Mesa pra dois



Uma leve queda na temperatura acompanhava o acender de luzes pelo Beco Diagonal.  No inicio da noite enquanto a maioria das lojas fechava as portas; a tradicional loja de varinhas do Sr. Olivaras permanecia aberta. Dentro da loja Dolores Umbridge ex-funcionária do Ministério da Magia que passara um bom período em Azkaban questionava o jovem assistente do Sr. Olivaras sobre a origem da varinha que pretendia levar.



–       Acabamos de receber essa varinha senhora. – explicava o rapaz. – Repare na arte do entalhe.



–       Interessante... – respondeu Umbridge manuseando a varinha.



–       Vinte galões senhora.



Umbridge encarou o rapaz.



–       A tal mulher que manteve o Ministério isolado roubou minha varinha. Tenho direito a ser ressarcida.



O Sr. Olivaras surgiu de trás de uma cortina; andava já com alguma dificuldade, mas seus olhos continuavam atentos e brilhantes.



–       Seu nome não está na minha lista para retirada de varinhas novas Dolores. Por acaso você não teve a varinha quebrada antes de ir para Azkaban?



O rosto de Umbridge foi tomado por uma expressão de raiva mais pelo golpe mal sucedido do que constrangimento.



–       Se quiser uma varinha nova não será por conta do Sr. Potter. – continuou o Sr. Olivaras tentando reaver a varinha.



–       Muito bem Olivaras; levarei essa mesmo.



–       Você não é a primeira pessoa que vem aqui dizendo que teve a varinha arrancada de suas mãos por fantasmas.



–       O culpado desse vexame foi Harry Potter. Confiar cegamente...



–       Eu a conheci. – interrompeu o Sr. Olivaras. – Harry a trouxe aqui com os amigos para comprar a primeira varinha. A única culpada por tudo foi ela mesma



Umbridge bufou observando o perfil do assistente do Sr. Olivaras. O rapaz moreno de traços fortes e exóticos.



–       Adso me foi apresentado por um grande bruxo amigo meu. – explicou o Sr. Olivaras orgulhoso. – É um estudioso de varinhas.



O rapaz fez uma reverência.



–       Um estrangeiro...



–       Vinte galões Dolores.



–       Você custa caro rapaz. Espero que compense Olivaras; tenham uma boa noite. – disse Umbridge colocando a varinha na bolsa e saindo da loja.



Algumas quadras depois entrou em um elegante restaurante; ocupou uma mesa reservada bem no centro. O garçom lhe entregou o cardápio, mas ela recusou.



–       Quero o de sempre. Desta vez com vinho acompanhando.



Enquanto o garçom lhe servia um belo prato de faisão ao molho de laranja Umbridge tirou da bolsa a varinha que acabara de comprar.



–       Bela varinha senhora. – disse o garçom ao servi-la.



–       Eu sei. – respondeu secamente puxando o prato pra si.



Enquanto comia e admirava a varinha começou a ouvir uma voz cantarolando cada vez mais alto. Olhou para os lados, mas não viu ninguém; nas mesas ao seu redor as pessoas continuavam a comer com os rostos enfiados nos pratos.



–       Porcos. – disse uma voz grave num tom baixo, mas audível.



Umbridge discretamente olhou embaixo da mesa.



–       Porcos! – repetiu a voz acompanhada de uma risada aguda.



–       Quem está ai? – perguntou Umbridge. – Saia!



–       Não! Sua velha sapa gorda!



–       Saiba que qualquer magia feita contra mim tem como pena uma longa estadia em Azkaban!



A risada foi ficando mais aguda e Umbridge pegou a varinha.  Olhou desconfiada para o prato; a risada parecia vir de dentro do belo faisão decorado, mas ela mesma balançou a cabeça achando impossível.



–       Dolores Umbridge! Você está engordando! Não devia comer mais do que pode agüentar!



–       Cale-se! – apontou a varinha para o que deveria ser seu jantar e depois para as pessoas das mesas ao seu redor. – Quem está fazendo isso? Ordeno que se mostre!



–       Ordena o que? Você não manda em nada e em mais ninguém!



O faisão se levantou na mesa e começou a dançar. Pessoas ao redor chamaram o garçom que tentou acalmá-la.



–       É melhor você tirar isso daqui. – disse Umbridge apontando para o prato que continuava a rir e fazer caretas.



–       Mas senhora...



Surgiram quatro cabeças no corpo do faisão; Umbridge cobriu a cabeça para não ouvir as vozes que a insultavam.



