FINALE

Os últimos dias que se passaram foram de tratamento intensivo para Rony e Hermione, que permaneceram na enfermaria por mais tempo do que os outros. Gina, Luna, Neville, Tina e Lia foram logo liberados, mas os vergões nos braços de Rony e as costelas quebradas de Hermione conferiram trabalho extra à Madame Pomfrey.

Tina e Lia não voltaram a rever Pierre e Andréa e depois do incidente no Ministério e, embora aquela idéia parecesse delirante, elas bem que gostariam de encontra-los e terem a chance de falar com eles, perguntar sobre seu mundo, receber diretamente deles informações que lhes foram passadas por Dumbledore, McGonagall e Ramsés.

Na manhã da véspera do início das férias de verão, Cecília adentrou a ala hospitalar com uma carta nas mãos, parecendo muito radiante e feliz. Encontrou Hermione sentada na cama, com Rony aos seus pés lhe colocando os sapatos.

—Vim assim que Harry contou que vocês receberiam alta. Ah, boas notícias! – ela balançou a carta para eles. —Jorge escreveu contando que a loja que eles abriram no Beco Diagonal é um completo sucesso! Vendem de tudo, até mesmo produtos de beleza!

—Uau! Eles estão mesmo fazendo dinheiro então? - Rony perguntou.

—Muito, ao que parece. Jorge contou que em na primeira semana eles já ganharam seiscentos galeões. Mal posso esperar para conhecer a loja!

—Seissentos galeões em uma semana? Caramba! – Rony comentou assombrado.

Hermione se levantou com uma ajuda pomposa e desnecessária de Rony (o garoto fez questão de lhe dar o braço) e saíram caminhando da enfermaria.

—Bem, – Hermione suspirou —Vamos fazer nossas malas então. Lá se foi mais um ano nada tranquilo.

Os três riram, e tomaram o rumo da Torre da Grifinória.

Enquanto isso, Valentina que já tinha as malas arrumadas há questão de três dias, calmamente se dirigiu para a mesa as Grifinória e sentou perto de Gina e Harry. Era o último dia de aula, e nem Umbridge e nem Snape estavam lá para importuná-la com regras sobre sentar-se unicamente à mesa da sua Casa.

—Cuidado. – Gina avisou. —O morcegão velho pode muito bem descontar pontos da Sonserina por sua causa.

—Professor Snape descontar pontos da própria casa no último dia do ano letivo? Em que mundo você vive?

Harry e Gina gargalharam com gosto.

—Então, quais os planos para as suas férias, Tina? - Harry perguntou.

—Ah, eu vou ao Brasil com meus pais. Estou bem necessitada de um banho de mar e um pouco de sol tropical.

—Mas você não pode mais pegar sol como antigamente... – Gina observou.

—Felizmente posso. – Tina falou, com os olhos brilhando. —A comunidade bruxa brasileira desenvolveu uma poção e uma loção que, combinadas, permitem que pessoas com esse pequeno problema que eu adquiri, possam viver melhor sob o sol. Mamãe disse que já comprou uns cinco frascos de cada.

—Genial! – Harry comemorou.

Valentina já estava abrindo a boca para contar mais novidades quando escutou uma voz conhecida falar atrás dela.

—Alves.

Ela fechou a boca e se virou.

—Draco?

—Alves, o que diabos você está fazendo na mesa da Grifinória? - Draco perguntou entredentes.

Valentina fechou a cara.

—Estou conversando com os meus amigos, Malfoy. – ela enfatizou bem o sobrenome dele, já que ele havia feito tanta questão de se dirigir a ela com a formalidade do seu sobrenome.

—Esta não é a sua mesa, Alves!

—Eu não acredito que estamos tendo essa discussão de novo! – Valentina falou, se levantando.

—E eu não acredito que estou tendo que vir aqui buscar você, como se você fosse uma aluna do primeiro ano e tivesse chegado ontem a Hogwarts!

Gina e Harry se entreolharam e fizeram força para abafar as gargalhadas. Presenciar Valentina e Draco tendo no último dia de aula, uma discussão que só tiveram no início do ano, era simplesmente hilário.

—Do que você está rindo, Potter?

Harry quase engasgou com o suco de abóbora que tentou beber.

—Nada, não.

Mas ele e Gina não agüentaram e caíram na gargalhada. Gina puxou Harry para a outra ponta da mesa, mas ainda puderam escutar Valentina falando.

—Hoje é o último dia de aula! Por acaso o professor Snape pretende enviar mensagens exclusivas aos seus alunos no último dia de aula?

—Quem sabe. Eu, como monitor, tenho o dever de manter a ordem entre os alunos da Sonserina. Volte já para a mesa da sua Casa, Alves!

