O Ruim de Ter Amigos Apaixonad

O Ruim de Ter Amigos Apaixonad



Os outros dias de detenções foram iguais ao primeiro. Severo continuava a não me encarar e vice-versa. Por fim, no último dia de detenção, acabei parando de copiar no capítulo 6 enquanto Maria chegara apenas no quarto.


- Mas o que é que ela queria? – disse ela irritada. – Eu fui nessas detenções por uma injustiça, é claro que eu não ia copiar nada!


O fim de outubro estava chegando e com ele a animação da festa do Dia das Bruxas e o primeiro jogo de quadribol da temporada no início de novembro.


As chuvas foram substituídas por uma leve geada, que deixava a grama ao redor do castelo branca e pálida. O frio estava cada fez maior e estava muito desconfortável ir à aula de poções nas masmorras, onde o frio era ainda pior mesmo com as fumaças dos caldeirões.


Na noite do dia anterior ao Dia das Bruxas, porém, tive que fazer a patrulha habitual nos corredores. Eu já havia passado pelo sexto e sétimo andar e pra mim parecia tudo calmo (exceto por Pirraça querendo colocar fogo em um retrato de um bruxo de peruca laranja).


Já estava perto da meia-noite quando decidi voltar para o dormitório, mas acabei topando com ninguém menos que Severo, perambulando pelo corredor do quinto andar.


Quando me viu sua expressão não era surpresa. Parecia que esperava encontrar por mim.


- O que está fazendo aqui? – perguntei.


- Eu queria falar com você. – ele disse com a voz trêmula.


- Eu não tenho nada pra falar com você.


- Mas eu tenho. – insistiu ele. Ele respirou fundo antes de falar. – Lílian, eu sinto muito, sinto muito por tudo o que eu falei, eu realmente não queria...


- É sempre assim, Severo. – interrompi. – Você sempre não quer, mas acaba só fazendo as coisas erradas.


- Eu sei! – ele disse, apertando as mãos. – Eu peço desculpas a você, porque você sabe que eu sou assim quando vejo você com Potter e seus amiguinhos idiotas.


- Suponhamos que eu te desculpe por esse lado. E o fato de você lançar um feitiço daqueles? Poderia ter o matado!


- Agora está se preocupando com ele?


Meus olhos se estreitaram.


- Eu me preocuparia com qualquer um, Severo! Você teria coragem de matar alguém? Teria?


- Não, claro que não! – ele disse depressa.


- Então da onde você arranjou aquele feitiço?


Ele ficou indeciso se respondia ou não, mas enfim cedeu.


- Eu inventei. – ele respondeu, baixando a cabeça.


- Você inventou? – respondi, incrédula. – Mas aquilo é Arte das Trevas!


Ele não respondeu. Ele continuava com a cabeça baixa.


- Você não é o mesmo Severo que eu conheci anos atrás. – falei, tristemente.


- Sou sim!


- E o que você me diz de seus amigos? Desse seu feitiço?


- Isso não muda nada.


- Ao contrário! Muda tudo, Severo!


- Olha, eu não quero falar sobre isso. – ele disse, finalmente olhando pra mim. Sua expressão era neutra. – Por que você saiu com Potter?


- Porque eu quis. Simplesmente porque eu quis.


- Mas não é você que sempre dizia calúnias sobre ele e agora anda com ele pra lá e pra cá? – ele disse, com o tom acusatório.


- Eu não ando pra lá e pra cá com ele! – eu disse, cansando da conversa. – E respondendo sua pergunta, é porque ele mudou, e pra melhor. Ao contrário de você.


Ele se calou.


- Vou dormir. – eu disse me dirigindo às escadas. – Você deveria fazer o mesmo.


- Você me perdoa? – ele perguntou com a voz suplicante. Era sempre assim que acontecia em todas as nossas brigas.


- Não sei, Severo. – respondi. – Sinceramente eu não sei.


E dizendo isso segui o caminho para a Torre da Grifinória.




- Eu não acredito que aquele Ranhoso teve coragem de falar com você! – exclamou Maria, na sala comunal no dia seguinte.


- Não use esse apelido! – reclamei.


- Depois de ele falar tudo aquilo ainda pede desculpas. – ela bufou. – E também não é a toa que ele inventou aquele feitiço, é a cara dele.


Eu já ia retrucar, mas Dougie chegou e a abraçou pela cintura. Nos últimos dias estava meio desagradável ficar perto dos dois, que geralmente estavam se abraçando ou se beijando, e sinceramente eu não queria ficar segurando vela.


- O que estão falando? – ele perguntou.


- Você acredita que o Ranhoso teve a coragem de pedir desculpas pra Lílian? – falou Maria.


- O quê? – exclamou uma voz às minhas costas. Pelo visto Potter ouvira a última parte da conversa. – O Ranhoso fez isso?


- Fez. – disse Maria.


- E o que você respondeu? – Potter perguntou, me fitando.


