Sorriso Safado



 


Seis Sorrisos


 


 Sem pensar muito, ele prensara a garota na parede. Uma coisa um tanto romântica para os apaixonados, um tanto safada para aqueles com a mente pervertida. Mas para Harry, não era nem uma coisa nem outra.


 


 Afinal, porque ele pensaria em prensar sua amiga na parede de modo romântico ou pervertido? Não havia lógica em nenhuma das alternativas, mas isso pouco importava. Nenhuma delas explicava corretamente o porquê de tê-lo feito. 


 


 O fato inegável era que Harry a prensara na parede de modo impaciente e nada educado. Ele podia sentir seu corpo emoldurado no corpo dela, como se esse fosse seu encaixe perfeito. Podia sentir sua respiração, seu hálito, seu cheiro. Podia sentir – e enxergar, diga-se de passagem – sua confusão: estava estampada em seus olhos castanhos.


 


 - Harry? – Hermione perguntou, levemente ofegante e assustada, os olhos arregalados de susto. – Você está bem?


 


 Pobre, Hermione, ele pensou, levemente penalizado. Apenas levemente, porque sua concentração estava nos lábios rosados e cheios da garota, passando a observar analiticamente a boca da amiga, procurando algo que ela não sabia o que era.


 


 Estava claro que Harry esperava alguma coisa, já que lançava olhares ansiosos à boca de Hermione de tempos em tempos. Mas, visto que nada acontecia, ele olhava em seus olhos e apertava ainda mais seus corpos, como se assim pudesse desencadear qualquer reação da parte dela.


 


 Mas nada aconteceu. Hermione continuava a encará-lo assustada, a mesma expressão de choque transfigurando seu belo rosto.


 


 - O que...? O que você está fazendo? – voltou a perguntar Hermione.


 


 A única resposta que obteve foi um suspiro frustrado de Harry, antes de este se abaixar e beija-la.


 


 FLASHBACK ON


 


  Harry e Rony encontravam-se sentados em uma mesa particularmente pequena no Três Vassouras, tentando, inutilmente, chamar a atenção da garçonete que circulava pelo bar tipicamente lotado.


 


 Era dia de passeio em Hogsmeade e o povoado estava cheio de estudantes. Os garotos, em sua maioria, estavam acompanhados por garotas, com a exceção óbvia de Harry e Rony.


 


 Eles provavelmente estariam com Hermione, se esta não estivesse ocupada em um encontro conjunto com Gina, do outro lado do bar. Para cada uma das garotas, havia um corvinal e ambas pareciam se divertir muito, rindo sem parar.


 


 Harry não gostara muito da situação, principalmente sendo Gina quem era. Ou seja, ela provavelmente não sairia daquele encontro com as mãos abanando – provavelmente ficaria aos amassos com o corvinal. E isso lhe preocupava, já que ele (Harry) nutria uma paixonite pela ruiva.


 


 Já Rony, estivera temendo aquele encontro conjunto por causa de Hermione, claro. Mas ele não parecia tão inconformado quanto Harry.


 


 O moreno se virou para compartilhar seu desagrado com o amigo, mas este foi quem iniciou a conversa:


 


 - Ela tem um belo sorriso, não? – perguntara, levemente distraído, os olhos grudados em Hermione.


 


 Os olhos de Harry foram de Gina – que estava aos beijos com o corvinal – para Hermione – que sorria gentilmente para seu acompanhante. 


 


 - É, tem mesmo... – comentara Harry, desanimado, mas, ainda assim, reconhecendo o belo sorriso da amiga.


 


 - Dá para notar que ela não está gostando muito do encontro. – comentou Rony.


 


 Harry não concordava com isso.


 


 - Rony, odeio acabar com suas esperanças, mas... Bem, ela está sorrindo. Acho que significa que o encontro esteja sendo agradável. – palpitou ele.


 


 Para sua despreparada surpresa, Rony riu.


 


 - Não são esperanças, Harry. – ele apontou a mesa onde Hermione estava com um aceno de cabeça. – Ela não está gostando justamente pelo fato de estar sorrindo.


 


 Harry franziu a testa.


 


 - O que quer dizer?


 


 - Ela está sorrindo gentilmente. Quando ela sorri assim, está demonstrando um educado interesse. Ou seja... – Rony gesticulou para que Harry terminasse a frase.


