UMA DEFESA INESPERADA



O time iria se reunir num salão de uma das construções da Vila para onde os jovens haviam sido conduzidos. Goyle os havia deixado em frente a uma porta imponente, que foi aberta por um rapaz negro, elegantemente trajado como trouxa, que com ar entediado indicou-os um conjunto confortável de poltronas, meticulosamente ajeitadas em frente a uma grande escrivaninha. Nela, Draco Malfoy dava instruções a uma jovem gorducha, cujas vestes bruxas eram um pouco mais apertadas do que deveriam ser.


- Por ora é tudo, Pansy – disse o loiro com a sua voz arrastada, que Harry havia imitado tão bem. A moça era Pansy Parkinson, colega de Draco em Hogwarts. O jovem negro era Blas Zabini, outro ex-sonserino e da turma de Malfoy.


- Parece que o cara empregou todos os amigos – comentou Rony, um pouco mais alto do que deveria.


- Pode ter certeza, Weasley – rebateu Draco, que havia ouvido o comentário do ruivo – Não são só vocês grifinórios que são leais aos amigos – disse de maneira ligeiramente hostil. Depois, desanuviando o semblante, apontou para as poltronas: - Sentem-se, por favor. Fizeram uma boa viagem? Bonita roupa, Potter. Aposto que aquelas adolescentes ninfomaníacas aí fora ficaram loucas.


Rony abafou o riso, enquanto Harry e Gina, por motivos diferentes fuzilaram o presidente do time com os olhos. Harry levemente frustrado por suas roupas não causarem irritação ao “grande presidente”.


Pouco depois chegaram os demais componentes do elenco: Cristófora Toledo, uma moça morena bonita, que deu grandes abraços e muitos beijos em Harry e Rony. Gina a conhecia dos tempos de Hogwarts. Embora a garota fosse realmente muito simpática e uma ótima artilheira quando jogava pela casa de Lufa-lufa, a ruiva nunca gostou do excesso de mimo dela em relação a Harry e Rony. Principalmente em relação a Harry. Sabia que ela havia morado junto com os garotos. Será que ela e Harry?... Não! Decididamente não queria pensar nisso.


Junto com Toledo, havia entrado no salão Toni M’Bea, Krum e um rapaz de altura média, musculoso, que só poderia ser o batedor brasileiro Anderson Lopes (Andy Lopes na Inglaterra, ou simplesmente Andinho no Brasil). O rapaz inegavelmente tinha “braço”, como se dizia na linguagem do quadribol. Ou seja, tinha músculos suficientes para acertar boas bastonadas nos balaços. Era mulato, tinha longos cabelos amarrados em um rabo de cavalo caprichado e, como os demais, vestia roupas laranjas, só que sóbrias roupas de bruxo. O garoto havia sido uma das principais revelações de um torneio para jovens que havia sido realizado há um ano na França. Houve um verdadeiro leilão por ele entre os times europeus, aparentemente vencido pelos Cannons.


Ele deu um grande abraço em todos os presentes e deu dois beijos no rosto de Gina, o que levou Harry a achar que era muita “amabilidade” do rapaz. Gina apenas sorriu. Estava acostumada com os latino americanos, pois conhecera vários no período em que jogou na Itália. Abraços e beijos no rosto, que ao que parece eram normais no Brasil, decididamente não faziam parte dos cumprimentos cotidianos dos ingleses.


Por fim chegou um jovem negro, alto e magro, o cabelo arrumado em pequenas tranças e vestido com um terno trouxa reluzentemente preto, apenas a gravata tinha o laranja do time. Quando falou, destilou arrogância por todo o ambiente.


- Olá. Para quem não me conhece, sou Apollo Cole. Podem me chamar de Senhor Cole. “Cool” Cole também serve. Sou o seu titular em todas as posições, menos apanhador. Não acho muito legal ficar voando sem fazer nada durante todo o jogo. Sem ofensas, claro – disse lançando um olhar significativo para Harry e Vitor Krum, que devolveram o olhar com uma boa dose de hostilidade.


