Capitulo 20
Capitulo 20
Sua incredulidade aumentou quando chegaram em Metolius e ele se viu parado à entrada da suntuosa propriedade, rodeado pela família de Lilian, duas tias e mais um tio, todos o abraçando como se fosse um filho voltando para casa depois de muito tempo. Não houve uma única palavra de reprimenda sobre o que ele fizera com Lílian e Ammy, apenas boas-vindas e alegria.
Ainda atordoado, Thiago foi levado por uma grande escadaria até um amplo quarto, onde havia uma banheira cheia de água ao lado da lareira. Criados o aguardavam para atendê-lo. Foi banhado, depois vestido com uma túnica de seda. Após a refeição, um verdadeiro banquete, ele foi guiado até uma grande cama de dossel, onde se deitou e adormeceu assim que fechou os olhos.
Já era noite quando Thiago despertou, sentindo-se um novo homem depois de ter comido e descansado. Sabia que estava em Metolius, com a família de Lily. O motivo de estar ali ainda era um mistério, porém fazia muito tempo que ele aprendera a não questionar a sorte.
Suas roupas tinham sido lavadas e secas, mas o criado que o esperara acordar implorou-lhe para que aceitasse as novas vestimentas que sir Alvo trouxera. James concordou, imaginando que não fossem servir. Para sua surpresa, a calça e a túnica de veludo lhe caíram como uma luva, quase como se tivessem sido confeccionadas para ele.
O criado lhe confidenciou que assim que a srta. Lilian partira, sir Dumbledore mandara preparar um guarda-roupa completo. Fazia vários dias que as roupas estavam ali. Thiago olhou para o jovem com descrença, mas ele lhe garantiu que era a mais pura verdade.
— Sir Dumbledore deseja lhe falar, sir James Potter — disse o criado, assim que Thiago terminou de calçar as botas, tão confortáveis quanto seu antigo par.
— Um momento, sim? — pediu ele, penteando os cabelos com os dedos e enfiando a mão no bolso da túnica antes de seguir o criado para fora do aposento. — Antes eu gostaria de falar com sir Culain, por favor. Preciso lhe devolver algo, e é urgente.
Aberforth Culain Dumbledore Evans, bem como as tias de Lílian, Ariana Mim Dumbledore Evans e Laverne Wynne Dumbledore Evans, estavam sentados na elegante sala de estar, pela qual ele passara ao entrar em Metolius. Todos se levantaram para cumprimentá-lo. Aberforth estava sentado diante de uma mesa de xadrez, e as duas mulheres perto da fogueira, olhando para uma pequena caixa de madeira.
— Finalmente você veio! — exclamou uma delas, com expressão de alegria. — Esperávamos que você acordasse para jantar conosco.
— Não será um grande prazer sentarmos todos juntos? — perguntou a outra, sorrindo. — Ele não é lindo, Ari? Nossa Lily escolheu muito bem.
— Muito, muito bonito — respondeu ela. — Não será uma honra ter a companhia de um homem tão bonito quando sairmos para passear? Todas as mulheres nos invejarão!
As duas caíram na risada e o abraçaram, uma de cada lado.
— Deixem-no em paz, meninas — pediu Abe Culain, tomando a mão de Thiago entre as suas. — Ele acabou de chegar. Precisa descansar e recuperar suas forças antes da chegada de Lilian. — Ele olhou esperançoso para Thiago. — Por acaso você gosta de jogar xadrez?
— Gosto — respondeu ele —, e será uma grande honra disputar uma partida com o senhor. Agora devo ir falar com sir Alvo, mas antes queria lhe devolver isto. — Ele tirou a rainha de xadrez do bolso, segurando-a na palma da mão. — Não vou negar que sentirei sua falta, Boadicea. Saiba que estou muito contente por tê-la trazido de volta para casa. Agora você está a salvo.
Ele entregou a rainha ao outro homem, que a pegou com as mãos trêmulas.
— Ah, meu Deus! — exclamou Culain com os olhos cheios de lágrimas. — Achei que nunca mais fosse vê-la. Que bom que você a trouxe de volta para mim, Thiago James Potter. Muito obrigado. — Os olhos azuis da rainha brilhavam. — Obrigado. — Aberforth virou-se e saiu da sala, conversando com a peça, sem ao menos se despedir das irmãs e de Thiago.
