Capítulo IV



Kimberly passeava sem rumo pelos corredores infindáveis de Hogwarts. Não sabia onde estavam seus amigos ou colegas, e depois do que acontecera no dia anterior, não queria se cruzar acidentalmente com Hubert. Vagueava solitária, pensando na próxima aula; começaria dentro de meia hora, meia inócua e aparentemente desperdiçada hora, gasta num passeio pasmaceiro pelas mesmas paredes de pedra de sempre.



De súbito, ouviu um guincho peculiar, deveria ser de uma pequena aluna ou um pequeno animal qualquer, impossível distinguir. Começou por ir atrás da proveniência daquele som, acabando por entrar num corredor estranho. Perguntou a si própria se alguma vez estivera ali, mas por mais que estivesse familiarizada com as paredes de Hogwarts tinha a certeza de que nunca vira aquela ala. O ambiente escurecia, o ar umedecia e a sensação de solidão acrescia. Ouviu o tímido som novamente, definitiva e satisfatoriamente bastante mais próximo. Provavelmente no cimo das escadas. No topo das mesmas não encontrou o que esperava (será que realmente esperava alguma coisa?), ao invés disso, uma biblioteca antiquíssima e escura, os livros pareciam ser intocados há décadas, embora as prateleiras, secretárias e cadeiras estivessem impecáveis. O espaço era todo ele formado por características que remontavam a um gótico romântico, solitário, denegrido. Quem iria gostar daquela biblioteca seria Madison, não ela. O gosto frio da amiga sim, se adequava melhor àquele ambiente. Ainda assim seguiu sua busca, sem uma real noção do que iria encontrar. A biblioteca tinha uma outra saída, uma colossal porta de mogno negro, decorada com o brasão da escola. Um terceiro grito proveio definitivamente do outro lado da porta.



Investiu.



Sem efeito.



Alohomora.



Sem efeito. E também não tinha coragem de tentar bombarda e ter que responder por magno negro despedaçado no chão. Isso sem contar que não tinha certeza se sua magia era potente o bastante para tal.



Um quarto grito foi o suficiente para perceber que se tratava mesmo de uma aluna, e talvez não tão nova.



Espalmou as mãos contra a porta e encostou o ouvido esquerdo. Ouviu movimento do outro lado, ou uma brisa, o que quer que fosse, era suave e indicava ausência de silêncio. Apossou-se da maçaneta com a mão direita e rodou lentamente. Ouviu-a sendo destrancada, empurrou novamente mas era como se as juntas estivessem petrificadas. Desta vez não foi um guincho curto, mas um gemido deprimido e moroso, captou perfeitamente sofrimento cansado do outro lado da porta e ficou realmente preocupada.



Bateu e perguntou quem estava do outro lado. Um sexto e novamente curto guincho foi emitido em resposta mas depressa abafado. Deixou de ouvir o que quer que fosse.



Silêncio.



Kimberly angustiou-se. Estava preocupada com a emissora daqueles pequenos sons, tinha a certeza de que alguma coisa errada estava acontecendo.



Verificou mais uma vez o celular: nenhuma mensagem. Mandou uma desesperada para Mandy, indicando como pôde onde estava. O outro lado da porta continuava sem emitir qualquer som e isso deixava-a ainda mais ansiosa. Consultou o relógio: a aula de poções com Lucy começaria em poucos minutos mas agora não conseguia sair dali sem resolver aquilo.



Luzes frenéticas na sua mão indicavam que Mandy respondera, mas antes de poder ler o que quer que fosse, um feitiço forte saiu de uma varinha do outro lado. Ignorou o celular e colou ainda mais o ouvido à porta. Passos apenas. Afastavam-se cada vez mais até cessarem por completo. Não ouviu mais nada. Voltou sua atenção de novo para a resposta de Mandy.



!



Era a mensagem mais estranha e idiota que Mandy já lhe enviara. Poucos segundos foram gastos pensando nisso, pois os passos voltaram. Agora em direção à porta. Eram calmos, espaçados. Cessaram quando o caminhante alcançou o portal. Estava a menos de meio metro de Kimberly que podia jurar ouvir sua respiração através do mogno. Algo começou a raspar a porta com vontade, Kim empalideceu, sem saber no que pensar.



