ONDAS LARANJAS



Era evidente que a narração de Bob Olsen não era tão espetacular quanto a de Lino Jordan, “A Voz”. Olsen era um locutor correto, que tinha os seus fãs, exatamente por se mostrar muito mais imparcial do que o seu colega, que nunca escondia admirações ou antipatias por determinados jogadores e principalmente não escondia que era torcedor dos Cannons.

Como a tensão que antecedia o jogo de abertura da Liga Britânica havia crescido com as provocações de Draco Malfoy, os diretores da TV Bruxa (“o mundo do quadribol girando ao seu redor”) preferiram escalar um locutor de perfil mais discreto, sem a exuberância de Jordan, evitando assim maiores conflitos.

- COMEÇA A PARTIDA, SENHORES OUVINTES. O TIME DOS FRANCELHOS TENTA UMA OFENSIVA, MAS UM BALAÇO ATIRADO POR TONI M’BEA CONTRA PHIL MAJORS INTERROMPE O ATAQUE.

A torcida dos Cannons vibrou com a intervenção do seu batedor. Seu nome começou a ser gritado pela minoria do estádio que torcia pelo time laranja, que aos poucos ia se tornando mais barulhenta do que a maioria verde-esmeralda local.

POTTER NO ATAQUE. FINTA BARZINSKI E MULLET, AMEAÇA O PASSE PARA GINA WEASLEY. OUTRA FINTA EM BARZINSKI! GOOOOOOOOOL DOS CANNONS! DEZ A ZERO PARA O TIME LARANJA.

- GRANDE JOGADA INDIVIDUAL DE POTTER, QUE DESNORTEOU A MARCAÇÃO DOS ARTLHEIROS DO TIME DOS FRANCELHOS – disse a comentarista Marla Donovam – PARECE QUE A MARCAÇÃO INDIVIDUAL QUE O TREINADOR TAYLOR ORGANIZOU... LÁ VAI ELE DE NOVO!

- BALAÇO ARREMESSADO POR LOPES, AGORA DESARMANDO MULLET. POTTER PEGA A GOLES, FINTA ESPETACULAR EM BARZINSKI, DRIBLA O GOLEIRO RYAN. GOOOOOOOOOL DOS CANNONS! VINTE A ZERO PARA O TIME DA INGLATERRA

Agora ninguém mais podia com os torcedores dos Cannons. Mesmo em minoria, o barulho que faziam, superava facilmente os espantados torcedores do time da casa. Harry havia marcado dois grandes gols. No segundo dera uma finta em Barzinski, o artilheiro russo que jogava nos Francelhos, atirando a goles por cima do jogador e voando abaixo dele. Era uma jogada dificílima e pouquíssimos artilheiros sabiam executá-la. Se a estupefação do público irlandês já era grande, em seguida todos (menos os barulhentos torcedores do time da Inglaterra) ficaram realmente sem voz. Gina recebeu um passe de Toledo, que estava de costas para ela, atirou a goles ao lado da artilheira adversária Mullet, só que ao invés de um passe para a sua companheira, ela mesma apanhou a bola, passando pelo outro lado. Harry havia ensinado para a ruiva essa jogada, emprestada dos jogos de futebol dos trouxas. Era uma das “fintas Potter”, cujo repertório parecia ilimitado, e que Gina também já lançava mão.

Depois de enganar também ao artilheiro Majors, Gina anotou mais um gol para os Cannons.

- PLACAR DE TRINTA A ZERO PARA OS CANNONS! – anunciou o locutor Olsen – E ELES NÃO PARAM! POTTER PARA TOLEDO, TOLEDO PARA GINA, ENTREGA PARA POTTER. O GOLEIRO RYAN FOI DRIBLADO. GOOOOOOOOOL DOS CANNONS! POTTER ANOTA QURENTA A ZERO!

- É INACREDITÁVEL! OS BATEDORES DOS FRANCELHOS ESTÃO PERDIDOS! – constatou Marla.

