Convite



Querida Lílian


Espero que esteja aproveitando suas aulas. A coruja que você mandou estava meio doida, foi uma dificuldade segurar ela pra te devolver a carta.


Agora, se prepare para a bomba: Petúnia ficou noiva.


Tudo bem, ela já é maior de idade, mas acho muito cedo pra ela tomar esse tipo de decisão. Não fui muito com a cara daquele namorado dela. O que você acha? Espero não estar te incomodando.


Beijos.


Mamãe.


Cuspi meu suco de abóbora para frente, me engasgando. Alguns alunos da mesa da Corvinal se assustaram.


- O que aconteceu? – perguntou Dougie, aparecendo por trás do Profeta Diário que ele lia. Estávamos tomando o café da manhã de uma quinta-feira, quando o Salão Principal se encheu de corujas.


- Minha irmã. Noivou. – falei, limpando a boca com as costas da mão.


- Quem foi o louco? – perguntou Maria com sarcasmo. Ela havia conhecido Túnia na estação no ano passado e não foi muito com a cara dela.


- Um namorado que ela arranjou. – respondi, guardando a carta na mochila.


- Louco. – repetiu Maria. – Você não gostou?


- Não, não é isso. Só fiquei surpresa.


- Então somos duas. – Maria comentou comendo uma torrada.


- Ah, não... É ele. – murmurei. Tentei me abaixar um pouco no banco e procurei uma brecha para tentar dar a volta no Salão.


- Você não vai conseguir fugir dele por muito tempo, Lílian.


Já se passara um mês da conversa que eu tivera com o Potter, mas para impedir que ele pudesse falar comigo eu andara evitando me encontrar com ele.


- Não entendo porque é que você vive fugindo dele. Até que ele é legal.


- Está tentando sair com o Potter também, Maria? – perguntou Dougie, irritado. – Já não basta o Kingston, agora o Potter?


Maria estreitou os olhos.


- Por que você não cala a boca?


- Eu estou indo, gente. – me apressei a dizer. Peguei minha mochila e dei a volta pela mesa da Lufa-lufa. Dei um aceno para Sev e saí correndo. Não vi sinal do Potter até virar um corredor próximo.


- Olá Lílian. – ele falou com um sorriso malicioso.


- Ah... Olá Potter. – eu disse constrangida, pega no flagra.


- Podemos conversar? – perguntou ele apontando para uma sala vazia.


Engoli em seco, mas entrei na sala. Maria tinha razão: não dava pra fugir dele a vida toda.


- Dá pra você me explicar porque anda se escondendo de mim todos esses dias?


Parei um pouco para pensar. Eu tinha que dizer a verdade, não tinha?


- Bom, é porque eu não quero conversar com você. – falei de uma vez. - Eu disse que ia conversar com você se você deixasse o Sev em paz, mas não dá.


Sua expressão desmoronou e ele ficou em silêncio.


- É difícil ser amiga de alguém que eu odiei a vida inteira, entende? – continuei.


Ele ficou olhando para o chão por um momento, enfim falou:


- Eu não quero te obrigar a ser minha amiga, Lílian. E eu não quero que você seja forçada a isso. Você decide se quer conversar comigo ou não, eu não vou te cobrar nada.


Por essa eu não esperava. Sua expressão era meio desapontada e triste. Eu não soube o que dizer.


- Bem, – disse ele se encaminhando pra porta – a gente se vê por ai.


E saiu.


Eu fiquei ali, meu cérebro trabalhando a mil por hora. Eu estava entre o alívio por não ter que aturar o Potter no meu pé e culpada por tê-lo magoado. Eu não gostava muito de magoar as pessoas – exceto Potter, porque ele sempre me deu um motivo. Mas agora ele estava se comportando. Nunca mais ouvi falar em ele se metendo em confusões. Teria realmente mudado?


Passei o dia inteiro meio avoada, pensando. Maria e Dougie notaram, mas chegaram a conclusão que eu estava assim por causa da notícia sobre Túnia.


Decidi então contar para Maria, à mesa do jantar daquela noite. Dougie não estava lá: agora mantinha distância de Maria desde a ultima discussão deles.


- Bom, já estava na hora, não é? – ela disse, comendo um pedaço de lagosta.


Eu olhava pro teto, não queria que ela visse minha expressão. O céu estava nublado como sempre. Esses dias estavam ameaçando a chover.


