Miguel e eu preparamos uma tor

 

Acordei totalmente atrasada. Sim, eu sei que é sábado, mas depois de uma certa idade, as manhãs de sábado acabam se tornando como manhãs de segundas-feira - só que mais animadoras. Olhei para meu relógio  de Mike Wazowski, de Monstros S.A (nem um pouco infantil) sobre o criado mudo com a visão ainda meio embaçada. Os ponteiros marcavam 11h12. Que tipo de pessoa desocupada acorda essa hora? Essa é fácil. Eu.

Confesso que preferiria ficar lá, deitada, sonhando com meu prêmio da mega até às 14hrs, mas havia combinado de ficar com meus vizinhos para a Sra. Mint. Adorava os garotos e ainda receberia por isso.

Tomei um rápido banho, escovei os dentes e vesti o primeiro moletom que encontrei. Nem precisei tomar café. Sabia perfeitamente as maravilhas que habitam a geladeira dos Mint.

A tarde, em geral, foi ótima. Adoro crianças (dos outros) e Miguel e Luan são, sem dúvida, os garotos que escolheria para serem meus irmãos. Miguel tem doze anos e o google dentro da cabeça. Luan tem seis, e é um amor. Não sei como uma mocréia daquelas conseguiu ter filhos tão adoráveis. Passamos a tarde toda jogando vídeo-game, assistindo Star Wars (à pedido de Miguel) e tentando preparar uma torta de limão. Nunca fui do tipo que brincava de boneca ou  trançava o cabelo das amigas, sabe? Sempre fui uma molecona, como meus pais diziam. Eu e os garotos só não jogamos futebol porque Miguel disse que não era sua praia.

Mais tarde, quando me preparava para ir embora, Miguel veio até mim.

- Lene, você acha que a-a Mi- Milena iria comigo ao parque?

Milena era uma menina que morava uns três andares abaixo de nós. O pai dela era o coroa mais gato do prédio.

- Que tal se você perguntasse? Tenho certeza  que ela adoraria. Leve um pedaço da torta - terminei, vestindo meu casaco.

- É  que, sabe, hum, eu gosto dela. Bastante. E me lembro de seu último namorado,  Lene. Ele te fez sofrer. Não quero ser como ele.

Eu sabia do que ele falava.  Dois anos atrás, Erick, meu namorado desde os dezesseis anos me deixara para viver com uma loira oxigenada na Espanha. Miguel sabia de tudo pois o conhecia, e eu, boca aberta, lhe contara.

- Miguel, você não é como aquela cacatua. Só de me contar esse seu medo, você já provou. Vai lá falar com ela- dei uma cutucada na barriga dele- depois me conta.

Estava fechando a porta quando ele  me interrompeu novamente.

- Sabe Lene, sobre a torta... acho melhor não levar pra ela. Não sabemos os efeitos colaterais.

                                                                *****

 

 N/A: Gente, me perdoem pelo tamanho do capítulo, mas não costumo deixá-los muuuito longos. Sei que dei uma enrolada antes de realmete engatar na história, mas é que preciso deixar vocês cientes da história da Lene e de seu jeito de ser, para que  tirem suas próprias conclusões. Um beijo!

B. 

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