E Mandy que nunca mais chegava.



E o raspar que se intensificava.



E a respiração de Kimberly, assim como o batimento do seu coração que ficavam mais rápidos proporcionalmente.



O raspar parou.



Algo suave tocou-lhe no ombro, Kimberly deu um pulo de susto até entender o que era: a mão calma de Mandy que a chamara a virar.



-Que susto!!



-O que queria que eu fizesse?



-Sei lá... Deixa.



-Esse lugar é incrível... Como ainda não me tinha mostrado?



-Eu sabia que você ia gostar... mas o que interessa é o que tá do lado de lá. Eu tô aqui faz tempo ouvindo uma menina gemendo e...



-Se tá ouvindo uma menina gemendo porque não deu o fora pra não interromper?



-Não é esse gemido! É tipo...Ah num sei, sei que tem alguma coisa errada do outro lado.



-Alohomora?



-Já tentei.



-Bombarda?



-Cê acha mesmo?



-Tá. Chega pra lá – Mandy respondeu com simplicidade, empurrando a amiga para o lado.



-Você não vai explodir essa porta enorme, vai?



-Se você não chegar pro lado te explodo junto com ela – retrucou secamente.



Kimberly fugiu a tempo do feitiço da outra. Uma enorme cortina de fumaça fê-las tossir bastante, mas no que a fumaça finalmente se dissipava, apenas mostrava o gigante portal imperturbado.



-Que mer...?



-Viu? Eu disse que tava alguma coisa errada.



-Essa porta tá duvidando da minha bombarda! Quem ela pensa que é?!



-Shhh!... Num faz tanto barulho!



-Eu hein? Porque não?



-Sabe lá quê que tá do outro lado?



-Ai Kim, deixa de frescura.



-Frescura nada, fica quieta.



-Ai tá bom, tanto faz – Mandy falou, baixando o volume por fim.



-E agora?



-Agora nada. Essa porta idiota num gostou da minha bombarda não há nada a fazer... Você não tinha aula com a Lucy agora?



-É... teoricamente sim.



-De quê?



-Snape.



-Sim, realmente é uma excelente idéia não ir à aula dele.



-Ah não enche, eu ouvi umas coisas estranhas quando tava lá em baixo e ainda tinha tempo de ver o que era, me demorei porque achei que tinha alguma coisa fora do normal acontecendo aqui...



-O que você ouviu afinal?



Kimberly relatou tudo o que captara até à chegada da outra.



Mandy também ficou inquieta.



Alguns passos provenientes das escadas anunciavam a chegada descontraída de duas pessoas. De súbito viraram para ver quem eram: dois rapazes sem farda, mas claramente sonserinos, delatados por cachecóis da casa; um parecia ter a idade delas ou mais velho, outro aparentava ser um ano mais novo.



-O que fazem aqui? – Perguntou o mais velho.



-Ouvimos sons estranhos vindos dali – Mandy se apressou a explicar, indicando com a cabeça a proveniência do que chamara a atenção de Kimberly.



-Quem são vocês? – Indagou o outro.



-Eu sou Kimberly McGregor do sexto ano. Kim.



-Olha que engraçado, eu sou o Gregory Tale, pode me chamar de Greg – o aparentemente mais velho respondeu. – Já não sou aluno.



-Peter June – falou o outro – nono.



-Nono? – Questionou Mandy.



-É... Sétimo pela terceira vez... Não passei nos exames todos – disse pouco à-vontade – e você?



-Madison Malfoy – respondeu Mandy com um sorriso apesar de manter a frieza no rosto, - sexto também.



-É verdade, você é a aluna nova. Ouvi falar de você – comentou Greg, feliz por reconhecer o nome.



-Ouviu? Vocês não pegaram a seleção?



-Não temos mais paciência pra isso – Peter respondeu com ar cansado. – Nem estamos mais pra aturar pirralhada e aqueles discursos da Granger. Nenhuma de vocês tá matando aula?



-Bom... Eu já me atrasei e tenho medo de entrar no meio da aula do Snape... Prefiro enfrentá-lo na aula que vem, quando ele tiver esquecido um pouco que eu num tive lá.



-Esquecer, o Snape? Essa cobra velha pode ser feita de ectoplasma mas não se esquece de nada – Greg falou, com o assentimento do outro.



