Felicidades, Sirius
- Bom dia, Lílian! – Maria exclamou assim que me sentei ao lado na mesa, junto aos outros.
- Pontas estava nos contando a festa de ontem, Lílian. – Sirius riu. – Eu queria ter visto você dormindo em pé.
- Eu não dormi em pé! – reclamei lançando um olhar irritado a Tiago. Ele fingia olhar o teto encantado.
- Então a festa tava boa? – perguntou Maria interessada.
- Ah, estava. – respondi dando uma espiada na mesa dos professores. – E a julgar a cara do Slughorn, ele deve estar de ressaca.
O professor estava com olheiras profundas ao redor dos olhos e o pouco de cabelo que restara em sua cabeça estava totalmente bagunçado.
- Slughorn bêbado? Essa eu queria ver. – Maria riu.
O saguão de entrada se encheu com o barulho de asas, indicando a chegada do correio.
Meus pais haviam mandado a carta de sempre; reclamando da coruja, perguntando como ia o ano. Maria como sempre recebia seu Profeta Diário e antes mesmo de tirar o jornal da perna da coruja ofegou.
- O que foi? – perguntaram eu, Tiago, Sirius e Aluado ao mesmo tempo.
- Ele foi visto! Você-Sabe-Quem foi visto!
- Onde? – perguntei espiando o jornal.
- Londres. – ela respondeu, engolindo em seco. – Exatamente no centro da cidade; pelo visto perto do Beco Diagonal.
- Ele é louco de ir até o Beco Diagonal. – Sirius disse despreocupado, mordiscando uma torrada. – Está cheio de aurores por lá.
- Mas ninguém garante que era ele mesmo. – Tiago disse, mais calmo ainda do que Almofadinhas.
- Foi um bruxo do Ministério que disse ter visto. – Maria murmurou, correndo os olhos pela manchete.
- Bobagens. – Sirius resmungou.
- Só se for pra você. – Dougie comentou. – Minha família mora em Londres, bem perto do centro.
- Então se foi mesmo Você-Sabe-Quem de verdade, com certeza eles correm perigo! – Maria murmurou amedontrada.
- Meus pais moram no centro também. E eu ficaria muito grato se por acaso Você-Sabe-Quem aparecesse no Largo Grimmauld.
Maria o olhou boquiaberta.
- Como pode pensar isso? É a sua família! – ela crocitou.
Sirius revirou os olhos.
- Mariazinha, minha amiga. – ele falou, como se estivesse paparicando uma criança. – Acho que você não sabe, mas meus pais são umas pragas na minha vida. Adoram seus sangues-puros e acham que Você-Sabe-Quem está fazendo um bem ao mundo. Com certeza se ele aparecesse por lá, minha mãe mandaria Monstro preparar uma xícara de chá.
- Monstro? – perguntei, sem entender.
- É a outra praga. Um elfo doméstico que vive falando besteira, igual minha mãe.
- Mas se seus pais são assim, porque você também não é? – Maria perguntou desconfiada; parecia estar pensando que Sirius era um espião da Sonserina ou algo do tipo.
- Graças à Merlim eu não sou assim. – respondeu, dando de ombros.
- Você é muito estranho. – ela comentou, fazendo-o rir.
- Se isso foi um elogio, agradeço.
O resto do dia correu normal dentro das paredes pedrosas de Hogwarts, exceto pelo fato da notícia do aparecimento de Você-Sabe-Quem ter corrido de ouvidos em ouvidos. Hoje o dia estava ameno, bem diferente do dia do jogo da Grifinória. As nuvens estavam opacas, quase escuras, mas não havia sinal de chuva.
As aulas estavam ficando complicadas. Muitas matérias, muitos deveres, muitas teorias e poucas práticas. Não gostei muito disso, pois agora meu desempenho estava excelente em feitiços em geral.
Logo para o meio do mês, a nova tensão e expectativa percorria pelos alunos do sétimo ano, com a chegada dos N.I.E.M's, começo previsto para o dia 25 de maio.
Toda essa agitação me fazia passar grande parte do tempo na biblioteca, lendo e anotando tópicos importantes dos milhares de livros que o lugar tinha pra oferecer. Confesso que prefiria a sala comunal; pelo menos lá não tinha nenhuma Madame Pince de olho na gente, suspeitando que colocaríamos Bomba de Bosta dentro de um dos livros. O ruim era que os alunos do primeiro, segundo, terceiro, quarto e sexto ano eram barulhentos e quase não dava pra concentrar em alguma coisa (os alunos do quinto ano também estavam sofrendo por causa dos N.O.M.'s).
Maria como sempre ficara estressada, Dougie preocupado, Rabicho mais ainda; Tiago e Sirius pareciam entediados.
- Posso saber o porquê de tanta folga? – perguntei ligeiramente indignada, enquanto jogava um grande e pesado livro na mesa, assustando Tiago do seu breve cochilo.
- Moleza. – respondeu Almofadinhas.
- Moleza?
- É.
- O que é moleza?
- Esses N.I.E.M.'s. Muito fácil.