- Nada.


- Nada? – ele indagou, desconfiado.


- Ok, eu não quero falar sobre isso. – eu disse suspirando.


Potter não respondeu. Ele continuou a me encarar ao mesmo tempo em que Maria e Dougie começaram a se beijar.


- Acho que vou terminar meu dever de Herbologia. – eu disse, dando uma desculpa pra me afastar.


- Eu te ajudo. – disse Potter depressa, entendendo meu plano.


Eu sentei numa mesa do outro lado da sala e Potter me acompanhou.


- Está difícil, hein? – ele comentou, rindo.


- Pois é. – eu disse. – E eles estão fazendo isso a qualquer momento, até na aula de Transfiguração. McGonagall ficou uma fera...


Ele riu.


- Se quiser você pode fazer companhia pra nós, porque vai ser difícil voce ficar perto deles agora.


- Obrigada. – eu falei, dando um sorriso, que ele retribuiu.


- Mas, voltando ao assunto do Ranhoso... – ele começou.


- Eu já não disse que não quero falar sobre isso?


- Mas eu quero saber, Lílian. – insistiu ele.


Eu suspirei.


- Ele me pediu desculpas por ter falado tudo aquilo e eu disse que não sabia se ia desculpar ou não.


- E você vai?


- Não sei.


- Se você desculpar eu... – ele começou, ameaçadoramente.


- Vai o quê? – estreitei os olhos.


Ele não respondeu de imediato. Foi sua vez de suspirar.


- Nada.


O dia passou depressa. Eu e Maria (na hora que ela não estava agarrada ao Dougie) ficamos adiantando os milhares de deveres.


Finalmente a noite caiu, refletindo as luzes do castelo no lago escuro.


Todos os alunos já estavam se dirigindo ao Salão Principal para o jantar do Dia das Bruxas. Maria rapidamente foi se juntar a Dougie e então decidi ir na frente.


O Salão estava esplêndido com sua decoração de sempre: morcegos e abóboras por toda parte. O professor Dumbledore já estava na mesa dos professores trajando vestes púrpuras.


Eu estava andando pra me sentar quando uma mão me puxou e vi que Potter havia guardado um lugar pra mim.


- Olá Lílian! – cumprimentou entusiasmado Sirius Black, assim que em me sentei.


- Eu já disse que é...


- Evans, eu sei. – ele disse revirando os olhos. – Mas eu vou te chamar de Lílian até você parar de me chamar de Black.


- Nunca. – eu disse, rindo.


- Então vai se acostumando, Lílian.


Os outros riram.


Instantaneamente os pratos se encheram de comidas variadas, entre elas minhas preferidas.


- Vê se não come demais, Rabicho, ou vai passar mal de novo. – comentou Lupin.


- Vai ser difícil resistir a tanta coisa. – Rabicho respondeu, olhando desejoso para um frango assado.


- Onde vai passar o natal, Lílian? – perguntou Potter, enquanto Black entrava na discussão de Rabicho e Aluado.


- Em casa. Por quê?


- Só curiosidade.


Eu olhei pra ele desconfiada.


A sobremesa chegara. Agora eu tinha que concordar com Rabicho que estava difícil escolher o que comer. Tinha enormes variedades de sorvetes, doces, pudins e bolos.


Eu tinha que reconhecer que Potter e seus amigos eram companhias agradáveis, descontraídas e divertidas. Eles começaram a falar do próximo jogo de quadribol e mesmo eu não entendendo tanta coisa assim consegui entrar na conversa.


Depois de uma refeição excelente e satisfatória as longas mesas começaram a se esvaziar.


Maria logo me alcançou entre a multidão. Dougie com certeza estava ajudando os alunos a não se perderem, já que hoje era o dia da patrulha dele.


- Fico feliz de você estar tão próxima do Tiago. – ela comentou enquanto quase tropeçávamos em um degrau solto de uma das escadas.


- É, ele é legal.


- Você deveria seguir o mesmo conselho que deu ao Dougie. – ela disse, sorrindo.


- Ele te contou? – perguntei, sem graça.


- Aham.


- E o que você quer dizer com seguir o conselho que eu dei pra ele?


- Você deveria dar uma chance ao Tiago antes que outras garotas façam isso por você.


Eu corei levemente.


- A gente só é amigo.


- Eu e Dougie também éramos. – ela disse, refletindo. – Quero dizer, ainda somos.


- Mas é diferente. O lance de vocês tinha tudo pra dar certo.


- O de vocês também.


- Não! – eu disse, o calor subindo pelo meu pescoço. – Eu sempre odiei ele e só agora paramos de brigar.


- Por isso mesmo! – ela disse, como se conseguisse explicar a alguém um exercício complicado de Feitiços. – Você tem que aproveitar essa oportunidade!


Eu não respondi. Às vezes é ruim ter amigos que estão apaixonados: ficam enchendo de caraminholas a nossa cabeça.

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