 


 - Está ali só por educação. – disse Harry e riu. – Sabe, eu nunca teria reparado nisso.


 


 Rony deu de ombros.


 


 - Não é grande coisa. Se você reparasse mais nela, saberia que Hermione pode ser decifrada pelos sorrisos.


 


 - Não é nela que estou interessado.


 


 - Agradeço por isso. – concordou Rony. – Mas, repare. Chega a ser surpreendente.


 


 Harry voltou seu olhar para Hermione e observou por alguns minutos, mas não conseguiu ver nada de diferente.


 


 - Acho melhor deixar que você faça isso. – disse ele. – Não vi diferença alguma.


 


 - Você não olhou direito.


 


 - O que exatamente eu devo olhar?


 


 - Os sorrisos. – explicou Rony. – Hermione tem seis.


 


 - Seis sorrisos?


 


 O ruivo concordou com um aceno de cabeça.


 


 - O sorriso gentil, que é usado apenas por educação – Rony começou. – O sorriso triste, que é usado para disfarçar quando ela está magoada com alguma coisa. O sorriso maroto, que é quando ela está descontraída. O sorriso inteligente, que é usado quando ela sabe uma coisa que você não faz idéia. O sorriso verdadeiro, que é usado quando ela realmente acha graça de alguma coisa. E o sorriso de lado, que é usado quando ela está sendo irônica. Este último normalmente vem acompanhado de um sobrancelha perfeitamente arqueada – Rony recitou, os olhos fixos na morena.


 


 Harry riu.


 


 - Não posso acreditar que presta atenção nessas coisas – riu-se ele.


 


 - Quando se está apaixonado por uma pessoa difícil, deve-se saber um modo de decifrá-la. – explicou-se Rony. – Mas creio que ainda faltam muitos sorrisos na minha lista...


 


 Harry olhou novamente para Hermione.


 


 - ‘Tá – concordou ele. - Ela tem um belo sorriso.


 


 - Fico me perguntando como seria o sorriso safado dela... – meditou Rony, falando mais para si mesmo do que para Harry. – Esse é um dos sorrisos que nunca a vi dar.


 


 FLASHBACK OFF   


 


  Durante semanas, Harry se pegara decifrando cada um dos seis sorrisos de Hermione. Passara a reconhecer cada um deles, descobrindo o estado de espírito da garota apenas pelo sorriso.


 


 Rony tinha razão. Era surpreendente.


 


 Mas, assim como Rony, Harry notara a falta de um sorriso. O “sorriso safado”, como o amigo nomeara, nunca aparecia no belo rosto da morena e isso estava começando à deixa-lo completamente obcecado. Vira e descobrira – chegara até a causar – todos os sorrisos de Hermione, então porque era tão difícil encontrar o último?


 


 Harry vasculhara sua memória, afinal, era amigo de Hermione à anos, não era possível que nunca a vira dar aquele sorriso específico. Mas nada encontrara em sua memória.


 


 Por isso estou aqui, ele se lembrou. Naquela tarde, Hermione passara por ele em dos corredores e em seu rosto havia o sorriso gentil que Harry tanto conhecia. Porém, o maldito “sorriso safado” se negava à aparecer, o que fez o garoto ficar raivoso.


 


 Era por esse motivo que Harry agora quebrava o beijo dado em uma Hermione ainda prensada na parede. Ele decidira causar aquele sorriso.


 


 Mas, assim que se distanciou o suficiente de Hermione, o que viu foi mera confusão e nem sombra de sorriso.


 


 - O que...? – ela começou a perguntar, mas foi interrompida pelo dedo indicador de Harry que pousou delicadamente em seus lábios.


 


 Por Merlim! O que havia de errado com ele? Em que planeta ele, Harry Potter, prensaria Hermione Granger, sua melhor amiga, na parede de um corredor de Hogwarts apenas com o intuito de enfiar-lhe a língua na boca? Ah, droga, havia enfiado a língua na boca dela!


 


 Certo. Agora já era, não tinha como voltar atrás. Mas... e agora?


 


 - Harry? – Hermione sussurrou, incerta.


