Capítulo Único
Rony estava sentado na sala, numa poltrona grande e confortável, um dos muitos móveis trouxas que ornamentavam a casa, como Hermione queria.
Ouviu a porta abrir. Finalmente ela tinha chegado. Observou o relógio. Faltavam 15 minutos para as dez da noite.
Tudo bem, ela cumprira o prazo, mas ainda assim, aquilo não era hora para uma moça de família estar na rua.
Pelo menos não para ele.
Não iria mais discutir aquele assunto com Hermione, ela nunca lhe dava razão mesmo. E tudo o que ouvia era sempre a mesma ladainha.
“Rose já tem dezessete anos, Ronald Weasley, ela é maior de idade. Deixe sua filha em paz.”
E daí que ela era maior de idade, certo? Ainda era a garotinha dele.
- Pai?
Ela chamou com uma voz suave.
Inferno Sangreto, aquela garota era igual a mãe. Nem raiva ele conseguia sentir por muito tempo.
- Oi querida.
- Estava me esperando?
Ele se ajeitou na cadeira.
- Não, não... Estava apenas adiantando serviço.
Rose riu. Exatamente como Hermione fazia quando sabia que Rony estava mentindo.
- Hum, hum. – Ela se aproximou e sentou no braço da poltrona – Nunca é tarde pra se organizar não é? Acho que finalmente as manias da mamãe estão te influenciando.
Rony arregalou um pouco os olhos.
- Não, mesmo! Esta casa não aguenta duas de sua mãe, Rose... - Ele disse e procurou ao redor, como se temesse encontra-la ouvindo a conversa – Foi um bom passeio?
- Foi sim.
Ela respondeu encostando a cabeça no ombro do pai e deslizando para o seu colo. Rony a abraçou.
- E... A doninha filho, se comportou?
- Como um verdadeiro Grifinório.
Rony fez uma careta.
Aquelas doninhas nunca serão Grifinórias, Rose...
Ela sorriu docemente e passou a mão em seu rosto.
- Papai... Quantas vezes eu vou ter que repetir, Scorpius não é como o pai...
- Já ouvi essa conversa.
Você é tão ciumento, senhor Weasley...
Rose imitou a voz de um garoto, fazendo uma careta.
- Estou apenas protegendo minha garotinha.
- Sua garotinha cresceu pai.
Rony a encarou com ternura.
- Mas vai ser sempre a minha garotinha. – Ele a olhou um pouco mais – Rose...
- Hum...
- Você é uma garota...
Ela gargalhou.
- Bem observado, papai.
Ele sorriu lembrando de outra época, a mesma resposta.
- O que eu quero dizer é... Você... Vocês... Você e a doninha filhote...
- Não.
Rony ergueu a sobrancelha e Rose continuou.
- Ainda não... Scorpius e eu somos apenas amigos, embora... Eu acredite que isso vá acontecer uma hora ou outra... nós nos damos bem.
- Hum... Entendi... É estranho... Quero dizer. Falar sobre isso com você.
- Eu sei.
- Eu só... Só não quero que ele machuque você.
- Ele não vai papai... Ele é diferente e... Além disso, se ele o fizer, eu chamo meu pai pra me defender.
Rony sorriu e a abraçou.
- Pai – Ela chamou e a voz saiu abafada pelo abraço.
- Oi.
- Eu já ouvi muitas e muitas vezes as histórias do trio de ouro, mas eu tenho uma dúvida.
- Qual?
- Quando você e a mamãe perceberam que... Já não era só mais uma amizade.
Rony a olhou com carinho.
- Acho que desde sempre... Quero dizer, Hermione e eu nunca fomos fraternais, mas éramos ambos teimosos como mulas. Foi preciso um tratamento de choque para que saíssemos de nossas conchas e enfrentássemos o que estávamos sentindo.
- Na guerra não foi? O tio Harry e a tia Gina vivem contando como foi engraçado...
