Crises Histéricas Desconhecida
Dezembro chegou mais depressa que o previsto. Muito dos meus deveres estavam atrasados. Talvez porque eu não tinha mais Aluado para me ajudar, pois eu comecei a manter distância de Tiago e os outros a partir dali. E Dougie, que também era bom em algumas matérias, ainda estava se agarrando com Maria toda hora então manti um pouco de distancia entre eles também. Ultimamente passava muito tempo sozinha.
Eu nunca gostei de ficar sozinha na vida. Eu sentia que faltava alguma coisa, algum pedaço de mim. Na verdade eu nunca me sentira inteira. Todos esses dias que eu estava longe de Sev também me fazia sentir a falta dele, mas eu não sabia se estava pronta o bastante para desculpá-lo.
Quando ao Tiago, ele andava grudado com Laura. Eu nunca os vira abraçados ou se beijando. Talvez eles fizessem isso em um lugar não movimentado, ao contrario de Dougie e Maria. Mas eles estavam juntos na sala comunal, nas aulas e em todas as refeições do Salão Principal. Eu sempre observava a cena desgostosa e meio enfurecida, mas eu fazia questão de não demonstrar isso e então passei a ignorá-los.
O que me dava ânimo eram as férias de natal se aproximando. Eu estava ainda mais com saudades de meus pais e Túnia, e não via a hora de revê-los.
Faltava exatamente uma semana para as férias e eu ainda estava atolada de deveres. Com certeza os N.I.E.M.'s eram puxados, pois nenhum professor nos dava nem um dia de descanso.
Acho que já se passavam da uma hora da manhã quando eu estava sozinha na sala comunal terminando mais deveres de Transfiguração. Felix dormia preguiçosamente em meu colo. As últimas chamas da lareira já iam se dissipando e eu ainda nem havia chegado à metade do trabalho.
Descansei a pena e bocejei.
- Eu iria pra cama se fosse você, Lílian. – disse uma voz. Eu me assustei, seguida por Felix, que rapidamente pulou para outra poltrona.
Tiago estava ali parado, de pijama, acabando de descer do dormitório dos meninos, sorrindo em me encontrar.
Senti uma palpitação no peito, seguida por um acesso de raiva.
- O que você está fazendo aqui? – perguntei ríspida.
- Estou sem sono. – ele disse, o sorriso sumindo de seu rosto de surpresa. - E você?
Sem falar outra coisa, apontei para a mesa cheia de pergaminhos.
- Ah. – ele falou se jogando no sofá, esfregando os olhos.
- Sugiro que vá pra cama. – falei, a voz se elevando.
- O que tem de errado eu ficar aqui?
- Eu sou monitora-chefe. – respondi, a voz saindo entre os dentes, apontando para o distintivo. – E está muito tarde pra você ficar aqui.
- E porque você pode ficar aqui e eu não?
- Porque sou monitora-chefe.
Ele franziu a testa.
- Isso é abuso de autoridade. – ele disse rindo.
- Pouco me importa o que é isso. – cortei. - Agora vá para cama.
Minha voz tinha alterado novamente. Ele ergueu as sobrancelhas.
- O que há com você? – ele disse, ficando de pé.
- Quer levar uma detenção, Potter? – eu disse, então dei uma risada histérica. - Ah, esqueci. Esqueci que você já está muito acostumado em levar detenções que já não se importa mais, não é?
- Qual é o seu problema?
- Qual o seu problema? Eu disse pra você dormir, e se quiser fique lá no seu quarto. Não aqui.
- Mas eu quero ficar aqui, Lílian. – ele disse indignado.
- É Evans!
- Desde quando? – ele disse, aumentando o tom a fim de ficar tão alto quanto o meu. – Que eu saiba esse papo da gente chamar o outro pelo sobrenome já acabou. E eu não estou entendendo porque você está assim.
- Eu vou te explicar, porque eu estou assim Tiago Potter! – eu disse andando até ele, apontando o dedo acusatoriamente. – Simplesmente porque você é um idiota! Um idiota, é isso que você é! Bem que Sev me falou! Você é um metido ignorante que gosta de azarar os outros por diversão, que anda pra lá e pra cá com seus amiguinhos, se achando o todo poderoso da escola não é? Sempre ficava andando com aquele pomo, se exibindo por aí com seus feitiços idiotas e se gabando que é um jogador de quadribol! Eu sinceramente estava achando que éramos amigos! Mas vem você e estraga tudo! Tudo! Você é um patético e eu quero distância de você! – finalizei, com a voz esganiçada, e pro meu espanto e desespero, senti lágrimas descerem pelo meu rosto.
