Capítulo único.

Capítulo único.



O Sol brilhava bastante, e os olhos do homem que estava à sua frente também. Porém, o segundo intrigava-se com o calor, talvez ― para ele ―, desnecessário; já o primeiro aquecia aos outros naturalmente. Era uma comparação bem idiota, como Sirius mesmo concluiu, mas, mesmo assim... Naquele momento parecia pertinente.

E muitas outras coisas seguiam esse mesmo padrão.

Sirius Black bebericou um pouco do chocolate quente e isso fez com que o olhar intrigado de Remus se intensificasse mais. Não que Black o culpasse ― realmente era estranho em pleno verão inglês todo aquele fogo e calor. Mas a lareira acessa tinha um propósito.

― Você não quer mesmo apagar esse fogo, Snuffles? ― Perguntou o amigo, naquele mesmo momento, como coincidência. 

Sirius achou morbidamente irônico que era aquela mesma pergunta que ele repetira consecutivamente à sua amada em todos os anos anteriores. Obviamente, o vocativo não era o mesmo, e sim um carinhoso “Lene”.

E Black entendia perfeitamente como Lupin se sentia. Outrora, ele estava em seu papel. Mesmo no inverno, Sirius sempre achava que derretia quando estava com Marlene. Não pelo sentimento que sentia por ela, e sim porque a morena era fascinada por fogo e calor. Sempre ascendia a lareira e carregava fósforos consigo. Ele lembrou-se também de um caso em especial: quando a grifinória cumprira uma detenção, acusada de tentativa de incêndio pelo monitor sonserino da época, quando, na verdade, ela estava apenas brincando com o que ela chamava de a maior de todas as artes.

Não pôde evitar um enorme sorriso ao lembrar-se claramente da revolta da garota naquela ocasião. E, também, da quantidade de beijos que ele tentara espalhar pela face da garota ― vermelha de raiva ― antes de finalmente conseguir acalmá-la. Sirius às vezes achava que ela era como o fogo: uma vez que aceso, era muito difícil controlar.


Balançou a cabeça e concluiu que era outra comparação estúpida. Mas a verdade é que fogo se encaixava com a personalidade da garota. Marlene é quente. Pelo menos, era...

Seu sorriso murchou-se instantaneamente ao lembrar-se de como ela deveria estar fria agora. Mesmo abaixo daquele Sol infernal, ela estaria fria, trancafiada em madeira ―“madeira é o melhor material para queimar, Sirius!”―, embaixo da terra, sozinha...

― Tudo bem, eu apago a lareira. ― Respondeu Black, tirando a varinha das vestes e fazendo a claridade sumir. Remus levantou-se, deduzindo que as lembranças voavam até Sirius, e deu-lhe um abraço consolador. Sirius apoiou a cabeça nos seus ombros e deixou apenas um soluço fraco escapar. Sem lágrimas ― “você não está chorando, está? Isso é coisa da mariquinha!”.

Então Black puxou um fósforo das vestes e o ascendeu, deixando o fogo encostar-se à sua pele, no fim ― “o melhor é quando o fogo nos queima um pouquinho. Eu não sinto dor em momentos assim. É extremamente... Encantador”. Os dois amigos se encararam e trocaram sorrisos cúmplices.

Quiçá, mesmo em sua cela de madeira, Marlene ainda carregasse alguns fósforos no bolso do casaco.

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