–       Não, não...



O restaurante ficou em silêncio.



Umbridge levantou a cabeça e deu um grito agudo; levantou de um salto e empurrou a mesa contra o garçom. Lançou feitiços para todos os lados obrigando as pessoas a se jogarem no chão; por ultimo se atirou contra a vitrine do restaurante e mesmo ferida de joelhos sobre estilhaços de vidro apontou a varinha para a própria cabeça e gritou:



–       Crucius!



Esse bizarro acontecimento atraiu uma multidão barulhenta em frente ao restaurante. Poucos quarteirões dali um homem fechava a cortinas no andar superior de sua loja.



–       Vagabundos. – disse se virando para Percy Weasley que contava uma generosa quantidade de galeões sobre o balcão. – Minha contribuição mensal ao Ministério! Sem bosta de dragão desta vez... como prometi mês passado!



Percy fechou o saco e o lacrou com a varinha. Ao sair da loja começou a sentir um cheiro desagradável dento das vestes.



Em frente ao restaurante alguns Revistadores ainda conversavam com clientes e os garçons; Greg Raiker o responsável pela segurança bruxa o chamou.



–       Olá Sr. Raiker. O que aconteceu?



–       Dolores Umbridge teve um colapso nervoso. Lançou uma Maldição Imperdoável em si mesma; está agora a caminho do St. Mungus.



–       Que loucura. – disse Percy surpreso.



–       Você sabe por acaso onde Harry e Patrick estão?



–       Provavelmente em Gringotes. Fiz todo o trabalho externo sozinho! Alguns comerciantes andam bem mal humorados, o que é normal em época de recolhimento de impostos, mas...



–       Esses comerciantes quando vocês três estavam juntos pediam para conversar com Patrick em particular? – perguntou Raiker.



–       Alguns.



–       Harry também?



–       Não. A maioria só quer conhecer Harry, mas alguns conversavam muito com Patrick.  Agora que ele é Conselheiro e tem outros afazeres...



–       Ele chegou a mandar Harry conversar com esses comerciantes? A sós?



–       Não sei, mas imagino que não...



–       Eles estão muito próximos agora.



–       Meu irmão Rony contou que Patrick os ajudou muito naquela ilha afastando um bando de lobisomens.



–       Eu soube. – disse Raiker pensativo.  – Eu se... Gringotes você falou? Se você que está fazendo todo o trabalho e Patrick não está no Ministério... o que eles estão fazendo lá?







–       Renda-se Harry Potter você não tem chance!



–       Nunca Sr. Rent! – respondeu Harry.



–       Então enfrente as conseqüências!



Os dois rapazes cruzaram duas belas espadas; as mantiveram firme olhando um para o outro. Os olhos verdes de Harry encarando os cinza de Patrick. Harry piscou e Patrick puxou a espada e empurrou Harry contra a parede.



–       Acho que está perdendo Sr. Potter. – disse Bunko sentado em sua mesa.



Harry se livrou e ambos manusearam as espadas contra o outro.



–       O que está pensando? – perguntou Patrick investindo mais forte contra Harry.



–       Em vencer!



–       Não pense em vencer essa luta pense em me vencer para sempre!



Patrick desarmou Harry com facilidade. A espada de Harry bateu no chão com força.



–       Emoções Harry. – disse Patrick achando graça em ver Harry zangado. – Você tem que mantê-las sob controle.



–       Vocês dois lutam como fadas. – disse Bunko rindo. – Agora que já se divertiram devolvam as espadas ou as comprem. Faço um bom preço para os dois.



–       Infelizmente hoje não – respondeu Harry – mas você fez o que pedi?



Bunko conjurou uma caixa vermelha e a abriu; Harry pegou as alianças e examinou cuidadosamente.

–       São perfeitas. Obrigado.



–       Se quiser gravar o nome de sua futura noiva Sr. Potter...



–       Quero!



–       Assim será. – disse Bunko apontando a unha do dedo indicador e escrevendo numa bela caligrafia o nome de Gina.



–       É um ótimo presente Harry. Com certeza Gina ficará muito feliz. – disse Patrick.



–       O ouro de Gringotes é o melhor. Junte a isso a arte milenar dos duendes e terá uma peça perfeita. – disse Bunko orgulhoso.



–       Gina merece o melhor.



