FESTA





Harry olhava divertido Rony ajeitar o Armani e, vaidoso, mirar-se no grande espelho que havia no quarto. Moravam num espaçoso apartamento de dois dormitórios no Beco Diagonal, bem em cima da Sorveteria Floreans, que não por acaso era a principal proprietária dos Trasgos Diagonais. O apartamento ficava a poucas quadras do acanhado campo de treino do time de coração dos comerciantes da região e até das figuras mal encaradas da Travessa do Tranco. Ele já havia se aprontado há muito tempo e bocejava impaciente com os zelos excessivos do amigo com a roupa. Garotas, pensou Harry.

- Garotas – disse Rony – como se tivesse lido a mente do outro. Elas são fissuradas nessas roupas trouxas de grife. E nessa festa... hum... Loiras, morenas, ruivas...

- E asiáticas, negras, lésbicas, bruxas das trevas... – caçoou Harry. Ah, e não podemos esquecer veelas, mulheres de duendes, elfas domésticas. Ouvi dizer que essas últimas são um estouro na cama!

- Ora, cale a boca! – gritou Roni, entre o riso e a cara de nojo – Só porque o recluso aí dispensa belas companhias femininas, não espere o mesmo do “Maluco” Weasley aqui. Harry fez uma divertida imitação de alguém tendo um acesso de vômito, antes de parar e ficar rígido por um momento.

- Que foi, cara? – preocupou-se Rony. Ele sabia que havia algo errado com o amigo, mas esse se recusava a dar maiores explicações sempre que questionado.

- Nada não. Deve ter sido esse perfume enjoado que você está usando.

Rony olhou-o desconfiado. Conhecia Harry Potter a tempo suficiente para saber que esse não falaria nada que não estivesse disposto a compartilhar, mesmo com o seu melhor amigo. Essas súbitas “paradas” que o moreno dava vinham se tornando constantes. Lembrava um pouco a época de Voldemort, quando a cicatriz que o ligava ao bruxo das trevas o incomodava. Mas agora não havia mais Voldemort. Então não havia perigo. Ou havia?

- Ei, é verdade o que você disse sobre as elfas? - provocou Roni, tentando animar o outro.




Aparataram num imenso salão de Londres onde a festa já estava bem animada por volta da meia noite. Flashs espocaram à presença de Roni e Harry, os garotos-sensação da Liga Inglesa.

“Potter, é verdade que você vai jogar nos Estados Unidos?”, “Weasley, você vai mesmo para Liga Italiana”, “Ei, Potter, o que há entre você e a garota Weasley que joga na Liga Italiana?”, “Potter, é verdade que você é gay??????”

- O quê? – sobressaltou-se Harry com a última pergunta. Ele virou-se para encarar o jornalista que a tinha formulado. Um sujeito baixote, atarracado e com cara de poucos amigos, mais para vilão de filme trouxa do que para jornalista, sorria debochadamente enquanto mastigava de maneira nojenta uma pena de repetição. Era Dan Carter, o mais desagradável e inescrupuloso jornalista esportivo do mundo bruxo. Ele fazia a velha Rita Skeeter do “Profeta Diário” parecer uma pessoa justa e imparcial. Vários jogadores já o tinham acertado nas fuças, mas o infeliz continuava destilando todo seu veneno. Implicava com atletas famosos em geral e com Harry Potter em particular. Como o rapaz raramente era visto em companhia feminina, vinha espalhando o boato que o grande “Mergulho” Potter era gay.

- Ah, claro. Só podia ser você, Carter – suspirou Harry, não disfarçando o asco que sentia do sujeito.

- Ei, amigos! – Roni havia se adiantado a frente dos jornalistas e procurava falar com a simpatia peculiar com que tratava a imprensa, coisa que ele sabia fazer e Harry não – deixem a gente em paz um pouco, sim? Estamos aqui hoje por diversão, sabe, relaxar...- acrescentou com uma piscada para uma bela jornalista loura, que sorriu animada de volta. Eu prometo que eu e meu amigo Harry anunciaremos na semana que vem os nossos planos para o futuro – concluiu dando tapinhas nos ombros dos mais próximos e distribuindo mais sorrisos para os fotógrafos e para as mulheres.

- Quem foi o idiota que nomeou você porta-voz do Potter, Weasley? – de novo Carter voltava à carga.

- Talvez o mesmo que um dia disse que você era jornalista, Carter! – respondeu na pinta Roni, com o mesmo sorriso simpático. Isso arrancou grandes risadas. Carter não era popular mesmo entre os repórteres que cobriam o quadribol.

