UM DIA EM SUAS VIDAS



Passar o dia com Harry e Rony foi melhor coisa que Hermione fez nos últimos meses. Pensando bem, foi a melhor coisa dos últimos anos. Embora a jovem medibruxa estivesse ainda preocupada com Harry, os três realmente haviam se divertido passeando pelo Beco Diagonal, visitando a loja de livros Floreios e Borrões e até mesmo a loja para artigos de quadribol, onde houve um pequeno tumulto, pois todos queriam desesperadamente um autógrafo, um abraço ou um beijo (as mulheres, é claro) de Mergulho Potter e Maluco Weasley. Do nada apareciam câmaras fotográficas de jornalistas ou fãs desesperados por uma lembrança.

De volta ao apartamento dos amigos, Hermione despachou algumas cartas pelas corujas que Harry e Rony possuíam. Uma destinava-se aos pais, anunciando que passaria alguns dias com eles na semana seguinte, a outra era para o St. Mungus, pedindo uma semana de folga, uma vez que tinha duas férias acumuladas que nunca havia usufruído. A terceira carta, utilizando uma coruja que havia alugado no correio bruxo, era para uma pessoa que ela não quis identificar, embora Rony tenha tentado ver o nome por cima dos seus ombros, o que lhe rendeu um olhar de censura de Harry. O ruivo havia identificado um nome familiar que começava com a letra “D”. Como parecia estranhamente com Draco, Rony pensou estar imaginando coisas e desistiu de bisbilhotar.

Horas depois eles ainda jogavam conversa fora, quando tocou a estridente campainha do interfone, anunciando visitas. A porta da rua era magicamente encantada para abrir para as pessoas amigas. O que parecia não ser o caso. Olhando o monitor logo acima do aparelho, mistura de artefato trouxa com magia, cortesia dos gêmeos Weasleys, Hermione suspirou longamente.

- Como esse idiota descobriu que eu estava aqui? – disse contrariada.

Harry já o tinha visto uma vez, de passagem, numa cerimônia no St. Mungus, onde doara generosos galeões à instituição. Rony parecia bastante interessado no estranho que ousava perturbar a conversa dos três. Harry se lembrava claramente do ciúme mal disfarçado do namorado da amiga em relação a ele. Na opinião do apanhador dos Trasgos o sujeito era um idiota perfeito. É claro que ele sempre torcera por Hermione junto de Rony e sua opinião era um tanto parcial, mas pela cara da amiga e pelo tratamento destinado ao forasteiro, essa parecia não ter no momento uma opinião muito melhor.

- Quer que eu despache o idiota, Mione? – sorriu Harry maldosamente – Ele vai acordar daqui a três dias, a quilômetros de distância e nem saberá o que o atingiu.

Hermione ficou em dúvida se o amigo falava a sério ou estava apenas sendo sarcástico. Com os poderes que ela sabia que Harry possuía, o seu quase ex-namorado poderia ser morto antes mesmo de saber que um feitiço o havia atingido.

- Não, eu prefiro receber o “idiota” e acabar com tudo. Vocês podem me dar licença alguns minutos?

Rony e Harry saíram da sala, entretanto ficaram bisbilhotando no quarto de Rony com as “orelhas extensíveis”, artefato da loja dos irmãos, muito útil para ouvir conversas sorrateiramente. Hermione tratava friamente o “idiota”, certamente preparando terreno para um fora homérico. O namorado de Hermione era um sujeito alto, de aparência atlética e imponente. Poderia até ser considerado bonito, não tivesse aquele ar aristocrático de quem está sempre terrivelmente entediado com o mundo. Era mais velho que a amiga dos rapazes e também trabalhava no St. Mungus, só que na parte administrativa.

- Foi para isso que você pediu um tempo? – perguntou de maneira arrogante – Para cair nos braços de Harry Potter?

- NÃO SEJA IDIOTA, MICHAEL DESMOND PHILIPS! – gritou Hermione.

- Quando ela pronuncia o nome completo... – sorriu Rony, que tinha muita experiência no assunto.