Harry já tinha ouvido falar em Apollo “Cool” Cole, é claro. Sensação do quadribol jamaicano, era um daqueles raros jogadores “polivalentes”, que de uns tempos para cá todos os times cismavam em ter. Jogava como batedor, artilheiro ou goleiro. Mas, claramente era um sujeito intratável. Harry e os demais haviam conhecido durante a guerra seu irmão mais velho Terry, um sujeito decente e que era também um grande jogador na posição de artilheiro. Infelizmente Terry havia morrido e os que o conheceram tinham a nítida impressão que ele não se dava bem com o irmão, a quem, sempre se referia de maneira depreciativa. Provavelmente havia sido contratado a pedido do novo treinador, pois esses adoravam os tais “polivalentes”.


Toni rolou os olhos e olhou para o teto após discurso do recém-chegado. Havia sido muito amigo do seu falecido irmão e achava Apollo um idiota presunçoso e nem tão bom como ele próprio se julgava. Ao cumprimentar pessoalmente cada jogador, murmurou para Harry:


- Você é muito bom, cara! – como se o “Mergulho” Potter precisasse da sua aprovação. Depois, lançando para Gina um olhar cheio de segundas intenções, cantarolou: - E você, gatinha, é muito boa .


Gina olhou para o jamaicano metido com uma divertida cara de desdém, enquanto Rony e Harry estavam prontos para azará-lo. Percebendo o clima, Malfoy chamou a atenção de todos, alegando que precisavam iniciar imediatamente a reunião.


- Bem, primeiro as boas notícias – disse o loiro, de novo impecavelmente trajado, só que agora com vestes bruxas – Como eu não quero cenas de ciúmes e fofocas, eu vou falar sobre o salário dos jogadores. Só o Potter aqui poderia exigir sigilo em relação aos companheiros de time, mas ele abriu mão disso.


- Por que só ele pode esconder o salário dos demais?– perguntou Cole.


- Não se trata de esconder o salário, Sr. Cole – explicou Malfoy pacientemente – Pelas regras impostas pelo sindicato dos jogadores, os atletas podem impedir a imprensa de ter acesso aos seus vencimentos, mas não os colegas. A menos, é claro que o salário seja superior a uma determinada cifra. Suponho que o sindicato dos jogadores queira impedir acordos secretos que prejudiquem o grupo em benefício de um único atleta.


- Quanto o Potter vai ganhar afinal? – quis saber o jamaicano.


- Eu só vou dizer porque o Sr. Potter aqui me autorizou a revelar as cifras – falou o loiro, ligeiramente contrariado. Aparentemente ele também não havia simpatizado com o jogador “polivalente” – Dois milhões de galeões anuais.


Cole assobiou surpreso. Os demais, entretanto, ficaram impassíveis. Ninguém achava que Harry merecesse menos. Apenas Rony e Gina olharam intrigados para o amigo. “Não eram três milhões?”, a ruiva perguntou para o irmão, apenas mexendo os lábios.


- E antes que o Sr. Cole tenha algumas “idéias”, vamos deixar claro, que há uma cláusula de sigilo em relação aos salários. Se alguém vazar informações para os fofoqueiros da imprensa, vai se dar mal comigo e com o sindicato. E garanto que o senhor não gostaria de ter Angelina Johnson, a presidente do sindicato dos jogadores de quadribol, na sua cola – advertiu Malfoy.


- Eu não me importaria de ter aquela potranca na minha cola – disse o jamaicano com seu jeito arrogante.


- E você se importaria de levar um soco na cara? – perguntou-lhe Rony, levantando-se ameaçadoramente.


- Calma, Rony – Toni também havia se levantado e tomado à frente do ruivo – Tenho certeza que o Sr. Cole aqui vai se desculpar por dizer grosserias sobre a sua cunhada – disse o africano, olhando de maneira desagradável para Apollo Cole, enfatizando a palavra “cunhada”.