O caminho de volta ao hall de entrada de Gringotes era particularmente penoso para Harry.  Não contara a ninguém sobre seu recente desconforto em lugares fechados. Encontraram Percy preenchendo os últimos relatórios do dia. Estava acompanhado de Greg Raiker que rapidamente os colocou a par do incidente com Umbridge. Apesar de surpreso Harry não sentiu nada; Dolores Umbridge assim como os Dursley, era uma figura de seu passado ligada apenas a dor e frustração. Ficou calado enquanto ouvia Greg Raiker comentar sobre o caso; Percy notou a caixa que Harry trazia na mão.



–       Você comprou alguma peça de Bunko? – perguntou Raiker.



–       Uma lembrança apenas. – respondeu Harry.



–       Bunko não faz souvenir Harry! – disse Percy. – Só faz peças sob encomenda! Você pagou esse duende para usar nosso ouro?



–       É só uma lembrança. Eu mostraria a vocês, mas agora estamos com pressa. – respondeu Harry batendo no ombro de Percy. – Passe em casa qualquer hora dessas.



–       Vocês não deviam se envolver com Bunko mais do que o necessário. Especialmente você Patrick. – disse Raiker.



Patrick deu um meio sorriso.



–       Se não fosse por ele ir com a minha cara não teríamos tanto ouro circulando no Beco Diagonal. Ouro que paga nossos salários.



–       E que Bunko também usa para criar peças para bruxos; estamos pagando por um capricho do Sr. Potter.



–       O modo como gasto meu ouro é problema meu!



–       Está enganado Raiker; ninguém está usando seu ouro pra nada! O que você tem aqui não daria para fazer um dente!



Raiker ficou muito vermelho e o encarou Patrick mais de perto. Percy separou os dois.



–       Você está fedendo Percy. – disse Harry tapando o nariz. Patrick e ele começaram a rir.



De volta ao Ministério Harry tirou as alianças da caixa.



–       Fiz bobagem em sair com a caixa na mão; não devia ter deixado que vissem.



–       Não ligue para eles! Raiker fica logo mal humorado quando alguém o lembra que a Conselheira Deanna Troy é quem tem dinheiro.



–       Você mexeu com o orgulho dele. – disse Harry rindo.



–       O que será que deu em Umbridge? – perguntou Patrick mostrando a Harry um memorando que acabara de receber com a notícia.



–       Sei lá e realmente não me interessa.



Harry chegou à casa que herdara do padrinho e subiu correndo as escadas. Em seu quarto abriu o antigo malão onde guardava a Capa da Invisibilidade, o Mapa do Maroto e outros objetos; colocou a caixa com as alianças no fundo. Gina apareceu na porta.



–       Papai esteve aqui até agora pouco esperando por você.



–       Mesmo? Ah, puxa Gina esqueci completamente! Eu estava com Patrick em Gringotes.



–       Você disse que me ajudaria a convencê-lo a me deixar morar aqui.



–       Eu ajudarei.



–       Você disse que falaria com ele hoje.



–       Falo com ele outro dia. Haverá muitas oportunidades e, além disso, ele é um dos convidados para o jantar de abertura da convenção.



–       Ótimo. Vai falar com meu pai com minha mãe do lado. – disse Gina deixando o quarto.



–       Darei um jeito... prometo.



Harry não ligou pela bronca da namorada; logo ela estaria usando a aliança e esqueceria. Faltava escolher o melhor momento para pedir que fosse sua noiva. Pensou em conversar com Hermione a respeito. Seus dois melhores amigos chegaram logo em seguida; o casal estava numa fase bem mais tranqüila desde que voltaram de Florença. Hermione ainda estava entusiasmada com suas descobertas no famoso monastério que visitou.



–       Aquele lugar é assombrado. – disse Rony.



–       O Monastério Casulare é um lugar incrível Rony! Cheio de livros raros! Sabia que na época da inquisição era o único lugar do mundo que livros de magia continuaram a serem impressos?



–       Inclusive livros de Artes das Trevas. – retrucou Rony.



–       Viu? Ele reclama, mas prestou atenção no que o monge contou. – disse Hermione sorrindo.



Os dois já sabiam do incidente com Umbridge. Comentaram suas maldades quando esteve em Hogwarts e no Ministério.



–       Ela não tinha se mudado? O que será que fazia por aqui? – perguntou Rony. – Certamente não esperava comparecer a convenção.



–       Depois que saiu de Azkaban ela até que tentou uma audiência com Kingsley, mas ele não a recebeu. – explicou Harry.



–       O que será que deu nela? – perguntou Gina.



–       Pouco me importa. – repetiu Harry sentando a mesa para jantar.



