Sentenças e serpentes
Na tarde seguinte na Gemialidades Weasley; Jorge andava de um lado para o outro; Rony aparatou em frente à loja carregando o exemplar da tarde do Profeta Diário.
– Dispense Vera e os elfos; ainda pode haver algum doido por aí. Harry disse que ainda falta recuperar muitas varinhas.
– Você tem visita. – disse Jorge apontando o escritório com os olhos.
– Emily!
– Você não devia ficar contente. O que afinal você tanto se encontra e conversa com essa garota afinal?
– É uma amiga e temos assuntos a resolver.
– Ouvi Harry e Gina... Também comentaram que você fica meio estranho perto dela.
– São só negócios. – respondeu Rony achando graça. – Escute Jorge se alguém te perguntar alguma coisa...
– Não sei de nada! Não me conte nada!
– Pode ficar tranqüilo! – disse Rony passando pelo irmão. – Mande o pessoal ir embora e você também pode ir se quiser.
– Está me dando ordens? Eu fundei essa empresa!
– Então fique e venda alguma coisa para as moscas!
Rony entrou no escritório e abaixou a cortina que dava vista para a parte de baixo da loja.
– Por que seu irmão está tão agitado? – perguntou Emily
– Deixa pra lá, ele vai se sentir um idiota quando souber que você a é Sra. McLaggen.
– Soa bem não?
– Muito bem. O que você trouxe?
– Bem, acho melhor começarmos pelo início.
– Certo! Você começou a seguir Patrick a mando de Rita Skeeter e o que mais?
– Emily cruzou as mãos e levantou as sobrancelhas.
– Por que mudou de idéia? Eu acredito no que me disse, mas alguma coisa mudou. Não está tão certo sobre Patrick ser tão gente boa como antes.
Rony respirou fundo e sentou de frente para Emily; queria escolher bem as palavras.
– Percebo um cara olhando Hermione a quilômetros. Reconheço o tipo de olhar que ela atrai e o que vi em Patrick na manha depois que estive com você e Córmaco era diferente. Era parecido com... eram olhos a espreita como se Hermione fosse uma... coisa que ele quisesse; uma coisa que ele desejasse muito.
– Assustador... – disse Emily.
– Não era o mesmo olhar do Patrick... do cara que conhecemos meses atrás.
– Bem assustador...
– É... – respondeu Rony revivendo aquela sensação ruim. – Enfim... conte-me o que você sabe sobre ele.
– Ok. Lá vai... Apesar do sotaque francês o Sr. Rent é nascido na Grã-Bretanha. Não existe nenhum registro recente dessa família e quando digo recente me refiro a esse século. Ninguém menciona ou escreve sobre os Rent desde... Não há casamentos, mortes... nada!
– Ele disse a Harry que os pais estão separados. Há a possibilidade de outros membros da família não terem se casado oficialmente. Algumas famílias mantêm algumas coisas embaixo do tapete; minha mãe tem um primo trouxa que nunca ninguém viu. Podem ter se metidos em encrencas.
– Verdade. Você já ouviu falar da versão francesa dos Aurores?
– Sim, eram chamados Observadores.
– Há uma família na França cuja maioria dos homens pertenceu aos Observadores: A família Louer. O ultimo Louer desapareceu quando foi escalado para prender uma bruxa das Trevas acusada de matar alguns trouxas. Não há fotos ou muitas informações disponíveis, mas achei um jornal antigo que questionava os métodos dos Observadores e falava, nas entrelinhas, sobre um possível escândalo que o Ministério francês acobertou. Ainda não consegui descobrir exatamente do que estavam falando...
– O que tem a ver com Patrick?
– Louer é Rent em francês! Um pouco óbvio eu sei, mas a história da família é bem legal...
– Interessante, mas o que mais sobre Patrick agora? – insistiu Rony.
– Tá bem... Você sabe que para entrar para o Ministério é necessário apresentar documentos comprovando laços familiares na Grã-Bretanha. Patrick usou o brasão da família Rent para se candidatar. Foi aceito e logo depois promovido. Ele é muito competente, certo?
– Certo...?
– Depois de aceito ele teve uma carreira meteórica! Por uma incrível série de coincidências pessoas próximas a ele se afastara do Ministério; bruxos que ocupavam cargos ligados a decisões importantes simplesmente pediram transferência, alguns e aposentaram mais cedo e outros até mudaram de país! Em pouco tempo Patrick se tornou um membro respeitado e influente no Ministério, especialmente no caso de Gringotes.