- Ei, cara, desculpe, eu não sabia – disse o jamaicano, visivelmente constrangido.


- E vai calar a boca também, para que a reunião tenha prosseguimento – acrescentou Toni, as palavras soando ameaçadoras na sua bela voz de barítono.


- Muito obrigado, Toni – agradeceu Malfoy, aliviado com o fim das hostilidades – Bem, retomando, os salários iniciais que foram oferecidos a vocês sofreram um reajuste – acrescentou, satisfeito com a reação favorável que a declaração causou entre os jogadores, e depois mencionou os novos valores.


Nesse momento um eficiente Blas Zabini começou a distribuir alguns pergaminhos encadernados com os contratos dos atletas. Na capa havia um resumo do conteúdo interior. Com os salários devidamente reajustados. Toledo explicava para um confuso Andy Lopes as palavras de Malfoy. Aparentemente o rapaz não dominava inteiramente o inglês. Um sorriso iluminou seu rosto quando ele entendeu o que significava o termo “reajuste”


- Apenas Vitor e Toni conservarão os ganhos originais, pois são investidores – continuava Malfoy, de maneira didática – Eles possuem participação nos lucros e nos contratos de patrocínio. E antes que vocês comecem a se jogar aos meus pés e agradecer a minha bondade ou a bondade dos donos do time, quero deixar claro que os aumentos foram obra e graça do rapaz moreno aqui – disse, apontando para Harry Potter, que o encarou surpreso. Não foi isso que haviam combinado.


- Não me olhe com essa cara, Potter. Se vamos conviver juntos, a melhor coisa é que sejamos sinceros uns com os outros. Eu não quero que vocês – disse, encarando os jogadores - tenham idéias erradas ao meu respeito, achando que eu sou um cara legal. Potter é o cara legal aqui e abriu mão de um milhão de galeões anuais para que vocês fossem aumentados. Talvez ele queira se explicar. Potter?


Harry passou a mão pelos cabelos. Gina sorriu. O velho gesto sempre que precisava dizer ou fazer algo importante. Contrariada, teve que admitir que amava cada gesto dele. E como ele era estupidamente altruísta! Quem, por Merlin, seria capaz de abrir mão de um milhão de galeões anuais para só para aumentar os salários do resto do time?


- Bem – Harry começou a dizer de maneira desconfortável, levantando-se de sua poltrona e encarando os demais – Depois eu mato pessoalmente o nosso digníssimo presidente – disse, lançando um olhar maligno na direção de Draco, arrancando risadas dos presentes – Escutem, sei que o ambiente do quadribol é muito competitivo e individualista, mas eu não sou assim – disse com sinceridade – Não preciso de todos aqueles galeões e acho justo que vocês recebam um salário melhor, já que vamos jogar juntos. Não quero que vocês pensem que estou fazendo favores ou dando esmolas. Também não quero parecer presunçoso. Por isso solicitei ao nosso “amado” presidente – olhou de novo para Draco, que, distraído, assinava alguns papéis – que dissesse que o aumento havia sido obra dele mesmo. Mas, ao que parece, não se pode confiar inteiramente num sonserino.


Houve mais risadas. Draco, mal levantando os olhos dos pergaminhos que assinava, caçoou:


- Uh, Potter, assim você fere meus sentimentos – disse com a voz falsamente afetada – Vamos, pessoal – disse Draco, retomando sua voz arrastada e levantando os olhos na direção dos jogadores – O cara é um santo comunista. Vamos fazê-lo feliz, aceitando a “dádiva”!


- O que é um comunista? – perguntaram ao mesmo tempo Rony e Gina.


- O que é uma dádiva? – quis saber Andy Lopes, atrapalhado ainda com alguns termos em inglês.


Sem explicar o termo ao batedor brasileiro, a jovem peruana levantou-se e deu um grande abraço em Harry.