- Sim, sim, daquela vez também.
- Também?
- É... Mas a guerra não foi o que impulsionou nosso primeiro passo, ela apenas nos tirou as dúvidas.
- O que impulsionou o primeiro passo então?
O olhar dele ficou vago, meio triste, meio nostálgico.
- Bellatrix Lestrange.
- A louca? A tia-avó do Scorpius?
- Sim.
- Como assim?
- Estou vendo que minha garotinha deseja uma história. – Rose sorriu – Vou contar então.
“Ainda é um pouco difícil lembrar, sem sentir todo o ódio acumulando aqui dentro. Acho que também nunca tinha sentido tanta agonia. Foi a primeira vez que eu realmente temi perder sua mãe, e a primeira vez que temi não ter a chance de dizer o que eu sentia”.
...
25 anos atrás.
Mansão dos Malfoy.
- HERMIONE! - gritou Rony, começando a se contorcer e lutar contra as cordas que
os prendiam juntos, fazendo Harry Cambalear – HERMIONE!.
- Fique quieto! - falou Harry - Cale a boca. Rony, precisamos trabalhar em uma
forma...
- HERMIONE! HERMIONE!
- Nós precisamos de um plano, pare de berrar... Nós precisamos sair daqui...
Era mais fácil falar do que realmente conseguir controlar aquele medo, todo aquele desespero.
Eu vi Harry falar com Luna, alguma coisa sobre uma forma de sair de lá, eu sabia que ele estava tentando fazer o melhor para todos nós, mas eu simplesmente não conseguia. Não conseguia parar de tremer, meu peito ardia, eu não precisava sair da mansão, naquele instante, não era aquilo que era vital para mim. Eu só precisava chegar até ela e para tudo aquilo.
Eu estava tentando pensar em algum jeito de sair dali, mas não conseguia me concentrar o suficiente. Ouvi outro grito da Mione, e então um da louca, e fiquei desesperado de novo gritando por ela, como se meus gritos pudessem salvá-la de algo.
Enquanto eu me debatia, Harry falava com o Sr Olivaras.Mas toda minha atenção estava voltada para cima.
...
Do andar de cima veio a voz de Bellatrix.
- Você está mentindo, sua sangue-ruim, e eu sei disso! Você esteve dentro do meu
cofre em Gringotes! Diga a verdade, a verdade!
Outro grito terrível.
- HERMIONE!
- O que mais você pegou? O que mais você pegou? Diga-me a verdade ou, eu juro, eu irei enterrar em você essa faca!
...
Era revoltante! Aquela bruxa velha machucando a minha Hermione, tudo o que eu podia desejar era o sangue dela nas minhas mãos. Não havia como sentir algo diferente. Foi a primeira vez que eu desejei matar alguém com todas as minas forças.
Ainda precisei ouvir muitos gritos de dor vindos dela antes de conseguirmos dar uma volta no idiota do Rabicho e finalmente sair daquele calabouço e foi justamente no momento em que ouvi aquele lobo nojento dizendo que comeria-a.
Era para termos esperando um momento propício para o ataque ou algo assim, mas... Eu não seria Ronald Weasley se não agisse por impulso. Entrei correndo e berrando urrando feitiços, espalhando varinhas. No momento seguinte, tudo se passou muito rápido, um duelo confuso, Bellatrix apontou uma adaga para o pescoço da Mione e eu pensei, acabou? Acabou assim? E desejei ter mais uma chance. Só mais uma chance para que ela soubesse o quanto eu a amava.
Foi quando Dobby nos salvou.
Quando aquele lustre caiu, eu não consegui pensar em mais nada que não fosse pegá-la. Não queria saber quantos feitiços estavam voando sobre minha cabeça. Eu a queria nos meus braços, sã e salva. Retirei-a dos destroços e tudo o que me lembro é de ser sugado para o chalé das conchas.