– Quando começou a freqüentar a Mansão Malfoy?
– Não sei exatamente, por que só descobri isso quando comecei a segui-lo pra Rita. Como já disse sempre voando.
– Sem registro de transporte. Ele é contra os rastreadores em vassouras e o que mais?
Foi a vez de Emily escolher bem as palavras; era um ponto importante para que Rony ficasse ao seu lado.
– Meu contato no Ministério suspeita que Patrick seja o encarregado de cobrar a taxa de proteção dos comerciantes do Beco Diagonal. A taxa imposta por Solomon Bluter.
– O que?
– Já deve ter ouvido falar dessa taxa.
– Sim, mas Patrick ser o cara que a recolhe é loucura!
– Conversei com algumas pessoas e na hora que toco no assunto sou convidada a me retirar.
– Emily, você está dizendo que Patrick, o Conselheiro Rent, está metido com Solomon Bluter? Que é uma espécie de capanga dele?
– E tem mais! Ele está envolvido no que aconteceu com você e Córmaco! – disse Emily nervosa. – E a Harry Potter naquele galpão. Pense Rony! Devia ter coisas dos Malfoy lá!
– Ok, mas ele nos ajudou! Foi para aquela ilha com a gente! Lutou com o ciclope com Harry!
– Tudo acabou ajudando para ele se tornar um Conselheiro! Pouca gente no Ministério o apoiava! Boatos que mais pessoas começavam a desconfiar dele estavam começando a ficar mais fortes.
– Kingsley confia nele.
– Imagino que Kingsley está sendo político! Patrick é importante na relação do Ministério com Gringotes. Outro ponto muito discutível!
– Harry o segue para todo o lado! Vive dizendo como ele competente! Harry jamais permitiria... a menos que ache que ele também está envolvido nisso!
– Claro que não, mas é a cobertura perfeita. Não acha?
– Harry anda convencido em trabalhar no Ministério. Está satisfeito em ser reconhecido por outra coisa que não seja ligado a Voldemort, mas não é um tolo! – disse Rony rispidamente.
– Com certeza não é, mas Patrick é ardiloso. Ele armou para que trouxessem Elvira... Você se lembra do elfo que Rebecca estava procurando! Um elfo mais velho e havia um acompanhando Elvira; eu e sua irmã o vimos!
– Ah Emily...
– Ele matou Roman Young; ele sabia sobre Elvira. O galpão Rony! Estava cheia de livros sobre Arte das Trevas e aquelas criaturas tiveram que ficar escondidas em algum lugar.
– A Mansão Malfoy?
Rony se levantou; começava a sentir dor de cabeça.
– Obrigada por me ouvir. – disse Emily se levantando também. – Foi bom dividir isso com alguém.
– Tudo que acaba de me dizer é muito difícil de provar, mas algumas coisas... Sempre houve duvidas sobre a coleção de Arte das Trevas dos Malfoy ser muito maior da que foi apreendia. E Draco ter oferecido a Mansão para Elvira praticar... Eu e Harry sempre desconfiamos que foi lá que Elvira conseguiu o bastão.
– Ou aprendeu a usá-lo. Acho que ela enganou Patrick como enganou a todos nós. Nesse momento não a odeio tanto assim...
– Se Patrick tem mesmo essa ligação com Draco... é possível que um deles tenha atacado Harry aquela noite. Hermione explicou sobre a aerodinâmica do feitiço; teria de ser alguém mais alto, então descartamos o Guardião, mas Roman se encaixava...
– Aerodinâmica? O que é isso?
– Não tenho idéia. O elfo mais velho que você disse acompanhar Elvira...
– Foi Rebecca que achou!
– Por que procurar um elfo mais velho senão para encontrar um em particular! Aquele elfo! O elfo que ajudou Elvira a quase nos matar! – disse Rony voltando a se sentar.
– Rony, você vai me ajudar? – perguntou Emily numa voz entre humilde e esperançosa.
– Vamos ter que investigar muito e acho melhor ninguém mais ficar sabendo...
Emily se atirou no pescoço de Rony.
– Eu sabia! De algum jeito eu sabia que você me ajudaria.
Jorge abriu a porta do escritório.