- Ele é quase um santo sim – disse a garota com um acentuado sotaque espanhol – E se ser comunista é algo bom, certamente o nosso Harry é.


Gina olhou surpresa para a garota (“Nosso Harry?”), mas depois ela mesma aplaudiu o amigo junto com os demais. A exceção foi o jamaicano Cole, que ostensivamente se manteve sentado e com os braços cruzados. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


- Ei “Mergulho”, com essa sua roupa, você finalmente assumiu a sua condição de gay? – gritou o desagradável jornalista Dan Carter, arrancando grunhidos de desaprovação do restante dos representantes da imprensa e dos jogadores do time do Cannons. Apenas Cole e o novo treinador, Aidan Lynch pareceram achar alguma graça.


Se aturar Cole foi um suplício, o pesadelo parecia estar apenas começando quando um sujeito sorridente, ruivo como os Weasleys entrou atrasado na sala conduzido por Zabini. Lynch foi durante muito tempo o apanhador titular da seleção da Irlanda. O seu talento sempre provocou discussões acaloradas. Alguns diziam que, com os artilheiros que a seleção irlandesa possuía, até um pelúcio sem olfato jogaria como apanhador. Havia ainda os que o achavam realmente soberbo, só inferior nos últimos anos a Harry Potter e Vitor Krum.


Sete anos atrás, Harry, Gina e Rony viram Krum arrebentar Lynch após uma Finta Wronski espetacular (jogada que consiste num mergulho em direção ao solo, apenas para iludir o apanhador do outro time) na final da Copa Mundial de Quadribol. Na época, foi o jovem Krum quem mais havia impressionado Harry, tornando-se seu grande ídolo no esporte. O apanhador dos Trasgos viu alguns jogos de ambos nos anos seguintes e sempre julgou o irlandês um jogador dos mais comuns, enquanto sua admiração pelo búlgaro havia se mantido intacta.


Este, entretanto, parecia ter um grande apreço por si mesmo. No tedioso e prepotente discurso que fez ao time, deixou claro que era o homem de confiança dos donos da equipe, o que levou Malfoy a contrair discretamente os lábios, aparentemente não muito satisfeito com sua petulância. O irlandês havia deixado claro que exigira (como Harry havia desconfiado) a contratação do jamaicano Cole, pela sua polivalência, que preferia trabalhar com jogadores experientes (o que levou Toledo, Gina e o batedor brasileiro a emitir grunhidos de insatisfação), mas que “faria o possível com o material humano que havia recebido”. Para fechar com chave de ouro, falou de seu imenso prazer em treinar os “segundos maiores apanhadores do quadribol mundial”, lançando um sorriso indulgente e convencido a Harry e Vitor.


Aquilo aparentemente havia sido demais para Toni M’Bea. O africano passou o discurso todo olhando enojado para aquele irlandês metido. Frente a esse último comentário, perguntou cheio de sarcasmo:


- E você seria o terceiro ou o quarto? – arrancando risadas até de Draco e Zabini, que retornara para dizer que a imprensa estava impaciente.


Harry já estava farto de tudo aqwuilo. Agüentara aquele jamaicano idiota, que ainda por cima ficava se engraçando com Gina. Quase havia morrido de tédio com o discurso de Lynch, e agora tinha que aturar isso! No meio do burburinho geral que se seguiu à pergunta de Carter, Harry se levantou junto à mesa em que estava, em cima de um tablado improvisado, e falou alto o suficiente para que todos ouvissem:


- Em primeiro lugar, gostaria de dizer que não tenho nada contra os gays – o que arrancou alguns aplausos discretos – Em segundo, não sei porque o Sr. Carter tem tanto interesse na minha vida sexual. Ele estaria interessado na minha pessoa? – risadas no recinto – Se ele estiver – acrescentou Harry – é bom perder as esperanças. Ainda que eu fosse homossexual, não me interessaria por um sujeito mal-educado, arrogante, preconceituoso e que ainda por cima fica babando em cima de uma pena de repetição.