- Mas, Hermione... Todos vivem falando da sua paixão juvenil por Harry Potter – disse o Senhor Philips, percebendo que tinha pisado na bola, mas pisando de novo a seguir – Falam que você largou do Weasley por causa dele...

- Falam é? – perguntou Rony, quase grudado às orelhas artificiais. Harry deu de ombros. Falavam tanta bobagem sobre a sua vida que havia esquecido desses boatos sobre ele e a amiga, que existiam desde a época que em ambos tinham quatorze anos.

- Sim, todos os idiotas da imprensa e do St.Mungus. E você como o idiota que é... – disse Hermione, colocando uma boa dose de cinismo na voz.

- Ei, não precisa ser agressiva! – disse o namorado ciumento – Eu só quero defender o que é meu!

No quarto ao lado, Rony e Harry disseram “Não!” ao mesmo tempo.

- Coisa errada de se dizer, Sr. Philips – cantarolou o ruivo. Nunca, mas nunca mesmo, diga a uma jovem bruxa independente e moderna que ela pertence a você. Se a bruxa souber uma boa quantidade de azarações e feitiços de ataque, como era o caso da jovem em questão, você estará encrencado.

Michael Desmond Philips nunca pensou que o namoro com a bela e inteligente Hermione Granger terminaria dessa forma melancólica. A jovem bruxa lançou-lhe uma azaração e ele atravessou a porta, indo aterrisar de maneira espetacular vários lances de escada abaixo, dolorido, humilhado e se perguntando o que havia dito de errado.

- Muito bem, eu sei que vocês estão aí ouvindo tudo! – disse contrariada – Eu vi o Rony pegar as “orelhas extensíveis”.

Um tanto tímidos e amedrontados, os amigos saíram do quarto, ambos segurando o riso com dificuldade, enquanto Hermione murmurava um feitiço e reparava a porta da entrada do apartamento.

- Ela é realmente um doce, como eu havia dito – falou Rony, tentando soar casual – Imagine quando estiver na TPM.

- Ora, fiquem quietos! – mas ela também estava rindo.

- “Eu só quero defender o que é meu” – disse Harry, imitando de maneira hilária a voz do ex de Hermione.

- Céus, suponho que vocês vão me amolar por isso pelo resto da vida... – falou Hermione, ligeiramente resignada.

- Suponho que sim – disse Harry honestamente.

- Sinceramente, Mione, o que você viu nesse sujeito? – perguntou Rony, tentando não deixar transparecer alguma mágoa na voz.

- É, o que? – quis saber Harry, solidário com o amigo.

- Digamos que ele tinha alguns atributos – disse Hermione, soando misteriosa. E ficou satisfeita com a cara de nojo que os rapazes fizeram, certamente achando que os tais atributos que o homem que foi atirado porta a fora possuía era uma informação que dispensavam obter.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


- A TRINTA CENTÍMETROS DO CHÃO, HARRY “MERGULHO” POTTER PEGA O POMO, SENHORAS E SENHORES! ELE É FO...

- Já chega, Miriam – cortou a imitação de Lino Jordan, Toni M’Bea, pai da garota bonita de onze anos, que junto da esposa Helga e dos dois filhos menores do casal, adentravam o apartamento de Harry e Rony.

A esposa de Toni, Helga era uma mulher trouxa extremamente simpática e todos os amigos do africano a adoravam. Ela era uma espécie de Molly Weasley mais jovem e muito mais magra. Era uma mulher atraente, branca, de olhos claros e de sotaque indefinido. Estranhamente ela e o esposo não gostavam de dar muitas informações de como haviam se conhecido e Helga sempre evitava dizer a sua origem ou nacionalidade. Ela tratava Rony e Harry como irmãos mais novos, ralhando com eles quando faziam alguma “travessura” e insistindo para que ambos se alimentassem direito, pois dizia que os homens só comem porcaria (como se alguém precisasse convencer Rony a se alimentar). Harry a chamava carinhosamente de “Wendy”, numa referência à menina da história de Peter Pan, a mãe dos “garotos perdidos”. Apenas ele, Hermione e a própria Helga achavam graça, por entenderem a referência trouxa.