– Ah, desculpe... Quero dizer... Angelina está vindo! – disse olhando para o lado como se a luz da sala estivesse forte demais.
– Estamos de saída. – disse Rony se afastando de Emily.
No Ministério alertas sobre uso de feitiços proibidos chegavam a todo instante. Foram convocados ex-funcionários para batidas. Harry e Patrick tentavam localizar feitiços proibidos pelo Mapa da Magia.
– As folgas estão suspensas até recuperarmos essas varinhas roubadas. – disse Greg Raiker liberando um grupo de Revistadores. – Vamos tirar todas das mãos desses vândalos!
– St. Mungus está começando a lotar. – disse Harry a Patrick. – As pessoas lançam feitiços proibidos e depois largam as varinhas. Sabem que sem o registro oficial podem se manter no anonimato, livres.
– Os participantes da convenção estão chegando. – disse o Conselheiro Bertel.
– Mande-os embora – disse Kingsley aborrecido – não há como iniciar nada agora. É um pesadelo... só pode ser! Um Revistador matou um cidadão bruxo! E o caos no Beco Diagonal!
– O caos precede a revolução meus amigos! – anunciou Samuel Corso entrando na sala.
– Vamos ouvir o Revistador que fez isso; assim como o vampiro e o garoto que diz ser um lobisomem ainda hoje. – disse Kingsley.
– E o que acontecerá com o Revistador? Será mandado para Azkaban? Qual a idade dele? Qual a experiência ele já teve numa situação daquelas? Ele obedeceu ordens para proteger o Ministério! Não é justo que ele perca anos numa prisão enquanto vocês dormem tranqüilos em suas camas!
– Saia daqui Corso. – disse Raiker zangado.
– Vão dar a cabeça do Revistador para se justificar! Onde está sua consciência Kingsley? Onde?
– Haverá um julgamento justo.
– Um julgamento? Está brincando Kingsley? Durante a visita de outros Ministros? – perguntou o Conselheiro Remigio.
– Quer que pensem que somos bárbaros? – exclamou Harry.
– Tirem esse cara daqui! – disse Raiker energicamente e Corso saiu escoltado por Revistadores.
Intimamente Harry achava que Corso tinha razão, mas não cabia naquele momento levantar essa questão. O Mapa da Magia classificava os feitiços realizados em tempo real e não parava de piscar em cores que todos sabiam serem feitiços proibidos.
– Pelas contas do assistente do Sr. Olivaras pelo menos uma centena de varinhas foi levada. – disse Kingsley.
– Não é curioso que a Travessa do Tranco esteja tão pacata? – observou Harry. – Como quisesse se mostrar civilizada frente a toda essa violência...
– Temos vigias bem na entrada da Travessa do Tranco. – disse Raiker. – Os saqueadores não passarão com nada.
– Alguém viu um dragão? – perguntou Harry.
– Há relatos de dragões, lobisomens, diabretes e até um basilisco. Não achamos nada no mapa.
– O Mapa não é bom para identificar criaturas não é Raiker? – comentou Patrick.
– Não ainda.
– Harry, você pode ajudar Patrick com o rapaz? O lobisomem? – pediu Kingsley. – Já tentamos falar com ele e nada. Você ele sabe quem é.
– Tudo bem eu falo com ele.
Por uma janela Harry observava o garoto deitado num banco fingindo dormir.
– Raiker quer dar a poção da verdade a ele. – disse Patrick.
– Isso é ilegal. Além disso, pode fazer muito mal a ele.
– Ele foi interrogado por mim e o próprio Ministro e não disse uma única palavra. Quanto menos ele falar mais tempo ficará em Azkaban.
– Ele deve ter cerca dezessete anos, não?
– É por aí.
– O que, além de quadribol, pode prender atenção de um cara de dezessete anos?
Patrick encolheu os ombros. Algum tempo depois Hermione saiu da sala com um depoimento completo do garoto.
– O nome dele é Crackit, ele é órfão e foi mordido por Fenrir Greyback ainda criança. Tem vivido na companhia do vampiro dando pequenos golpes em bruxos e até em trouxas perto do Tâmisa. O vampiro não tem nome; Crackit disse também que ouviu uma mulher comentar que o feitiço anti aparatação estava suspenso no prédio.
