Capítulo único

Moldes do amor

"O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar".

(Carlos Drummond de Andrade)

 

O vento balançava violentamente seus fios ruivos brilhantes por causa da intensa luz do sol que entrava pela janela. Ele encarava o mar lá fora. As ondas batiam na costa encobrindo os dois primeiros degraus da escadaria.

Na cama, deitada em cima de lençóis desarrumados, estava ela. Vestida em uma camisola branca, como o resto da casa, seus cabelos castanhos e sua pele clara eram as únicas cores dentro daquele cômodo. Seus cabelos, sua pele e os fios ruivos reluzentes parados em frente à janela.

Em meio ao uivar do vento e as pancadas das ondas do mar na costa ouvia-se um suspiro ou outro dela. Às vezes, ao ouvi-la, ele voltava os olhos para a figura deitada na cama, como se estivesse esperando que ela acordasse. Como se tudo estivesse esperando por ela.

Espantoso era uma janela guardar tanto como essa janela guardava.

É difícil explicar como um amor tão grande poderia caber numa única janela. Mas o dele cabia. E isso não implicava no tamanho ou na intensidade do amor. Não o diminuía. Ele ainda era grande como antes. Tão grande quanto quando cabia na cama atrás dele, ou num beijo. O amor saiba se adaptar àquilo que o acolhia, que o representava. O amor se moldava a tudo. Assim como havia se moldado àquela janela sobre o mar.

Mas ele gostava mais quando o amor parecia o mar. Constante, forte. E do mar ia para a cama. Era quando ele tornava-se macio e tranqüilo. Incrível era tanto amor caber no mar e na cama. Adaptando-se aos espaços que a ele eram dados.

Ela levantara-se da cama e seguira até ele, abraçando-o. E agora o amor cabia num abraço. Mas depois caberia num curto beijo. E era nessas horas que ele duvidava se ainda preferia que o amor coubesse num mar ou no beijo dela.

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