- Ah não sei. – falei finalmente. – Você deveria ter visto a cara que ele fez. Estava arrasado.


- Você esta cansada de saber que o Tiago gosta de você. É claro que ia ficar decepcionado se escutasse uma coisa dessas.


Ela abaixou a cabeça rapidamente, como se estivesse deixado escapar alguma coisa.


- Desde quando você o chama assim? – perguntei desconfiada.


Ela pareceu envergonhada, olhando em outra direção.


- Andei conversando com ele.


- Desde quando? – indaguei, pasma.


- Uma semana, por aí. Ele pergunta muito de você. – ela apressou a dizer quando viu minha cara estupefata. – Ele gosta muito de você.


Eu não quis mais falar com Maria sobre esse assunto. Fui dormir aquela noite com um peso na consciência e por sorte acabei não tendo sonhos.


O dia seguinte de sexta amanheceu finalmente chuvoso. Raios cortavam o céu com um grande estrondo e o dia estava escuro por conta das inúmeras nuvens.


Quando desci para o café da manhã, porém, estava uma animação geral da maioria dos alunos. Me perguntei se havia esquecido de algum jogo de quadribol próximo.


- Passeio a Hogsmeade no próximo final de semana! – anunciou feliz, Maria.


- Sério? E eu achava que ia demorar pra acontecer, com Você-Sabe-Quem por aí.


- Ah, mas eles não iam trancar a gente no castelo o ano todo não é? – disse Maria. – Sem falar que deve ter reforços extras por lá, como aurores, por exemplo.


As aulas estavam cada vez mais complicadas. As três matérias mais puxadas eram Transfiguração, Feitiços e Defesa Contra as Artes das Trevas.


O professor Martim estava nos ensinando mais detalhes sobre a Maldição Imperius, onde tínhamos que saber todas as descrições: como produzi-la, qual seu efeito, qual o estado da pessoa que por ela fora atingida e outros tantos sintomas. A professora McGonagall agora ensinava como transformar animais pequenos em maiores. A lição do dia era transfigurar uma aranha em um cachorro. Eu conseguira fazer metade do processo, exceto pelo fato de meu cachorro ter pinças na cara ao invés do focinho. Já o professor Flitwick nos ensinava Feitiços de Desilusão. Foi uma aula interessante, onde em pares, um devia deixar o outro invisível. Por incrível que pareça consegui fazer Maria sumir completamente, enquanto apenas minhas pernas estavam visíveis.


Depois de um dia cansativo de aulas eu e Maria nos jogamos nas poltronas em frente à lareira, apesar de ter quilos de lições de casas pra fazer. Dougie andara se afastando da gente, andando com outros amigos.


- Eu o acho tão idiota quanto você acha o Tiago. – comentou ela quando percebi a ausência de Dougie.


E falando nisso, Potter estava do outro lado da sala, com seus amigos de sempre: Aluado, Pettigrew (ou Rabicho, que seja) e Black. Estavam conversando animadamente, exceto pelo Potter, que parecia o menos entusiasmado deles. Eles pareciam estar discutindo sobre o passeio de Hogsmeade.


No momento me ocorreu uma ideia maluca, mas pelo menos ia tirar esse peso de cima de mim.


- Potter, posso falar com você? – perguntei. Ele pareceu surpreso, e Black abafava risadinhas. Ele era um panaca.


Eu andei até um canto onde os estudantes não estavam amontoados conversando e ele me seguiu.


- O que foi? – perguntou ele com curiosidade.


Respirei fundo e me preparei para dizer uma frase que nunca pensei que um dia falaria:


- Quer ir a Hogsmeade comigo?


Ele parecia ter levado um choque, tal foi sua surpresa. Ele ficou um tempo sem reação, então seus olhos brilharam e ele falou:


- Está falando sério? – ele perguntou.


- Por que eu iria mentir? – revirei os olhos.


- Já sei. – disse ele. – Você se sentiu culpada pelo que disse ontem pra mim, não é?


- Também. – eu disse então suspirei. – Mas eu vou te dar a chance que você tanto queria. Quer ir ou não?


- Vou pensar. – disse ele brincando.


Suspirei de novo.


- Tudo bem, aceito. – falou ele depressa. Talvez ele ficou com medo que eu mudasse de ideia.


- Certo. – falei e subi depressa o dormitório das meninas.


Não queria nem ver o desastre que seria o dia seguinte.

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