– Ele não queria só jantar com o Ministro. – disse Patrick. – Quando o peguei estava com os bolsos cheios de todo tipo de coisa. Ele afanou com as próprias mãos! Sem usar magia.
– E sobre as pessoas estarem tão furiosas? – perguntou Harry. – Ele ouviu alguma coisa?
– Segundo ele desde que chegou noticias sobre a convenção o Beco Diagonal tem estado agitado. Algumas reuniões foram feitas para organizar protestos, mas ele duvida que a intenção fosse machucar alguém até o Revistador lançar aquele feitiço.
– Estávamos conversando sobre uma reunião pacífica. – disse Harry. – Urda era um cara legal, ele ia colaborar com a gente...
– Uma pena realmente. – disse Patrick. – Vamos para minha sala. Pedirei para nos servirem alguma coisa; Hermione nos acompanhe, por favor.
– Você nos ajudou com o garoto; é o mínimo que podemos fazer. – disse Harry sorrindo para a amiga.
A primeira vez que Hermione estivera na confortável e espaçosa sala de Patrick foi acompanhando Harry em seu primeiro dia de trabalho. Enquanto comiam Patrick a serviu com suco de abobora.
– Não podemos beber em serviço, senão lhe ofereceria coisa melhor. – disse gentil.
– Não precisa se preocupar comigo. – respondeu Hermione sem graça.
Durante um bom tempo a conversa girou em torno do que Harry e Hermione já tinham feito em Hogwarts.
– É sério! – disse Harry rindo. – Ela se transformou num gato! Com cauda e tudo.
– Não acredito que com doze anos você preparou uma poção Polissuco perfeita!
Hermione contou entre risadas que seu apetite por peixe aumentou muito desde então. Falaram sobre os Conselheiros esquisitos especialmente Bertel e seu casaco de pele de iaque fedorento. O tempo foi passando e os temas foram variando.
– Definitivamente alguma coisa que voa! – disse Harry respondendo a pergunta sobre qual animal seria se fosse um animago.
– É só você se concentrar e dizer Expecto Patronum! – Hermione explicou a Patrick. – Tenho certeza que você consegue.
Patrick contou detalhes da luta com o ciclope no pub de Solomon Bluter.
– Este cara – disse rindo apontando para Harry – pulou numa arena para lutar com um ciclope!
– E este cara pulou pra me ajudar!
– Harry você é doido. Vocês dois são! – disse Hermione rindo.
Um uivo os surpreendeu e Harry olhou o relógio.
– Já anoiteceu a algumas horas. Ele deve estar bem zangado por estar preso ou talvez com fome.
Outro uivo mais agudo fez Hermione se levantar.
– Isso não é fome... é medo! – exclamou.
Pela janela da pequena sala alguns Revistadores fustigavam o garoto já transformado.
– Ei lobinho! – gritou um dos rapazes rindo.
– Parem! – disse Hermione zangada. Os rapazes se afastaram da porta vendo Harry e Patrick se aproximar.
– Ouviram a moça! – disse Patrick.
– Desculpe senhor.
– Abram a porta, por favor. – pediu Hermione.
– Hermione ele não é um gato! – disse Patrick a segurando pelo braço.
– Ele é muito jovem; vai se lembrar de mim; do meu cheiro. Não vai me atacar.
O jovem lobisomem farejou Hermione e realmente não a atacou. Permitiu que ela o tocasse e acabou se acalmando. Passado alguns minutos Kingsley chegou e Harry o convenceu a não mandar o jovem para Azkaban mesmo depois de julgado.
– Pelo menos até o ciclo lunar terminar está bem?
– Muito bem... – respondeu Kingsley.
– Obrigado Kingsley. – disse Harry aliviado. – Só mais uma coisa: Hermione gostaria de estar presente durante o julgamento.
– Harry...
– Eu sei, mas é realmente importante para ela.
– Está bem, mas desde já que fique claro que nada me fará mudar de idéia! Esse garoto vai para Azkaban. A única duvida é quanto passará lá.
Kingsley apontou para o grupo de três Revistadores.
– Bem no momento que um de seus colegas está respondendo por um ato impensado; vocês provocam um prisioneiro.
– É um lobisomem senhor. – disse o que parecia ser o mais velho.
– Saiba senhor...
– Twain. – disse o rapaz com certa arrogância. Manteve os olhos castanhos bem claros na direção de Kingsley o tempo todo.