Aplausos explodiram dentro e fora do salão. Já havia mais de mil torcedores na praça da Vila, que acompanhavam através de um telão mágico, cortesia da TV Bruxa (“A cor e a imagem da magia encantando o seu lar”), a apresentação da nova equipe.


Rony, muito satisfeito com a resposta do amigo, deu-lhe um amigável tapinha nas costas. Toledo, Krum e Gina aderiram aos aplausos. M’Bea, discretamente, fazia um gesto para o jornalista com o dedo médio da mão direita, enquanto Andy Lopes só entendeu mais tarde, após a explicação de Toledo, o que havia ocorrido.


Draco Malfoy havia se levantado assim que Harry se sentou e pediu a palavra:


- O Senhor Carter aqui tem a péssima mania de incomodar os jogadores de quadribol em geral e Harry Potter em particular – disse com muita dignidade o presidente do time, o que arrancou alguns comentários de concordância no recinto – Gostaria de dizer que, como presidente dos Cannons não irei tolerar comentários preconceituosos e desrespeitosos aos jogadores do meu time.


- Ei, quem esse fedelho pensa que é? – resmungou Carter, obtendo algumas poucas vozes de apoio – Eu vou fazer ao Potter as perguntas que eu acho que devo fazer e que acho que o público quer saber!


- Ah, mas não vai mesmo! – quase gritou o loiro, atraindo olhares surpresos de Harry. Gina e Rony também estavam espantados. Draco Malfoy defendendo Harry Potter? – O senhor tem espalhado boatos absurdos e caluniosos sobre o Sr. Potter e sobre os seus amigos, como esse lixo que saiu no “Profeta Esportivo” de hoje Eu poderia adubar vários jardins de plantas venenosas com essa porcaria.


- Você não pode falar assim com a imprensa!


- Talvez não com a imprensa séria, mas com um monte de bosta de dragão disfarçado de jornalista, eu tenho o maior prazer – disse Draco com os dentes praticamente cerrados.


- UAU! – uma jovem jornalista exclamou. Lá fora, assistindo a briga no telão, os torcedores agitaram as bandeiras laranjas e deram vivas.


- O Sr. Potter é uma pessoa muito educada para tratá-lo como merece. Mas eu não tenho exatamente um nome a zelar. Só digo uma coisa: Ele é um dos maiores jogadores da história do quadribol, não lhe interessa quando ele vai ganhar por ano, não interessa a sua vida sexual. Como se não bastasse o que ele joga, gostaria de lembrar todas as causas sociais e filantrópicas que apóia. E é bom o senhor lembrar também, por sua origem mestiça, que se não fosse ele e muitos dos que estão ao meu lado aqui hoje, o senhor a esta hora estaria numa masmorra do Lorde das Trevas limpando merda de hipogrifos, uma função a altura da sua capacidade intelectual, tenho certeza!


- Você tá me ofendendo, seu...


- Ora, vejo que consegui o meu intento – sorriu cinicamente o ex-sonserino, enquanto aplausos ecoavam por todo o salão e os torcedores na praça entoavam gritos de guerra, alternando os nomes Potter e Malfoy.


Carter ainda tentou retrucar, mas obedecendo a um gesto discreto, mas enfático do seu chefe, Goyle arrastou o jornalista para fora do recinto, em direção à praça lotada, de onde teve que sair às pressas, pois os torcedores o ameaçavam com azarações e sopapos por ter se atrevido a ofender o principal ídolo do quadribol da Inglaterra. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


Mais tarde, de novo reunido com o time, Draco Malfoy discursava para os jogadores e para o treinador Lynch:


- Como vocês puderam ver hoje, eu sou o presidente do time, mas também defendo os meus atletas. Não vou deixar um idiota subletrado ofender o Potter ou qualquer um de vocês. Isso quer dizer, que se vocês tiverem qualquer problema, podem me procurar, mesmo na calada da noite – disse sorrindo e olhando significativamente para Harry – Eu não sou um cara legal, como já disse, mas vocês são o meu investimento, portanto zelarei por todos.