Milos Petrovic, jovem titular da seleção da Sérvia e Jamie Quigley, veterano jogador do selecionado irlandês pareciam principiantes desajeitados. Os dois batedores simplesmente não acertavam os artilheiros dos Cannons e Andy e Toni estavam jogando de forma tão eficiente que Rony praticamente só assistia ao jogo. Um arremesso da goles finalmente chegou ao ruivo, atirado de longe por Majors. Rony segurou displicentemente a bola com uma mão só e a rodou no dedo indicador, para o delírio dos torcedores do time laranja. Os locais vaiaram o goleiro estrepitosamente. Barzinski partiu para tirar satisfações, sendo contido pela artilheira Mullet.

- O JUIZ MARCOU DUAS PENALIDADES! – anunciou Olsen – UMA PARA OS CANNONS PELA TENTATIVA DE AGRESSÃO DO ARTILHEIRO BARZINSKI A RONY WEASLEY. E OUTRA PELA ATITUDE ANTIDESPORTIVA DE PROVOCAÇÃO DO GOLEIRO DO TIME INGLÊS.

Harry cobrou a primeira penalidade, anotando com facilidade cinqüenta a zero. Barzinski fez questão de cobrar a falta para os Francelhos. Mas, apesar da violência do seu arremesso, Rony fez uma grande defesa, rebatendo a goles com o pé esquerdo. A massa laranja gritava e dançava na chuva torrencial, que voltava a cair nesse momento.

- INCRÍVEL! WEASLEY FAZ UMA DEFEESA ESPETACULAR! A GOLES REBATIDA POR ELE CAI NA MÃO DE POTTER. É UM VÔO SENSACIONAL DO ARTILHEIRO DOS CANNONS! DRIBLOU NOVAMENTE RYAN! É GOOOOOOOOOOL DOS CANNONS! INACREDITÁVEL! SESSENTA A ZERO EM VINTE MINUTOS DE JOGO!

Logo depois, Toledo, que ainda não havia marcado, escapou de um balaço e anotou mais um gol. A chuva piorava e o técnico irlandês evitava pedir tempo, apesar da baile que seu time estava levando, pensando talvez, que na chuva os artilheiros dos Cannons piorassem a pontaria. Trisha Phelps, a jovem apanhadora dos Francelhos, procurava o pomo desesperadamente.

- ATENÇÃO! KRUM E PHELPS ESTÃO VOANDO EM DIREÇÃO AOS AROS DOS CANNONS! PARECE QUE AVISTARAM O POMO, APESAR DA CHUVA FORTE QUE CAI NO CAMPO DE JOGO!

Por alguns segundos os torcedores de ambas as equipes prenderam a respiração. A audiência não conseguia enxergar a bolinha dourada em função do aguaceiro. Na verdade a artilheira irlandesa também não. Voara às cegas quando percebeu o movimento do búlgaro, tentando de maneira desesperada enxergar antes dele o pomo.

- ESPEREM! – gritou o locutor da TV Bruxa – KRUM MUDOU A TRAGETÓRIA DO VÔO! ELE ESTÁ SE DIRIGINDO AO CENTRO DO CAMPO! ELE APANHOU O POMO! NUMA MANOBRA SENSACIONAL, VITOR KRUM APANHA O POMO, ENGANANDO A APANHADORA DOS FRANCELHOS! TERMINADA A PARTIDA! INCRÍVEIS DUZENTOS E DEZ A ZERO PARA OS CANNONS!

Capas e guarda-chuvas a essa altura foram atirados para o alto e os torcedores dos Cannons comemoravam enlouquecidos, pouco ligando para o temporal. Os mais velhos tinham lágrimas nos olhos. Em décadas, era a primeira vez que o time estreava em algum campeonato com vitória. Duzentos e dez a zero sobre o vice-campeão da Liga da Irlanda!