-E vocês? – investiu Kim.



-Eu num tô tendo aula nenhuma, só tenho as matérias que não passei o ano passado.



-Quais são? – Kimberly reinvestiu.



-Adivinhação e Defesa Contra Artes das Trevas.



-Adivinhação? Deus, quem chumba em Adivinhação? – Mandy não resistiu ao escárneo.



-Eu, pelo jeito... -  O outro respondeu com uma pontada de deprimência.



-E vocês? O que vieram fazer aqui? – Mandy perguntou enfim.



-Sempre vimos pra cá durante a semana, só a gente conhece isso e vem aqui, acho que nem a Granger, quer dizer, até agora que apareceram vocês – Peter respondeu.



-Mas vocês disseram que ouviram coisas estranhas vindas dali? – Greg indagou.



-É. Não tem jeito de abrir essa porta – Kim respondeu.



Gregory e Peter se entreolharam intrigados.



-Cês sabem o que tá do outro lado? – Mandy interveio.



-Sim... É uma sala comu... – Greg começou, sendo silenciado por Peter.



-O que foi? – Mandy insistiu.



Rápidos olhares cúmplices foram trocados, e Greg avançou:



-É uma sala sem nada de especial, muito clara. Como essa biblioteca não tem iluminação nem janelas, não tem por onde a luz entrar, e essa sala é extremamente clara, serve pra iluminar a biblioteca de dia.



-E porque vamos acreditar nisso? – Mandy investiu, no que ambos a estranharam.



Ninguém falou mais nada, Kimberly resolveu simplesmente pular o momento embaraçoso questionando:



-E este é o único acesso pra essa sala?



-Pr’além das janelas enormes do outro lado, sim – Peter respondeu com melancolia.



-Tá resolvido, a gente entra pelo ar – Mandy concluiu, começando a avançar no intento de passar pelos sonserinos, no que um deles a intercedeu.



-Por ar? O acesso a essas janelas é  minúsculo e tem correntes de ar que ninguém consegue chegar perto – Peter advertiu.



-Eu posso ser ninguém.



-Mesmo assim não acho que consiga – Peter insistiu, começando a se irritar com a garota.



-Isso é porque você ainda não me viu voar – ela disse, com um largo sorriso presunçoso. – Kim, espera aqui.



-Esperar? Então despacha logo...



-Sua amiga é bem metida, hein? – Peter comentou quando os passos de Mandy já não se ouviam.



-É uma Malfoy e é sonserina, que mais você queria? – Greg revidou.



-Vocês também são sonserinos – Kimberly observou confusa.



-É verdade... Mas isso não quer dizer que gostemos das pessoas da nossa casa – Greg continuou. -  foi na sorte, não sabíamos como eram as casas. O chapéu não se importou com a gente. Tá meio caquético.



-Vai, não foi bem assim, antes de eu ter sido selecionado vi um monte de sonserinos que pareciam alegres e você entrou pra essa casa porque veio atrás de mim.



-Se você diz.



-A Mandy já tá na vassoura – Kimberly falou, observando o telefone.



-Foi rápida, vamos ver se ela consegue entrar – Peter respondeu céptico, dando meia volta com Greg para fora da biblioteca.



-Ei! Onde cês vão?



-Vamos ver, não foi o que eu disse? – Peter falou quando ela resolveu ir com eles.



-Dá pra ver numa torre bem aqui do lado – Greg completou.



-Nossa, vocês realmente conhecem bem essa zona do castelo.



-É... – Peter concordou reticente.



Por fim chegaram à dita torre, e a janela por onde viam a entrada onde Mandy queria chegar encontrava-se um nível abaixo da mesma.



-Olha ela tá ali – Kimberly apontou para o outro lado.



Assim que Mandy os viu desviou seu rumo a eles, e no que lhe indicaram para onde ir, para lá seguiu. Despreocupada, aproximou-se do grande vitral e uma forte corrente de ar a enviou de volta para onde estavam os colegas.



-Eu disse, é perigoso – Peter insistiu.



-Tem calma, só tentei uma vezinha ainda – Mandy falou secamente.



-Tô falando sério!



