E Então...
~ Capítulo 3 ~ E Então... ~
"Uma lacuna se abriu no meu coração.
Sem perceber, o amanhã chegou.
Noites de insônia preenchidas por miras...
Quero ouvir a sua voz, sentir o seu calor...
Meus sentimentos por você aumentaram, minhas tristezas transbordaram."
Lílian estava deitada de costas, respirando com esforço como se todo o ar no quarto fosse pouco para seus pulmões. Acordara de um sonho estranho, um sonho horrivelmente real. Tremendo, estendeu a mão para o criado mudo, suspirando aliviada quando seus dedos se fecharam em torno do cabo da varinha.
- Lumus – sussurrou, e uma luz amarela iluminou seu rosto.
A luminosidade tênue azulada da manhã se infiltrava por uma fenda no tecido verde-escuro. Uma porção de galhos verde-acinzentados se entrelaçavam ao pé da cama e estavam carregados de pequenas flores brancas que recendiam um perfume que não conheceu imediatamente, algo entre sândalo, arruda, talvez estivesse enganada, mas parecia pimenta também.
O ar gelado sob a pele a fez procurar ao redor um cobertor, mas ao invés disso sua mão pousou em algo quente que ressonava quase que inaudível enquanto se movia em ritmo respiratório.
Então ergueu o corpo, ficando toda rígida com a súbita consciência de que ali não era seu dormitório em Hogwarts e que havia alguém respirando ao seu lado. Mas logo em seguida lembrou que não tinha treze anos, Hogwarts era um passado muito distante e que quem dormia ao seu lado era seu marido, Tiago Potter. Estavam há mais de um mês num acampamento de apoio às batalhas contra Voldermot.
Por que afinal pensara que ainda era estudante? Tinha a ver com o sonho? Tentou se lembrar do que estivera sonhando antes de acordar. Era, sim, uma coisa horrível e muito real. Sonhos tão reais raramente não tinham um significado importante. Mas tudo o que conseguia lembrar era da imagem embaçada, um cômodo escuro, um quarto talvez... sim, um quarto com um berço, um quarto de criança... Tinha também aquela risada aguda e fria. Lílian sentiu os pêlos da nuca arrepiarem ao lembrar. Era mais do que malvada... era cruel.
Apertou os olhos com força e tentou lembrar de mais alguma coisa, mas foi impossível. Tudo que sabia era que, no momento em que a luz verde incidira no berço, sentira uma onda de intenso terror que a trouxera de volta à consciência... ou tinha sido o grito? É mesmo, tinha também um grito, um choro forte de criança. Mas isso era o máximo que conseguia lembrar. Sua mente estava tão confusa, era impossível tentar reter qualquer coisa...
Intrigada, Lílian se acomodou bem junto ao peito de Tiago, toda a sensação de frio a abandonando quase que instantaneamente.
Imerso em sono profundo, o rosto do marido tinha uma serenidade que ela nunca poderia ter observado nele quando acordado. Os cabelos estavam mais despenteados do que o normal e a expressão descontraída a fez lembrar de outra das suas visões – o bebê de olhos verdes que identificara como seu filho.
Lílian ainda achava engraçado como ela e Tiago tinham passado tanto tempo brigando quando no fim das contas tudo ia acabar assim. Ela, toda certinha, andava sempre atrás de uma montanha de livros, acampada permanentemente na biblioteca, seguidora tenaz dos regulamentos e tinha a mania de corrigir todo mundo. Já Tiago era o tipo descontraído, descompromissado, tinha como único objetivo de vida se divertir, mesmo que isso incluísse desconsiderar regras, implicar com Snape e perder alguns pontos para sua casa.
Por outro lado, eram os dois igualmente teimosos e estavam sempre brigando pelas coisas mais banais e estúpidas. De fato, Tiago era arrogante com ela. Não mais do que era normalmente com as outras pessoas, mas isso não justificava. Mas havia algo em Lílian que impedia que ela encarasse qualquer brincadeira numa boa. Ela implicava com cada mínimo detalhe dele, desde os passeios noturnos pelo castelo até a mania de arrepiar os cabelos. Ele também não era muito diferente, sabia como irritá-la.
Lílian e Tiago brigavam por simplesmente tudo. Mas em geral eles brigavam sem motivo mesmo. Alguém que não os conhecesse bem poderia concluir que aquelas eram duas pessoas que jamais dariam certo juntas, mas, como dizia sua professora de Adivinhação, nada é o que parece. Porque, mesmo quando se odiavam a ponto de mal poderem se encarar nos olhos, mesmo eles sendo provavelmente as pessoas mais opostas em toda a Hogwarts, havia algo naquela história que os uniria pra sempre.