Os torcedores do time dos Francelhos, por sua vez, não acreditavam no que haviam presenciado. Seu time, super reforçado para o torneio que se iniciava hoje, havia sido derrotado pelo seu pior placar dos últimos quarenta anos. E em vinte e sete minutos de jogo!

A multidão vestida de laranja invadiu o campo e carregou os jogadores nos ombros. Até Malfoy, Ivanova e uma assustada Hermione foram carregados. Na verdade a torcida não tinha destino algum, apenas dera voltas e mais voltas com o time pelo campo de jogo. Apenas queriam saborear aquele momento de triunfo com os seus ídolos. Finalmente os torcedores irlandeses começavam a ir embora. Estavam tão desanimados que só alguns poucos respondiam às provocações da torcida dos Cannons. Para o desespero de Harry e diversão do resto do time, alguns jovens começaram a cantar o “Potter Laranja”, o rap que o artilheiro sensação achava abominável. No momento do refrão, regidos por um alegre Draco Malfoy. como um maestro de orquestra, todos, inclusive Gina e Ivanova entoaram “É o Potter Laranja! É o Potter Laranja! É o Potter Laranja!”

- Vou fazer um gol contra e perder o próximo jogo de propósito – disse o Eleito. Mas depois acabou rindo do refrão ridículo. Não havia como ficar de mau humor após uma vitória como aquela.
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- É o Potter Laranja! É o Potter Laranja! – cantarolava Draco.

- Cale a boca, sim? – exigiu Harry

Apesar das provocações do loiro ao sócio, o ambiente no hotel onde os Cannons jantavam após a partida não poderia ser mais descontraído. Tess Smith, Amanda e Helga tomaram uma chave de portal e se juntaram ao grupo. Malfoy olhava em volta satisfeito. Quase ficara de novo emocionado ao ver os seus amigos comentando a partida. Tess dizia (perto de um Rony ligeiramente incomodado) que Toledo havia ficado muito sexy com aquele uniforme molhado. Gina ria abraçada a Harry. Helga olhava fascinada para o marido, que discutia com Vitor Krum e Vera as qualidades e defeitos do próximo adversário dos Cannons. Hermione insistia para que todos tomassem um chocolate quente após o jantar, no qual ela misturara uma poção, evitando que ficassem resfriados depois daquela “loucura na chuva”. Amanda e Andy se beijavam num canto da mesa e pareciam fazer planos para mais tarde.

Sim, Malfoy tinha que admitir que ficar do lado dos bonzinhos às vezes dava bons resultados. Aquele era um dia muito feliz.

- Ei, quando eu disse para você calar a boca não foi algo tão literal assim – disse Harry, a mão pousada amistosamente sobre o seu ombro, tirando Draco dos seus devaneios.

- Você acreditaria que eu estou feliz, Potter?

- Você tem motivo para estar – observou o sócio – Você fez um bom trabalho.

- Todos fizemos – respondeu o loiro – O que você pensaria de mim se eu dissesse que gosto de você?

- Eu pensaria que você andou bebendo demais – disse Harry sorrindo.

- Ora, Potter, onde está a sua fé grifinória? – perguntou Malfoy com uma voz afetada.

Sim, aquele havia sido um dia muito feliz, Draco tinha que admitir.
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Profeta Diário, terça-feira:

Ontem, reunidos no Auditório Merlin do Ministério da Magia do Reino Unido, O Grande Conselho Bruxo, por duzentos e um votos favoráveis e dezenove abstenções, nomeou Arthur Weasley o novo Ministro da Magia para os próximos quatro anos.

A já esperada vitória de Weasley (perfil na página 5) foi conseqüência direta da completa desmoralização dos políticos durante a gestão Georgius Blackwell, culminando com a descoberta do complô contra Harry Potter, desmascarado pelo jogador Rony Weasley (relembre através do dossiê daqueles acontecimentos, página 8), filho do ministro eleito.