O surto de Umbridge se tornou assunto por vários dias e de muitas pessoas. Até Solomon Bluter tinha alguma coisa a dizer sobre ela.



–       Conheci Umbridge quando ela caçava trouxas. Uma mulher fascinante.



–       Ouvi dizer que ela torturou Harry quando foi diretora de Hogwarts. – disse Patrick enquanto os dois tratavam de contar o ouro extorquido de vários comerciantes do Beco Diagonal.



–       Ela caçou e torturou muitas pessoas. Como eu disse: uma mulher fascinante.



–       Imagino... – disse Patrick. – Ela foi a primeira pessoa que vi Harry não sentir absolutamente nada. Até por Roman Young e Elvira ele demonstrou certa compaixão.



–       Será que Umbridge não tem uma sobrinha? Seria perfeita pra você Patrick. – disse Solomon rindo.



–       Como Conselheiro é de praxe que você tenha uma noiva – disse Naylon secretário de Solomon – ou podem pensar que você não é muito...



–       Não fale comigo. – respondeu Patrick sem olhar ele.



–       Só estou dizendo que você anda meio deprimido esses dias. Talvez esteja sentindo falta dos seus comparsas e...



Naylon não pode terminar a frase; Patrick apontou a varinha para ele e lançou um feitiço que começou a sufocá-lo.



–       Eu mandei não falar comigo.



–       Pare com isso Patrick. – mandou Solomon e Patrick colocou a varinha sobre a mesa; Naylon escorregou da cadeira puxando o ar com dificuldade.



Um elfo muito maltrapilho colocou a frente de Solomon um pernil inteiro.



–       Mais uma dose de uísque de fogo para o Sr. Rent. Vamos seu inútil!



O elfo trouxe uma garrafa e serviu Patrick com as mãos trêmulas. Patrick tomou um gole e empurrou a garrafa.



–       Preciso ir embora.



–       Como estão os preparativos para a convenção?



–       Caóticos. Elfos, centauros... todo mundo quer estar em pé de igualdade com os bruxos. Alguns Conselheiros, como Deanna Troy, consideram...



Solomon bateu com força na mesa.



–       Mais que diabos Patrick! Você está lá para impedir que essas criaturas saiam das sombras! Meu negócio depende que esses infelizes continuem a margem da sociedade bruxa!



–       Estou trabalhando nisso. As coisas não são tão simples assim.



–       Tudo é muito simples Patrick. Lembra que lhe dei abrigo quando saiu daquela maldita floresta? Ajudei a colocá-lo no Ministério, apresentei você a Bunko, contei sobre o Guardião. Mencionei o jovem Malfoy; um idiota doido pra se vingar do Ministério e com um arsenal das Trevas de dar inveja. E o que você conseguiu até agora? Quase fui preso por ajudar aquela bruxa!



–       Você nos entregou a ela! Ela teria nos matado não fosse o plano de Harry.



–       Você me passou para trás indo atrás daquela mulher! A tal Elvira!



–       Assim que eu a controlasse eu diria a você...



–       Certamente diria. Talvez você esteja gostando demais de ser amigo de Harry Potter e esteja perdendo o foco no nosso objetivo.



–       Arrisco o pescoço todos os dias dando cobertura a você! – disse Patrick ficando de pé.



–       Sente-se Patrick! Vou ter que me ausentar por causa dessa convenção, mas meu estabelecimento estará à disposição para nossos amigos corruptos jogarem e se divertirem com as Veelas. Mantenha o Ministério longe de mim Patrick e poderá aproveitar a boa vida de Conselheiro por muito tempo.



–       Quem sabe você pode até conhecer uma garota e...



Mais uma vez Naylon não pode completar a frase; Patrick o segurou pela garganta até que parasse de respirar.



–       Que droga Patrick! – gritou Solomon. – Sabe como custa arranjar um bom empregado na Travessa do Tranco esses dias? Elfo! Elfo! Que droga! Tire o corpo daqui!



–       Eu o avisei para não falar comigo.





A funcionária do Ministério da Magia, Ferdinanda Twitch, se casou com um trouxa funcionário do governo britânico. Desde então o casal e a filha trouxa, Anjelica, optaram por morar no bairro de Kensington. O Sr. Twitch se preparava para trabalhar quando uma coruja entrou pela janela e largou um envelope em suas mãos.



–       Ferdinanda já pedi para que as corujas deixassem sua correspondência no seu escritório.



A esposa não o ouviu; Tut, o bulldog da família, pulou nas pernas de seu dono.