— Não é maravilhoso — disse Ariana, enxugando os olhos. — Não é?
— É uma grande alegria saber que Abe recuperou seu mais estimado bem — concordou Wynne. — Ele sentiu muito a falta da rainha.
— Acho que também tenho algo que lhes pertence, minhas senhoras — contou Thiago, revelando a pedra da luz. — Também sinto muito por ter de me separar desta pedra, pois essa dócil criatura me deu enorme prazer durante minhas viagens com Lilian, iluminando nossas noites escuras.
— Ah, Ari, não temos muita sorte por ter James conosco? Ele tem um coração tão bom! Não, meu querido, a pedra fica com você. Ela tornou-se sua, e não mostrará sua luz a mais ninguém.
— É verdade, Thiago — concordou Ariana. — Fique com a pedra, caso contrário ela sofrerá por você, o que será uma grande tristeza. Você quer ficar com ela, não quer?
— Muito — respondeu ele de imediato. — Eu lhes agradeço do fundo do meu coração.
— Mas que homem maravilhoso — suspirou Ari. — Ele será tão bom para Lily. É exatamente do que ela precisa.
— É mesmo. É perfeito. Nós não poderíamos ter escolhido melhor. E nem tão bonito!
Thiago guardou a pedra no bolso, deliciando-se com a adulação das duas senhoras.
— Alvo o aguarda, Laverne. É melhor que ele vá logo. — Ariana ficou na ponta dos pés para beijar-lhe o rosto. — Vá depressa, meu querido — disse ela, como se estivesse falando com seu sobrinho predileto. — Nós nos encontramos no jantar.
— Sim. — Laverne também o beijou. — Teremos tanto que conversar! Corra para se encontrar com Alvo. Aposto que ele está muito ansioso para falar com você.
Aquelas eram as mulheres mais adoráveis que James já conhecera. Ele beijou a mão de ambas e pediu licença para se retirar antes de virar-se para o criado que o aguardava à porta.
O homem o levou por um longo corredor, depois por outro, e finalmente desceram uma escadaria até chegar ao porão. O criado se inclinou, puxou um anel de ferro e abriu a porta. Uma nuvem de fumaça vermelha, cheirando a pólvora, inundou o ar.
— Sir Dumbledore o aguarda lá embaixo — anunciou o criado, balançando a mão na frente do rosto.
A fumaça se dispersou o suficiente para Thiago enxergar os pequenos degraus que seguiam até o aposento subterrâneo.
— Muito bem. — Respirando fundo, ele começou sua descida. A escada parecia ter sido feita para uma criança, de tão pequenos que eram os degraus. Thiago foi obrigado a pisar de lado para não cair e rolar até o final.
— Milorde? — chamou ele, tentando enxergar através da fumaça cada vez mais densa e pungente. — Sir Alvo?
— É você, sir Potter? - James começou a tossir.
— Sim!
— Um momento, milorde. Essa fumaça sumirá dentro de um instante.
Houve um brilho familiar de minúsculas estrelas púrpura, e a fumaça vermelha se dispersou imediatamente, desaparecendo de uma vez. Thiago se viu no centro de uma câmara estranha e cavernosa, iluminada por milhares de pedras brilhantes como a que tinha em seu bolso. Alvo Dumbledore, parecendo um mago com suas roupas roxas, estava atrás de uma mesa de madeira cheia de pequenos vidros, frascos e potes coloridos. Ganchos de madeira na parede atrás dele sustentavam inúmeros sacos de couro, cheios de pó e outras substâncias secas, imaginou Thiago.
— O senhor deseja falar comigo, sir Alvo? — perguntou ele, fazendo uma ligeira mesura.
— Sim. Sente-se aqui. Há uma mesa e algumas cadeiras ali — falou o homem, seguindo para um canto escuro e distante do aposento. Entretanto, à medida que eles se aproximavam, pedras da luz colocadas em conchas se iluminavam, enquanto as que ficavam para trás se apagavam. James parou para olhar para trás.
— Você se incomoda, sir Potter? Elas ficarão contentes em acender de novo se você assim desejar.
— Não, de jeito nenhum — garantiu Thiago, pegando sua pedra da luz e colocando-a em cima da mesa. Ela se iluminou de imediato, unindo-se às irmãs. — Estou acostumado com as pedras. Veja só, essa é minha. É um tipo de amuleto.