Quando iam se acomodar numa mesa foram alcançados por uma moça negra, alta, com uma longa trança presa com fios dourados. Deslumbrante com um vestido longo trouxa azul-escuro (cor dos Tornados), Angelina Johnson abraçou e beijou os dois amigos.

- Adorei o jeito que você tratou aquele idiota do Carter, Roni! Calou a boca do imbecil – disse a artilheira dos Tornados, radiante – Venham, nós guardamos lugar na nossa mesa.

Antes que Roni e Harry pudessem perguntar quem eram “nós”, viram os gêmeos Fred e Jorge Weasley, esse último, noivo de Angelina acenando com a cara travessa de sempre aos rapazes. Entre eles, também muito bonita com vestes bruxas vermelhas e prateadas (e a o coração de Harry disparou descontroladamente) estava Gina Weasley. Roni cumprimentou os irmãos e abraçou longamente a irmã, que também era jogadora profissional, só que há dois anos na Liga Italiana.

-Nossa – disse a garota com ar maroto – os dois garotos mais bonitos da festa! – olhando com atenção para os ternos impecáveis que o irmão e o amigo usavam.

Depois de cumprimentar os gêmeos, Harry parou por um momento diante de Gina. Havia muitas questões pendentes e sentimentos demais adormecidos ali. E a maioria não resolvidos. Depois de um segundo de constrangimento mútuo, Gina tomou a iniciativa. Abraçou Harry e beijou-lhe a face, no que foi prontamente retribuída.

- Sério, Harry, você está muito bonito.

Com o rosto vermelho, Harry disse que ela também estava linda.

- Ei, pessoal! – chamou Fred – Lembram quando era a Gina que ficava vermelha perto do Harry?

Todos riram e se sentaram. A noite foi mito agradável. Houve inúmeras piadas dos gêmeos Weasleys, histórias engraçadas do mundo do quadribol, que todos conheciam bem, perguntas incessantes sobre uma possível data de casamento entre Jorge e Angelina, que os dois negavam-se a responder. De repente as luzes se tornaram mais suaves e uma música lenta começou a ser tocada pela orquestra bruxa de plantão. Vários casais encheram a pista. Roni rapidamente encontrou a jornalista loura que mais do que depressa aceitou o convite para dançar. Fred também logo encontrou uma parceira. Uma bela artilheira japonesa que jogava pelo time dos Tornados. Jorge e Angelina, naturalmente, foram os primeiros a tomar lugar na pista. Harry e Gina ficaram sozinhos na mesa. Gina sabia que Harry odiava dançar.

- Sabe... – começaram os dois ao mesmo tempo e depois desataram a rir.

- Você primeiro... – disseram novamente e novo acesso de risos constrangidos.

- Sabe, Gina – Harry finalmente disse – eu acho que a gente poderia voltar ao menos a ser amigos. O que sempre fomos.

- Eu sei, Harry. Eu sei que magoei muito você...

- Não, Gina, nós nos magoamos muito. Eu sinto muito. De verdade.

Em anos, era a primeira conversa que tinha com Harry. Ela podia ver que ele realmente sentia. Ele sempre havia sido tão transparente. Como ela podia não ter acreditado nele um dia?

Abraçaram-se emocionados. Não sabiam o que seria deles no futuro, mas por ora resgatar a velha amizade era muito reconfortante para ambos.

Hum, hum... – Roni Weasley pigarreou alto e olhava divertido para a irmã e o amigo, ainda abraçados, assim como mais três pares de olhos. E todos os fotógrafos presentes. O abraço de Harry Potter e Gina Weasley estamparia todas as capas das revistas e jornais de futilidade do mundo bruxo nas semanas subseqüentes.

- Rapazes, dêem o fora e voltem no café da manhã, quando a gente já tiver terminado nossa noite de sexo selvagem, sabe? – disse em alto e bom som uma irritada Gina Weasley aos “paparazzi” de plantão, ainda abraçada a Harry e sem nem mesmo olhar na direção das câmeras.

Um murmúrio de espanto divertido saiu da boca da maioria dos repórteres e fotógrafos. “Ela falou em sexo selvagem?”, perguntava muito excitada uma jornalista com forte sotaque escocês. “Pra mim eles tão de fingimento só pra disfarçar que o Potter é boiola”. O último comentário é lógico, veio do “simpático” Dan Carter.

Quando todos já tinham retomado os seus lugares na mesa, Harry ainda estava vermelho com o comentário sarcástico de Gina aos jornalistas e as gracinhas que os gêmeos lhes dirigiam. Roni advertiu a irmã:

- Mamãe vai surtar quando ler a declaração da “filhinha” dela nos jornais.

