Trevas
- Olhe…para…mim
Não acreditava que aquelas seriam as últimas palavras que eu iria escutar do meu professor de poções. Não poderia ser verdade, ele não poderia morrer assim. Ele não poderia morrer.
A voz fria de Lord Voldemort ecoava pela Casa dos Gritos, mas minha atenção estava no homem jogado no chão em minha frente.
Severo Snape, o traidor de Dumbledore jazia morto na minha frente. Sabia perfeitamente por que não estava satisfeita com aquilo, e não é – como muitos pensam – que eu ache que ninguém mereça morrer. Existem pessoas que merecem destino até pior do que a morte... Voldemort, e sua mais fiel seguidora Bellatrix Lestrange são dois deles. Os outros Comensais, a meu ver, são apenas idiotas oportunistas, acéfalos e muitas vezes medrosos.
Mas por que não achar que um traidor merece a morte? Por que não achar que o homem que matou o bruxo mais poderoso de todos os tempos merecia esse cruel destino?
Simples. Eu não acreditava em sua traição. Meu raciocínio era lógico demais para me permitir aceitar que ele realmente era um assassino, havia algo de muito errado na forma como tudo tinha ocorrido...
Repassei mentalmente os acontecimentos daqueles dois últimos anos: o livro de poções; Príncipe Mestiço; sectumsempra; a mão de Dumbledore semi-morta; as memórias de Riddle; horcruxes; diário; anel Gaunt; Snape me fechando na sala na noite da invasão; as memórias de Harry com a súplica de Dumbledore para Snape, as memórias me mostrando o efeito da poção em Dumbledore. Algo realmente não fechava.
Pensei nas palavras de Voldemort ao matar Snape. A varinha das Varinhas só teria força se ele fosse morto. Draco Malfoy tentara matar Dumbledore na Torre de Astronomia, e Dumbledore suplicara por Snape... A mão! A poção do medalhão! Voldemort certamente não deixaria o anel sem algum tipo de proteção...Dumbledore deve ter posto o anel no dedo e se contaminado, pelo estado da mão dele seu tempo de vida não seria muito longo, apenas Snape era versado o suficiente na Arte das Trevas para diminuir o ritmo do feitiço do anel... Draco tinha a minha idade, matar alguém rompe a alma... Snape já tinha matado antes, ele fora um Comensal...Snape tinha que matar Dumbledore, que já morreria de qualquer jeito para poder salvar a alma e a vida de Draco, que seria morto se fosse o legítimo dono da Varinha das Varinhas.
Minha boca abriu num “O” e senti o calor das lágrimas escorrendo no meu rosto. Voldemort acabara de dar seu aviso final. Harry deveria se entregar na Floresta Proibida. Encarei seus olhos verdes e consegui finalmente encontrar minha voz:
- Acho que antes de qualquer coisa, você deve ver essas lembranças.
- Por que Mione? – perguntaram os dois ao mesmo tempo.
- Ele estava a beira da morte e decidiu entregá-las pra você, certamente são importantes...
- Vou usar a penseira de Dumbledore.
- Vão indo vocês dois, eu vou descansar um pouco por aqui, já encontro vocês no Castelo.
Não havia tempo para discutir então os dois simplesmente saíram me deixando com o corpo do Professor Snape. Me sentei ao seu lado, apoiei sua cabeça no meu colo e comecei a acariciar seus cabelos negros... Olhei para suas mãos com dedos longos que por anos prepararam as poções mais complicadas do mundo bruxo, encostei meus dedos nos dele. Frio. Ele estava gelado como qualquer corpo morto deveria estar, mais lágrimas rolaram.
Foi quando eu senti. Uma pequena pulsação, para não dizer mínima e praticamente inexistente. Não poderia sentir uma grande esperança, mas o sentimento veio e me fez engolir o choro forte preso na minha garganta. Se ainda restava nele um fio de vida, eu iria tentar me segurar a isso. Coloquei sua cabeça novamente no chão, me sentei na sua frente e procurei pela pequena bolsinha de contas pelo quarto...
Abri minha bolsa e comecei a retirar poções e alguns livros. Ditamno, bezoares, poção curativa, para fortalecer, essência de murtisco, Felix Felicis (recém "adquirida" da sala de poções) e por que não? O soro fisiológico trouxa. O que eu faria com tudo aquilo já era outra história... A cobra de Voldemort era uma horcrux, ou seja, um ser carregado de Arte das Trevas, e nenhuma das opções anteriores serviria para combater isso... Sangue de basilisco? Fogo maldito? Essas eram as coisas que eu tinha lido que destruiriam uma horcrux, mas Snape não era uma, ele apenas – ah tá... apenas – tinha sido mordido por uma. Dumbledore, Dumbledore...por que você não fez algo pelo seu professor? Por que ele próprio não criara uma poção, um antídoto? O que conseguiria derrotar a Arte das Trevas assim? Quando alguém que você admira, preza e gosta está a beira da morte?
Sorri. Afastei as poções e os livros da minha frente. Me inclinei sobre o rosto pálido do meu antigo professor, segurei seu pulso – ainda conseguia senti-lo. Meus lábios encontraram os seus, frios como o restante do seu corpo, frio como sua personalidade.
- Eu te perdôo.
Um pequeno grunhido foi emitido através de seu longo nariz. Novamente eu sorri.
- Eu te amo Severo Snape e não posso permitir que você morra.
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