— Que ótimo. — Alvo pegou dois copos e uma garrafa de vinho. — Ariana Mim e Laverna Wynne adoram as pedras e as mimam até não poder mais.
— Agora eu compreendo. Eu me sinto muito apegado à minha.
— Aposto que Lilian teve certa dificuldade em ficar à vontade com a pedra durante a viagem, não? — Ele indicou uma cadeira. — Sente-se, por favor. É um vinho espetacular. Lily nos trouxe da Itália da última vez que esteve lá. Várias garrafas. Eu não sou entendido no assunto, mas Lilian tem uma natureza tão prática e capaz… Não sei o que seria de nós sem a nossa querida sobrinha. — Ele fechou a garrafa e olhou para Thiago, ainda em pé. — Ela torna nossa vida possível, se é que você compreende.
— Sim, compreendo perfeitamente. — O coração de Thiago disparou. — Não precisa dizer mais nada, sir Dumbledore.
— Ah, preciso, sim. Eu nem comecei… Por favor, James, sente-se para eu poder fazer o mesmo. Meus joelhos já não são tão fortes quanto antes.
Thiago obedeceu ao tio de Lilian e esperou que ele se sentasse para dar um gole em seu vinho. Era de uma boa safra, mas não conseguiu desfrutar a bebida devido ao nervosismo que o consumia. Preferia estar em Newgate, aguardando a morte, e não ali, na casa dela. O que seria de sua vida quando fosse expulso de Metolius, da vida de Lilian para todo o sempre? Imaginou que talvez pudesse procurar Sirius Black e voltarem à antiga vida, mas não. Era tarde demais. Sirius não precisaria de seu antigo mestre como sombra em sua nova vida com Ammy.
— Você ama Lilian? — perguntou Alvo, de repente.
— Sim. — Thiago respondeu sem hesitar. — Demais. Pelo menos acredito que seja amor. Se não, é algum tipo de doença enlouquecedora que parece ter me roubado toda a razão. Um tormento sem tamanho.
— Nunca escutei uma melhor descrição para o amor. Mas como isso aconteceu? Petúnia me disse que você é o tipo de homem que tem as mais adoráveis mulheres a sua disposição.
— Ela disse? — Desde o primeiro encontro com Petúnia, Thiago nutrira simpatia pela jovem, percebendo que eram pessoas bastante parecidas. — Na verdade, não sei como me apaixonei por Lilian. Entretanto, aconteceu e não há como mudar esse sentimento. Saiba que tentei ao máximo tirá-la da minha cabeça, pois sei que não podemos ficar juntos, de acordo com a lei. E eu não lhe pediria para ficar comigo de outra maneira.
— Você não pode me dar uma explicação melhor? — pediu Alvo.
Thiago deu um longo gole em seu vinho e colocou o copo a sua frente. Então limpou a boca e respirou profundamente, ficando pensativo por alguns instantes.
— Lilian tem uma característica que me encanta. Ela não é fútil ou convencida como as outras mulheres. É uma pedra preciosa em meio a tantas jóias comuns. Como a Pedra da Graça, creio eu.
Thiago sorriu, sentindo-se tolo. Alvo o encorajou a continuar, com o olhar.
— Até hoje, a minha vida foi muito simples, milorde. É provável que eu seja o homem mais desprezível sobre a face da terra. Mas as mulheres se encantam comigo graças aos meus traços e simpatia. Eu sempre tive todas que desejei, sem precisar fazer o menor esforço. E elas sabiam que eu era um homem do qual podiam se aproveitar e depois ir embora. Mulher alguma quis ficar comigo para sempre. Sendo bastardo e ladrão, ninguém me recomendaria como marido, apesar da nobreza de meus pais. Sempre fui procurado como amante, e como tal fui considerado valioso. Um objeto de desejo. Só que com Lilian não foi assim. — Ele soltou uma risada amarga. — Ela não encontrou uma característica em mim que a agradasse, por mais que eu tenha tentado mostrar. Na verdade, ela me desprezou de início, e admito que foi merecido, pois a raptei. Sim, ela me odiou.
— E com o tempo esse ódio foi passando? — pressionou Alvo, enchendo o copo de Thiago.
