Bellatrix
Bellatrix
Eu nunca quis apaixonar-me por ti, nunca quis ter absolutamente nada contigo... Até aquele beijo. Não sei porque fizestes aquilo, mas creio que tenha sido simplesmente para me irritar. Adoravas fazer isto. Irritada ou não, depois daquele beijo eu sabia que tu farias o que eu quisesse, assim como muitos outros faziam. E tu eras diferente deles. Não acreditavas no mesmo que eu, e tampouco aceitavas tudo o que lhe dizia sem discutir comigo.
Fora isso, era muito fácil te manipular, completamente tedioso, porém muito menos do que os outros. E por isso eu te escolhi, sem envolver-me com ninguém mais. E tu... Fazias-me rir ao tentar provocar-me com outras garotas. Em todos aqueles anos, Sirius, nunca encontrei sequer uma garota com cérebro suficiente para me ameaçar junto a ti. Bem, talvez Lily Potter, mas ela era a garota de teu amigo e tu eras excessivamente nobre para deseja-la... A verdade é que eras fraco. E Lily Potter também o era, meu mestre provou isso anos mais tarde.
Não vou negar que eras bonito também... Mas de que isso importava? Mesmo se não o fosses, eu seria bonita o suficiente por nós dois. Eu sempre soube disso e sempre tive de fingir não saber para que as outras garotas não me odiassem. Mas a verdade é que mesmo naquela época, quando eu era apenas um pouco mais que uma criança crescida, todos os homens se viravam para me olhar quando eu passava e eu percebia.
E então algo aconteceu... Na noite em que deixaste a mansão Black e todos sabiam que estavas renegado para sempre, eu olhei pela janela do quarto que sua mãe reservava para mim enquanto tu partias. Olhaste para trás, dentro dos meus olhos, e eu soube que aquele era o meu fim. A idéia de nunca mais poder ver-te me doía no coração e assim eu soube que me apaixonara por ti. Não poderia nunca mais fingir que nada acontecera entre nós.
Por isso eu continuei a procurar-te e a agradecer todos os dias, mas nunca em voz alta, porque encontrar-me contigo acabara sendo muito mais fácil e possível que eu imaginava. Ninguém se importava o suficiente com o que eu fazia para perguntar-me onde eu estava durante os dias em que ficava com você. Exceto Narcisa. Ela nos viu uma vez. Me contou, mas não falou nada a mais ninguém e tampouco voltou a falar desse assunto comigo ou a seguir-me.
Sair de tua casa casou profundas mudanças em ti, as quais eu nunca pude realmente entender. Tornaste-te mais forte, me resistias, acusava, enfrentava. E eu gostei. Gostei da sensação de desafio que me causavas e da tua forte resistência e luta contra os meus princípios. Já não restava nada do antigo tédio. E eu não podia abandonar-te, não era possível.
O Lestrange era um idiota. Sempre atrás de mim , com aquele sorriso babão. Mas o mestre o tinha em alta conta, embora não alta o suficiente para lhe dar minha mão quando ele a pediu. Eu era sua favorita e poderia fazer tudo o que quisesse, desde que não o desafiasse. E eu não pretendia desafiar. Acredito que meu mestre sabia sobre nós dois, mas tampouco ele me recriminara por isso. Mas ele sabia, ele sempre sabia das coisas, e foi ele quem me deu a notícia. Eu não podia acreditar, não queria acreditar, mas era verdade, eu sabia.
“Você está grávida, Bellatrix.” Simplesmente. E ele não disse mais nada.
Foi aquela criança que marcou o final de tudo para nós. Seria vergonhoso para o meu nome ter um filho solteira e para o meu sangue ter o filho de um traidor como você, Sirius, porque é isso que sempre foste. E, no entanto, a idéia de ficar longe de ti me machucava muito fundo. A única coisa em que eu pude pensar fazer foi procurar-te e chamar-te à razão. Fazer tu perceberes o erro que cometia ao lutares contra nós. Mas não me ouvistes. E tinhas razão: eu nunca poderia mudar-te, nunca mudarias por mim.
Eu te amava, mas não foi difícil te odiar. Eu fui embora assim que caíste no sono e confesso que me divertia pensar no teu desespero ao encontrar a cama fria ao teu lado de manhã. Casei-me com Rodolphus o mais rápido possível. Ele tinha um bom nome, um bom sangue, boas crenças... E eu já não podia mais aceitar a tua convicção em ser contra mim. Em todos esses anos, nunca deixei de amar-te, mas o ódio foi o caminho que eu encontrei para não deixar esse amor me tornar fraca. E não demorou muito para o meu ódio suprimir o meu amor.
Quanto à criança... pedi para meu mestre cuidar dela para mim. Eu não a queria, Sirius, não queria ser a mãe de uma criança que carregava o sangue de um traidor. Narcisa ficou horrorizada quando lhe contei.
“Por Deus, Bella, você perdeu o juízo....”
Mas eu sabia o que estava fazendo.
“Eu teria perdido se tivesse aceitado essa criança, Cisa... E qual a diferença no fim das contas? Era apenas um aborto de belos olhos, duvido que teria feito alguma diferença se tivesse chegado a nascer.”
Mas durante os catorze longos anos que passei em Azkaban, acordei quase todas as noite com os gritos daquele bebê nos meus sonhos e então odiei-te ainda mais por tê-lo colocado dentro de mim. E por isso o prazer de te matar naquela sala do Departamento de Mistérios foi grande o suficiente para suplantar a dor que eu senti ao fazer isso.
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