– Sr. Twain está dispensado de seu turno por hoje. Pode se apresentar amanhã bem cedo para ajudar o responsável pela limpeza da sala.
– Mas senhor...
– Não se preocupe a alimentação do nosso hospede é balanceada. Só levará algumas horas sem magia. – continuou Kingsley.
O jovem ainda murmurou alguma coisa. Harry achou interessante que para o Revistador ser um lobisomem era muito pior que ser um ladrão.
– Podem sair. – mandou Patrick. E os Revistadores os deixaram no corredor. – Vou solicitar outro grupo para ficar de guarda. A maioria está em campo...
– Ele não fugirá. – disse Harry.
– Como você sabe? – perguntou Kingsley.
– Só olhe.
Dentro da sala o jovem lobisomem deitou sobre o casaco de Hermione. Passou a noite toda tranquilo.
Poucas pessoas fora as famílias e os Conselheiros poderiam acompanhar o julgamento. Alguns Ministros visitantes e convidados ocuparam lugares dos representantes de outras seções do Ministério. Harry e Hermione sentaram do lado de Percy. Harry sabia que ele estava presente só pela consideração de todos pelo Sr. Weasley.
– Não vi Rony hoje de manha. – comentou Harry enquanto aguardavam.
– Ele levantou bem cedo e saiu; está tratando de assuntos importantes na loja e não entrou em detalhes.
– Na loja? Não está fechada?
– Ele e Jorge devem estar arrumando alguma coisa.
– Tudo bem com vocês?
– Sim, estamos bem. – respondeu Hermione com um sorriso tímido. – E você e Gina? Ela tem estado muito calada nos últimos dias.
– Ela anda preocupada com os pais e espera que eu ajude a convencer o Sr. Weasley a deixá-la morar com a gente.
– Ah, Deus eu prometi ajudá-la nisso também.
– Não tenho culpa se o pai dela não permite. Ele não é como o seu pai.
– Meu pai também não gosta da idéia. Pior depois que Rony contou que dividimos o mesmo quarto. Papai ficou mais zangado com isso do que irmos para aquela ilha.
– Diga a ele que Rony dorme no chão.
– Ah, sim isso faria sentido. Muito sentido! – respondeu Hermione rindo. Percy mandou os dois se calarem.
Os Conselheiros tomaram seus lugares. Hermione observava Patrick ao lado da Conselheira Troy; imaginava se ela já tinha dito para que ele a chamasse pelo primeiro nome. A Conselheira chamava atenção pensou Hermione, mas Patrick era sem duvida o mais bonito; a roupa oficial do Conselho lhe caia muito bem.
O Ministro foi o último a sentar. Harry e Hermione já haviam comentado como desde que assumira o cargo de Kingsley parecia ter envelhecido dez anos.
– Um grande amigo me disse uma vez que quem comanda a muitos deve mais ouvir do que falar... – começou Kingsley.
– Dumbledore. – sussurrou Hermione para Harry.
– Antes de tomar a decisão que mudará a vida de tantas pessoas resolvi por em prática esse conselho. Passei a noite tentando visualizar as conseqüências de minha decisão e cheguei à conclusão que esse julgamento só fará sentido se os casos forem apresentados em conjunto...
Houve um burburinho na sala.
– O Sr. Corso se ofereceu para conduzir a defesa dos três réus.
– Isso é totalmente inapropriado Ministro. – disse Greg Raiker. – Sou responsável pela prisão dos três. Os três foram detidos legitimamente.
– Não achou que iríamos ouvir apenas ao senhor, pensou Sr. Raiker? - perguntou Samuel Coros. – Os casos estão ligados. Como trouxas chamam: ação e reação.
– Tragam os réus. – mandou Kingsley.
– Isso vai ser interessante. – disse Harry ansioso.
O primeiro a entrar foi o vampiro preso numa espécie de caixa de vidro. Depois Crackit seguido do Revistador Josh Savinnas.
– Pode começar Sr. Corso.
Desarrumado e provavelmente sobre efeito de algumas doses Corso começou a falar muito rápido e cuspindo para todos os lados:
– Um vampiro... por que julgar um vampiro pelas leias bruxas se as mesmas leis não lhe dão direito a nada?
Em seguida Corso pegou Crackit pelo braço e o mostrou aos Conselheiros.