- Fale isso por você! – respondi, abrindo o livro no índice. Não era nada chamativo, pois ocupada onze páginas só com a lista dos capítulos. – Não tem deveres pra fazer não?
- Tenho. Mas faço em dez minutos.
Eu suspirei.
- Ótimo. Então vão dormir no seu quarto.
- Aqui está bom. – Tiago murmurou, deitando a cabeça no encosto da poltrona.
- Temos que dormir bastante para os dias que estão por vir. – Sirius comentou, com uma piscadela.
- Ah. Entendi. – falei, assentindo. – Mesmo assim. Vão pro dormitório.
- Isso é uma ordem de monitora? – me encorajou Almofadinhas.
- Depende.
- Do quê?
- Se vocês ficarem aí roncando com certeza vou ter que dar uma ordem.
- Eu não ronco! – Tiago protestou.
- Fale isso por você. – Sirius respondeu, dando uma risada baixa.
- Pelo menos não pareço um cachorro rosnando enquanto durmo.
- E não sou eu que fica falando "Lílian, Lílian" a noite inteira.
- Eu não faço isso. – Tiago corou.
- Ah, faz sim.
- Não.
- Quer que eu lhe dê provas?
- Tá, tá, chega. – interrompi, depois de um pigarro. – Vão discutir o que o outro fala enquanto dorme lá no quarto de vocês. Eu estou tentando estudar!
- Quer ajuda? – ofereceu Tiago.
- Você tem que dormir, não?
- Eu te ajudo mesmo assim.
- Certo. – concordei, enquanto Sirius se encostava na poltrona.
Fazia dias que eu não dormia direito; os deveres ocupavam grande parte do meu tempo, e eu ficava até altas horas da noite terminando complicadas redações.
Foi assim pelo resto do término do mês. Maria e Dougie estavam finalmente relaxando um pouco da tensão, porém Rabicho continuava nervoso.
- Lílian, preciso falar com você. – Tiago veio até a mim, enquanto eu escrevia rapidamente no pergaminho de Herbologia, na biblioteca.
- Pode falar. – respondi sem erguer os olhos.
- Vai à Hogsmeade amanhã?
- Quê?
- Hogsmeade. Amanhã.
- Ahn... é... não sei.
- Temos que ir. É o aniversário do Almofadinhas.
- Ah, é mesmo! – falei, batendo na testa. – Mas não sei se vai dar pra ir.
- Porque não?
- Deveres.
- Ah, qual é Lílian! – ele exclamou.
- Shhhhh! Fale baixo senão...
- O que estão fazendo aí? – os olhos de coruja da Madame Pince surgiu por detrás de uma estante. – Falem baixo senão quiserem sair daqui!
- Tá bom, tá bom. – respondi depressa.
- Eu não acredito que você tem tantos deveres assim. – Tiago sussurrou, ainda olhando se a bibliotecária voltaria a aparecer.
- É que eu estou estudando muito mais. Quero me sair bem nos N.I.E.M.'s.
- Mas você está exagerando, não tá não? – ele suspirou. – E sinceramente isso tá me incomodando.
- Como assim? – ergui os olhos para ele; ele estava desconfortável.
- Você nunca mais deu um tempo pra gente.
- O que quer dizer com isso? – indaguei, ainda mais confusa.
- A gente nunca mais saiu, ou fez alguma juntos.
- Ah. Me desculpe, Tiago. – falei, meio culpada. Agora que ele falou, já fazia tempo que eu não parava para fazer alguma coisa diferente. – Só espere essa época de provas acabar, assim vou poder sossegar um pouco.
- Não vejo a hora. – ele disse com um sorrisinho.
- Eu também não. – sorri, olhando atenta para os lados. Me debrucei na mesa e o beijei. Ouvi um grito.
- AQUI NÃO É LUGAR PARA NAMORAR! – Madame Pince bufava. – O QUE ACHAM QUE AQUI É? A MADAME PUDDIFOOT? FORA DAQUI, AGORA!
- Nós não... – comecei, mas Tiago já pegara meus livros e me puxava para fora da biblioteca.
- Parabéns! – exclamei, assim que vi Sirius na sala comunal no dia seguinte.
- Obrigado, Lílian. – ele retribuiu meu abraço.
- Pra você. – estendi a caixa. Eu havia colocado grandes quantidades de produtos Zonko's e Dedosdemel dentro.
- Valeu.
- E este é o meu, Almofadinhas. – Maria lhe deu um embrulho pequeno.
Dentro do embrulho tinha uma bolsa de couro, contendo um canivete.
- Esse canivete abre todas as portas sem nem precisar do Alorromora. É muito útil. – ela explicou. – Meu pai mexe muito com isso, então achei que você gostaria.
- Legal. – ele disse, observando o objeto.
Mais tarde todos nós fomos para Hogsmeade comemorar seu aniversario, e por sorte hoje não ameaçara chover. Passamos algum tempo no Três Vassouras e depois na Dedosdemel. Só voltamos ao castelo na hora do almoço, acompanhados de Joanne, Alice, Franco e Edgar, que também participaram da comemoração.