–       Odeio receber esses pacotes Tut; sempre carregam coisas estranhas.



Não havia remetente e o Sr. Twitch acabou deixando o pacote sobre a mesa da sala.



–       Bom dia querido, bom dia Tut. – disse a Sra. Twitch entrando na sala seguida por duas xícaras de café. – Não me esqueci de você Tut!



Uma tigela com comida apareceu e o cão se apressou a comer.



–       Faminto como sempre! – disse o Sr. Twitch.



–       Tenho que enviar uma coruja confirmando nossa presença no jantar que abre a convenção.



–       Bem, sobre isso...



–       Você não está pensando em não comparecer?



–       Sinto-me deslocado no meio dos seus amigos; alguns declaradamente não gostam de mim.



–       É importante pra o Ministério. É importante pra mim que você esteja lá. Quer queria ou não você é um representante da comunidade trouxa; você e Anjelica.



–       Ela também está pensando em não ir.



–       Pois a convença! Esse evento será histórico! É a primeira reunião entre bruxos depois da guerra para discussão de nossas relações com trouxas, criaturas, leis...



–       Está bem! Eu vou, mas não vou usar nada esquisito.



–       Combinado. – respondeu Ferdinanda rindo. – Será uma oportunidade pra finalmente conhecermos Harry Potter formalmente. Ele é um homem agora.



–       Lembro dele esbarrando nas coisas no supermercado com aquela tia ridícula atrás.



–       Provavelmente ele nem se lembra de mim. Nossos caminhos se separam há muito tempo, mas gosto de pensar que pude ajudar em alguma coisa.



–       Bom, ele ainda usa óculos não usa?



–       Sim.



–       Então sua ajuda está bem na cara dele. – comentou o Sr. Twitch beijando esposa. – Hoje é seu dia de acordar Anjelica... boa sorte.



O Sr. Twitch costumava caminhar até seu escritório e todo dia passava por um belo mural grafitado com figuras geométricas em cores bem vivas. Quando achou que já estava longe de casa o bastante abriu um pacote de salgadinhos; prometera a mulher não comer guloseimas pela manha, mas estava difícil manter a promessa frente ao lançamento de um novo sabor de batata frita.



–       Como fazem batata frita de tanto sabores? – comentou enquanto caminhava.



Jogou a embalagem vazia na primeira lixeira que encontrou pelo caminho. Deu três passos e a embalagem amassada acertou-lhe a cabeça. Olhou para os lados e não viu ninguém; tornou a jogá-la no lixo. Mais alguns minutos de caminhada olhou para os lados e percebeu que a rua estava deserta; sem carros, sons ou pessoas atrasadas pra trabalhar. O mural estava diferente; as figuras não estavam no mesmo lugar e de repente começaram a se mover e saltaram da parede. Mesmo acostumado com magia o Sr. Twitch ficou muito assustado com aquelas formas estranhas e ameaçadoras caminhando em sua direção. Na calçada algumas pessoas desviavam dele andando de costas.



–       Fique longe de mim! – gritou.



Começou a atirar coisas que via pelo chão para afastá-las. Foi cercado pelas figuras e saiu correndo para o meio da rua bem no exato momento que uma ambulância virava a esquina. Morreu na hora.





Antes de começar seu dia oficialmente Kingsley Shacklebolt Ministro da Magia em exercício recebeu Hermione em seu gabinete. Acompanhada de Harry e Patrick; Hermione discutia a inclusão de alguns direitos para os elfos domésticos que deveriam ser citados na convenção.



–       Vale lembrar que cada lugar tem um modo diferente te tratar os elfos. – disse Kingsley.



–       Em comum só a escravidão. – respondeu Hermione.



–       Posso garantir a multa pesada para famílias que dispensarem os elfos que julgam sem serventia por idade ou acidente de trabalho e mais pesadas ainda para as famílias ou comerciantes que os comprarem e os forçarem a voltar ao trabalho pesado.



–       Já é um começo. – disse Harry animando Hermione.



Kingsley segurou a mão de Hermione



–       Sabe como você poderia ajudá-los mais? Entrando para o Ministério.



–       Estou tentando convencê-la faz tempo Kingsley. – disse Harry.



–       Já tenho trabalho demais pesquisando! Pretendo lançar outro livro até o final desse ano.



–       Seria uma honra tê-la conosco Hermione.



Kingsley olhou para Harry e Patrick.



–       Certamente. – responderam juntos.



–       Gostaria de conversar sobre outro assunto Kingsley. – disse Harry.