—Não me chame de Alves! Você não... você não... – Valentina gaguejou.

—Eu não o quê?

—Você não tem o direito de me chamar assim!

—Assim como? - Draco perguntou, desafiador.

—Desde quando alguém chama a namorada pelo sobrenome?

—Ah, essa é a questão agora? Você está irritada porque eu estou me posicionando como monitor e...

—Não seja ridículo!

E brigando um com o outro, Draco e Valentina se afastaram, mas não para a mesa da Sonserina, e sim para os jardins. Continuaram a discussão lá fora.

—Eles ainda vão se casar não é, o Draco e a Tina? - Luna perguntou com a voz sonhadora, se aproximando de Harry, Gina e agora, Neville, e lhes oferecendo biscoitinhos amanteigados.

—Não tenho muita certeza. – Gina riu, aceitando um biscoito.

—O que motiva tanta implicância, senão o amor? - Luna observou, com os olhos azuis debilmente arregalados. —É óbvio que eles se adoram.

Ninguém quis contestar a observação de Luna, portanto comeram os biscoitos em silêncio.

Duas horas depois, todos estavam posicionados na escadaria, junto de suas malas e gaiolas. Alguns aguardavam os amigos, outros já se dirigiam para as carruagens. Draco e Valentina passaram juntos por Harry, Rony, Hermione e Gina que aguardavam Neville e Cecília.

—Nos vemos no trem. – Valentina disse, acenando para os amigos.

—Bem, parece que eles fazem as pazes rápido, não? - Gina comentou ao ver Draco ajudar Tina a subir na carruagem.

—Se a influência dela fizer Draco ser menos idiota, eu faço votos de que eles vivam felizes para sempre. – Rony falou, levando Hermione às gargalhadas.

Cecília chegou correndo, esbaforida e descabelada, com Neville atrás dela ajudando-a com as malas.

—Desculpem, eu me atrasei!

—Isso não é bem novidade, não é? - Rony falou.

—Quer parar de cuspir marimbondos em cima dos outros, Rony? Nem parece que você está prestes a entrar de férias! – Hermione ralhou com ele.

—Bom, vamos logo ou ficaremos por último. – Harry disse.

Eles tomaram juntos a mesma carruagem. O dia estava ensolarado e morno, um típico dia que anunciava o fim da primavera e o início do verão. Eles fizeram o trajeto até Hogsmead calados, admirando os morros verdes, as copas das árvores frondosas e o céu azul salpicado com pouquíssimas nuvens ralas. Nem parecia que há questão de uma semana eles haviam enfrentado Voldemort e Comensais da Morte no Ministério da Magia. Não parecia que tinham perdido Sirius Black pra sempre...

A viagem de volta foi um tanto preguiçosa. Rony e Hermione tiveram de patrulhar os corredores a maior parte do tempo, o que fez com que Harry, Cecília e Valentina ficassem sozinhos na mesma cabine.

Tina e Lia se entreolharam. Estavam sentadas uma de frente para a outra, da mesma maneira como quando fizeram a viagem de ida para Hogwarts. A única diferença era que agora elas tinham a aparência um tantinho diferente.

—Para casa, lá vamos nós. – Cecília comentou olhando a paisagem correr pela janela. —Ninguém diria que nosso ano seria como foi, não é?

—Muito mais movimentado do que eu esperava para uma escola britânica.

Elas riram e Harry riu também.

—E de quem é a culpa, Lia?

—Desse cara aí do lado, é óbvio! Lembra de quando ele apareceu com o Rony e a Hermione e espantou Draco da nossa cabine? Aposto como ele já estava de olho em você, o Draco.

Harry riu, momentaneamente esquecendo dos mais recentes acontecimentos e lembrando com prazer do início do ano letivo.

—Vocês vão escrever, não vão? Mandar postais do Brasil e fotos?

—Claro que vamos. – Tina disse, cutucando uma unha. —Você vai ver como duas meio vampiras brasileiras se viram para tomar um pouco de sol tropical.

—Isso vai ser interessante. – Cecília gargalhou.

Os três passaram as três primeiras horas da viagem juntos. Depois disso, Gina, Luna e Neville foram se juntar a eles. Quando chegou a hora do almoço, Valentina se levantou.

—Prometi ao Draco que ia almoçar com ele. Nos vemos depois.

Ela saiu do vagão, acenou e fechou a porta silenciosamente, indo até onde sabia que os Sonserinos estavam agrupados. Encontrou Malfoy no meio do corredor, indo na direção dela.

—Eu estava indo te chamar...

Draco segurou-a pela mão e expulsou três aluninhos do primeiro ano de um vagão.