 


 O moreno amaldiçoou Rony até sua sétima geração por tê-lo enfiado nessa situação. Se Harry fosse honesto consigo mesmo, admitiria que Rony não tinha tanta culpa assim, afinal, o ruivo apenas comentara sobre os sorrisos de Hermione. A parte que dizia respeito à sua obsessão pelos sorrisos da amiga, não tinha nada a ver com ele.


 


 Porém, se Rony não tivesse lhe contado sobre os sorrisos, Harry não teria reparado, nem ficaria obcecado e, consequentemente, não estaria aqui agora.


 


 - Harry, você poderia se afastar um minuto? – perguntou Hermione timidamente. – Acho que preciso de ar e fica meio difícil respirar com você aqui...


 


 Sem perceber, Harry se lançara em um relato detalhado sobre a conversa que tivera com Rony, enquanto andava de um lado para o outro no corredor. Contou sobre o sorriso gentil e como ela parecia infeliz em seu encontro com o corvinal. Contou sobre os seis sorrisos e sobre como ele conseguira encontrar cada um deles durante as últimas semanas. Contou sobre o único sorriso que nunca a vira dar e sobre como ele ficara obcecado por esse sorriso, até mais do que Rony. E terminou seu relato desesperado com um pedido de desculpas que envolvia cerca de alguns minutos apenas para falar o quanto ele era desprezível.


 


 - Hum – fez Hermione, depois de ouvir o desabafo inconsciente do melhor amigo. – Creio que sua tentativa de arrancar-me um sorriso safado não foi de todo produtiva, não? – comentou, amigavelmente.


 


 Harry escondeu o rosto nas mãos, sentindo-se corar.


 


 - Não vejo como discordar – respondeu, a voz abafada por causa das mãos.


 


 - Eu não sabia que era assim tão fácil me decifrar...


 


 - Nem eu.


 


 Hermione deu um sorriso maroto.


 


 - Também não sabia que tinha seis sorrisos. – disse ela, divertida.


 


 Harry riu.


 


 - Nem eu.


 


 A garota recostou-se na parede, parecendo levemente pensativa.


 


 - E acima de tudo – continuou. – Não sabia que Rony reparava em mim...


 


 Esse último comentário fez com que Harry olhasse para Hermione, os olhos verdes tinham um brilho especulativo.


 


 - Na verdade – murmurou Harry. – Rony vem reparando em você desde sempre. Ele gosta muito de você. – apesar de partir em defesa do amigo, Harry não pode deixar de sentir seu estomago despencar. Porque, afinal, ela queria que Rony reparasse nela?, ele se perguntou, com um gosto amargo na boca. – Você parece muito satisfeita com isso. – comentou ele, sem conseguir refrear a língua.


 


 Hermione encarou-o e disse, se aproximando casualmente.


 


 - Ah, sim. Me sinto lisonjeada. – admitiu. – Rony é um ótimo amigo e eu sinceramente gosto muito dele. – continuou. – Mas não posso deixar de me sentir um tanto decepcionada – ela deu um sorriso inteligente. – Já que a pessoa que eu gostaria que tivesse reparado em mim e em meus supostos seis sorrisos, não o fez. – ela parou em frente à ele. – Não é, Harry? – perguntou, uma sombra de sorriso safado nascendo em seus lábios.


 


N/A: cara, acho que minha imaginação rola solta quando estou sozinho em casa no meio da noite. Esse é minha terceira short da semana O.O Creio que bati meu recorde. *risos*


 Enfim, short baseada na fanfic “Para Mordiscar” (sou simplesmente gamado nessa fic; já li três vezes e recomendo). Tentei fazer o menos parecido possível, mas se a coisa tiver MUITO semelhante, eu peço desculpas.


 


 Comentem e passem nas minhas outras fics.


 


Beijos com gosto de sal, *piada interna*


 


Thomas Cale


 


    


 


         

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Comentários (2)

  • michelle lima

    Adorei.... Tao inesperado.. inicio muito bom... Pensei caramba.... muito boa mesmo... Quase fiquei com pena do rony... Mas sou totalmente e completamente hh.... Lindos parabens...

    2014-01-13
  • Neuzimar de Faria

    Não sou fã do ship, você sabe, mas, sem dúvida, outra fic muito bem escrita.

    2013-03-02
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