Maldita Habilitação



- James! Você tá na contramão! - gritou o amigo tentando virar o volante.


- Jura, Sirius? - perguntou com sarcasmo.


- Olha o carro! - gritou novamente e no momento seguinte James virou com tudo para a esquerda, escapando por pouco de dar um encontrão com o outro carro. - Me lembre de nunca mais andar de carro com você!


- E você me lembre de nunca mais andar de carro!


- Ahhhhh! - gritou o de cabelos negros enquanto o carro dava um salto e ele batia a cabeça no teto. - Vai mais devagar! A gente passou por um quebra-molas agora, seu louco!


No mesmo minuto eles ouviram uma sirene e olharam pra trás.


- Olha pra frente, seu idiota! - gritou Sirius, ao perceber que o carro havia subido no meio-fio. - Pára a merda do carro, James!


- Ta bom, Sirius! Ué! Que carro é esse atrás da gente?


- É a polícia trouxa, seu quadrúpede bicornal!


- Quadrúpede o que?


- Bicornal.


- Isso existe?


- Agora sim.


- ...


Os dois se viraram para o lado do motorista quando ouviram uma batida na janela.


- Ai, onde que é o botão pra abaixar o vidro? - perguntou James olhando para os lados freneticamente.


- Aí na porta do seu lado, sua mula. E não é um botão.


James apenas fuzilou o amigo com o olhar e girou aquela espécie de manivela, dando de cara com um policial, que tinha uma expressão nem um pouco agradável, e deu o maior sorriso que conseguiu.


- Boa noite, senhor policial!


- Boa noite, senhor...?


- Potter. - disse ainda sorrindo.


- O senhor tem ideia da velocidade em que andava agora a pouco?


- Ahn... Um pouco rápido?


- Um pouco? O senhor ultrapassou o limite em quarenta km!


- Quarenta? Sirius, porque você não me avisou que foi tanto? - perguntou se virando com tudo para o amigo.


- E eu com certeza sabia disso...


- Sem querer interromper, mas já interrompendo... Habilitação, por favor, Sr. Potter.


- Ah... claro. A habilitação. Vou te contar uma história, senhor policial.


- ...


- Era uma vez uma ruiva temperamental que ficou grávida deixando seu marido imensamente feliz. Mas com o passar do tempo esse feliz foi substituído por louco. A ruiva cismava toda noite exatamente a uma da manha que queria comer um maldito miojo quatro queijos, que por acaso estava em falta na pequena cidade onde eles viviam. Resultado: marido dormindo no sofá por não ter realizado os desejos da mulher. Acho que o senhor entendeu. - a ultima frase ele disse com o olhar esperançoso.


- E onde a habilitação entra nessa história?


- Bom... O marido, morrendo de sono, nem se tocou de pegar a habilitação.


- É... Mas ele se fez questão de lembrar-se de arrastar o amigo dele para ajudar... - resmungou Sirius com a cara emburrada.


- Muito bem, Sr. Potter...


- ...


- ... eu sei exatamente como você se sente! Minha esposa me acordava toda noite quando ficou grávida do nosso primeiro filho. Mas acredite, Sr. Potter, é muito pior quando eles crescem. Vai desejar pro resto da vida que eles tivessem continuado na barriga da mãe, causando desejos incompreensíveis para nós, homens, que ocasionariam o nosso despertar de madrugada para ir atrás das mais inimagináveis comidas.


- Então...


- Vou liberá-lo dessa vez, Sr. Potter. Mas peço que o senhor diminua a velocidade, pare de passar voando pelos quebra-molas, não ande na contramão e não suba no meio-fio.


- Sim, senhor. - e bateu uma leve continência.


E depois disso o policial entrou em seu carro e continuou a patrulha.


- O policial falava bonito. - proferiu Sirius distraidamente.


- Sirius, - começou James voltando a ligar o carro, engatando a marcha corretamente dessa vez. - acaba de me ocorrer uma coisa.


- O que?


- Como você sabe tanto sobre como dirigir?


- Ahn... talvez porque eu dirija uma moto.


- To falando de carro.


- Eu sei algumas coisas. Mas prefiro motos.


- Hum...


- Ali! Tem um mercado, James! Pára o carro!


- Tomara que o miojo tenha chegado... - disse James depois de parar o carro. Ele tinha os olhos fechados e a cabeça virada para cima.


Sirius olhou-o como se fosse louco e ambos desceram do carro.


- Oh, boa noite, Sr. Potter!


- Oi, John.


- Vai querer o que essa noite?


James estranhou a pergunta, já que era meio óbvia.


- O mesmo que eu queria na noite passada e na retrasada e na noite antes dessa e na que veio antes e em todas as outras.


- Claro, claro. Miojo quatro queijos! - disse o vendedor sorrindo.


- Então, chegou? - perguntou esperançoso.


- Não.


A cara esperançosa de James se desmanchou completamente e ele abaixou a cabeça.


- Vamos para outro mercado, Sirius.


- Certo.


- Volte sempre, Sr. Potter!


"Para que pedir? Eu sempre acabo voltando mesmo...", pensou enquanto entrava no carro.


~*~


- Você quer mesmo entrar no mercado? Eu duvido que tenha o tal miojo, num tinha ontem. - disse James desanimado, estavam, no mínimo, no milésimo mercado.


- Vai saber... Pode ter acontecido um milagre. Os trouxas num vivem mostrando isso na tevelisão?


- É... Às vezes eles mostram isso na televisão. Então ainda temos esperança? - perguntou o de óculos, os olhos brilhando.


- Talvez...


Os olhos de James perderam o brilho imediatamente.


- Você vai dessa vez, Sirius. - disse ele.


- Tá bom... - respondeu abrindo a porta e saindo em direção ao mercado, até que James perdeu-o de vista.


~*~


- James... Jaaaaaaaaames... - a voz de Lily sussurrava em seu ouvido, ele abriu os olhos e esquadrinhou o local, mas não avistou os fartos cabelos ruivos da esposa.


- Lily? - ele quis falar, mas a voz não saiu. - Onde você está? - perguntou movendo os lábios ainda sem voz.


- James... Onde está meu miojo, James? - sussurrou de novo com a voz doce.


- Cadê você, Lily? Talvez se eu pudesse falar você saberia do seu miojo, mas... - nem um murmúrio podia ser ouvido.


- James, eu estou aqui! - nesse momento ele sentiu as mãos dela em seus ombros e se virou as procura de seus olhos verdes, mas a única coisa que encontrou foi um par de olhos vermelhos e sanguinários, a criatura tinha o mesmo rosto que Lily, mas os dentes eram pontiagudos, ela sorria malevolamente, usava a mesma camisola e no lugar dos cabelos vermelhos havia uma coisa enrolada e gosmenta de cor amarela... Seria miojo? Sim, miojo.


James gritou e dessa vez a voz saiu.


- Jaaaaaaaames... - chamou ela novamente.


~*~


- JAMES! Acorda, seu veado! - gritou Sirius sacudindo o amigo pelos ombros.


- Hã? Que? - perguntou olhando confuso para todos os lados, aparentemente a procura daquele monstro, mas encontrou apenas o amigo de cabelos compridos.


- Acho que você tava tendo um pesadelo.


- É... Era mesmo um pesadelo.


- Com o que?


- Com a Lily. - disse com um leve temor.


- Caramba, James! Até parece que você tem medo dela! - disse Sirius como se quilo fosse um absurdo.


- E eu tenho. - respondeu James como se fosse a coisa mais normal do mundo e em seguida girou a chave na ignição.

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