E hoje dividiam a mesma cama, estavam casados há quase um ano e formavam um daqueles casais fantásticos, do tipo que você olha com inveja dançando sob uma chuva de folhas amareladas no outono ou travando batalhas de bolas de neve no inverno. Mas pouca coisa tinha mudado de verdade na relação deles, a imagem de um casal pacífico, cheio de eu-te-amo’s gratuitos, era o mais longe da realidade de Lílian e Tiago que se podia chegar. Ela ainda era mandona e ele ainda ficava irritado com a mania dela de corrigi-lo em tudo, eles ainda brigavam pelas coisas mais bobas, mas os sorrisos sonhadores que volta e meia trocavam eram definitivamente os de um casal apaixonado.
E era uma grande ironia que pudessem se sentir assim numa época em que o mundo mágico vivia tamanho caos. Mais e mais pessoas desapareciam a cada dia, para aparecerem assassinadas ou enlouquecidas tempos depois. Pavor era a palavra que melhor descrevia o clima reinante na comunidade bruxa. O próprio Ministério da Magia podia fazer muito pouco para garantir a segurança da população e já nem conseguia esconder dos trouxas o que estava acontecendo. Há dois meses Bartolomeu Crouch havia assumido a chefia do Departamento de Execução das Leis da Magia e dera ampla liberdade de ação aos aurores. Agora eles podiam usar as maldições imperdoáveis contra suspeitos de se aliarem ao bruxo das trevas Voldermot, que se autodenominavam Comensais da Morte. Nada disso dava boas perspectivas quanto ao fim do conflito. Na verdade, tudo parecia estar caminhando para a tragédia total.
Lílian ficava pensando no que ia sobrar do mundo quando um dos lados finalmente vencesse. As pessoas eram tão estúpidas, nunca ficavam satisfeitas até que se tivesse esgotado a última esperança. E o que havia por detrás dela? O que realmente movia essa guerra? O que tinha vivido antes dela e o que sobraria depois? Ela mesma, tudo que podia fazer era lutar, e ajudar a aumentar ainda mais a destruição. Às vezes, Lílian se pegava fechando os olhos e pedindo para acordar e ver que estava em Hogwarts com seus amigos, na época em que não tinha que pensar que uma guerra terrível estava acontecendo.
Tiago se mexeu ao seu lado e começou a se contrair, despertando vagarosamente. Primeiro uma pequena fenda nos olhos, depois a serenidade dado lugar à feição que Lílian estava acostumada a ver em seu rosto.
- Você chorou de novo? – perguntou, passando os dedos pelo rosto dela, limpando as lágrimas que só então ela percebeu ter chorado.
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Querida Marlene,
Hoje só tenho notícias tristes e deprimentes a contar. Dumbledore está liderando um grupo de reconhecimento de campo que saiu dos limites do escudo, o que quer dizer que agora é minha responsabilidade cuidar para que o feitiço de proteção sobre nossas cabeças continue intacto. Tiago ficou com a tarefa de coordenar todos nós. Você jamais imaginaria como ele pode levar esse tipo de coisa a sério, nem de longe lembra o monitor-chefe medíocre e completamente relapso que costumava ser na escola.
Nossos pensamentos mudam tão pouco quanto nós. Vão da ajuda aos doentes, à manutenção da segurança e à administração de água e comida. Eu sei que nossas vidas em Hogwarts não eram livres de ansiedade, já que todo mundo conhecia alguém que tinha um parente que tinha sumido na última semana. Mas depois da formatura os bons tempos foram poucos e cada vez mais espaçados: primeiro veio a guerra, depois a Ordem, mais assassinatos, mais violência, e foi então que os trouxas começaram a sentir os efeitos do conflito também. Não devemos ficar fora depois do anoitecer, não devemos voar longas distâncias em vassouras, não devemos falar com estranhos nada de importante, se possível, não devemos falar com estranhos. E agora estou presa nesse acampamento depressivo, lutando numa guerra sem sentido, tentando manter minha crença de que um dia tudo vai acabar e vou poder viver um pouco. Quando penso naquela vida despreocupada que levávamos na escola, tudo parece tão irreal. Eu era tão diferente naquela época, sempre tão impetuosa, a senhora disposição, nem mesmo consigo me reconhecer.
Fiquei sabendo que o irmão da Amélia morreu em combate. Há rumores de que os Comensais começaram a fazer prisioneiros. Não sei se isso chega a ser algum consolo, não acredito que Voldermot seja muito legal com eles, devem estar sendo horrivelmente torturados... Excelentes espécimes da humanidade esses Comensais da Morte, e pensar que eu estudei com muitos deles!
Bom, suponho que as coisas não estejam tão ruins por aqui afinal, ou pelo menos poderiam estar bem piores. Imagino como a situação deve estar em lugares onde não há Dumbledore para organizar uma resistência. Sinto que temos realmente muita sorte.
