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Existem verdades inconvenientes, que devem permanecer escondidas por toda a eternidade. As mentiras são mais fáceis, simples e confortáveis. Foi num dia de chuva que a verdade começou a aparecer na casa da família Bacelar. Aurora era uma menina de onze anos, com longos cabelos castanhos e expressivos olhos negros. Era também uma garota triste, nunca conhecera a mãe e há menos de um ano, perdera o pai. Vivia na companhia de sua madrasta e de duas irmãs, Aline e Eliane.


                Sua madrasta, Kátia, conhecera seu pai quando Aurora tinha sete anos, portanto, suas irmãs, que contavam doze anos, não eram filhas de seu pai, as duas gêmeas e Aurora eram irmãs por consideração.


                Kátia era uma mulher fria. Aurora nunca chegou a entender o porquê de seu pai ter casado com uma mulher que não conseguia demonstrar os próprios sentimentos. Nem mesmo suas filhas biológicas recebiam tanta atenção, e muitas vezes Aurora era tratada como uma intrusa na casa, principalmente, após a morte de seu pai. Às vezes, a garota imaginava que a madrasta tinha nojo, ou talvez ódio, que ela não conseguia compreender.


                A mesma repulsa era sentida por uma das irmãs, Aline. Ela sempre excluía Aurora das brincadeiras, lhe tirava as bonecas, ou qualquer brinquedo que carregasse. Parecia-se com a mãe, talvez, apenas a altura fosse diferente. Já Eliane, que era idêntica a irmã fisicamente, tratava Aurora de outra forma, era gentil, carinhosa, e muitas vezes, protegera ela dos abusos de sua gêmea.


                Naquela tarde chuvosa, Aurora não desgrudava da janela, olhando o céu nublado e a água que se acumulava no jardim, ela observava com o máximo de concentração possível as gotas de chuva transformarem-se em água corrente. Ela imaginava como seria difícil ser uma formiga, ou qualquer outro ser que habitava o jardim durante um dia de chuva. E apesar de gostar de água, detestava o frio, entretanto seus pensamentos foram interrompidos com a campinha.


                Eliane levantou-se do sofá, e interrompeu sua leitura, enquanto Kátia tricotava uma nova roupa para o seu pequeno cachorro e Aline assistia uma maratona de desenhos animados. Aurora acompanhou a irmã com os olhos e quando abriu a porta ela viu um homem. Ele cumprimentou a irmã e pediu que chamasse a senhora Bacelar. Eliane voltou a sala e chamou a mãe, que a contragosto levantou-se e foi até a porta. Aurora decidiu ir acompanhar a conversa, já não se importava mais com a chuva.


-Boa Tarde – cumprimentou o homem, tirando o chapéu


-Tarde, queira entrar, por favor – disse Kátia, enquanto Eliane fechava a porta – O senhor deseja falar comigo, mas não disse-me o assunto, agora que estamos na privacidade do lar, pode me dissê-lo?


-Obviamente – disse o homem um pouco desconcertado arrumando os óculos de aro redondo – Em verdade trago uma carta, em princípio, seria enviada pelo correio-coruja, mas haja vista ser um assunto excepcional, eu decidi que era melhor eu mesmo entregá-la


                Aurora observou as frias e ossudas mãos de sua madrasta abrirem o envelope. Os olhos da mulher leram sem qualquer emoção a carta. Então, ela olhou para Aurora, que assustou-se. Kátia pediu que a enteada se aproximasse.


-Acho que o momento que seu pai me advertiu em seu leito de morte chegou – disse com aspereza – Sua mãe, lembra-se que seu pai disse que ela morreu doente?


-Sim, mas ele nunca me disse exatamente a doença, disse que era desconhecida – Aurora respondeu


-Pois bem, sua mãe morreu assassinada – os olhos de Aurora arregalaram-se e o homem a olhou com piedade – Ana Bacelar, morreu atacada por um bruxo das trevas, porque...


-Sua mãe era bruxa Aurora e você também – o homem completou, mas Aurora olhou impassível, não acreditara em nada – É o que está carta diz, escrita e enviada pela professora Minerva MacGonagall, diretora da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts – mas a menina balançava a cabeça


-Desculpe esconder isto por tanto tempo, mas seu pai temia por sua segurança e me pediu que lhe contasse apenas quando a carta fosse enviada – a menina abraçou a madrasta abruptamente e as lágrimas correram, mas Kátia ficou estática, não abraçou a enteada, parecia uma estátua – Tudo bem Aurora, já lhe expliquei que moças não choram – e a menina soltou-se


-Então, a senhora vai permitir que Aurora estude em Hogwarts? – Eliane perguntou, parecia ser a única alegre com a novidade, a mãe assentiu


-Pedro escreveu em seus atos de última vontade, está no testamento, além disso, há uma herança da mãe de Aurora no banco deles – e apontou o homem com certo desprezo – Só não quero que ela faça coisas esquisitas sobre este teto, ou me envergonhe na vizinhança


-Isso não acontecerá, bruxos menores não podem usar magia fora dos limites da escola – garantiu o homem, e mirou Aurora, que estava começando a parar de chorar – Quer ser uma bruxa? – a garota assentiu, era o que queria, sua mãe fora bruxa


-O que está acontecendo? – Aline apareceu e indagou isto ao ver a cena


-Aurora é bruxa – respondeu Eliane excitada


-Ah, que bobagem é esta mamãe? – olhou Aurora com desprezo e voltou-se para o homem – E quem é o senhor, um palhaço de circo pra dizer que esta órfã é especial?


-Que falta de educação é essa?! – repreendeu-a Kátia


-Sou Harry Potter, auror do Ministério da Magia, não que senhorita saiba o que é ou que seja de sua conta – e voltou-se à Aurora – As aulas começam depois de amanhã e eu vim para buscá-la


-Gilma, Gilma – chamou Kátia, e uma senhora usando uniforme apareceu – Por favor, apronte as malas da Aurora, ela deve viajar hoje mesmo – e a mulher seguiu ao quarto da garota


-A senhora entende que ela corre mais riscos no mundo da magia? – Harry indagou


-Entendo que aqui ela põem em risco toda minha família – Aurora olhou triste – Se me dão licença tenho mais o que fazer, se quiser conversar com ela em particular, pode usar o escritório – e apontou um cômodo à esquerda


-Tudo bem Aurora? – ela assentiu


-Mas Eliane pode ir conosco? – Harry assentiu e os três seguiram ao escritório 

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