Draco Malfoy



 A escuridão e frieza do lugar dominavam meu corpo e alma. Dementadores rondavam minha cela, famintos. Minha felicidade já se fora há tempos, não tinha mais nada para tirarem de mim. 
Sinto falta de minha esposa e filho. Estão sozinhos numa casa velha e vergonhosa, escondida numa passagem secreta no Beco Diagonal.
A verdade me afetou muito, mas parecia que só agora caiu minha ficha: Voldemort se fora, e confesso que nunca fiquei tão aliviado em minha vida... Belatrix me urraria “desleal” e me mataria em segundos se me ouvisse pensar nisso. 
Tenho trinta anos agora, e é como se tivesse aqui a séculos. Sendo que tinha apenas vinte e cinco anos quando me prenderam. 
Até hoje, não entendo o porque de os dementadores me deixarem com essa lembrança, é difícil lembrar, às vezes... Mas hoje foi fácil.
A cinco anos atrás, eu me lembro de estar cansado de ficar em casa, fugindo dos aurores, que ainda me procuravam. Se Dumbledore estivesse vivo, não tenho certeza se me diria para ficar em casa ou se apenas me ignoraria, considerando o que fiz com ele. Mas de qualquer das duas idéias, eu desobedeceria.
Saí de casa me expremendo contra a parede úmida e suja de uma rua do Beco Diagonal, escondida nas sombras. Estava longe do dia de volta a Hogwarts, mas, embora o Beco não estivesse aparentando estar vazio, uma vez ou outra via pouca gente passando com sorrisos largos e listas de materiais nas mãos. 
Então, eu ouvi seu riso doce de longe.
E fiquei surpreso com que meu coração ainda palpitasse tão forte depois de tanto tempo. Arrisquei colocar minha cabeça para fora, e avistá-la.
Hermione estava ali. Como sempre esteve. Mais velha do que quando a vi pela última vez e me assustei por perceber que não fui só eu que cresci... Mas ainda muito bonita. Com uma filha de cabelos crespos como os dela, quando menor, ela saía sorridente da loja do Olivaras. Admito que fiquei satisfeito de vê-la desacompanhada.... Não... Lá estava ele.
Rony Weasley segurou Hermione pela cintura enquanto pegava a mão da meninha. Fiquei com uma inveja incomparável ao vê-lo ali... No lugar onde eu devia estar. Apenas tive vontade... De acenar a minha varinha e causar o maior caos. Mas o fato de meu rosto estar estampado nos cartazes de Procurados me impediu. 
Fechei os olhos e escutei de novo o riso dela cortar o ar. A raiva de minha situação parecia acumular como um nó em minha garganta: Casado com uma mulher que não pude amar, com um filho que, às vezes, evita chamar de “pai”, e acima de tudo... Fugindo da minha própria vida.R
Minha arrogância se foi há tempos. Assim que fugi do meu destino com meus pais ao lado eu me odeio com tanta intensidade como odiava Potter antes. Levei muito tempo para perceber que o que ele fazia era o certo... Era burro... Cego por meu próprio orgulho.
Escutei uma voz conhecida, e minha raiva foi trocada por meu medo. 
– Harry, é Malfoy! 
Quando pude processar, só deu tempo de ver a cicatriz em forma de raio se aproximando, e sua voz sussurrando um feitiço, eu parecia dormir. No meu sono, eu percebi que Gina Weasley havia me denunciado. Antes de me dar conta, estava sendo jogado numa cela úmida em Azkaban por Harry Potter – que se tornara auror.
Uma semana depois de minha captura, minha esposa pode vir me visitar. Chorosa e sofredora. Chorou desesperadamente quando me viu mais magro e pálido, as olheiras roxas embaixo de meus olhos e um olhar morto. Seus dedos agarraram meu cabelo loiro carinhosamente enquanto me abraçava. Imediatamente percebi que não era para o meu consolo, e sim para o dela. 


Me lembrei então de Hermione, de novo. Sabia que sentia saudades dos dedos que nunca foram envoltos pelos meus... E nunca seriam. 

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