Capítulo único



A garota dos cachos dourados, dona de tamanho afago acolhedor. Ela protegia. Ela o protegeria se pudesse, não restava dúvidas. O sentimento que há muito fora ignorado, ainda era dela. Não havia sido aprisionado como um inocente condenado, mas também não fora executado como um hipogrifo. Se encontrava apenas repreendido, aprisionado como um basilisco. Mas sustentado, fortalecido, esperançoso. As mãos que um dia afagaram os cabelos rúivos, agora só existiam em função de protegê-los. 


Onde ele poderia estar? Se é que ainda estava... Não! Se negava a pensar que seu amado pudesse ter partido. Em algum lugar ele haveria de estar, seguro, mesmo que em outros braços; mas ainda sim seguro. E isso bastava.


Os corredores se tornaram mais longos, as masmorras infinitas, mesmo em destroços. Era sangue que escorria em algumas rochas por alí, mas bloqueava sua mente para não imaginar de quem poderia ser. 


Ouviu-a! Conseguia ouvi-la, mesmo de longe, mas era claro. A sonora voz de seu amado, suave e trêmula como sempre. Não era a voz do menino que segurava a taça em posto de vencedor, mas sim do homem que se manteve firme e forte para proteger aqueles que lhe dariam a vida. 


Ela estava à poucos metros de reencontrá-lo quando, como se estivesse fácil demais, o ambiente de esperança fora dominado por aquela forma cruel e assustadora. A forma grande e cheia de pêlos, que ia de encontro ao mesmo lugar que a garota. Não! Não o seu amado! Não o garoto, o homem, por quem ela daria a própria existência. E - outra vez tomando como nota - ela o faria, se fosse preciso.


Gesticulou sua varinha à frente e lançou o primeiro feitiço que lhe veio em mente.  Atingiu a besta em cheio! Mas não fora o suficiente para detê-la. A criatura pôe-se a correr em direção à garota, exibindo suas presas! Correu ao oposto, correu o maxímo que pôde, o máximo que suas pernas puderam, para salvar a vida que valia a sua própria.


Um peso imenso, seguido pela dor, atingira suas costas jogando-lhe contra as ruínas no piso acidentado. Sentiu como se o corpo lhe fosse arrancado, e se manteve ali de olhos semicerrados, esperando pela morte que já não lhe parecia tão cruel. Talvez uma eternidade já tivesse se passado, e a morte já estivesse presente, quando o peso da dor lhe foi arrancado por um clarão acompanhado de uma voz conhecida. Uma voz que antes não lhe dirigia nem ao menos um educado cumprimento, agora salvara sua vida com tamanha determinação. 


A garota ali largada, lançou um olhar de gratidão para sua heroína. Duas heroínas ali! E a voz que vinha pelos destroços chamando por Hermione, agora se aproximara e sussurrava em tom amável "Lilá...". 


A garota dos cachos dourados, que no chão repousava e descansava seus olhos, ouvia seu amado se distanciar; enquanto movimentava os lábios sem jamais liberar algum som:


"Ron-ron..."


 


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.