-Deixa ela – os dois cortaram ao mesmo tempo, cansados da sua irritação pela jovem.



Mas Peter já não estava só irritado com a arrogância e teimosia de Mandy, estava mesmo preocupado, já vira uma morte naquele local e era uma horrível lembrança pela qual fazia questão de não ver novamente. Mas apenas Gregory e Kimberly ouviram tal lamento, pois a outra já se dirigia novamente à janela.



A segunda tentativa de Mandy deixou-os realmente assustados: quando fora projetada escapou por pouco de embater contra uma velha gárgula mesmo à direita deles, aterrando com ambos os pés na parede como se se tratasse do solo, quase quebrando a vassoura.



-Mandy já chega! – Kimberly aderiu a Peter.



Sem dar ouvidos, Mandy tentou pela terceira vez por cima e conseguiu. Entrou pelo vitral giratório para o alívio dos colegas que de imediato voltaram para a biblioteca.



Kimberly relatava o acontecimento a Lucy e a Daniel com uma mensagem industrial. Não era a primeira vez que Peter via aquele objecto com grandes probabilidades de ser trouxa, pelo que perguntou do que se tratava. Kimberly começou a explicar quando do outro lado Mandy batia na porta, chamando-os.



Encostaram os três os ouvidos e a mensagem foi recebida o melhor que pôde: Mandy pedia aos rapazes que impedissem Kimberly de entrar na sala, e pediu ainda que se afastassem pois iria tentar bombarda novamente.



Se afastaram mas nada se alterou. Confusos, gritaram perguntas sem obterem qualquer resposta. Continuaram gritando quando Kimberly recebeu uma mensagem de Mandy que explicava ser impossível abrir aquela porta, o único acesso era definitivamente pelo ar.



-Então nada feito – Peter disse. – Ela é a única esquisita que consegue ir por aí.



-Talvez o Daniel consiga – Kimberly observou.



-Quem? – Revidou Peter.



-Aquele lufa-lufa apanhador?



-Esse mesmo, ele é o bruxo mais rápido da Europa – Kim cantarolou.



-Então mas ele num tá tendo aula? – Greg perguntou.



-Não... A aula dele já acabou, já chamei ele aqui – Kimberly respondeu, gritando em seguida a Mandy o que fora discutido deste lado.



-O quê?! Nenhum de vocês pode vir aqui?! Não é assim tão complicado!! – Mandy berrou sem obter resposta.



Desistiu da porta e voltou a olhar o cômodo. Parecia uma mistura das salas de cada casa, em tons neutros e com o brasão da escola por todos os lados. Tudo era cinza e sem cor, as poltronas, a lareira, o lustre, a decoração, tudo. À exceção, é claro, de uma grande mancha de sangue no chão junto a algo asqueroso que se assemelhava a uma orelha, um cérebro, um coração e ainda um pequeno pedaço humano indistinto, talvez uma mão, era difícil dizer pois estava esquartejada. Encontravam-se agrilhoados e unidos por um cadeado pesado de ferro, escurecido pelo sangue coagulado. Não haviam quaisquer sinais de luta, nem sequer da arma que desferira o dono daqueles órgãos, nada. Apenas a grande mancha no meio do chão. Alguns resíduos de sangue também se encontravam na janela, na porta e na lareira. O cheiro não era grande coisa, mas a janela não fechava bem pelo que uma corrente insistia em renovar o ar.



Do nada ouviu gritos vindos de fora. Espichou a cabeça e teve apenas tempo de avistar Daniel na sua vassoura voando a grande velocidade ao seu encontro. Ao vê-la Daniel se assustou, perdeu o equilíbrio e num grito a cinco foi arremessado pela torrente de ar que guardava aquela passagem.



Mandy disparou num vôo picado em direção ao amigo, os outros três gritavam desesperadamente.



Amparou a queda de Daniel a escassos metros do chão. Voltou à outra janela ao encontro dos outros três.



-Que susto! Vocês são completamente doidos! – Peter berrava ensandecido – têm a mínima noção do que aconteceu?! Por acaso viram daquilo que escaparam por pouco?!



-Cara já é a segunda vez que isso acontece: eu me ferro na vassoura e é outro que pira por minha causa. Quê isso...? E... Eu acho que conheço vocês.