A surpresa ficou por conta da esmagadora votação que o indicado recebeu. Os poucos partidários do antigo ministro tentaram na última hora apresentar o nome de Tristan Garfield, funcionário do Hospital St. Mungus, mas esse declinou da indicação, antevendo uma derrota humilhante.

A vitória de Arthur Weasley foi considerada uma vitória dos funcionários administrativos de carreira honestos, pouco afeitos à política e aos meandros do poder. Mesmo os membros mais conservadores do Conselho acabaram dando seu voto ao Sr. Weasley, que descende de uma família ilustre puro-sangue, embora pouco afeita ao exercício do poder.

Desde a crise, que levou à nomeação do ministro interino Severo Snape (que apoiou o eleito), os Weasleys vinham sendo aclamados como “a reserva moral do mundo bruxo”. As pessoas lembravam sempre da participação deles na guerra contra “você-sabe-quem” e da proximidade com Harry Potter, que em breve se tornará genro do ministro eleito, pois está de casamento marcado com a filha mais nova deste (detalhes na página 10).

Espera-se que a equipe escolhida pelo novo ministro tenha um perfil mais profissional e menos político...



- Et cétera e tal, blá, blá, blá... – disse Rony, sem paciência para ler o restante da matéria.

- Eles vão continuar na Toca? – perguntou Hermione

Os dois casais (Rony e Hermione, Harry e Gina) dormiram no apartamento dos rapazes no Beco Diagonal. Que desde segunda-feira ostentava faixas saudando o novo ministro e dando vivas a Maluco Weasley e Mergulho Potter pela atuação na partida contra os Francelhos. Laranja era a cor desse fim de verão no Beco. Até mesmo na sinistra Travessa do Tranco havia também faixas com dizeres “Potter e Weasley para presidente” e “Fodam-se irlandeses”, essa última em referência ao time dos Francelhos de Kenmare.

Hermione, que tomava café e comia os ovos preparados por Harry para os amigos, perguntava sobre a permanência ou não dos Weasleys na Toca, uma vez que o ministro da magia do Reino Unido tinha uma residência oficial.

- Mamãe não vai gostar, mas eu acho que eles vão precisar sair de lá – explicou Rony – Seria difícil explicar para os trouxas do povoado a movimentação que teria lá em casa. Sabem como é, imprensa, segurança, essas coisas.

- Tem um bando de jornalistas lá embaixo – falou Gina com ar de desânimo. A ruiva havia acordado naquele momento e se aconchegou junto ao namorado – Humm... você preparou o café? – perguntou, já sabendo a resposta – Mione, o cara é rico, bonito, joga bem e ainda cozinha. O que podemos fazer com ele?

- Não me diga que é bom de cama... – sorriu Hermione maliciosamente.

- Hermione! – disseram Rony e Harry ao mesmo tempo, surpresos e chocados, enquanto Gina gargalhava pra valer.

- Isso eu não conto! – cantarolou a ruiva.
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Uma vez que não havia como fugir, os dois casais desceram para o Beco após o café. Poderiam ter aparatado no campo de treino da Mansão Malfoy, mas suspeitavam que outro bando de repórteres esperaria por eles, o que atrasaria o treino e deixaria Vera Ivanova estressada, o que significaria treino até a noite.

Rony, como sempre, era o mais bem falante e articulado. Explicou calmamente que desmascarou o antigo ministério por que eles estavam roubando o seu melhor amigo. Que não tinha como prever que o seu pai seria escolhido o novo ministro. Que seu casamento não seria um evento “público” ou “político”. Que faria uma cerimônia trouxa a pedido dos pais de sua noiva.

Às perguntas inevitáveis sobre a relação com o novo ministério e sobre a participação dele e de Harry na seleção inglesa de quadribol, Rony foi sucinto:

- Entendo que eu, Harry e Gina merecíamos estar lá e lá estaremos quando a convocação obedecer a critérios técnicos e não políticos.