Helga e Toni tinham três filhos. O pequeno Owen, que tinha cinco anos, Daniel de sete e Miriam com onze anos, que entraria nesse ano em Hogwarts. A filha mais velha da família M’Bea tinha um xodó por Harry desde pequena, o que às vezes despertava algum ciúme dos irmãos menores, que também adoravam o jovem bruxo.

- Ah, pai – reclamou a menina – como eu vou poder me tornar uma locutora famosa de quadribol se o senhor não me deixa demonstrar meu talento?

A garota tinha uma idéia fixa de se tornar locutora esportiva. Abaixo de Harry, seu maior ídolo era Lino Jordan, atualmente o maior locutor de quadribol da Inglaterra, amigo dos gêmeos Weasley e sócio minoritário das Geminialidades Weasley. A mãe tinha que insistir para que ela usasse roupas de menina e não as espalhafatosas vestes lilazes ou prateadas com as quais o locutor se apresentava nos eventos, esportivos ou não.

- Se eu ver você falando algum palavrão novamente eu vou lavar a sua boca com sabão, mocinha! – advertiu a mãe – Ah, olá, Hermione, quanto tempo!

Hermione cumprimentou a amiga, que conhecia desde os tempos da guerra, quando, juntamente com Lilá Brown e outras recém formadas de Hogwarts, havia trabalhado como voluntária no St. Mungus e cuidado de Toni e de outros feridos no assalto final à fortaleza de Voldemort. A jovem estava de saída, vestida com roupas bruxas sóbrias, mas muito elegantes. Rony insistira discretamente com a ex-namorada, tentando, sem sucesso, saber aonde ela iria. Parece que a decisão de sair à noite havia sido conseqüência da resposta a uma das cartas enviadas durante o dia.
- Você está muito bonita, Srta. Granger – disse Harry, colocando na voz um galanteio divertido e beijando a mão da amiga de maneira formal.
- Divina – concordou Toni, com sua voz de barítono.
- Eca! Como você consegue se mexer nessas roupas de... de... – dizia depreciativamente Miriam, que como todos sabiam, fora das vestes lilazes ou prateadas, adorava andar de macacões e bermudas trouxas.
- De garota? – completou Hermione, rindo da franqueza da menina.
- Não ligue para a “miss Lino Jordan”, Hermione – brincou Helga, beliscando discretamente a filha (“Ai, mãe!”) – Você está realmente muito bonita.

- Uau, Mione! Você está uma gata! – disse Daniel, correndo para abraçar a amiga dos pais. O menino gostava de Harry, seu maior ídolo no quadribol depois do próprio pai, mas tinha por Hermione o mesmo xodó que a irmã tinha pelo apanhador.

- Bem, fico feliz que tenha agradado pelo menos um dos irmãos M’Bea – falou a jovem, dando um beijo no rosto do garoto, que apesar do tom escuro da sua pele, ficou rubro na hora.

- Os homens são assim mesmo – disse Miriam contrariada – Logo ele vai sair por aí beijando as garotas na boca que nem o pai faz com a mãe quando pensa que a gente não tá olhando. Credo, é nojento!

- Vamos ter essa conversa daqui a alguns anos e veremos a sua opinião, garota – brincou Hermione, arrancando risadas dos adultos.

Como Hermione sairia para o seu compromisso secreto e Rony iria se encontrar com uma das sua milhares de fãs (dessa vez uma loura jornalista escocesa), os M’Bea foram até o apartamento para evitar que Harry ficasse sozinho. Toni andava muito preocupado com o amigo, preocupação partilhada pela esposa, que gostava muito do rapaz. Como os filhos adoravam o jovem, combinaram que comprariam pizza e ficariam até tarde da noite assistindo filmes bobos e açucarados no aparelho trouxa que haviam ganhado dos donos dos Trasgos.