-Peter June, não foi um prazer te conhecer assim! Vocês podiam ter se espatifado lá em baixo, seu sangue teria esguichado até aqui em cima!



-Credo que exagero... – Mandy retrucou com calma.



-Exagero nada! Você por acaso já viu alguém morrer por tentar chegar naquela janela?



-Não queira comparar as mortes que eu já vi – Mandy respondeu num tom mais grave.



-Essa não... Mais outros dois.... – Kimberly lamuriou revirando os olhos.



Mas ao contrário de Lucy e Daniel, nem Mandy nem Peter insistiram na discussão que terminou no tom sério mas respeitador que Mandy usara.



-Afinal, o que tem lá? – Kimberly questionou.



-Coisas no chão com sangue e uma sala totalmente cinzenta.



-Eca!



-Por alguma razão eu falei pra você não entrar.



-Se tem sangue então não é cinzenta – Daniel retrucou em tom gozoso.



-Brlhante dedução, Knight – Mandy respondeu com um falso sorriso rasgado, sorriso esse que Peter já não aguentava mais ver, pelo que se limitou a despedir.



-Que tem ele? – Mandy ainda investiu, mas Greg, que o seguia, respondeu com um aceno de cabeça pedindo que não se preocupasse.



-E agora? – Kim pergutou.



-Agora você conta pra ele o que aconteceu que eu não quero perder DCAT – Mandy falou, deixando os dois sozinhos.



Caminhava calmamente pelo castelo para guardar sua vassoura quando se cruzou com Carmen Wood.



-Carmen! Como vai isso?



-Oi Malfoy – respondeu, observando a vassoura e perguntando com o rosto.



-Ah, fui pegar uma coisa no alto – Mandy devolveu em escárneo.



-Hum... – Carmen semi-cerrou os olhos.



-História comprida. Com dois sonserinos do sétimo.



-Oh! O que você andou fazendo com dois alunos do sétimo ano? – Carmen arregalou os olhos, brincando.



-Nada de especial... Sabe cadê a Lucy?



-Não. Tem visto a Maggie da Lufa-Lufa?



-De vez em quando, porque pergunta?



-É que nós éramos muito amigas mas nos afastamos esse verão e estou com saudades dela...



-Bom, se eu a vir digo que você quer falar com ela.



-Ah não, não precisa se incomodar.



-Não é incômodo.



-Enfim. Lá vamos nós aturar aqueles grifinórios chatinhos de novo.



-Vamos a isso.



Mandy colocou-se ao entre Lucy e Gabriella que tinha Lianora e Carmen ao lado. Lucy conversava animadamente com Judith Warlin, pelo que Mandy se virou para o lado sonserino.



-Então? O que acontece aqui?



-A Lianora ainda tá chocada por saber que você já ficou com o Logan Vanglor antes de vir pra cá – Gabriella se adiantou.



-Qual é o estresse todo nisso? Porque toda a gente fez disso uma coisa do outro mundo?



-É mais velho e é o aluno mais lindo, popular, charmoso e inteligente dessa escola! – Lianora insistia.



-Afs que coisa – Mandy suspirou. – Sabia que acabei de estar com outros dois alunos do sétimo ano? Eu nem conhecia eles. Quer dizer, na verdade nenhum deles tem mais idade para estar no sétimo. Um deles está repetindo, o outro não sei o que anda fazendo aqui.



-Quem são?



-Gregory Tale e Peter qualquer coisa, não gravei bem. São os dois da nossa casa.



-Já sei, um parece novinho, tem sempre um ar de sono ou de bêbedo e o cabelo claro, e o outro tem um cabelo parecido com o do Snape, mas meio ondulado? – Carmen indagou feliz por achar que sabia de quem se tratavam.



-Esses mesmos – Mandy respondeu com um sorriso fraco.



-Oh, esses não contam, são uns anti-sociais – Lianora respondeu com escárneo.



-E por acaso o Logan sempre foi popular? – Mandy cortou com secura.



-O que quer dizer com isso? Ele sempre foi popular – frisou Lianora.



-É claro que vocês só o conheceram a partir da altura que ele ficou mais popular, mas nem sempre foi assim – Mandy insistiu.



-Ele já foi outra coisa? – Gabriella repetiu.