- Potter, você concorda? – perguntou um estranhamente civilizado Dan Carter.

O seu jornal, “Notícias Mágicas”, que a princípio havia contado com apoio do ministério deposto, todos sabiam que atualmente ia mal das pernas e o inescrupuloso jornalista vinha maneirando o discurso na esperança de sobreviver.

- Sim – respondeu o Eleito num tom lacônico que lembrava Vitor Krum.

- Como se sente mais uma vez fora da seleção inglesa? – perguntou mais uma vez uma jornalista do “Profeta Esportivo”.

- Eu gostaria de estar na seleção e lamento que Gina e os meus amigos não estejam – respondeu Harry – Mas os jogadores convocados não têm nada com isso e eu vou torcer por eles

Harry não queria criar uma guerra com os seus colegas, só porque não havia sido chamado para as duas primeiras partidas das eliminatórias européias da Copa Mundial de Quadribol. Não tinha realmente mágoa dos jogadores convocados e lamentava que Gina, Rony e Angelina, além de Catia Bell, tivessem recusado a convocação por sua causa. Mas os torcedores ingleses estavam inconformados.

Nilus Peters havia convocado e inscrito a equipe inglesa com uma antecedência absurda e desnecessária, alijando Harry de maneira proposital e agora irreversível. Convocara Cho Chang, a bonita apanhadora dos Tornados, filha de chineses (e apenas exibida, segundo algumas opiniões mais críticas), Rogério Daves, que muitos julgavam bonito, mas apenas razoável como artilheiro (Rony e Draco nem isso achavam do ex- jogador de Corvinal) e um conjunto de atletas apenas medianos para suprir a ausência dos jogadores dos Cannons e de Angelina Johnson. Catia Bell, antiga colega dos Weasleys e Harry em Hogwarts, que jogava na Espanha, também recusara a convocação quando soube das tramóias do ministério contra o ex-colega.

Enfim, um time inglês muito abaixo do seu potencial iria enfrentar Chipre e Grécia nos dois primeiros jogos das eliminatórias. Peters dava declarações confiantes à mídia do mundo bruxo mas, mesmo enfrentando equipes que estavam longe de figurar entre as principais forças do quadribol mundial, pouca gente fazia fé na sua seleção.

Haveria mais dois jogos difíceis em fevereiro contra Alemanha e Noruega e os quatro jogos restantes e decisivos em março e abril, com mando de campo invertido, que decidiria os classificados. O primeiro da chave estaria garantido na Copa Mundial dos Estados Unidos, sobrando para o segundo e o terceiro do grupo uma dura repescagem em maio, contra segundos e terceiros de outros grupos europeus, que aí sim, definiriam todas as classificações do continente.

A eleição de Arthur Weasley e a nomeação de um novo responsável para o Departamento de Esportes Mágicos que demitisse Nilus Peters era a esperança de todos. Falava-se em Eusebyus Nathingale, antigo campeão europeu de duelos, amigo pessoal dos Weasleys e colaborador da Ordem da Fênix durante a guerra, para o Departamento e Jerry White, lenda do quadribol inglês, era o mais cotado para substituir Peters (ninguém apostava um nuque na sua permanência) no cargo de treinador da seleção, embora nomes estrangeiros como Vera Ivanova também fossem lembrados.
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O modesto campo pertencente aos Trasgos era realmente insuficiente para a euforia da torcida em torno dos Cannons. Aurores do ministério da magia foram trazidos às dezenas, além de seguranças de uma empresa bruxa privada, contratada por Draco Malfoy. Os cinco mil ingressos disponíveis para o segundo jogo da Liga Britânica (contra as Harpias de Holyhead) haviam sido vendidos na semana anterior em poucos minutos. Mesmo assim, um número enorme de bruxos, principalmente jovens vestidos de laranja dos pés à cabeça, tentavam entrar na marra no estádio na noite de quarta feira para ver o seu time do coração.