—Você é cruel. Coitados. – Tina disse, vendo os três se afastarem amedrontados.

—Ser monitor tem seus privilégios. – ele ajeitou o distintivo no peito e fechou a porta do vagão.

Quando se sentaram um de frente para o outro, a comida apareceu na mesa entre eles, do mesmo jeito que aparecia nas mesas de Hogwarts na hora das refeições. Frango, purê, suco de abóbora, peixe frito e legumes. Draco empurrou o peixe para Valentina.

—Sei que você prefere o peixe.

—Mas você também gosta...

—Não tem problema. – ele deu de ombros, e ficou observando-a se servir.

Depois de almoçarem em quase total silêncio, Draco esvaziou sua taça de suco e limpou os lábios num guardanapo de pano muito branco. Os pratos e talheres sujos desapareceram e deram lugar a uma bela travessa de sorvete de creme e brownie.

—Quer dividir? – Tina sugeriu.

Draco concordou com um aceno da cabeça e se levantou, indo sentar ao lado dela. Ele passou um braço ao redor dos ombros da garota e se serviu de um pouco de brownie.

Enquanto comia, Tina olhou para ele e soltou os cabelos loiros de Draco. Os fios caíram sedosos pelos ombros do garoto. Ele olhou para ela, interrogativo.

—Você fica melhor de cabelo solto. Realça mais seus olhos.

Draco apertou-a contra ele. Naquele momento, nem parecia aquele moleque arrogante e implicante. Ali, ele era apenas Draco.

—Vou sentir sua falta quando estiver no Brasil. Tem certeza de que não quer passar uns dias comigo, na minha casa?

Valentina balançou a cabeça. Não contara a Draco que vira o pai dele junto com outros Comensais da Morte no Ministério. Na verdade, ela se limitara a contar muito pouco do ocorrido. Draco sequer sabia que ela havia atacado um Comensal na ocasião.

—Seus pais não vão gostar nem um pouco de mim quando souberem que eu sou amiga de Harry Potter, Hermione Granger e dos Weasley. Devem considerar a minha ficha tão suja quanto deles. Sou praticamente uma traidora do sangue.

—Eu não me importo com isso, sabe. – ele falou baixinho.

Tina encarou de muito perto os olhos azuis acinzentados de Draco.

—Que coisa bonita de se dizer. – ela sorriu.

Draco não respondeu. Simplesmente aproximou o rosto e lhe beijou os lábios, cálido. Então lhe beijou as maçãs do rosto e as pálpebras fechadas de Tina.

—Já que é assim, vou te escrever todos os dias. – ele murmurou contra a pele dela.

—Pobre coruja... viagens internacionais durante todo o verão.

Os dois riram do comentário ardiloso dela e Tina dentou a cabeça no ombro de Draco, sonolenta e satisfeita.

O sol já se escondia no horizonte e o Expresso de Hogwarts continuava a serpentear por entre vales e planícies. Já era quase noite quando o trem foi perdendo velocidade aos poucos e, ao entrar na estação, parou num tranco suave. A viagem de volta para casa chegara ao fim.

Harry, Rony, Hermione, Cecília e Neville, já vestindo suas roupas comuns de trouxas, se levantaram e começaram a recolher seus animais de estimação. Saíram juntos e encontraram Gina desembarcando junto de Zacarias Smith. Harry sentiu alguma coisa revirar desconfortável em seu estômago ao ver a amiga na presença de outro garoto.

Assim que colocaram os pés na lotada e barulhenta plataforma 9/2, eles avistaram Sr. e Sra. Weasley esperando-os junto de Gui, Fred, Jorge, Olho-Tonto e Tonks. Os pais de Hermione estavam ao lado deles, trouxas genuínos, porém agradáveis e positivamente interessados no mundo bruxo, conversando animados com os pais de Tina e os pais de Lia.

—Ah, Harry querido! – Sra. Weasley ofegou ao puxar Harry para um abraço depois de plantar um beijo na bochecha de Rony e Gina. —Que bom vê-lo de novo!

—Como vai, Harry? – Sr. Weasley o cumprimentou animado e apertando a sua mão.

Depois de se despedir dos amigos e de escutar as usuais recomendações para que ele se cuidasse e reportasse a eles quaisquer maus-tratos por parte dos Dursley, Harry ergueu a cabeça ao dar-se conta de que havia alguém de quem ele ainda não havia se despedido. Com um leve arrepio, ele viu Valentina de mãos dadas com Draco, aparentemente sendo apresentada ao Sr. Malfoy à Sra. Malfoy. Os pais de Valentina agora estavam ao lado da mãe de Draco, mas Harry não soube dizer se eles estavam satisfeitos ou não ao conhecer aquela mulher e o namorado da filha. A expressão deles de repente havia se tornado indecifrável. Por outro lado, a expressão de Lúcio Malfoy era a pior possível, embora ele tentasse esconder o desagrado.