–       Eu sei o que vai dizer Harry: Solomon Bluter. Esse assunto não cabe a convenção! É assunto interno do Ministério. – respondeu Kingsley sério. – Assim que a convenção acabar trataremos disso. Os representantes de vários países e de vários seguimentos da sociedade estarão aqui e esperamos chegar a um acordo sobre questões importantes.



Kingsley começou andar pela sala.



–       Economia, trouxas, rastreadores mágicos... é um momento delicado para o Ministério. Se demonstrarmos que não podemos resolver um problema interno não seremos levados a sério; nossas posições e esforços cairão por terra. Somos os mediadores de muitas questões.



–       Então vamos empurrar Solomon Bluter pra debaixo do tapete?



–       Harry, você é um homem de coragem e agradeço ter aceitado o convite para estarmos juntos no Ministério. Espero sua ajuda para acertamos as coisas, mas o momento não é propicio para esse assunto em particular.



–       Vamos Harry quero que saiba quem são as pessoas que vamos receber. A maioria espera conhecê-lo.  – disse Patrick.



No corredor Patrick e Hermione chamaram atenção de Harry dizendo que ele não devia falar com Kingsley do jeito como falou.



–       Controlar emoções! Já sei! – respondeu Harry apressado deixando os dois para trás.



–       Bom, pelo menos ele tem você por perto para colocar um pouco de bom senso na cabeça dele. – disse Hermione.



–       Eu ia dizer a mesma coisa sobre você.



Hermione sorriu.



–       Por que não aceita o convite para trabalhar aqui? Seria ótimo vê-la mais vezes.



–       É sério tenho muita coisa para fazer. – respondeu Hermione. – Escute! Vamos fazer uma passeata no Beco Diagonal no sábado. Quero promover uma interação entre bruxos e elfos; vamos nos reunir para distribuir panfletos em frente à Gemialidades Weasley. Jorge vai contratar três elfos para trabalhar lá. O Sr. Olivaras para ajudar na organização da loja. Nenhum trabalho ligado à faxina.



–       Interessante. – disse Patrick. – Harry já havia me dito, mas...



–       Vai ter Sapos de Chocolate grátis. Você é um Conselheiro; sua presença seria incrível!



Patrick olhou o panfleto. Pensou em Solomon Bluter abrindo o Profeta Diário onde estivesse e na primeira pagina estaria ele do lado de Hermione Granger; a garota dos elfos. Solomon deixou claro que pretendia fazer alguma coisa com Hermione caso ela insistisse em atrapalhar sua lucrativa venda de elfos. Patrick pensou como ficaria encrencado se Solomon não confiasse mais nele.



–       Não perderia por nada. – respondeu sorrindo.



No sábado pela manha a enfrente a Gemialidades Weasley uma multidão de crianças se divertia com um grupo de elfos que contavam e encenavam historias. Havia um enorme pôster de Dobby junto a Dumbledore com o titulo “Um herói livre”. Jorge. Gina e a Sra. Weasley distribuíam bexigas mágicas a todos que passavam e levavam um panfleto do FALE. Dino Thomas, Neville, Lino Jordan, compareceram para dar apoio à causa. Harry observava Hermione feliz com o entusiasmo das crianças em se aproximarem dos elfos. Viu quando Patrick chegou e a cumprimentou; Hermione o puxou para o meio das crianças. Harry e o Sr. Weasley dentro da loja riram muito do ar assustado de Patrick quando as crianças o rodearam. Hermione explicava que algumas pessoas têm medo de elfos e passavam esse medo para os filhos.



–       Com certeza você vai mudar isso. – disse Patrick passando pela multidão.



–       Espero que sim! Queria mencionar o elfo que Rebecca contratou; Juhno salvou nossas vidas na Mansão Malfoy, mas... Ah, Patrick me desculpe.



–       Por quê?



–       Não queria chateá-lo mencionando Rebecca. Vocês se separaram há pouco tempo.



–       Estou bem e ela deve estar bem; Rebecca sabe se virar. Onde está Rony?



–       Ele teve um compromisso hoje pela manha, mas logo estará aqui. Tome seu Sapo de Chocolate! Harry está na loja.



A Conselheira Troy e o noivo Greg Raiker também entraram na loja; Patrick foi dar uma volta e parou em frente à prateleira de poções Slater.



–       Eu gostava de Rebecca. – disse Harry se aproximando e o cumprimentando. – Se você precisar... conversar...



–       Não, não preciso conversar.