Numa negociação tensa de última hora (para evitar um desastre), as imagens da TV Bruxa (“a magia do mundo a um toque de suas mãos”) foram liberadas também para a cidade de Londres e telões mágicos de alta definição foram providenciados às pressas (patrocinados pelas Gemialidades Weasleys) e colocados no Beco Diagonal, na Vila Bruxa e no estádio em reforma de Chudley.

Essas medidas, anunciadas pelas autoridades à platéia enfurecida sem ingressos, acalmou os ânimos e muitos torcedores afastaram-se em direção aos telões, cantando ora o grito de guerra do time (“Venceremos, OH! Vencermos, AH!”), ora o famigerado (na opinião de Harry) “Potter Laranja”, que já era a música mais tocada nos programas jovens da Rádio Bruxa.

Antes do jogo, English Cool J em pessoa, o rapper bruxo sensação do território britânico, vestindo uma versão de gala do uniforme dos Cannons, cantou a música, acompanhado pela maioria do público. Até os velhinhos torcedores do time local arriscaram uns passos, seguindo os requebros endiabrados do artista. E cinco mil vozes cantaram o refrão “É o Potter Laranja!”. Draco, Toni e Vera acompanharam com um desempenho razoável a coreografia, no vestiário, enquanto os outros apreciavam da porta entreaberta o inacreditável mar laranja que ondulava nas arquibancadas.
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- SENHORES OUVINTES E TELESPECTADORES, BOA NOITE! – saudou alegremente Lino Jordan, a voz magicamente ampliada se fazendo ouvir através dos autofalantes do estádio, dos rádios sintonizados na Rádio Bruxa espalhados por toda Grã-Bretanha e nos telões e televisores que transmitiam as imagens da TV Bruxa (“levando as cores do esporte mágico até você”) para várias partes da Europa, Estados Unidos, América Latina e Ásia – ESTAMOS AQUI PRESENTES NO CAMPO DA ANTIGA AGREMIAÇÃO DOS TRASGOS DIAGONAIS PARA TRANSMITIR O JOGO DO TIME QUE SIMPLESMENTE APAVOROU, EU DISSE APAVAROU OS ADVERSÁRIOS COM A SUA PRIMEIRA EXIBIÇÃO!

Aplausos entusiasmados se seguiram à apresentação de Lino, abafando os poucos apupos de uns trezentos torcedores das Harpias, que se amontoavam num canto do estádio, mantidos em segurança pelos bruxos parrudos da empresa contratada por Draco (“Queremos que os perdedores fiquem em segurança”, provocara o presidente dos Cannons).

- SERÁ QUE ELES VÃO JOGAR DA MESMA FORMA CONTRA AS HÁRPIAS, MARLA? – perguntou Lino, dando a deixa para Marla Donovan, a comentarista de quadribol mais imparcial do Reino Unido, que, contudo, todos sabiam torcedora do time galês.

- ESSA É A EXPECTATIVA DA TORCIDA DOS CANNONS,. QUE ACOMPANHA EM TODA A INGLATERRA A ATUAÇÃO DA EQUIPE – explicou a comentarista – MAS AS BATEDORAS E AS ARTILHEIRAS DAS HARPIAS ESTARÃO CERTAMENTE MAIS ATENTAS ÀS INFILTRÇÕES E ÀS JOGADAS DE HARRY POTTER E DAS SUAS COMPANHEIRAS DE ARTILHARIA. VAMOS VER SE A TREINADORA PETERS CONSEGUIU ORGANIZAR UM SISTEMA DEFENSIVO EFICIENTE!
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Diferentemente do que aconteceu quando as duas equipes se enfrentaram nos Estados Unidos, as jogadoras do time do País de Gales não cumprimentaram educadamente o time laranja. Apenas a capitã Marisa Brants acenou friamente para os ex-colegas de Hogwarts e cumprimentou Toni antes da partida, mas com um aperto de mão muito ligeiro. O anúncio provocativo de Draco Malfoy no Profeta Diário irritou as atletas, que achavam no mínimo que aquilo havia sido uma peça de mau gosto.