Sua expressão estava espantada.
- Você está surtada, Lílian. – ele disse, balançando a cabeça.
- É, talvez eu esteja.
Eu peguei Felix na poltrona e comecei a subir as escadas em espirais.
- Accio pergaminhos! – ordenei com a varinha, e todos meus trabalhos em cima da mesa voaram pra minha mão. E sem dizer mais nada, fechei a porta do dormitório com um leve estrondo.
Acordei aquela manhã com o sol de domingo batendo na minha cara. Eu sentia meu rosto meio inchado e meu travesseiro meio úmido. Fiquei feliz por nenhuma das outras garotas estarem presentes no dormitório.
Me levantei e me olhei no espelho. Meu rosto estava vermelho e os olhos fundos, causados pelas lágrimas da noite anterior.
Quando desci para a sala comunal me sentei longe de Tiago que me olhou com o rosto inexpressivo quando cheguei. Maria estava sentada lendo o Profeta Diário e não vi Dougie por ali.
- Oi. – falei com a voz rouca.
- Lílian? – disse ela, me espiando por trás do jornal. – O que você tem? Andou chorando?
- Não, não. – me apressei a negar e pensei numa desculpa. – Eu estou meio gripada e não consegui dormir direito.
- Vai na Madame Pomfrey. Ela sabe um feitiço ótimo para isso.
Balancei a cabeça e puxei pra perto um prato de cereal.
- Onde está Dougie?
- Na biblioteca estudando. – ela respondeu, ainda me encarando. – Dá pra me dizer o que aconteceu? Com certeza não é resfriado.
Eu suspirei.
- Não, não é resfriado e também eu não vou te dizer o que aconteceu porque estou nem um pouco a fim de ouvir seus comentários de sempre.
Ela não respondeu, ainda me fitando. Eu fingi não notar.
Olhei ao longo da mesa. Tiago estava ainda conversando feliz com Laura. Qualquer um pensaria que conversar é a coisa mais normal do mundo, eu sei, mas mesmo assim Maria confirmara a teoria pra mim.
A neve habitual de dezembro continuava insistente lá fora e agora cobria uma boa parte do chão. O lago da escola começara a congelar e o céu encantado estava uma cor cinza esbranquiçada.
- Vou dar uma volta. – falei pra Maria assim que terminei o café.
Decidi visitar Hagrid. Ele era uma companhia agradável e com certeza ia ser bom ficar na sua cabana totalmente aquecida pela lareira.
Com certo desgosto, usei o Feitiço Impermeabilizante nos meus tênis quando me dirigia pelo jardim. Meus pés continuavam quentes apesar de eu estar afundando-os na neve.
- Lílian! – exclamou Hagrid, assim que atendeu à minha batida na porta. – Que bom ver você garota! Entre!
A cabana de Hagrid era um quarto só, cheio de objetos de todos os tipos espalhados pelo chão e pela parede.
- Onde estão Dougie e Maria? – ele perguntou, me servindo um chá.
- Adiantando os deveres, como sempre.
- Ah, é claro, você está sempre com os deveres adiantados.
Eu sorri sem responder,apenas tomando um gole do chá. Ainda faltavam muitos deveres que eu não havia terminado, mas decidi comentar nada.
- E Dougie e Maria, hein? – ele perguntou rindo, sua barba balançando. – Agora estão de namoro. Eu sabia que isso ia acontecer um dia.
- É, eu também. – eu disse acompanhando suas risadas.
- E você? – ele perguntou.
Além do chá, meu rosto também esquentou.
- Não penso nisso agora.
- Pois deveria pensar. Você é uma garota muito bonita Lílian, e eu sei que tem muitos garotos interessados em você.
Não fiz nenhum comentário, esperando o que viria a seguir.
- Por exemplo, o Tiago gosta muito de você, eu já percebi. Ele é uma boa pessoa, como você, então vocês se combinam.
- Eu o acho um idiota, Hagrid. – falei tentando manter a voz normal. – E também ele está namorando.
- Ah, está? – ele parecia surpreso e meio desapontado. – Bom, ele não me disse nada. Ontem mesmo ele passou aqui e não comentou nada comigo.
- Achei que você já sabia. – falei meio surpresa também.
- Bom, um guarda-caças como eu é difícil saber de tudo o que acontece dentro do castelo, não é?
Porém, quando voltei ao castelo esta idéia martelava na minha cabeça. Eu sabia que Tiago era também um grande amigo de Hagrid, e então porque não disse nada a ele? Será que o namoro estava ruim? Ou será que ele não se importava com Laura?
E porque será que eu estava sentindo esse estranho pinguinho de esperança?
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