- Aquilo foi muito decente da sua parte, Sr. Malfoy – disse de maneira sincera Toni M’bea, referindo-se à descompostura que havia sido dada em Dan Carter, arrancando murmúrios de concordância dos demais, inclusive de Rony e Gina.


Então “aquilo” aconteceu para Harry novamente. A sensação absurda de vazio e ao mesmo tempo de um peso insuportável. Ele tinha apenas uma vaga idéia de Draco dizendo a M’Bea que poderia chamá-lo pelo primeiro nome, enquanto o africano respondia, de maneira educada, mas firme, que ele precisaria ainda merecer sua total confiança para isso, embora tivesse dado um passo importante hoje.


Harry começou a respirar com dificuldade e sentia um suor gelado formando gotas em sua testa. “Por Merlin, agora não!”, pensou o jovem.


- Tudo bem, Harry? – quis saber uma amável Toledo, sentada próxima a ele. Felizmente, Rony e Gina, nas poltronas próximas, do lado oposto a peruana, ainda prestavam atenção no diálogo de Draco e Toni.


- Muito bem, Toni – concordou Malfoy – Farei o possível para ganhar a confiança de todos.


- Tudo bem, companheiro? – perguntou Rony, vendo o aparente mal estar do amigo. Gina também o olhava preocupada, mas o seu semblante aparentou um claro sinal de desgosto ao ver Toledo segurando a mão de Harry.


- Espero que não façam planos para os próximos dias. Precisamos tratar ainda da assinatura dos contratos e dos patrocínios – dizia Draco com sua eficiência presidencial – E isso é do interesse de todos, pois envolve mais galeões nos seus bolsos. E, Potter, preciso de mais uma palavra a sós.


Assim que todos saíram, Rony, Gina e Toledo, ainda preocupados com Harry, o loiro estendeu a ele um lenço num gesto amigável. Surpreso, levou-o ao rosto, enxugando o suor frio. Depois, recuperando aos poucos o controle, disse:


- Suponho que eu deveria lhe agradecer por me defender do Carter.


- Suponho que sim, Potter, mas eu posso sobreviver sem isso – disse calmamente o loiro, examinando detalhadamente o rosto de Harry – Isso não funciona – disse de repente, surpreendendo o ex-grifinório.


- O que não funciona? – perguntou Harry, confuso.


- O que vocês está fazendo. Eu sei por experiência própria. E, acredite, é perigoso.


Harry riu de maneira nervosa, desconfortável com o olhar astuto do outro sobre ele.


- Eu não preciso de conselhos seus, Malfoy. Não pense que é meu amigo só por que jogo no seu time.


- Eu não penso. Mas gostaria que fosse diferente. Acredite, fui sincero quando disse que o mundo é melhor com você vivo e o Lorde das Trevas morto.


- Ora, escute aqui...


- Não, escute você. Você tem razão, eu não sou seu amigo. Meu interesse em você é puramente comercial, mas eu não gostaria de ver um sujeito decente se afundar, que é o que vai acontecer se você não pedir ajuda. Eu realmente não sou seu amigo, mas você tem amigos, Potter. Não desperdice o fato de tê-los. E faça alguma coisa sobre isso, ou eu vou ser obrigado a falar com os ruivos, o Toni e a garota peruana.


- DEIXE MEUS AMIGOS FORA DISSO! – gritou Harry. Malfoy percebeu que havia mais desespero do que ódio naquele grito. Dando uma última olhada no “garoto que sobreviveu”, o loiro virou-se sem responder e encaminhou-se calmamente em direção à porta, deixando o outro ofegante como se tivesse corrido vários quilômetros atrás do pomo de ouro da sua vida.

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