Cefeidas



Ela andava com passos exasperados por toda a extensão do gramado que cercava o castelo de Hogwarts em direção ao Lago Negro. Já devia passar da meia noite a muito, mas a garota de cabelos fartos e castanhos caminhava com rapidez. Dentro da cabeça dela, apenas uma coisa: ódio. E como sabia odiar.


  A garota chega à beirada do lago e senta-se, abraçando os joelhos e enterrando a face entre os mesmos. De longe, é possível apenas vislumbrar um pequeno vulto e escutar algo que parecia um soluçar.


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 Ele caminhava calmamente pelo corredor do andar térreo, com a consciência limpa e completamente satisfeita. Hoje havia posto dois Corvinais em detenção e conseguira irritar um pouco mais a Granger. Não entendia a satisfação que aquilo lhe dava, mas só de lembrar a expressão de raiva e provocação despertando do rosto da garota, ria sozinho.


 Sua vida estava melhor que nunca: sem Comensais para pressioná-lo, garotas lindas caindo aos seus pés, muitos amigos bajuladores, notas máximas em quase todas as matérias...


 Após a queda do Lorde das Trevas, Draco se atarefou em entregar Comensais ao Novo Ministério e monitorar Hogwarts. Obviamente, não mudara exatamente nada nas suas atitudes para com os Grifinórios, e consumava o mesmo prazer de antes vê-los irritados. Aquilo ultrapassava um orgulho Sonserino; era como se, por segundos apenas, conseguia ser mais feliz e pleno do que alguns deles. Potter e sua glória interminável; Weasley e a sua recém-adquirida fortuna; Granger e a sua extensa quota de conhecimento absoluto e sangue sujo.


 Mas o que Draco não compreendia é que havia algo dentro dele que nunca chegaria perto do dela. Algo que bombeava um sangue tão distinto na cabeça dele, mas exatamente igual aos olhos de quem sabia fazer um julgamento justo.


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 Hermione acordara em uma superfície um tanto quanto dura e úmida. Ao abrir os olhos, a escuridão continuava a pender ao seu redor, mas certas formas eram distinguíveis. Como por exemplo, o Lago logo à sua frente. Ou a árvore em que costumava se sentar à sua sombra nos dias de sol para ler ou conversar com os amigos. Ou também, a imensa silhueta do castelo que a abrigara nos últimos 7 anos, e que agora a recebia de braços abertos para um retorno acalorado. Ou também uma pessoa alta e com aparência forte, cabelos loiros e...


 A garota se ergueu em um pulo, correndo o mais silenciosamente possível para a parte traseira da árvore mais próxima. Quando os olhos se acostumaram com a escuridão, ela conseguiu distingui-lo. “Malfoy”, ela sussurrou, com um imenso desejo de vomitar.


 - Quem está ai? – indagou alto o garoto que saíra do castelo para uma caminhada noturna mais que habitual.


 Ao perceber a ausência de sons, continuou a caminhar até chegar à mesmíssima borda aonde a garota repousara logo antes. Sentou-se, pegou a varinha e começou a murmurar feitiços que acabava por fazer a água subir, descer e criar novas formas no ar.


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 Draco parou de brincar e deitou-se no gramado, com um suspiro. Jamais admitiria, mas o seu ponto fraco, a única coisa que o tornava sensível era o céu. Desde estrelas até satélites, seu gosto por astros celestes era algo que o tornava vulnerável.


 Nunca contara para ninguém, mas costumava usar aparelhagens trouxas para observar o céu e também tinha o hábito de ler as descobertas que os mesmos faziam.


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 O garoto deu mais um suspiro, e com isso Hermione começou a suspeitar que houvesse um traço de humanidade no garoto. “Dois suspiros em um intervalo menos que 2 minutos?” ela indagava, com um meio sorriso nos lábios.


 Logo o garoto foi fechando os olhos e embalando um sono relaxado e tranqüilo. Sua respiração se tornou tão calma quanto possível, e sua cabeça tombou um pouco para o lado. Era tarde; e a rotina em Hogwarts não era simples.


 Hermione abriu seu meio sorriso em um sorriso mal intencionado, e aproximou-se do corpo do garoto calma e silenciosamente. Agachou-se ao lado dele, pensando: “O que devo eu fazer contigo, Malfoy?”. E de repente, uma idéia quase brilhante veio a cabeça.


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 Minutos depois, a garota deixou o local com certa arrebitação no nariz que antes não existia. Entrou no castelo por uma porta isolada abaixo da Torre Sul, que levava diretamente aos aposentos dos monitores-chefes e, respectivamente, aos banheiros.


 A garota, com uma pequena pressa, falou a senha, “Philos”, e adentrou o banheiro majestoso. Despiu-se e com paciência abriu algumas torneiras aleatórias. A água estava quente no lado norte da imensa banheira e gelada abaixo do Vitral da Sereia propositalmente, pois a garota gostava de finalizar o banho com um choque de água gelada. Hermione tomou o seu banho em um intervalo de aproximadamente meia hora, secou-se e vestiu sua camisola de seda turquesa.


 Dirigiu-se até a porta do seu quarto, que fora preparado com o mesmo princípio da Sala Precisa. Os monitores-chefes tiveram um dia para montarem o seu quarto como desejassem.


 O quarto de Hermione era uma mistura de seu quarto na casa de seus pais com uma biblioteca moderna. Também conseguira, com a ajuda da professora de Transfiguração, Minerva McGonagall, fazer com que um rádio funcionasse por meio de magia.


 A música que tocava era uma música trouxa, da qual Hermione não se lembrava o nome, mas conseguia cantarolar junto. “Well it’s a big, big city and it’s always the same” era o trecho inicial, e ao aninhar-se entre cobertas e almofadas, a garota pegou no sono com aquele trecho embalando seus sonhos.


-


 Mal ela sabia que em algumas horas, sua “vingança” começaria a se tornar um jogo do qual ela teria que ser uma exímia jogadora para conseguir sair do mesmo. Mal sabia ela que Draco Malfoy entendia e muito de estrelas. Mal sabia ela que ele reconheceria o seu modo de pensar.


 E muito menos passou a possibilidade pela sua cabeça de Malfoy também planejar algo ao acordar e ver que estava seminu com um mapa estrelar pintado por todo o seu tórax e barriga, com um bilhete completamente amarrotado que dizia o seguinte:


“Como uma estrela acima do seu corpo antes jazido,
  Ela seria a fita métrica interestelar.
  Diga o seu nome correto para ser bem ouvido,
  E dica: como o seu coração, ela está a pulsar.”


 “Ridiculamente fácil” concluiu Draco, intrigado apensa com o motivo de estar ali, preso ao chão por algo invisível. “Cefeidas!” disse em voz alta, e ao libertar-se, ficou de pé rapidamente. Saiu a procurar suas roupas, e ao encontrá-las embaixo de uma árvore continham mais um bilhete, agora impecavelmente liso e com uma letra tão perfeita quanto possível:


Se chegou até aqui, é porque adivinhou,
  Porque alguém que tenha uma boa mente e um bom coração o libertou.
  Mas não se preocupe, hora ou outra descobrirá o porquê.
  Por hora, apenas isso deve saber.


  P.s.: Procure aonde não procuraria.”


  Draco riu; ninguém havia o libertado. A remetente dos bilhetes o havia subestimado, e ele já compreendia quem era por dois fatores: ela era a única quem poderia estar ali sem ser posta em detenção. E ela era a única que teria inteligência e contato com material trouxa o bastante para saber o que são cefeidas.

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