Prólogo: Dia 31 de Outubro
Prólogo: Aquele fatídico dia 31 de Outubro
31 de outubro. Uma motocicleta sobrevoa Surrey, um homem de grande estatura a pilotava. No carrinho lateral do veículo (Sidecar) estavam dois embrulhos de cobertores. O piloto avistou dois vultos parados à frente de uma casa na Privet Drive, com a numeração 4. Aquela casa era o seu destino, ou melhor, o destino dos embrulhos.
O homem aterrissou em frente à casa, levantando seus óculos de proteção até a testa e descendo da motocicleta, não sem antes pegar os embrulhos, segurando cada um em uma mão.
Ele tinha um aspecto selvagem - suas barbas e cabelos negros emaranhados cobriam grande parte de seu rosto e as mãos tinham o tamanho de latas de lixo. Trajava um grande casaco de pele de castor e nos pés do tamanho de filhotes de golfinho, botas de couro.
— Hagrid — O piloto, chamado Rubeus Hagrid, foi cumprimentado por um homem magro, esguio e idoso, de longas barbas e cabelos prateados. Trajava vestes e capa púrpuras e botas afiveladas com salto alto. E, para completar seu aspecto ancião, óculos em meia-lua, colocados na ponta de seu nariz, muito cumprido e torto. Por trás dos óculos, se escondiam olhos azuis claros, luminosos e cintilantes — Finalmente. E onde foi que arranjou a moto?
— Pedi emprestada, Prof. Dumbledore — Rubeus Hagrid respondeu o ancião, chamado Albus Dumbledore — O jovem Sirius Black me emprestou. Trouxe eles, professor.
— Não teve nenhum problema?
— Não, senhor. A casa ficou quase destruída, mas consegui tirá-los inteiros antes que os muggles invadissem o lugar. Eles adormeceram quando estivemos sobrevoando Bristol.
Albus Dumbledore e a mulher de aspecto severo ao seu lado, Profª. Minerva McGonagall, curvaram-se para os embrulhos de cobertores.
Dentro do embrulho que Hagrid segurava com sua mão direita, estava um menino. Tinha cabelos muito negros e um corte curioso na testa, em forma de raio.
Dentro do embrulho na mão esquerda, estava uma menina. Cabelos ruivos e o mesmo corte, idêntico.
— Foi aí que... — Sussurrou Minerva McGonagall, incapaz de terminar a frase. Ela trazia os cabelos negros presos em um coque apertado, usava óculos de lentes quadradas e vestia vestes e capa verdes-esmeraldas. Sua face, que antes possuía um aspecto severo, agora apresentava uma expressão triste, os olhos marejados de lágrimas.
— Foi — Confirmou Dumbledore Ficarão, cada um, com a cicatriz para sempre.
— Será que você não poderia dar um jeito, Dumbledore?
— Mesmo que pudesse, eu não o faria. As cicatrizes podem vir a ser úteis. Tenho uma acima do joelho esquerdo que é um mapa perfeito do metrô de Londres. — A professora voltou ao seu aspecto severo; ela, obviamente, não considerava a informação necessária — Bem, me dê eles aqui, Hagrid, é melhor acabarmos logo com isso.
Hagrid, chorando, entregou os bebês para Dumbledore.
— Será que eu podia... Podia me despedir deles, Professor? — Ele perguntou à Dumbledore. O ancião assentiu e Rubeus deu em cada criança um beijo áspero e peludo na testa. Em seguida, soltou um uivo.
— Psiu! — sibilou a Profª. McGonagall — Você vai acordar os muggles!
— Desculpe — O homem se desculpou, entre soluços, puxando um enorme lenço de um dos bolsos de seu casaco e enxugando as lágrimas com ele — Mas na... Nã... Não consigo suportar, Lily e James Potter mortos, e os coitadinhos do Harry e da Amy terem de viver com os muggles...
— É, é muito triste, mas controle-se, Hagrid, ou vão nos descobrir — A professora deu palmadinhas reconfortantes no braço de Hagrid, em seguida olhando para os lados, para verificar se um “muggle” não os tinha descoberto.