Cecília também se virou e fez uma careta ao ver a cena.

—Tina deve estar sendo muito cara-de-pau para estar sorrindo daquela maneira.

Depois de acenar com a cabeça para a Sra. Malfoy como se aceitasse um convite inesperado, Valentina e Draco se abraçaram brevemente e trocaram um rápido beijo. Harry e Cecília viram Draco se afastar com a mãe e Tina puxar os pais até o grupo de amigos.

Tina abraçou todos eles demoradamente e também ganhou um abraço afetuoso de Sra. Weasley; contudo, ela demorou-se mais em Harry. Valentina lhe deu um abraço tão apertado que ele podia jurar que tinha sentido a coluna estalar.

—Meu ano letivo está encerrando com saldo muito positivo, sabe. Nunca pensei que veria tantas coisas acontecerem em Hogwarts! – ela disse, sorridente. —E foi ótimo ter ficado sua amiga, Harry!

Harry riu.

—Mesmo tendo ganhado um cálice por dia de poção da Sobrevivência Sobrenatural?

—Mesmo assim!

—Também gostei de ter conhecido você, Tina!

Harry sorriu satisfeito. E quando ele estava se afastado para a companhia dos Dursley, ele sentiu algo morno e muito bom reverberar dentro do peito: A idéia de que ter amigos verdadeiros era o combustível que lhe dava forças para continuar a lutar contra Lord Voldemort.

O ar estava quente e abafado no Rio de Janeiro, embora fosse noite e início de inverno. Tudo estava calmo e silencioso; não havia vento soprando e nem lua para iluminar a madrugada. O relógio havia acabado de marcar três horas da manhã.

Cecília e Valentina dormiam profundamente, cada uma em suas camas, alheias ao fato de que vinham sendo cuidadosamente observadas há alguns dias.

A cortina do quarto de Valentina balançou sem vento, e pela janela um homem entrou tão suave e silenciosamente quanto um felino.

Andréa caminhou até a cama onde Tina dormia e deitou-se no pequeno espaço ao lado dela. Os cabelos de querubim estavam assanhados, os olhos brilhavam na noite, a pele estava corada e quente pelo sangue recém ingerido.

—Ma cherie, ma petit fleur… - sussurrou, passando os dedos pelos cabelos negros da menina. —Vou sentir saudades do seu perfume, minha rosa.

Seus dedos acariciaram cuidadosamente as linhas do perfil de Valentina. Num movimento de reflexo, ela mexeu os dedos sem acordar, e eles roçaram na pele de Andréa. Ele fechou os olhos, tirando proveito do carinho inesperado.

Andréa passou alguns minutos ali, deitado ao lado de Tina, imaginando como seria tê-la por toda a eternidade dormindo ao seu lado. Então, depois de algum tempo, o vampiro ergueu uma mão e elevou-a a alguns centímetros da cabeça de Tina. Ele fechou os olhos, como se o que estivesse prestes a fazer lhe demandasse mais coragem do que tinha. Seus lábios se abriram e deles saíram sussurros em um dialeto antigo há muito tempo esquecido em terras distantes.

Valentina não percebeu a luz suave e azulada que pareceu sair da palma da mão de Andréa e recair sobre seu rosto. Todo o seu corpo pareceu emanar uma leve fluorescência azul por rápidos segundos; então ela suspirou, e continuou a dormir – desta vez como a humana que sempre havia sido.

Andréa beijou-lhe a testa e deixou uma rosa vermelha no travesseiro de Tina antes de ir embora. A cortina oscilou mais uma vez, e ele já não estava mais lá.

A visita de Pierre a Cecília foi igualmente singela. A rosa vermelha em cima do travesseiro foi encontrada pela manhã, assim como a de Tina. E ao se encararem no espelho pela manhã, as amigas entenderam quem as havia visitado, e que já não eram mais as meio vampiras de antes: os olhos eram tão comuns quanto os humanos, as unhas estavam opacas, os dentes não eram mais afiados e a sede era meramente de água.

Valentina e Cecília, cada uma em suas casas e em seus respectivos quartos, cheiraram o perfume doce das rosas que seus vampiros lhe deixaram de lembrança e sorriram. De alguma forma elas sabiam, bem lá no fundo, que eles na verdade jamais as deixariam e estariam sempre lá quando precisassem deles.

FIM.

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* A autora Renata de. L. F. colaborou até o capítulo 8.

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