Faz um calor insuportável, sufocante, e todo mundo anda bufando e se abanando ou soprando ar frio com a varinha, mas pelo menos é melhor que a chuva interminável que tivemos nas últimas semanas. Tínhamos que andar debaixo de capas, feitiços não adiantavam muito. Eu sinceramente prefiro ficar suando que batendo os dentes de frio, toda molhada e enfiada até os joelhos na lama. Mas agora está tudo bastante silencioso, a não ser pelos gemidos dos feridos ou daqueles que, ao cederem ao cansaço, se deixam fechar os olhos por um minuto e logo em seguida acordam de um pesadelo, totalmente apavorados.
Aine tem feito grandes milagres como curandeira, considerando que as poções revigorantes acabaram. Eu francamente não gostaria de estar no lugar dela, ontem Matilde chegou com o braço dilacerado por uma Azaração Ferreante. Pelo jeito há Comensais especialistas nessa maldição.
Semana passada foi meu aniversário, você deve saber, e todos foram muito gentis comigo. Mesmo assim, sinto que a cada dia me afasto mais dessas pessoas. Às vezes acho que até Tiago está muito além do meu alcance. Tenho pesadelo com gritos e luzes esverdeadas cada vez que meus olhos se fecham. Faz tempo que Tiago percebeu meu sono agitado e suspeito que eu esteja falando enquanto durmo, porque sempre que acordo ele está me olhando assustado, como se eu fosse uma espécie de bomba prestes a explodir. Pra piorar tudo, tenho crises de pânico quando ouço os assobios dos feitiços acima de nós.
Eu realmente me sinto um fardo quando começo a chorar desconsolada quando devia ajudar os outros a manter a calma. As pessoas não gostam quando Tiago acende a luz à noite pra me consolar, mas eu preciso muito de um pouco de luz às vezes. Sei que é egoísmo da minha parte, mas nunca me senti mais indefesa em toda a minha vida. Por isso agora ele me leva para dormir junto ao posto de vigilância, onde sempre tem uma pequena tocha acesa.
Ontem acordei com um estrondo tão alto que fiquei esperando que tudo ao meu redor voasse pelos ares, mas nada aconteceu. Subimos à torre de vigia e descobrimos que um feitiço incendiário tinha atingido uma das enfermarias.
Acho que nenhum dos bruxos internados lá se feriu ainda mais, Mundungo nos disse que a enfermaria estava quase vazia. Eu já estava indo dormir de novo, mal conseguindo me agüentar em pé de tanto que meus joelhos tremiam, quando ouvimos outra explosão e, em seguida, uma saraivada maciça de ataques fez o chão tremer sob nossos pés. Acho que abracei Tiago com tanta força que devo ter machucado ele.
Depois me meia hora, o acampamento voltou a ficar silencioso e todo mundo começou a correr de um lado para o outro, cheios de coisas para fazer, mas eu só conseguia chorar.
Geralmente isso não acontece. Muitas vezes, estou tão imersa em meus pesadelos que só acordo quando os trovões dos ataques já passaram.
Às vezes ouvimos risadas, sim, ainda tem gente capaz de rir aqui. Sírius é um deles. Não sei como ele consegue. Cada vez que esboço um sorriso, me lembro que é uma desgraça se sentir alegre. E eu me sinto tão egoísta, pensando sobre depois da guerra e ficando ansiosa pelo dia em que finalmente eu e Tiago poderemos construir a nossa família de verdade, e sei que devia estar mais preocupada em ajudar essas pessoas que a cada dia perdem tudo em atentados trágicos.
Eu poderia passar horas escrevendo sobre o sofrimento trazido pela guerra, mas você sabe muito bem o que é isso, está mais acostumada que eu com esses acampamentos. Só podemos esperar e esperar, com toda a esperança que temos, que isso tudo termine logo, embora muitos já não esperem mais nada.
Afetuosamente,
Lily.
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Sim, sou eu d novo e dessa vez aproveito pra desejar feliz páscoa pra todo mundo e muito chocolate também =P
esse capítulo quase não sai, + eu andei tendo umas aulas d geografia q acabaram me ajudando a ter idéias (tudo a ver, neh? ^-^')
sobre o trecho no início do capítulo: eh um pedacinho de uma j-pop tema do anime Saikano, eu realmente não sei como se chama u.u’
brigadaum pelos coments: Bárbara, Natália (legal a sua fic, gostei msm ^^), Punker Potter, Arkanusa (q nick doido o.o), Mione Lupin (pode deixar q vou atualizar todo sábado) e Deby (essa revirada de olhos foi soh uma pistazinha, vou explicar tudinho q aconteceu com eles)
ateh sábado q vem então e continuem dizendo o q estão achando o/
Bel_Weasley
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