– Um garoto criado sozinho, sem referências ou afeto! Ele cresceu na Travessa do Tranco! Saía de lá todos os dias para ter o que comer à noite. E por que é amigo de um vampiro? Será porque todos os bruxos adultos responsáveis lhe viraram as costas? Um garoto que teve o infortúnio de ser mordido por uma das piores criaturas que já andou pela terra.
– Ele é um ladrão. – refutou Greg Raiker.
– E ainda por cima um lobisomem! Não era o que ia dizer em seguida Sr. Raiker?
– Ok! Um ladrão e um lobisomem!
– Pelo amor de Deus! O garoto é um ladrão de ocasião! Um oportunista que mal sabe manusear uma varinha! Não ia atentar contra o Ministro ou seus convidados. Ele só viu uma oportunidade!
– Ele tem razão. – comentou Hermione.
– Ah, e temos Josh Savinnas! Ele se inscreveu no Ministério para ajudar a recolher pessoas como Crackit! O Sr. Savinnas Foi treinado para obedecer a ordens sem questionar. Então, um dia com todas essas informações preconceituosas enraizadas em sua mente ele toma uma decisão que julga estar certa! Ele defende o Ministro da Magia e é abandonado pelos colegas! Vira um criminoso que só espera ser atirado numa cela em Azkaban!
– Ministro, o senhor não pretende levar isso a sério!
– É curioso o senhor se manifestar Sr. Raiker! – exclamou Corso mais que exaltado. – Porque em minha opinião o culpado pelo que aconteceu é o senhor! Suas idéias sobre segurança! Sobre controle! Não é o senhor que quer colocar rastreadores em vassouras? Elaborou um mapa mágico pra saber o feitiço que cada varinha de cada bruxo produz em tempo real? Não foi o senhor que disse que podia proteger o Ministro dos arruaceiros postados em frente ao salão de festas?
– Não disse isso! Não dessa forma! Ministro eu é que serei julgado?
– Julgaremos responsabilidades também. – respondeu Kingsley.
– Lembra-se pra quem dirigiu essas palavras Sr. Raiker?
– Este garoto foi visto pela multidão entrando no prédio. Isso os deixou furiosos!
– Responda minha pergunta anterior, por favor. – insistiu Corso.
– Gregory... – disse Kingsley num tom de voz grave – responda a pergunta.
– O que disse a esse jovem naquela noite?
– Para não deixar ninguém chegar perto do Ministro.
– Chegou a orientá-lo de como agir se alguém o fizesse?
– Disse para desarmar a pessoa. Orientei a todos os Revistadores a não machucar ninguém. Não posso ser responsabilizado pela interpretação errada de um garoto!
– Sr. Savinnas... o que pensou na hora? – perguntou Kingsley. – O que tinha em mente quando lançou um feitiço em um cidadão bruxo?
– E-Eu só senti muita raiva dele. Ele estava falando com o senhor como se fosse uma conversa formal. Ele não podia... então ele fez um movimento brusco e eu o acertei. Ele era velho...
A família de Urda se revoltou; muitos se levantaram e como foram seguros por outros Revistadores começou um tumulto.
– Você se arrependeu? – perguntou Corso.
– Cumpri ordens senhor.
– Quais foram exatamente as palavras do Sr. Raiker a você aquela noite Josh? Diga o que Gregory Raiker disse a você naquela noite. Você vai para Azkaban de qualquer jeito rapaz. Vale a pena ser odiado por essas pessoas?
Corso apontou a família de Urda. O rapaz muito nervoso começou a falar torcendo as mãos e suando muito.
– Eu só era responsável pela segurança dentro do Ministério; fui chamado só para fazer um escudo mágico. Quando vi aquela multidão eu perguntei ao Sr. Raiker o que deveria fazer se acontecesse uma emergência. Ele me disse para... manter aqueles arruaceiros longe do Ministro. Que apesar de sermos minoria nós podíamos manter tudo em ordem da maneira que fosse preciso.
– Eu nunca o mandei machucar ninguém! – gritou Raiker.
Hermione viu a Conselheira Troy se mexer na cadeira; Patrick cruzou os braços mais pensativo do que nunca.
– Quando o Sr. Potter foi falar com aquele homem – continuou o rapaz – o Sr. Raiker ficou muito zangado; ele queria que todos saíssem da frente do salão. Eu fiquei zangado também e foi quando o homem fez aquele movimento em direção ao Ministro... e eu tinha que defender o Ministro. Eu nunca havia lançado um feitiço para machucar alguém. Eu juro!
