Discução



Uma garrafa de whisky e um apartamento pequeno


 


 Hermione Granger adentrou seu pequeno apartamento em Londres. Ali, era um local realmente pequeno, com vista para a estação Kings Cross. Isso, é claro, se você se inclinasse na janela e virasse o pescoço até doer. Mas para ela estava mais do que bom.


 O apartamento tinha uma sala, um banheiro, uma cozinha, um quarto. Ou seja, tinha apenas o essencial para alguém morar sozinho. E esse era o desejo de Hermione.


 Quando ela se casara à poucos meses, deixando-se seduzir por um ruivo de voz rouca e gentil, fora pela simples e incomoda solidão. Não queria estar sozinha. Então encontrou Rony que gostava de beber e gostava das morenas.


 O casamento acabou depois de dois meses.


 Os resultados não foram bons e ela se arrependia de cada minuto.


 Acabou por se mudar para aquele pequeno apartamente, passando a apreciar cada minuto de sua solidão.


 Os móveis do apartamento eram coloridos, de um jeito que animava o ambiente consideravelmente. As prateleiras, minuciosamente pintadas de verde, que haviam na sala tomavam o espaço de uma parede inteira e estavam cheias de livros. O sofá era vermelho. A mesinha de centro estava sempre abarrotada.


 O armário embutido no fogão era o que ela tinha coragem de chamar de cozinha. O quarto tinha uma cama enorme e um guarda-roupa pequeno.


 Era tudo muito apertado, mas bem aconchegante.


 Hermione largou a bolça em cima da cama e estava indo para a cozinha preparar um café quando a campainha tocou. Ela olhou para o relógio e descobriu que estava tarde para se receber visitas. Olhou para o taco de beisebol que se encontrava extrategicamente posicionado atrás da porta. Ele nunca fora usado, mas quem sabe hoje fosse sua estréia.


 - Quem é? – perguntou.


 - Harry! – respondeu uma voz do outro lado da porta.


 Hermione revirou os olhos e abriu apenas uma fresta da porta.


 - O que você quer, Harry? Está tarde. – perguntou rudemente.


 - Eu não queria ir para casa... – explicou. – Por favor me deixe entrar.


 A morena soltou suspiro e abriu a porta. Harry entrou e se sentou no sofá.


 - Gina me pediu o divórcio... – balbuciou ele.


 - Porque não estou surpresa? – perguntou ironica.


 - Não fale assim.


 - Ora, Harry, você chegava em casa e se embebedava todos os dias. O que esperava que ela fizesse? – despejou Hermione, olhando-o.


 Ele olhou-a de volta, inocente.


 - Não tenho culpa se precisava de um drinque.


 - Não vou lhe dar bebida, se é por isso que está aqui.


 Harry riu.


 - Não será necessário. – ele levantou uma garrafa de whisky e lhe mostrou. – Eu trouxe. – e bebeu o líquido direto do gargalo.


 A mulher bufou, irritada. Hermione odiava bebida alcóolica. Ela e Harry estavam bêbados na noite em que fizeram a besteira de se envolverem. O resultado foi uma gravidez absolutamente acidental. Quando contara a Harry, ele lhe pedira em casamento.  Mas  nada disso deixou marcas. Duas semanas depois, ela perdeu o bebê.


 - Não pode deixar que a bebida te afete desse jeito...


 - O problema não é a bebida. Sou eu. – Harry resmungou, um pouco ofegante. – Eu sou fraco, Mione. Vim ao mundo para obedecer. Só sirvo para isso.


 - Pare de falar besteiras.


 - Ora, veja! Dizem que querem me declarar Ministro da Magia e eu digo “quando querem que eu comece?”. Gina quer o divórcio e eu digo “quer que eu pague seu advogado?”.


 Eu engravido e você me pede em casamento, pensou Hermione, mas manteve-se calada.


 - Quando éramos só você e eu, nada disso era assim... – continuou ele.


