The silence is falling

N/A.: Fanfic para a edição especial de Halloween da seção. Zombies, oh yeah.

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When the silence takes you
then I hope it takes me too
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Não havia sangue de outrem em minhas roupas, apesar de elas estarem imundas. Elas estavam rasgadas, sujas de lama e do sangue dos meus próprios machucados. Eu tinha terra embaixo das unhas e medo embaixo da pele. Há muitas luas eu tenho fugido desses monstros. Monstros da noite, sem vida, sem misericórdia, com fome. Fome de mim, de minha carne, de meus ossos, de meu sangue. Eu não quero morrer.

"Eu não quero morrer."

Era Granger. Ela havia conseguido escapar. Quando a casa dos Weasley caiu, ela fugiu e aparatou em um lugar que julgou ser seguro. Hogsmeade, e então foi até Hogwarts. Era para onde todos iam, afinal, e eu estava lá. E agora éramos só nós dois. Almas perdidas num mundo de mortos.

Hogwarts era distante o suficiente de tudo para que estivéssemos seguros. Todos os outros estavam mortos. Não houve tempo para que se preparassem, para que uma mãe cantasse uma canção de ninar para seus filhos ou para que um pai desse um beijo de boa noite. Não houve tempo para que os sussurros de "tudo vai ficar bem" saíssem das nossas bocas.

O Lord queria um exército que não pudesse morrer, mas que pudesse matar a todos. E foi o que ele conseguiu. O Lord foi o primeiro a cair. Então eles surgiram: centenas e centenas de mortos-vivos, vindos de lugar nenhum e indo para todos os lugares. Para matar todas as pessoas. Pela primeira vez eu entendi o que era igualdade. Eles matavam todos, sem distinção de sexo, pele ou sangue. Todos morreram.

"Vamos comer."

Nada além de um pedaço de pão velho e um gole de água. A comida do castelo era comprada fresca, três vezes por semana, e nenhum estoque sobrevivia a comelança do cotidiano de Hogwarts.

Não havia mais nada além de nós. Onde estávamos não havia sangue, ou cadáveres, ou monstros. Era longe o suficiente, ou talvez eles apenas estivessem ocupados demais com os milhares de trouxas que morriam a cada lua. Eu não me importava, desde que estivesse vivo.

O meu mundo agora se resumia a mim e Granger . Havia o medo de morrer, aquela tristeza de estar sozinho no mundo. De um modo ou de outro, sempre estivemos, mas aquela era a pior sensação. O medo de morrer sozinho.

Não precisávamos de muito mais para formar o cenário de nossa tragédia. Não havia o requinte do sangue, o luxo da batalha ou o brilho nos olhos. Era só o frio, a fome e a certeza de que iríamos morrer, mais cedo ou mais tarde, de um jeito ou de outro. Era só a tristeza da tragédia em sua significância mais pura.

Algum tempo depois – não poderia precisar quanto –, antes de dormir, ela olhou nos meus olhos e segurou a minha mão. Acho que ela sabia que seria a última vez que olharia nos olhos de alguém, que sentiria o toque de outra pessoa. Ela apertou os meus dedos e me deu um sorriso.

"Boa noite, Draco."

Acho que era por isso que estávamos juntos, eu e Granger. Que nos apoiamos um no outro para sobreviver. A gente tinha medo de morrer, mas viver não era uma de nossas opções.

"Boa noite, Hermione."

Entrelacei nossos dedos e quando os olhos dela se fecharam, fechei também os meus. Os olhos dela foram a última coisa que vi.

Morremos juntos.


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