– Conte-nos o que aconteceu depois. – pediu Corso segurando a mão do rapaz para acalmá-lo.
– Fui preso e levado para o Ministério.
– Alguém conversou com você nesse meio tempo? Alguém do Ministério?
– Ninguém.
Harry pode ver os outros Ministros trocando olhares. A situação do Ministério e Kingsley não era nada boa.
– Em resumo você esteve isolado todo esse tempo... sem poder dizer a ninguém o que acabou de nos contar.
– Sim, senhor.
– É o bastante. – disse Kingsley se levantando e, acompanhado dos Conselheiros, saiu da sala. Raiker saiu de sua mesa acertou um soco em Corso. Os Revistadores não o seguraram; foi preciso Harry e Percy forçá-lo a se sentar.
– Façam seu trabalho! – disse Percy.
– Ele é nosso superior. – respondeu um dos rapazes.
Todos só se calaram quando Kingsley voltou à sala.
– Intolerância é desprezível e nos leva a um caminho de violência sem volta. A sociedade bruxa assim como todas as outras não é perfeita, mas cabe a todos nós torná-la melhor todos os dias. Baseado nisso Sr. Savinnas apesar de não ter lançado um feitiço proibido seu ato causou a morte de um homem cuja contribuição para a sociedade bruxa é inegável. Sua pena em Azkaban será de cinco anos com direito a visitas semanais. Seu salário será pago integralmente a sua família no período que estiver preso. Oliver Crackit, seu passado de crimes me leva a condená-lo há dez anos em Azkaban sem direito a visitas. Pelo incidente no dia da morte do Sr. Urda... eu o declaro inocente. Acredito que seu ato não tenha sido planejado. O vampiro está livre para ir. Essa é minha decisão. Kingsley Shacklebolt, Ministro da Magia em exercício.
Enquanto Hermione estava com Harry assistindo o julgamento Rony recebeu Emily na antiga casa dos Black. Os dois conversaram sobre a possibilidade do feitiço que levou Rony a partir para cima de Córmaco fosse proibido e raro. Hermione começou pesquisar sobre isso, mas as coisas tomaram outro rumo.
– Ela achou que Córmaco tivesse lançado o feitiço em você! Está aqui em uma das anotações ela menciona Córmaco, mas deixou em aberto.
– Foi o que eu também pensei. Você tem que levar em consideração que o Córmaco que conhecemos em Hogwarts era bem valentão e arrogante. Ele saiu com Hermione uma vez.
– Ela o convidou para uma festa. Ele me contou.
– Hermione beijou Victor Krum no baile e eu quis desforrar então comecei a namorar Lilá Brown então foi a vez dela... – disse Rony rindo.
– Sorte nossa Córmaco e ela não terem se dado bem.
– Fazia muito tempo que não via Córmaco; não tinha idéia de como ele tinha mudado por isso nossa desconfiança. Desculpe...
– Entendo. Bem, vou dar uma olhada nessas anotações.
– Vou pedir para Guiso, o elfo que trabalha na casa, nos servir alguma coisa. O que você gostaria de comer?
– Tudo.
– Certo. Vou pedir que ele traga de tudo um pouco.
– Obrigada.
Depois de um rápido lanche Emily examinou tudo o que Hermione escreveu sobre o feitiço que atingiu Harry.
– Hermione é muito organizada. – disse ela. – Depois que você pega o jeito fica fácil de entender o método que ela usa para guardar tantas informações na cabeça!
Rony puxou um dos papéis com a letra de Hermione. Havia nomes e flechas apontando para outros nomes.
– Parece confuso.
– Por isso que eu disse que você tem que pegar o jeito. Vou adotar esse método. É bem prático.
Rony sorriu orgulhoso como se Emily o tivesse elogiado também.
– Você viu as fotos dos livros que Roma Young se preparava para enterrar?
– Vi. Hermione percebeu que estão em norueguês e não em algum código proibido, mas não chegou a traduzir. Você tem um dicionário de norueguês?
– Não, mas isso é fácil. Estive com Hermione no Monastério Casulare e um monge esquisito explicou que séculos atrás as famílias de bruxos marcavam os livros de suas bibliotecas particulares pela a costura da capa. É o tipo de informação que você acha que nunca vai precisar.