- Agora já é maior de idade, Almofadinhas. – comentei com ele, enquanto comíamos.
- Eu já era maior de idade. – ele franziu a testa.
- Eu sei. – disse, rindo. – No mundo trouxa a maior idade é atingida só aos dezoito.
- Que estranho. – Dougie falou, balançando a cabeça. – Se com dezessete já é demorado, imagine com dezoito.
- Não sei porque você teve tanta pressa de fazer dezessete anos, Dougie. – Maria disse.
- Minha mãe vive pegando no meu pé o tempo todo. – ele balançou a cabeça. – Ter chegado à maior idade é uma benção.
- E como vai ela e a sua irmã? – perguntei.
- Renata como sempre está querendo vir para Hogwarts. Não aceita o fato de esperar mais uns dois anos.
A família de Dougie era diferente da de Maria. Sua mãe, Marlene McKinnon, tinha um grande cargo no Ministério e eles tinham, pelo que ele me contou, uma mansão considerável em Londres. Renata era sua irmã mais nova; já seu pai morreu quando ele ainda era bebê de uma doença desconhecida.
- Eu queria ter irmãos. – Tiago comentou.
- Não queira. – Sirius falou.
- Se seu irmão odiar profundamente os bruxos, realmente não queira. – acrescentei.
- Ou se o seu irmão foi um Comensal da Morte, também não queira. – Sirius disse.
Maria engasgou-se.
- O quê?
- Meu irmão, Régulo, é um Comensal. – Sirius contou com tanta naturalidade que chegava a ser hilário. - Ele se formou ano passado.
- Peraí. – Dougie interrompeu. – Você tem um irmão? Que estudou aqui?
- É.
- Mas eu nem sabia, nunca vi vocês se falarem.
- Bom, eu tinha fugido de casa. E ele adora nossa linhagem de sangue mais do que tudo, então não tive o que falar com uma pessoa dessas. Concorda?
- Fugir de casa? Linhagem de sangue? – Maria repetia.
Sirius passou o resto do almoço contando os fatos que envolvia sua família. Eu não pude conter o riso vendo as caras espantadas de Maria e Dougie, mas também me juntei a eles na curiosidade de lembrar quem era seu irmão, já que ele estudara com a gente algum tempo.
Depois de um tempo consultei o relógio e levei um susto.
- Aonde você vai? – Tiago perguntou, enquanto eu me levantava.
- Biblioteca. – resumi.
Chegando lá, fui recebida muito bem por Madame Pince – isso foi uma ironia bem exagerada. E como os outro dias, passei o resto do meu tempo debruçada sobre pilhas e mais pilhas de pergaminhos.
- Lílian. Lílian, acorda. – alguém me balançava.
- Me deixa. – resmunguei.
Escutei a pessoa rir – muito inconveniente por sinal.
- Se não percebeu, estamos na Sala Comunal e já passam da meia-noite.
- Hã?
Levantei a cabeça, ligeiramente tonta.
- Que horas são?
- Meia-noite. – Tiago respondeu.
- E o que você está fazendo aqui?
- Vim te acordar.
- Ah. – respondi, esfregando os olhos. Tiago sentou-se na minha frente.
- Gosto de te ver dormir. – ele comentou, com um sorriso.
- Fora o fato de eu quase estar com a cara toda manchada de tinta, tudo bem.
Ele riu.
- Você tem que pegar mais leve. Não vai adiantar nada você morrer de tanto estudar.
- Só estou preocupada com as provas.
- Eu disse que ia te ajudar, não disse?
- Mas amanhã... quer dizer, hoje a noite já é lua cheia.
- Sem problemas.
- Não quero te atrapalhar.
- Não está atrapalhando.
- Estou sim.
- Juro que não. E eu sei que você vai se dar bem.
- Espero que sim. – respondi, fazendo uma figa. – Sendo assim eu vou subir. Faz muito tempo que não consigo dormir bem.
- Tudo por culpa sua.
Revirei os olhos.
- Vai dar sermão agora, Tiago Potter? – eu ri. – Você que é tão comportado... – usei a segunda ironia do dia.
- Estou aprendendo tudo isso com você.
- Inversão dos papéis. – brinquei.
- Então já que trocamos, dou uma ordem para você subir ao dormitório, pois já está tarde. – ele disse, com um falso tom de superioridade.
- Ok. – eu ri novamente. – Boa noite.
- Boa noite.
Eu ia subindo as escadas, quando ele me puxou para seu peito e me beijou.
- Ei! Como monitora eu não posso permitir agarração por aqui! – protestei.
- É, mas não tem ninguém aqui.
- Isso é verdade.
É claro que depois disso eu me senti bem melhor. Tiago me trazia certa tranqüilidade – não sei se é por sua excessiva confiança, ou se ele simplesmente tinha esse dom. É engraçado ver agora e pensar que alguns meses atrás eu não acreditaria nisso, que eu estaria com ele.
E era estranho como tudo mudava o rumo das coisas. Simples atos ou simples palavras. Ou, então, simplesmente o destino.
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