- Ah, Roni, tenha dó! Nem mamãe vai levar esse lixo a sério – desdenhou Gina, enquanto tomava um gole de cerveja amanteigada.

- Bom, mas vocês viram a cara do Carter?- perguntou Angelina divertida - isso estraga a tese dele de que o Harry é gay.

- O Harry é o quê? – assustou-se Gina, engasgando com a bebida.

- É uma longa história – disse Harry aborrecido - Como eu não venho batendo o recorde de... digamos, abates ao sexo oposto como o seu irmão aqui - e apontou para Rony - alguns idiotas da imprensa sensacionalista resolveram inventar que eu sou gay.

- Bem... – começou a caçoar Fred – não diria gay...

- Assexuado – completou Fred.

- Recluso – acrescentou Rony, divertindo-se com a cara de irritação de Harry.

- Monástico, eu diria – adicionou Angelina – percebendo que Gina estava vivamente interessada na vida afetiva de Harry.

Antes que Harry pudesse protestar e os Weasleys perguntar o que era "monástico", um burburinho agitou o salão e de novo flashs espocaram por todo o lado. Desde o fim da guerra era comum ver bruxos com roupas trouxas. Usar roupas de trouxas era um sinal politicamente correto de não pertencer ao Partido das Trevas, que detestava os trouxas e os “sangues-ruins”. Nessas festas era comum ver pessoas usando roupas trouxas de grifes famosas, uma vez que vários comerciantes bruxos vinham se aproveitando dessa "onda". Mas as roupas bruxas tradicionais não haviam sido ainda abandonadas. É com esse tipo de vestimenta que o recém-chegado atravessava o salão. Impecáveis vestes verdes e vermelhas, certamente uma referência à Bulgária, seu país natal. Tinha longos cabelos negros amarrados num elegante rabo de cavalo. Uma barba cerrada e um bigode volumoso igualmente negros contrastavam com a pele muito clara. O nariz adunco, que tanto divertia os cartunistas dos jornais esportivos e as sobrancelhas espessas davam-lhe um ar muito sério e talvez uma aparência mais velha do que os seus vinte e cinco anos. Muito carrancudo, Vitor Krum, apanhador titular da seleção búlgara, uma lenda viva do quadribol atravessou o recinto. Indiferente aos jornalistas, aos jogadores que queriam bajulá-lo ou aparecer perto dele numa foto olhava diretamente para a mesa onde Harry, Angelina e os Weasleys estavam e dirigiu-se de maneira resoluta até eles. Murmúrios podiam ser ouvidos. “O que será que ele quer com o Potter?”, “É verdade que ele vai jogar aqui na Inglaterra”, “È verdade que ele tá tão rico que vai comprar um time só pra ele??”?

- Ei, Krum! O que você quer com o Potter? Ou será que é com a Johnson? – gritou Carter.

Subitamente, Vitor Krum parou e deu um olhar mal humorado para o jornalista. Todos sabiam que Krum era um sujeito não muito simpático com a imprensa. Hoje era capaz de se expressar perfeitamente em inglês, mas a sua falta de paciência com a mídia era mais notória do que a de Harry Potter. Inesperadamente, entretanto, o búlgaro desfez a carranca e fez com que todos prendessem a respiração, pois falou que tinha uma declaração a fazer.

- Bem – começou com seu sotaque característico – como vocês são muito espertos – e deu uma olhada cínica para Carter – não vou esconder de vocês o meu objetivo aqui nessa festa maravilhosa dos Tornados – acrescentou, dando um arremedo de um sorriso, ou o mais próximo disso que conseguia.

Todos estranharam aquilo. Krum raramente sorria diante das câmeras e ninguém o havia visto assim tão simpático. Todos estavam boquiabertos. Tampouco era do seu feitio freqüentar festas, ainda mais de times que não eram o dele. E depois, o que estava fazendo ali? Há dois anos estava jogando na Liga Espanhola, que pagava salários astronômicos a astros como ele. Diziam que estava se transferindo para a Inglaterra. Seria verdade?

- Bem – completou depois de um momento de silêncio – eu vim aqui hoje convidar, em nome do meu novo clube, Harry Potter para jogar junto comigo.

Parecendo muito orgulhoso da declaração dada virou-se para Harry, que a poucos metros dele estava estarrecido com a informação.





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Comentários (1)

  • jully jean potter

    PAREI DE LER AQUIDEPOIS CONTINUO LENDOADOREIE ESTOU LOUCA PARA SABER SE HARRY ACEITA JOGAR COM VICTOR KRUM

    2011-11-02
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