Mandy revirou os olhos cansada de tanto pleonasmo, acabando por pousar-lhes os olhos em cima numa expressão comprovadora.



-Isso quer dizer que as próximas bombas serão os dois sonserinos que você esteve beijando agora – concluiu Lianora piscando o olho.



-O quê?! Eu nunca disse que tinha beijado alguém hoje!



-Então pra quê disse que esteve com eles? – Reforçou Lianora.



-Porque eu realmente estive por um tempo no mesmo espaço onde eles estiveram hoje! E com a Kim também.



-Ah certo, um pra cada uma – concluiu Lianora novamente, divertida.



-Por acaso tenho cara de Lucy pra você discordar da minha palavra sobre o que eu fiz? – Mandy findou num tom baixo e perigoso quando mais nenhum aluno entrava e o professor Longbotton reunia as condições necessárias para começar a aula.



-Bom dia alunos! Tenho que substituir o vosso professor de DADA hoje. Preparados para a última aula antes do almoço? – O professor introduziu com entusiasmo, recebendo desânimo em resposta – tudo bem... Fazemos uma aula prática hoje pra animar vocês. Vamos rever os principais feitiços do ano passado....



-Nossa Mandy, tem calma – pediu Gabriella.



-Ai, não tenho paciência pra Lianora – Mandy devolveu o sussurro.



-Hum... Ah é, gosto de dar aulas a vocês, posso dizer como os meus professores diziam mas sem me preocupar tanto. Potter e Malfoy, se aproximem, os outros dêem espaço. Vamos começar por desarmar a outra.



-Professor, eu não tenho varinha.



-Hum... não tem problema, é só para praticar.



O simples duelo já havia evoluído para uma competição de patronos, mas Lucy lembrava ao professor ainda não conseguir tal proeza e Mandy se mostrou hesitante em levar a cabo o pedido da turma de uma demonstração, alegando ser um feitiço complexo demais para uma bruxa sem varinha. Era a primeira vez que não a viam confiante.



Para sua glória o fantasma de Snape irrompe pela sala adentro.



-Longbotton, a Granger está chamando.



-O que foi?



-Não sei, ela só pediu para chamar as remanescências da Ordem.



Nem mais uma palavra teve de ser proferida. Os professores depressa desapareceram e os alunos consideraram-se dispensados.



-Nhan... Que droga, não queria perder essa aula – Mandy se lamuriou enquanto se dirigia à porta com Lucy.



-Mas você não estava totalmente feliz com ela – Lucy lembrou.



-Não, eu só tenho um probleminha com o patrono, de resto...



-Mandy hoje é sexta, você vem? – Gabriella perguntou quando saíam da sala, referindo-se à “sexta-festa”, a habitual festinha ilegal dos sonserinos das sextas-feiras.



-É, vou sim – afirmou antes de se afastarem. – E vocês? O que têm pra me contar?



-Isso pergunto eu – devolveu Lucy – que história é essa de biblioteca secreta?



-Como é? – Judith perguntou.



-Você recebeu umas quantas mensagens da Kim, não foi? Bem, eu explico...



-Ah eu não vou poder ouvir, contem pra mim depois, vou aproveitar o buraco no horário pra chamar o meu namorado pra me ver – Judith interrompeu, desaparecendo na pequena multidão de grifinórios em seguida.



Mandy acabava de contar como devolvera Daniel a terra quando se cruzaram com Kimberly que saía do refeitório.



-Oi Lucy, Mandy já te contou tudo?



-Sim, já. Depois da gente voltar pra cima o Peter teve um ataque que parecia que eu tinha mostrado uma fotografia dele de pijama pela escola inteira – Mandy concluiu para Lucy.



-Ele teve um ataque e com razão! Vocês são doidos! – Kimberly repreendeu.



-Ah tá bom, vai. Whatever. Cadê o Knight?



-Acho que foi pra Hogsmade. Olha a Maggie – Kimberly observou e foram se sentar ao lado dela. – Oi Mags.



-Ah oi meninas. Vocês devem ser as únicas pessoas que eu conheço que nem por isso são as mais populares mas são bem-vindas em todas as mesas.



-A gente faz o que pode – Mandy respondeu com simpatia. – Ah, a Carmen perguntou por você.