— De certa forma. Eu já tinha me apaixonado. O rosto anguloso, os olhos expressivos… Eu conseguia ler todos os seus pensamentos só de olhar para ela. Fiz questão de lhe contar que não era um homem digno, e mesmo assim Lily se importava comigo. Ela se apaixonou por mim — disse ele, maravilhado com o simples pensamento. — Foi quando descobri que não conseguia ficar longe dela.
James desviou o olhar, franzindo a testa.
— E era o que eu deveria ter feito. Meu único consolo é não a ter desonrado. Eu lhe imploro que acredite em mim, sir Alvo. O homem que se casar com Lilian terá uma mulher intacta. — As palavras eram extremamente dolorosas de proferir, pois Thiago não conseguia suportar a idéia de imaginá-la com outro.
— Disso eu tenho plena certeza — disse Alvo. — Diga-me, James, você fala gaulês?
— Não, mas gostaria. Lilian fala tão bem. Eu acho muito… — sensual, ele quase disse, mas se conteve, terminando a frase com "lírico".
— Acredita nos antigos costumes? — perguntou Alvo.
— Em magia?
— É uma forma de dizer o que consideramos natural, mas concordarei com a palavra.
Thiago ficou pensativo por um instante.
— Sim. Acho que sim. Quando estávamos em Pentre Ifan, eu vi um elfo… ou alguma criatura do tipo. Ele tentou roubar a rainha de xadrez e me mordeu quando tentei pegá-la de volta. Ainda tenho a cicatriz. — ele levantou a mão para mostrar o ferimento. — E ele me chamou por um nome esquisito.
— Eu sei. Lorde Potter. Lilian lhe contou o que isso significa para nossa família?
— Não sei nem o que significa para os outros eu ser chamado de Lorde— confessou Thiago, desculpando-se.
— Você será obrigado a aprender gaulês James. Esse é o seu destino, meu filho. Aceita mais um pouco de vinho? — Alvo encheu o copo de Thiago, depois recostou-se na cadeira e bebeu o seu. — Uma criatura máfica chamá-lo de Lorde significa promessa. Há uma lenda muito antiga na nossa família dizendo que um "lorde prometido" surgiria para guiar e dar poder às gerações futuras. E não seria um Evans. Ele seria nomeado pelas criaturas em que hoje acreditamos, entre elas as fadas de Pentre Ifan. Esse homem seria chamado lorde Potter, batizado por aqueles que o escolhessem.
Thiago endireitou-se na cadeira.
— Milorde, temo que esteja equivocado. Não sou o homem de quem está falando.
Alvo o fitou com simpatia.
— Sinto muito se você não gosta, mas você é o tal homem. Os Evans não questionam a determinação daqueles que têm maior sabedoria.
— Lilian lhe contou? — perguntou James. — Ela lhe escreveu?
— Não, não escreveu. Eu soube do ocorrido de outra maneira, antes de você ter partido de Gales. As evidências de que você é o escolhido são fortes. Você pode não aceitar, porém, agindo assim, estará rejeitando muita coisa.
Thiago tentou não rir, mas não conseguiu.
— Eu sou um bandido, um ladrão. Essa escolha só pode ter sido um erro.
— Foi o que você pensou quando descobriu que Lilian o amava?
— Sim, com certeza.
— Então, meu filho, acho que você se enganou, tanto em relação ao amor de Lilian quanto à escolha do lorde prometido. Diga-me, você gostou de Glain Tarran?
— Eu nunca vi.
— Como assim? Lilian não o levou até lá?
— Ela disse que nem sempre aparecia.
— Você deveria ter visto! — protestou Alvo, indignado. — Agora é a sua propriedade, o trono de seu poder. Você é o chefe da família, sendo digno de todos os poderes. E um direito seu ver a propriedade que lhe pertence. Bem como todo o resto.
Thiago olhou para o velho, imaginando se sofreria de alguma doença mental, pensando em como toda aquela história aborreceria Lilian.
— Sir Dumbledore, não se exalte. Eu farei tudo que me pedir, mas peço-lhe que mantenha a calma.
— Meu caro, você deseja ter Lilian como esposa?
— E tudo que eu mais desejo na vida — confessou ele. — Sei, contudo, que é um sonho impossível.
— Não é, meu lorde Potter. Tudo que você tem a fazer é aceitar o seu destino. E simples como parece. Charme e habilidades não lhe faltam. São essas as qualidades mais importantes em um líder. Não se preocupe, Lilian cuidará de todo o resto.
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