A treinadora das Harpias, Dayse Peters, certamente de mau humor com a brincadeira, disparou no “Profeta Diário”:

- Nessa hora eu gostaria de ter a Shapiro no time!

Era uma declaração no mínimo estranha, uma vez que, como o próprio jornal lembrava, havia sido a treinadora que havia exigido o desligamento de Vamp Shapiro da equipe, obrigando a desleal batedora americana a seguir com suas maldades no Japão.

- COMEÇA O JOGO! – berrou Lino Jordan – AS HARPIAS PARTEM PARA O ATAQUE! UM BALAÇO ARREMESSADO POR ANDY LOPES QUASE DERRUBOU AMY PETERS DA VASSOURA! TEM MUITO BRAÇO ESSE GAROTO!!!!

Amy Peters, sobrinha da treinadora das Harpias, a mais nova de uma grande dinastia familiar de jogadores galeses e grande esperança do país nas eliminatórias européias, balançou na vassoura, mas aprumou-se rapidamente, porém, aproveitando o seu desequilíbrio momentâneo, Toledo roubou-lhe a goles, passando para Harry.

- POTTER COM A GOLES, FINGE QUE VAI DEVOLVER PARA TOLEDO, MAS DÁ A GINA WEASLEY. A GAROTA WEASLEY ESCASPA DE UM BALAÇO, VOA PARA A ÁREA. É GOOOOOOOOOL DOS CANNONS!!!! DEZ A ZERO PARA O TIME LARANJA!

- GRANDE PASSE DE HARRY POTTER – disse Marla – ELE ESTÁ JOGANDO RECUADO PARA ATRAIR A MARCAÇÃO DAS ARTILHEIRAS DAS HARPIAS.

Nos minutos seguintes a partida tornou-se mais dura. Os balaços eram disparados com violência, ora por Toni e Andy, ora por Brants e Marinkova, a batedora búlgara que fazia dupla com a capitã do time galês. Harry contava sempre com uma ou duas artilheiras do time adversário na sua marcação.

- TOLEDO RECEBE PASSE DE POTTER. FINTA DANDRIDGE! ELA SEGUE DIRETO PARA OS AROS! É GOOOOOOOOOOL DOS CANNNONS!!!!!!!! TOLEDO MARCA VINTE A ZERO!!!!

- PETERS VAI TER QUE MUDAR ESSA TÁTICA. HARRY ESTÁ PARTICIPANDO POUCO DA PARTIDA, MAS O CAMINHO ESTÁ FICANDO LIVRE PARA TOLEDO E GINA WEASLEY – ponderou a comentarista.

- POTTER CONTINUA PERSEGUIDO DE PERTO POR DANDRIDGE E PETERS. ELE DÁ UM GIRO E ENGANA AS DUAS ARTILHEIRAS! ELAS PASSARAM DIRETO POR ELE. PARECIAM O NOITEBUS ANDANTE!!!!!!!!!

A torcida gargalhou a valer com o giro dado por Harry e a comparação feita por Lino. Surpreendentemente Harry jogou a goles para baixo. Gina voando sob ele, pegou-a e voou livre até os aros.

- SEEEEEEEEEEEEEEENSACIONAL!!!!! GOL DE GINA WEASLEY. UMA JOGADA SOBRENATURAL! EU DISSE SOBRENATURAL DE HARRY POTTER E DA SUA GAROTA!!!!!!!!! LÁ VAI POTTER DE NOVO. AGORA É COM VOCÊ, HARRY!!!! É GOOOOOOOOOOOOL!!!! QUARENTA A ZERO PARA OS CANNONS!