-Oh... Eu tenho saudade dela... A Lianora roubou ela de mim...



-Que exagero, ela não roubou, a Carmen já era da nossa casa, ela só cansou de ficar pulando de casa em casa – Mandy defendeu – embora seja praticamente o que eu faço...



-Ih, não dá bola pra Lianora não, ela não merece – Lucy alertou.



-Ela já não fala mais comigo porque eu agora tô sempre que posso com o Patrick.



-Isso até pode ser um privilégio. Mas o que tem ele a ver com isso?



-Ela ainda tem ciúme dele – Kimberly respondeu.



-Ciúme? Como? Ela já ficou com um monte de gente e agora até tem namorado, o... aquele idiota que jogou o Daniel pra fora da vassoura!



-Ela acha que marca quem beija – opinou Maggie.



-Não, ela só é assim com o Patrick – observou Lucy.



-Hum?



-É... História longa e chata – completou Kimberly.



-Essa garota é um nadinha insuportável – Mandy interveio.



-Mas você se dá com ela – Lucy ripostou.



-Ela é da minha casa.



-Você se dá com todo mundo da sua casa?



-Bem, não, mas eu até gosto da Carmen e da Gabriella, não há nada a fazer se elas estão sempre com a outra agarrada literalmente.



-Ok, isso é verdade, elas são legais – Kimberly condordou.



-Eu adorava a Gabriella – Lucy reclamou, - mas a Lianora estragou ela! Agora não posso com elas na minha frente. Eu odeio a Lianora; eu sei de coisas que ela fez que mais ninguém sabe – contestou, frisando a última frase com sombras e pesar na voz.



O pesar foi recebido e sentido pelas outras, das quais apenas Maggie se destacou para fugir à raiva de Lucy:



-Er... Eu tenho que ir, quero despachar os trabalhos para ter o fim-de-semana livre...



-Nossa, que estresse para a primeira semana de aulas. Ainda estamos no comecinho... – disse Mandy.



-É, mas a gente já tem teste semana que vem – Kimberly devolveu, saindo com Maggie.



-Essa escola só tem gente estressada! – Comentou Mandy, sentando.



-É só gente doida... – Lucy concordou. – Ainda bem que te peguei assim, sozinha. Tem uma coisa que eu preciso contar pra alguém, não consigo mais engolir isso, a-acho que vou explodir se não contar.



-Então conta.



-Eu vou chorar...



-Poquê?



-É que ainda por cima não sei se posso contar... – Lucy começou, e pelo olhar enojado de Mandy, deixou o embaraço de parte e por fim contou a “orgia” da qual Gabriella, Lianora, Carmen e as outras tinham participado.



-Não, eu não tinha entendido que aquele emaranhado de gente tava se beijando; tava mais preocupada em me afastar do Logan. Você tem noção da quantidade de doenças que a você ficou sujeita?



-Eu sei! Por isso é que não beijei ninguém!



-Ué, mas você não disse que o Rosemaw distribuiu beijos por vocês?



-S-sim... Mas foi só ele... E eu não o beijei, ele é que me beijou.



Madison fitou a amiga com desprezo sincero.



-Cara, você é que sabe; eu até queria te dar algum apoio mas você tava sóbria, você traiu o outro porque quis...



-Hã? Traí quem?! Que história é essa?!!



-Que diacho? Você não namora o Daniel?



-Pirou?! Eu não namoro ninguém; eu não gosto dele! Meu Deus, será que ninguém entende isso? E eu que pensava que você era a única que me entendia...



-Eu... Ah, desculpa... Eu achei que vocês...



-Achou errado.



-Ok, tudo bem, eu acredito em você – acabou por ceder, ainda confusa. – Bom, nesse caso...



-Eu desabafo com você e você ainda me acusa de trair um cara que eu nem gosto?!



-Tá bom, tá bom, eu retiro o que disse – pediu, e no que Lucy se acalmou, prosseguiu: - olha só, eu não sabia que essas coisas rolavam nas festas da minha casa... Agora que sei, e como você ficou tão marcada por isso, não acho que você deva ir a outra de novo...



-Mas elas não eram assim, isso de orgia é novo! E as festas são boas, assim mesmo.



-E valem a pena?



Lucy não respondeu.

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