Capítulo Único



Querido Senhor Cupido,


 


 Primeiramente, antes de me lançar em uma monótona narração, gostaria de lhe perguntar uma coisa mínima: QUAL É A SUA?!


 


 Com toda a sinceridade, eu não teria mandado meu currículo para J. K. Rowling se tivessem me avisado que Cupidos podiam andar livremente pelo mundo bruxo, atirando suas flechas em forma de coração. Não é nada contra a sua pessoa, mas além de as suas flechas terem forma de coração (uma coisa que eu considero muito gay, mesmo não tendo nada contra), a sua visão é uma verdadeira bosta.


 


 Desculpe-me o palavreado.


 


 Mas é uma bosta mesmo! Afinal, você nunca consegue acertar o alvo, não? Não, não é Alvo Dumbledore, seu Cupido idiota. Aliás, você, por um acaso, sabe o que é um alvo? Se sim, meus parabéns, mas se não, deixa eu te deixar uma coisa bem clara: EU NÃO SOU UM ALVO! Não era para você espetar sua flecha em mim! Eu nem sei de onde veio a porcaria da flecha, mas ela espetou em mim. Em mim! O que nos faz voltar à pergunta vital: QUAL É A SUA?!


 


 Caso você não saiba, suas flechinhas de coração fazem de nós, seres humanos, bobos apaixonados.


 


 Eu sou Sirius Black, conhecido como o maior pegador de Hogwarts (não, não sou galinha, sou pegador, é diferente) e simplesmente não posso me apaixonar. Entende? “Sirius Black” e a palavra “apaixonado” não se encaixam na mesma frase, como você já deve ter notado.


 


 Nesse caso, como, e eu repito, como você deixou que uma das suas flechinhas de purpurina me acertasse? Se foi por acidente, eu te perdoou, se não foi eu quebro as suas asinhas, mas, nos dois casos, peço-lhe gentilmente: ME DESVIRA, ME DESVIRA!


 


 Por quê? Meu querido, eu não posso estar apaixonado. Isso é logicamente impossível. E não vai ser por causa de um anjinho metido à Cupido que isso vai mudar, seu babaca!


 


 Mas sabe qual é? Eu resolvi te desculpar. E sabe por quê? Bem, pelo simples fato de que você não me deixou na mão. ‘Tá certo que se apaixonar não estava nos meus planos para o meu último ano em Hogwarts, porém devo dizer que você fez com que eu não me apaixonasse por qualquer uma. Afinal, Marlene está longe de ser qualquer uma. Ela é linda, espontânea, engraçada, inteligente, linda, ligeiramente irritante, tímida, linda... Já falei que ela é linda?


 


 Marlene tem olhos grandes entre o azul e o verde, tão ridiculamente brilhantes e maravilhosamente únicos. Os cabelos lisos e negros, quase sempre soltos. Uma franja cobre sua testa, deixando os olhos ainda maiores. Seu nariz é curvilíneo e empinado, as maçãs do rosto são acentuadas, os lábios são tão pateticamente vermelhos e apetitosos. E o corpo... não é do seu interesse, seu Cupido intrometido!


 


 A questão é que você me deu alguém espetacular para amar. E eu lhe agradeço por amenizar minha desgraça. O que não tira o fato de que eu estou apaixonado e ela não liga a mínima para mim. E também não tira o fato de que você escolheu um péssimo alvo.


 


 Por favor, ME DESVIRA! Cara, estou meio histérico hoje...


 


 Quer saber? A sua flecha deve ter algum tipo de toxina. E quer saber mais? Você é um ser cuja existência é inútil. Afinal, quem recebe cartas é o Papai Noel, você não recebe carta alguma, seu Cupido miserável. Eu estou te fazendo um favor, pois estou lhe escrevendo sua primeira carta. É, eu sei... não precisa agradecer.


 


 Voltando... QUAL É A SUA?! Porque você sai atirando flechas aos quatros ventos? Eu não precisava me apaixonar, estava bem feliz com minha vida de pegador (não galinha, tenha respeito) e terrivelmente satisfeito com os resultados dela. Não precisava da sua flechinha de merda, não precisava do amor.


 


 E não precisava de Marlene. Eu não quero precisar dela. Embora (agora) esteja claro que eu preciso dela.


 


 Tudo culpa sua, seu Cupido maldito! Você devia tentar outro hobby, entende? Tipo, tricot.


 


 Na boa... ME DESVIRA! Ou, no mínimo, espeta uma flechinha de coração purpurinada na Lene. Assim, seremos ambos apaixonados um pelo outro e todo mundo sai feliz.  


 


 Desesperadamente,


 


 Sirius Black.        


                          


 


 Marlene McKinnon deu um sorriso de lado ao terminar de ler a última linha.


 


 Era 14 de fevereiro, Dia dos Namorados e havia, como sempre, passeio à Hogsmeade. Nesse dia, Marlene esperara se levantar da cama, tomar um banho e escolher uma roupa incrível. Mas, antes que pudesse descer para a Sala Comunal, acabara encontrando um envelope roxo berrante, guardando um pedaço de pergaminho cuidadosamente dobrado em dois.


 


 Claro que sua imaginação fora à mil quando leu seu próprio nome escrito em dourado na parte externa do envelope. Ela esperara que fosse Christian – seu acompanhante no passeio à Hogsmeade – com um presente adiantado, um poema talvez (Christian adorava escrever-lhe poemas)... Mas se postara surpresa quando não reconhecera a caligrafia.


 


 E claro que a curiosidade falou mais alto do que a desconfiança, fazendo Marlene ler o pergaminho sem realmente pensar em quem o escrevera. Ela surpreendeu-se e pegou-se perguntando que maneira mais romântica e marota existiria para declarações de amor.


 


 Naquele momento, a carta lhe parecera bem mais maravilhosa do que qualquer poema.


 


 Sem se dar conta de que seu sorriso crescia, Marlene correu escada à baixo, pronta para perguntar como Sirius conseguira colocar o envelope no dormitório feminino e dizer-lhe que o Cupido não era de fato um anjo miserável.


 


 


 


 


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