Desnorteadas pela jogada anterior, as artilheiras e as batedoras ficaram divididas entre marcar Harry ou as suas companheiras. Aproveitando a hesitação das jogadoras, o Eleito voou praticamente em linha reta até a área adversária, fintou a goleira Hardway e marcou um novo gol

- A TREINADORA PETERS PEDIU TEMPO! – informou Marla Donovan – A DEFESA DAS HARPIAS SIMPLESMENTE NÃO ESTÁ FUNCIONANDO. O PROBLEMA É QUE OS ARTILHEIROS DOS CANNONS ESTÃO MAIS UMA VEZ DANDO UM SHOW. E OS BATEDORES DO TIME LARANJA ESTÃO DESARMANDO AS ARTILHEIRAS DA EQUIPE DE GALES COM FACILIDADE. O GOLEIRO WEASLEY PRATICAMENTE ESTÁ SÓ ESTÁ ASSISTINDO AO JOGO!

Nas arquibancadas do estádio, na Vila Bruxa e em Chudley, enquanto isso, a festa rolava solta. A torcida dos Cannons provocava o time verde-escuro com ampliações mágicas do anúncio do Profeta Diário que oferecia emprego às jogadoras. Os xingamentos dos cerca de trezentos heróicos galeses se perdia facilmente na algazarra de milhares de pessoas de roupas laranjas. O refrão do “Potter Laranja” também se fazia ouvir, acompanhado agora da coreografia de English Cool J que a torcida imitava precariamente.

No retorno do time, as batedoras tentavam disparar com mais violência contra Harry, Gina e Toledo, mas raramente os acertavam. Toni e Andy, contudo, continuavam certeiros e eficientes. Com vinte e cinco minutos, Vitor Krum avistou o pomo.

- LÁ VAI VITOR KRUM! VÔO DA ÁGUIA DOS BALCÃS EM DIREÇÃO AO SOLO! SERIA UMA FINTA WRONSKI??? NÃO É NÃO! LÁ ESTÁ O POMO!!!! É AGORA, VITOR!!!!!!!! ELE PEGA O POMO!!!! VITOR KRUM PEGA O POMO DEPOIS DE UM MERGULHO DE QUASE QUINZE METROS!!!! SEEEEEEEEEEEEEENSACIONAL!!!!! ACABOU O JOGO!!! CENTO E NOVENTA A ZERO PARA OS CANNONS EM VINTE E SEIS MINUTOS DE JOGO!!!!

- MAIS UMA ATUAÇÃO SOBERBA DOS CANNONS! – disse Marla – E QUE APANHADA, ESSA DO VITOR KRUM!!!
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A um quilômetro e meio dali, indiferente às comemorações, que provavelmente atravessariam o resto da noite e talvez a madrugada, Draco Malfoy, estranhamente ausente da tribuna de honra do estádio, tomava uma segunda taça de hidromel. O que ele iria fazer a seguir não era nada agradável. Mas, se havia aprendido alguma coisa na sua recente convivência com aqueles grifinórios com complexo de heróis, era que se algo incomoda, que fosse tirado do caminho rapidamente.

Severo Snape havia lhe dado uma informação preocupante pouco antes do início da partida dos Cannons. Além da traição, a perda de certamente mais um show do time, o irritava profundamente.

Nunca deixe um Malfoy irritado. Malfoys são traidores por natureza, mas nunca tente trair uma Malfoy. Havia uma pessoa hoje que seria ensinada a respeito disso. E talvez a respeito de outras coisas.

- Pode entrar. Eu estava esperando por você – disse o loiro, a voz fria como o gelo glacial.
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BOM, ALGUMAS EXPLICAÇÕES:

1) O CASAMENTO DE RONY E HERMIONE FICA PARA O PRÓXIMO CAPÍTULO!

2) HAVERÁ, PORTANTO, MAIS UM CAPÍTULO E O EPÍLOGO!

3) EM BREVE, CAPÍTULO 1 DE “LEMBRANÇAS DO VELHO MALFOY”!







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