 - Nunca houve “você e eu”, Harry. Nunca houve um “nós”. Aquilo foi um erro. – retrucou ela. – Naquela época você ainda não tinha deixado que a bebida te afetasse como afeta agora.


 Harry resmungou alguma coisa inintelígivel e estendeu a mão para pegar a garrafa de whisky de novo. Mas Hermione foi mais rápida: pegou a garrafa e derramou todo o seu conteúdo na pia.


 - Ah, droga, Hermione! – ralhou Harry. – Mas que merda!


 - Porque vocês, homens, se deixam levar por essa porcaria de bebida?! – gritou ela, enfurecida. – Cada homem descente dessa cidade fica de quatro por um garrafa de whisky!


 - Vocês, mulheres, nunca vão entender!


 - Ah, claro, eu nunca vou entender! Não vou entender porque Rony chegava em casa bêbado todos os dias e transava comigo, eu querendo ou não! – berrou.


 Harry arregalou os olhos.


 - Sinto muito, Mione, eu não sabia...


 - É claro que você não sabia! Estava ocupado demais com a sua garrafa de whisky para notar meu sofrimento!


 - Olha só, eu...


 - Mas eu vou te contar uma coisa, Harry. – ela o interrompeu. – Você e Rony não precisam da bebida para se fazerem de miseráveis. Vocês já fazem esse papel sozinho!


 - Não fale assim...


 - E eu sei que você tem muitos motivos para se afogar no álcool. Seus pais morreram. Meus pais me amaram muito e continuam vivos. Sua esposa te deu o fora e seus filhos certamente estão contra você. Meu marido se entupia de whisky e me estrupava todos os dias! Eu perdi um filho!


 Hermione estava revoltada. Ela queria desesperadamente bater em alguma coisa e acabou por pegar a garrafa vazia e atirar na parede.  


 - Sinto muito, sinto muito... – repetia Harry, com os olhos lacrimejando.


 - Não vem me dizer que sente muito! Eu tenho motivos suficientes para estar me embebedando agora! Mas não! Eu ‘tô aqui. Eu superei. Superei você e superei Rony, porque me dei conta do meu erro.


 Foi a vez de Harry ficar furioso.


 - Não! – ele berrou. – Não faz isso! Não compara o que a gente teve com o que você teve com o Rony!


 - Então não use o que a gente teve do mesmo jeito que você usa seu casamento com a Gina!


 - Eu não fiz isso... Foram duas coisas diferentes.


 - É claro que foi diferente! Ela é linda! Ela é brilhante! E eu?! O que eu sou, Harry? – perguntou Hermione, fazendo Harry se levantar. – Talvez você não a tenha amado o suficiente. Do contrário, ela ainda estaria com você.


 - Ela não me queria mais! – um brilho perigoso estava nos olhos verdes dele, mas Hermione não recuou. – Não dá para obrigar alguém a amar você!


 Hermione começou a gargalhar.


 - Pode ter certeza que não, Sr. Potter. Você pode ter derrotado Voldemort, mas é um idiota. – ela chegou perto dele. – Um idiota! – berrou.


 - Ninguém nunca me amou, é isso o que quer dizer? – Hermione se apoiou na bancada, limpando as lágrimas que o surto de gargalhada lhe causara. – É O QUE QUER DIZER?! – berrou Harry.


 - Eu amei! – ela berrou de volta. – Amei quando entreguei minha inocencia nas suas mãos. Amei quando soube que estava grávida. Amei quando me pediu em casamento. Amei quando perdi nosso filho. Amei quando você fez pouco caso disso. EU TE AMEI!


 Harry a encarou atordoado, a raiva sumindo tão de repente quanto aparecera.


 - Hermione, eu...


 - Vai embora, Harry.


 - Mas...


 - VAI EMBORA!


 Hermione esperou até que ele saísse pela porta de seu pequeno apartamento, fechando-a atrás de si. E correu para o quarto, deitando na cama e se permitindo chorar compulsivamente.


 


X&X


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