O Prof. Dumbledore saltou a mureta de pedra e colocou as duas crianças no batente da porta da frente, tirando uma carta da capa e colocando-a entre os cobertores de Amy. Em seguida, pulou novamente a mureta e voltou à companhia dos dois. Durante um minuto, os três ficaram olhando para os embrulhinhos, os ombros de Hagrid sacudindo, os olhos da Profª. Minerva piscando loucamente e a luz cintilante que sempre brilhava nos olhos de Dumbledore parecia ter-se extinguido.
— Bem — Disse Dumbledore, após este minuto de silêncio — Acabou-se. Não temos mais nada a fazer aqui. Já podemos nos reunir aos outros para comemorar.
— É — A voz de Hagrid era abafada e soluçante — Vou devolver a moto de Sirius. Boa noite, Profª. McGonagall, Prof. Dumbledore...
Rubeus enxugou suas lágrimas na manga do casaco e montou na motocicleta, acionando o motor com um pontapé. Com um rugido o veículo levantou vôo e desapareceu no céu negro.
— Nos veremos em breve, espero, Minerva — Dumbledore disse, acenando a cabeça. Em resposta, a professora apenas assou o nariz.
O ancião virou-se e desceu a rua. Na esquina ele parou e puxou um objeto prateado do bolso, semelhante a um isqueiro de prata. Deu um clique e doze esferas luminosas voltaram aos lampiões e a Privet Drive iluminou-se. Dumbledore virou-se para onde estivera Minerva McGonagall, e em seu lugar encontrou um gato listrado se esquivando pela outra ponta da rua.
— Boa sorte, Harry, Amy... — Ele murmurou para os embrulhos de cobertores no batente da casa nº 4. Em seguida, girou em seus calcanhares e, com um movimento de capa, desapareceu.
Na Privet Drive, o último lugar do mundo em que se esperaria que algo estranho ou misterioso acontecesse, os gêmeos Potter viraram-se dentro de seus cobertores, sem acordarem. Amy agarrou a carta com sua mãozinha, mas ela e seu irmão continuaram a dormir, sem saber que eram famosos ou especiais. Os gêmeos só iriam acordar dentro de poucas horas, com um grito e a visão de uma mulher loira, de feições cavalares e pescoço comprido. Seus olhos estavam arregalados e em sua face, predominava uma expressão aterrorizada.
— Vernon! Vernon! — A mulher berrou, fazendo os bebês chorarem — São eles! Os gêmeos! Os filhos dela! Eles estão aqui, no batente da nossa porta, enrolados em trapos imundos!
Seu esposo, Vernon Dursley, um homem alto e corpulento, de pescoço curto, enormes bigodes e face arroxeada, correu para a esposa.
— Não! — Vernon Dursley berrou. Seus medos da noite anterior estavam se realizando — Não pode ser! O que eles estão fazendo aqui! Petunia, onde estão aquela sua irmã e o marido imprestável? Porque estas crianças estão no batente da nossa porta? Eu exijo uma explicação!
— Vernon, olhe! Olhe, Vernon! — Petunia Dursley, a tia dos irmãos Potter, exclamou, apontando para a carta que Amy segurava — Uma carta! Uma carta nos cobertores dela! Nos cobertores da garota!
— Deixe-me ver — Vernon, cunhado de Lily Potter, disse, pegando a carta da mão de Amy e lendo-a. Petunia espichou seu pescoço comprido para ler a carta.
Ao término da carta, Petunia estava chorando pela morte de Lily, mas dizia para Vernon que estava com raiva da irmã.
— Raiva — Garantiu a tia dos gêmeos — Raiva daquela aberração e do marido imprestável dela! Eles simplesmente explodem e nos deixam com duas crianças a mais para sustentar!
— Já temos Dudley, não queremos mais ninguém! — Completou Vernon — Vamos dar esses dois para o orfanato!
— Não.
— Mas Petunia...
— Eles ficam, Vernon! — Disse firmemente a esposa — Se não os aceitarmos, o pessoal dela virá atrás de nós! Você não sabem do que eles são capazes! Você não leu essa carta? Não viu o que eles fazem com pessoas da própria laia? Se fizeram isso com eles, imagine o que farão conosco! Eles ficam, está decidido!
Dito isso, Petunia abaixou e carregou as crianças para dentro de casa. Vernon, vendo que não ia ganhar nada discutir com a esposa, fechou a porta atrás dele.
E assim começou o pior período da vida dos irmãos Potter, que durou dez longos anos...
Comentários (1)
Gostei muito! Bem escrita e coerente. Por quê não continua?
2014-06-18