E então nosso verdadeiro herói, Dobby, estava morto. Hermione mole nos meus braços, completamente machucada. Harry devastado e os prisioneiros que salvamos no mínimo traumatizados. Ainda não era hora de falar.
Eu não sabia exatamente como estava me sentindo.
Todos foram tratados, alimentados e bem recebidos. Enterramos o Dobby. Era só uma questão de tempo para voltarmos para os perigos da caça as horcruxes, eu precisava arranjar um jeito de contar.
A noite caía.
Eu não tinha mais muito tempo, e nem ideia de como eu ia me declarar pra Hermione, principalmente depois de ter feito tanta merda, eu quero dizer, eram três anos acumulando bobagens, desde aquele maldito baile de inverno. Eu não poderia chegar simplesmente e dizer, Oi Mione, eu te amo. Quer dizer, eu até poderia, mas olhe para mim, eu sou Ronald Weasley, e naquela época eu ainda carregava muitos complexos de inferioridade.
As palavras do medalhão de Riddle ainda estavam na minha mente e eu ainda tinha medo de que fosse realmente Harry, que ela quisesse.
Eu estava sentado próximo à cova de Dobby, tentando admirar o céu daquela praia. Talvez eu nunca mais o visse novamente e também nunca tinha prestado atenção, em como ele era lindo àquela hora da tarde. Nunca fui de admirar paisagens, mas aquela era tão única. O céu estava coberto por um laranja limpo, parecia até um Weasley. Estava tão bonito, tão bonito... Nem senti quando ela sentou ao meu lado.
- Não é justo. Não é Ron?
Eu virei tão rápido que poderia ter tomado um torcicolo. Sabe quando seu coração começa a ribombar do nada? Pois é, era mais ou menos esse efeito que Hermione vinha me causando, principalmente nos últimos anos.
- É. – Eu respondi com a voz ainda estranha, por causa da garganta seca – Ele não merecia.
- Ninguém merecia...
Ela ainda tinha algumas marcas no rosto e nos ombros. Eu queria tocá-las, acaricia-las... Queria fazâ-las sumir, com um carinho, ou até mesmo um beijo. Me perdi olhando os traços daquela pele branquinha com leves cicatrizes avermelhadas. Hermione era tão nova e já tão marcada pela guerra.
Não ouvi mais nenhuma palavra do que ela disse. Só conseguia pensar em como eu desejava estar mais perto... Muito mais perto.
- Você está me ouvindo? Ron... Ronald!
E aquele tom de voz mandão? É... Ele já não me irritava a muito tempo.
- Não... – Eu respondi sem nem pensar.
Vi quando ela fechou a cara e deu um muxoxo.
- Agora vai me ignorar? Tudo bem então, acho que você quer ficar sozinho.
Sozinho? Eu sozinho? Eu não poderia desejar nada além de tê-la ali comigo. É... As vezes até mesmo a bruxa mais brilhante poderia ter um momento de burrice. Quando se tratava de sentimentos, Hermione não entendia nada sobre mim.
Vi quando ela levantou irritada e sorri de lado, segurei seu braço e puxei um pouco. Bom, sou grande... Na verdade sempre fui muito grande pra ela e acho que exagerei na força, ela se desequilibrou e caiu no meu colo.
Ela ia brigar, estava com aquela expressão de quem ia me dar um sermão de anos, mas eu acho que naquele instante... Ela viu o mesmo que eu vi, pois quando os olhos dela pararam nos meus, ela simplesmente se calou, sua expressão relaxou e nós ficamos vidrados um no outro por alguns longos segundos...
Eu sentia o calor dela, o pulso batia rápido. Ela respirava fundo.
Eu só me deixei levar.
- Fica...
Minha voz foi quase um sussurro.
- Ron...
Ela disse, e apenas isso. Ouvi meu nome saindo docemente de sua boca, igual quando precisava achar o caminho de volta. Era isso, como eu nunca tinha notado. Era ela. Meu caminho, minha trilha de volta pra casa, pro lugar onde eu pertenço.