–       Como quiser. – Harry fez uma pausa. – Gina e Hermione me mandaram dizer isso. Não sou bom em dar conselhos, mas...



–       Garotas são assim mesmo. Onde está Rony? – Patrick tornou a perguntar.



–       Ele deve estar preso em algum lugar, espero que chegue logo. Hoje é um dia importante para Hermione. Venha! Quero lhe apresentar outros amigos! Você se lembra de Neville?



–       Claro.



Patrick saiu com Harry para rua; de tempos em tempos os dois viam Hermione levantar a cabeça à procura de alguém na multidão.



A casa da família McLaggen era imensa; Rony se sentiu muito pequeno e desconfortável diante de toda aquela ostentação. A mãe de Córmaco lhe servia uma xícara de chá.



–       Fiquei surpresa com sua coruja dizendo que viria Sr. Weasley. Não sabia que era amigo do meu filho. – disse a senhora cujo rosto mostrava cansaço. Rony se sentiu mais que culpado; obviamente o tempo que Córmaco passou em recuperação no hospital estava marcado naquela expressão.



–       Colegas da Grifinória.



–       O senhor estava na quadra no dia do acidente?



–       Sim senhora.



–       Bem, ele já está bem melhor agora.



–       Fico feliz por isso.



Um homem alto de cabelos crespos entrou na sala pedindo a Rony que o acompanhasse. Era certeza que era o pai de Córmaco.



–       Desculpe a demora Sr. Weasley, mas demoramos mais do que imaginávamos para sair de St. Mungus com aquela quantidade de repórteres. Córmaco está acordado, mas não leve a mal se ele cair no sono enquanto conversam; é o efeito da poção.

–       Tudo bem. Não vou me demorar. – respondeu Rony.



Quando entrou no quarto a primeira coisa que chamou atenção de Rony não foi Córmaco sorrindo ao vê-lo entrar, mas sim Emily, a repórter e fotografa do Profeta Diário, sentada na cama ao seu lado.



–       Rony, por favor, sente-se. – disse Córmaco. – Me conte alguma coisa da Liga. Mamãe e Emily não me deixam nem ler o jornal.



–       O assunto Quadribol está proibido pelo menos por mais um mês. – disse Emily.



–       O time da sua irmã está indo bem no campeonato. Iria enfrentá-la pela primeira semana que vem.





–       Como está Hermione? E Harry? – perguntou Emily.



–       Muito bem.



–       Soube da passeata; uma idéia incrível ainda mais com a convenção se aproximando.



–       Conte a ele Emily! Conte o que fizermos!



–       Contratamos um elfo para nossa nova casa!



–       Papai não é muito a favor de pagar um elfo, mas ele leu a respeito do FALE e ficou bem impressionado. Sempre tivemos elfos na casa, mas nunca demos a eles um sicle se quer.



Conversaram por um bom tempo; Córmaco em nada lembrava o cara arrogante de Hogwarts e Rony entendeu logo o motivo da mudança: Emily. Córmaco segurava a mão dela falando animado de seus planos para quando se recuperasse totalmente.



–       Morar no campo? Acha que se acostumam longe da agitação do Beco Diagonal? – perguntou Rony.



–       Vai ser bem mais tranqüilo. E muito melhor para o bebê. – respondeu Córmaco.



–       Bebê?



–       Eu vou ser pai Rony! Dá pra imaginar?



–       Não conte a ninguém ainda é um segredo. – pediu Emily.



–       Uau! Parabéns!



–       Sr. Weasley insisto que fique para o almoço. – disse a mãe de Córmaco.



–       Sinto muito, mas já me demorei demais e Córmaco precisa descansar.



–       Fique Rony. – pediu Emily. – Os amigos do time só virão depois da rodada do fim de semana. O resto do tempo ela só terá a nós como companhia e logo ficará entediado.



Córmaco sorriu e Rony sentiu um calafrio. Ainda lhe faltava dois dentes da frente.



Rony concordou e almoçou com a família. Depois Emily o acompanhou até a porta.



–       Córmaco parece bem afinal.



–       Você não conhece sua própria força não é?



Rony parou e encarou Emily.



–       Desculpe. – disse a garota depressa. – Imagino como você deve ter se sentido esse tempo todo.



–       Estou mais aliviado agora, e descobri finalmente o seu sobrenome: McLaggen! Por que não me contou sobre vocês?