Emily pegou a foto e olhou bem de perto onde Rony apontava.
– Veja a costura é trançada; parece uma serpente.
– Trançada em linhas verdes e prateadas. Sonserina... Malfoy. – disse Emily sorrindo.
– Precisamos ter certeza! Precisamos comparar com algum outro livro da biblioteca Malfoy! – exclamou Rony. – A mansão está destruída, mas talvez tenha sobrado alguma coisa. Vamos dar uma olhada?
– Certo, mas não posso aparatar; minha sogra disse que poder fazer mal para mim e o bebê.
– Não deve ter lareira por lá, pelo menos não inteira. Tudo bem se formos de vassoura?
– Se não tem outro jeito...
As ruínas Malfoy eram pilhas e mais pilhas de tudo um pouco. Pedras, plantas, estátuas partidas e vidros quebrados. Rony passou um lenço pra Emily colocar no rosto para que não respirasse o pó e o cheiro de madeira queimada.
– A parte de baixo está mais ou menos intacta. – disse Rony.
Entraram nas masmorras. As celas onde o Guardião e as criaturas encontradas nos baús estiveram presos não existiam mais. Emily segurou o braço de Rony.
– Imagine uma criança respirando todos os dias o ódio dessa casa.
– Está com pena de Draco?
– Quando vocês estavam na ilha; eu o vigiei. Ele quase não saia daqui. Devia se sentir seguro nesses escombros... é muito triste.
– Pobre pequeno Draco. – murmurou Rony.
– Entre os destroços encontraram restos de livros.
– Há! A mesma costura. – disse Rony.
Emily guardou-os na bolsa. Deram mais uma volta conversando; examinando as paredes encontraram parte da parede com a árvore genealógica da família Malfoy.
– Existem mais Malfoy do que o mundo precisa. – disse Rony dando as costas à parede. – Odeio essa família... eles sempre humilharam meus pais, minha casa, minha vida!
– Você e Hermione não pensam em filhos? – perguntou Emily depois de andarem mais um pouco e Rony se acalmar.
– O que? Não!
– Tem certeza?
– Como você se sente começando uma família? – perguntou Rony.
– Gorda.
– Sério.
– Muito feliz e... gorda. Por que não quer ter filhos com Hermione?
– Não quero que ela fique gorda.
– Engraçadinho.
– Tomamos vários cuidados para isso não acontecer.
– Eu também tomava e, acredite, cedo ou tarde acaba acontecendo.
– Nunca conversamos a respeito, mas acho que Hermione queira se casar primeiro.
– Vocês já moram juntos não dever ser uma mudança brusca.
Emily cruzou os braços e sentiu um calafrio. Rony olhava para os lados.
– Será que alguém sabe que estamos aqui? – perguntou.
– Está deserta há semanas e não ouvi nada.
– Nada... nem um rato ou uma única teia de aranha... – disse Rony – melhor irmos embora.
Voltaram para o jardim da mansão; a vassoura em que vieram estava no chão enrolada por pelo menos uma dezena de serpentes. Uma um pouco menos se enrolou nas pernas de Rony o derrubando violentamente no chão. Emily também foi pega de surpresa. Sentia cada uma deslizar pelo corpo.
– Fique calma!
– Ok, estou muito calma...
– Serpentes não gostam de frio. – disse Rony tocando com a varinha com ponta dos dedos. – Ettingerus!
Um raio branco cristalizado atingiu o chão que começou a congelar; as serpentes os soltaram e voltaram para dentro da mansão.
– Rony... – disse Emily esfregando as mãos – Agora sabemos que aqueles livros foram postos ali para enganar o Ministério. Roman Young pode ser inocente!
– É pode ser. – Rony respondeu pegando a vassoura. – Draco está metido nisso, mas ainda precisamos ter certeza sobre Patrick! Temos que ligá-los de alguma forma!
– Tenho as fotos dos dois conversando na festa do Ministério.
– Ainda precisamos de mais! Emily, temos muito a perder se estivermos errados.
– Não estamos! Mas você tem razão...
As serpentes circulavam o piso gelado em direção a eles novamente, mas os amigos deixaram a mansão montados na vassoura de Rony.
Longe dali alguém já sabia que a Mansão Malfoy acabara de receber visitas.
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