Vi seus olhos fechando, pelas frestas dos meus, e nossos lábios se tocaram.
Primeiro apenas um toque. Depois como que numa valsa, eles se abriram, e se encaixaram perfeitamente. O gosto... Indescritível. O calor. Os lábios dela são tão macios.
Nossas línguas se tocaram. Não havia pressa, não havia mais medo, nem incerteza alguma. Os movimentos doces não se alteraram, os lábios e a língua alternavam entre si, fazendo com que tudo parecesse uma coreografia bem marcada de uma sinfonia perfeita.
Quanto tempo durou? Eu não faço a menor ideia, mas desejei do fundo da alma que durasse para sempre.
Quando nos separamos, ambos respirando ao limite, as faces dela estavam mais vermelhas que meus cabelos. Eu só pude rir. Ela levantou do meu colo desconcertada e eu fiquei de pé.
- Mione...
Ela colocou um dedo em minha boca, me calando.
- Shhh... Não... Não diz nada Ron... Deixe como está, deixe assim. Está perfeito. Não diga nada sob o calor da guerra ou do medo de não...
- Mas eu...
- Teremos tempo. – Ela se apressou - teremos bastante tempo para... Isso, por hora. Deixe assim. Apenas me deixe guardar esta lembrança exatamente assim.
Eu a entendi. Ela não queria a incerteza da guerra. Ela queria esperar.
Esperaríamos então, mas não havia mais incerteza. Se saíssemos daquele inferno vivos seria para nos completarmos.
Eu ainda segurei as mãos dela por alguns segundos, deixei que meus olhos falassem por mim, pousei de leve meus lábios nos dela e depois a deixei ir.
Enquanto Hermione voltava para o chalé, eu só podia pensar em como o destino engraçado. Eu a conhecia a tanto tempo e só agora...
Mas não era hora de lamentar, era hora de lutar e sobreviver, para viver aquele amor.
...
Rony saiu do transe dos seus pensamento e percebeu que Rose dormia tranquilamente em seu colo. Sorriu. Aquela menina linda, uma mistura perfeita de ambos era a maior prova de que sobrevivera ao maior terror de sua vida. E de que vivera o maior amor dela também.
Suspendeu-a no colo e a levou para o quarto, como se ainda fosse um bebê.
Do alto da escada Hermione, sentada no mais alto degrau, enxugava as lágrimas. Nunca tinha visto a versão do seu mais lindo conto de fadas pelos olhos de Rony, tudo parecia ainda mais lindo da visão dele.
Ela levantou e voltou para o seu quarto, não queria que ele soubesse que ela tinha ouvido, um dia o faria contar tudo de novo, para ela.
Agora iria esperar seu marido e a mesma certeza que tivera naquela noite vinte e cinco anos atrás ainda permanecia intacta.
Rony era o amor de sua vida.
Aquele não fora seu primeiro beijo, mas isso não fazia diferença, continuava sendo, seu beijo mais perfeito.
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N/A: Espero que gostem.
Comentários (14)
Linda, linda e linda!! Q bom seria se tivessemos lido algo assim nos livros... ***suspiros*** Parabéns!
2011-12-06Amei, muito boa. *-* Meu casal preferido, esta cena tão bela... Muito lindo
2011-12-05Eu amei!Tão fofo *-* ownnnnnnn!Fora que Romione já é perfeito e ainda mais com essa fic,ficou mais ainda!!!Amei d coração...beijinhos...
2011-11-24Haaa muito boaaa. Essa não é a primeira fic sua que leio e você está de parabéns, escreve suuper bem. Sou viciada em fics mas tenho andado bastante ocupada com a faculdade. Mas adoro as suas histórias e sempre volto aqui pra saber o que você anda postando. Parabéns mesmooo!!! =)
2011-11-13