–       É meio que um segredo ainda. O empresário e os pais de Córmaco acham que as fãs vão ficar decepcionadas quando souberem; estão criando uma estratégia para explicar que ele estava saindo com alguém; isso é o fato de eu ser de uma família mista; minha irmã é trouxa, casada com trouxa e dois dos meus três sobrinhos também. A família de Córmaco e tradicionalmente sangue puro.



–       Eles não parecem más pessoas. Parece que gostam de você.



–       Um pouco conservadores apenas, mas estão se acostumando comigo e com a idéia de serem avós!



Emily sorriu; Rony também, mas logo a expressão feliz dela mudou.



–       Córmaco não me enfeitiçou naquele dia... – disse Rony. – Ele foi enfeitiçado também.



–       Ele recebeu uma coruja à tarde marcando um encontro na quadra. Eu fui com ele! Patrick Rent estava lá com você, seus irmãos e Harry Potter.



–       Patrick disse a Harry que Córmaco costumava ir lá jogar.



–       É mentira! Córmaco não pode jogar a não ser pelo time. Ele foi penalizado em cem galeões por ter desobedecido e ter se machucado! Ele não faria isso Rony; ele não aceitaria jogar se não tivesse enfeitiçado. Ele não brigaria com você ou com qualquer pessoa! Você o viu! Conversou com ele! Ele mudou!



–       Alguém nos enfeitiçou! Mas por quê? O que teria a ganhar com isso?



–       Tenho pensado muito em um motivo que não fosse pura maldade. Eu lhe disse que passei a seguir Patrick Rent por ordem de Rita Skeeter e descobri muitas coisas...



–       Espere Emily; o que está insinuando? Patrick arriscou a vida nos ajudando a sair daquela ilha! Ele é Conselheiro agora!



–       Eu sei, mas você mesmo disse que ele e Draco tinham uma ligação. Eu lhe contei sobre os impostos da família Malfoy e as visitas dele à mansão.



–       Draco pareceu muito satisfeito em enfeitiçá-lo aquela noite. – disse Rony se lembrando do feitiço que fez Patrick ter uma crise de soluço. – Como se quisesse...



–       Desforrar alguma coisa. – completou Emily. – E tem muito mais Rony; tenho tentado juntar as peças há meses! Não há registros de ninguém dessa família e de repente ele aparece e em menos de quatro anos é Conselheiro...



–       Emily. – disse a mãe de Córmaco os interrompendo. – Você precisa descansar; lembre-se do seu estado! Sr. Weasley achei que já tinha ido.



–       Já estou de saída.



Rony acabou abraçando Emily meio sem jeito.  Ela o segurou com força.



–       Rony, por favor, pense no que eu disse. Lembra que falei que o ajudaria a descobrir o que aconteceu? Eu sei que você também quer! Sei o quanto isso o incomoda!



Em frente à Gemialidades Weasley o movimento não diminuía. A passeata atraiu muita gente; o Sr. Olivaras se juntou a Hermione e Dino Thomas para uma foto. Rony apareceu ao lado de Gina e Harry.



–       Desculpe, demorei mais do que o planejado.



–       Já estava começando a ficar preocupado. – disse Harry.



–       O Sr. Olivaras está aqui? Ele nunca deixa a loja!



–       Ele disse palavras muito legais sobre Dobby. Mamãe até chorou. – disse Gina



–       Como está Córmaco? – perguntou Harry.



–       Muito bem! Melhor do que eu esperava.



–       Ele se lembrou...



–       Nada. Ele não se lembra de nada.



Gina sacou a varinha e apontou discretamente para as roupas de Rony.



–       Que está fazendo?



–       Tirando esse perfume.



–       Perfume? Ah, a mãe de Córmaco me abraçou. – Rony respondeu depressa.



–       A mãe de Córmaco? – perguntou Harry rindo.



–       Fazer o que? Eu sou irresistível!



–       Certo Sr. Irresistível agora pode ir abraçar sua namorada.



–       Obrigado Gina.



Rony saiu para falar com Hermione; a encontrou conversando com Neville e Dino Thomas. Discretamente ela deixou o grupo e os dois se beijaram em um canto.



–       Foi um sucesso Rony! – disse Hermione feliz.



–       Eu sabia! Eu lhe disse ontem que você só precisava relaxar...



–       Acabei relaxando no final...



Os dois se abraçaram e Rony viu Patrick parado conversando com um grupo de senhoras que pareciam encantadas em receber atenção de um Conselheiro. Por um segundo percebeu Patrick olhar para eles. Durante aquele segundo que cruzaram olhares Rony ficou muito incomodado e não saiu mais de perto de Hermione.


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