, com o corpo de leão e a cabeça humana. - Kéfren desenterrou a esfinge na quarta dinastia e decidiu construir a pirâmide perto dela, achando que a esfinge protegeria sua morada eterna por todo o sempre. Ah... como não pensei nisso antes... – disse Hermione, aborrecida.
- O que, Mione? – perguntou Gina sem entender.
- Estava na minha frente o tempo todo. – Hermione começou a explicar – O mundo egípcio é o berço de toda magia. Os feitiços, os antigos encantamentos vieram desse lugar... mas muita coisa se perdeu com o tempo. Antigamente acreditava-se plenamente na vida após a morte, por isso, os reis, que eram considerados deuses, construíam templos e pirâmides, onde iriam repousar durante sua vida eterna.
- Mas isso não está certo, Mione. – Rony falou. – Sabemos que o que sobrevive é a alma e não o corpo.
- Sim, é claro! Mas eles achavam que não... achavam que o corpo permanecia...
- Não estou entendendo – disse Gina, ainda mais confusa.
- É isso o que Voldemort quer: ele quer ser eterno, está procurando pela vida eterna. A lenda de Osíris confirma isso: Osíris foi ressuscitado.
- Voldemort também – opinou Gina – Voldemort conseguiu driblar a morte, através dos Horcruxes.
- Talvez Voldemort tenha descoberto algo mais infalível do que apenas Horcruxes. Devemos nos lembrar de que quando todos os Horcruxes forem destruídos, Voldemort não poderá sobreviver. Ele quer algo infalível... quer algo que o torne eterno... algo que o torne imortal... – Tentando ordenar os pensamentos, Hermione sentiu uma luz iluminar sua mente – HOR... CRUXES... HOR... Meu Deus... talvez Horcruxe tenha sido uma das técnicas empregadas por HÓRUS... HOR...US...
- Horus? – Gina indagou.
- Hórus era filho de Osíris. Foi ele quem ressuscitou o pai. HÓRUS detinha os ensinamentos sagrados de vida e morte! Gugir! – disse Hermione virando-se para Gugir que assistia a tudo com curiosidade, sem entender direito o que aqueles jovens ingleses diziam. – Eu quero ir ao templo de Horus. Agora!
Hermione, Gina, Rony e Gugir avançavam na estrada para o templo de Horus, a leste do rio Nilo, enquanto o sol começava a perder sua força.
- Precisamos ser rápidos, srta. Granger – avisou o guia – anoitecerá em apenas uma hora e as noites do Egito são geladas. Pessoas costumam morrer de hipotermia em pleno deserto. É um mistério!
- Então, vá mais rápido! Não descansarei enquanto não vir o templo de Hórus, ainda hoje! – disse Hermione gritando para ser ouvida.
Gugir pisou no acelerador, mas um instante seguinte, pisou no freio, bruscamente. Gina e Hermione foram jogadas à frente, mas conseguiram se segurar para não serem jogadas para fora do carro. Rony não teve a mesma sorte e bateu com a testa no vidro dianteiro do carro, abrindo um corte feio.
- Que merda! – gritou Rony, irritado, colocando a mão sobre o ferimento que jorrava sangue. – Por que você parou de repente?
Gugir levantou a mão e apontou um dedo trêmulo para frente. Gina e Rony viram que, do nada, surgia uma parede de areia a sua frente.
- Tempestade de areia! – gritou Gugir e engatou a marcha ré.
- Espere! Não pare! Não pare, é uma ordem.
- Não vou ficar aqui para morrer... você está louca se pensa que pode sobreviver a isso.
Hermione pulou do carro.
- Gina, Rony... venham comigo!
- Não!Voltem para o carro! – Gugir gritou, enquanto Gina e Rony pulavam, meio indecisos, do carro. – Vocês vão morrer... e não vou me importar!
Gugir deu a volta e sumiu na estrada.
Hermione tirou um livro da bolsa e começou a lê-lo com a ponta dos dedos enquanto Rony olhava para o carro se afastando ao longe.
- Estamos mortos! – Rony exclamou, choroso – Nem chegamos perto de Voldemort e já estamos mortos.
Gina observou a parede de areia que havia se levantado há poucos metros deles com curiosidade. Apesar de se parecer com uma tempestade, aquela parede de nevoa, vento e areia estava completamente parada e não avançava sobre eles, como ela supôs que acontecesse.
- É muito estranho... – Gina comentou.
- O que é estranho? – Rony perguntou – Que vamos morrer?
- Não, tolo, olhe para a tempestade de areia. Não se move. Se fosse mesmo uma tempestade de areia já teria nos engolido.
- Não é uma tempestade de areia! – disse Hermione, sem tirar a ponta dos dedos de cima do livro. – É uma ilusão. Aposto que Voldemort está no templo de Horus e está simulando uma tempestade de areia para que nenhum turista sequer chegue perto. Vamos, precisamos ultrapassá-la.
- O que? Você está louca? – Rony perguntou, mas seguiu Gina que guiava Hermione em direção à parede.
Quando chegaram muito perto, Gina hesitou, enquanto Rony choramingava.
- Hermione... você tem certeza que...?
- Claro, Gina, vamos...
Segurando firmemente a mão de Hermione, Gina avançou sobre a parede. O vento forte e a areia castigou o seu rosto e ela e Mione tiveram que proteger seus rostos com a camisa. Mas Gina deu alguns passos somente e atravessou por completo. Do outro lado, os últimos raios de sol iluminavam ao longe o templo de Horus: com um grande falcão à frente.
- Vem, Rony! – Gritou Gina e um segundo depois, Rony surgiu esbaforido no lado em que elas estavam.
- Cohf, Cohf... – Rony tossiu, enquanto Gina limpava a si mesma e a Hermione da areia que as cobriu.
- Está perto, Gina? Você pode ver? – Hermione perguntou, impaciente.
- Sim, há apenas alguns metros, mas parece totalmente deserto. Não há carros...
- Talvez Voldemort e os comensais tenham aparatado até aqui – Supôs Hermione – De qualquer forma, temos que ter muito cuidado daqui para a frente. Vamos caminhar em silêncio absoluto e mantenham suas varinhas erguidas.
Eles começaram a caminhar em direção ao templo, enquanto Hermione sentia uma estranha sensação. Não sabia por que, mas algo lhe dizia que Harry ainda estava vivo e ela estava prestes a encontrá-lo.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!