Rony também estava muito elegante e antes de sair disse de maneira engraçada para Hermione, numa voz que lembrava de maneira divertida a Sra. Weasley:

- Comporte-se, Mione. Não faça nada que das coisas que eu faria.

- Pode deixar, eu não vou dormir com a primeira garota desconhecida que encontrar na rua – respondeu a amiga no mesmo tom, saindo pela porta do apartamento (ela havia chamado um táxi bruxo).

- Bingo! – disseram ao mesmo tempo Toni e Helga.

Rony, fazendo uma cara de poucos amigos, desaparatou a seguir.

- Aposto que ele também fica beijando as garotas por aí – disse Miriam, fazendo uma cara de desgosto. E depois, virando-se para Harry, emendou muito séria: - Sabe, se você quiser casar comigo quando eu crescer, eu prometo não ficar te beijando.

- Coisa errada de se dizer para um garoto, minha filha – falou Toni, após um acesso de riso.

- Ah, ela é muito pequena, ela aprende – completou Helga, abraçando e beijando o marido enquanto as três crianças torciam o nariz.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


A garota alemã certamente não ficaria contente com o jantar romântico desmarcado na última hora. Na verdade Draco Malfoy não estava nem aí. A garota era realmente irritante e só iria sair com ela para não passar mais uma noite de sábado solitário. E a desculpa de um compromisso profissional urgente não era totalmente mentirosa. Garotas só se aproximavam de Draco por causa do seu dinheiro, pensava o jovem executivo. Ou pela excitação de um encontro com um ex-aliado de “Você-sabe-quem”. Há duas semanas quase havia estuporado uma mocinha bonita, mas estúpida, que havia conhecido numa reunião com os proprietários do time de quadribol, um dos quais, patrão da garota.

A princípio ela havia sido muito simpática, mas lá pelas tantas, no jantar, nesse mesmo restaurante em que havia marcado o compromisso de hoje, a garota começou a elogiar os Comensais da Morte, dizendo que seu patrão sempre falava (com razão, segundo ela) que na época do Lorde das Trevas as coisas eram melhores. Draco saiu da mesa em seguida, tendo o cavalheirismo de pagar a conta, não sem antes chamar a garota de burra. Era só o que faltava! O pior é que esse tipo de gente estava em todos os lugares. O que o grande Harry Potter diria se descobrisse que arriscou a vida, apenas para pessoas estúpidas sentirem saudades do Lorde das trevas? Era esse o tipo de gente que ele conseguia atrair com o seu charme loiro e sonserino...

A luxuosa limusine magicamente ampliada e dirigida por Goyle estacionou em frente ao St. Germain, imponente restaurante bruxo de Londres, tido como um dos lugares mais elegantes da cidade pela revista “Bruxa Semanal”. Segundo a mesma insuportável revista de futilidades, “o lugar ideal para encontrar jovens bruxos elegantes e bem sucedidos”. O lugar não permitia que se aparatasse dentro dele ou mesmo nas cercanias para não perturbar a refeição dos clientes. “Do que eles tem medo?”, pensou Draco maldosamente, “De alguém engasgar com a famosa sopa de escargots?”. Era protegido magicamente de trouxas e só táxis bruxos (que operavam agora também por telefone, para o desespero dos magos mais conservadores) ou motoristas habilitados pelo estabelecimento encontravam o lugar.

Na mesa em que havia reservado, uma jovem lia um livro de capa dura, parecendo muito absorta no seu conteúdo. Draco não a via desde o julgamento em que fora inocentado por Harry Potter, dois anos e meio atrás. Já a achava bonita naquela época. Usava agora um pequeno óculos de leitura, que não prejudicava em nada a sua aparência. Seus cabelos, curtos e um pouco mais escuros do que ele se lembrava, continuavam crespos, mas estavam cuidadosamente penteados. Ali estava um tipo de garota que não ligava para a fama ou o dinheiro de um sujeito. Potter e Weasley eram dois retardados por deixarem uma garota dessas solta por aí. E, é claro, é do tipo que chega antes, pois não precisa se fazer de difícil ou de importante. Ali estava, sem dúvida, uma ótima garota.





Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.