Fidelius
A palavra pareceu ter sido pronunciada solta na noite.
Fidelius.
Ninguém percebeu quando o casal de jovens se deitou na relva da clareira, felizes com o pacto que haviam selado.
Os olhos dele percorreram lentamente as linhas que formavam o rosto dela, como que para memorizar cada centímetro de seu corpo. Ele a amava mais que tudo no mundo, agora ainda mais já que não havia mais segredos entre eles.
- Eu te amo, Kate Drake. – e ruborizou ao perceber que tinha sido ele que havia dito. Era a primeira vez que dizia uma verdade tão séria. Foi exatamente por isso que repetiu. – Eu te amo mais que tudo.
Um sorriso se estendeu nos lábios dela enquanto ela parecia contar as estrelas, embora estivesse bastante atenta àquelas palavras tão esperadas.
- Também te amo, Liam Hawke. – Os ouvidos dele degustaram cada palavra. – Eu te amo mais que tudo.
A mão dela procurou cegamente a dele através da relva macia.
- E agora, nós selamos o pacto, o que faremos? - Ele voltou os olhos para a noite escura pontilhada pelas estrelas ao mesmo tempo que segurava a mão dela entre as suas, pondo-a para descansar sobre seu peito.
O rosto da garota enrijeceu, deixando-o assustado. Era estranho vê-la assim em comparação com o que ele sempre tinha visto.
Ela sabia que estava quebrando regras, que o amor dos dois era proibido e que havia posto Liam em perigo no momento em que se apaixonou. Mas aquele risco eles estavam dispostos a correr.
- Temos de fugir. – Ela disse num sussurro. – Hoje mesmo, vamos fugir.
Liam apertou suavemente a mão dela contra seu peito, as batidas do seu coração acelerando cada vez mais.
Ela foi se levantando, os cabelos lisos caindo por sobre seu corpo.
Já sabia que não haveria tempo, ela havia sentido o que estava por vir a partir do momento em que o pacto fora selado.
Ela havia selado o destino dele em conjunto.
- O que houve, Kat? – ele perguntou ao perceber seus olhos azuis tremendo de medo, fixados num ponto atrás dele. – Kate?
Ele forçou seu pescoço um pouco, virando-o na direção em que ela olhava.
Ali estava ele, parado a uns três metros de distância, altivo e forte, seus olhos verdes brilhando contra a luz da lua.
- Peter. – Kate pediu numa voz baixa. – Por favor.
Nesse momento Liam se levantou de um salto, ficando entre os irmãos, sua mão direita foi ao bolso da calça e de lá ele puxou algo comprido e escuro contra a luz da noite.
Sua varinha.
Uma risada macabra saiu do rapaz meio escondido nas árvores e, mesmo parecendo esguio e magro, era possível ver um corpo forte por trás da roupa folgada.
- Você acha que me põe medo, bruxo? – ele deu um passo à frente, aparecendo à luz da lua. Uma mecha de seu cabelo negro cobriu o seu olho direito. – Você passou dos limites, Katherine Draconiam.
A voz pareceu correr junto com o vento dentro de seus ouvidos, trazendo medo até suas espinhas.
Liam apertou mais forte a varinha.
- Vá embora Peter, não quero machuca-lo.
Um rugido baixo pareceu vir da barriga do rapaz de olhos claros.
- Abaixe a varinha ou eu a abaixarei por você.
Kate ergueu-se e abraçou Liam pela cintura, num gesto protetor. O irmão jamais a machucaria.
- Eu o amo, você não pode ir contra isso! – Ela falou, cheia de raiva. – Eu vou ficar com ele, quer você queira, quer não.
- Você quebrou as regras! Apaixonou-se por um humano! Você sabe qual é a punição. – Ele abaixou a voz e a próxima palavra pareceu o sibilar de uma cobra. – Morte.
Os outros dois estremeceram ao som da palavra.
- Ele é meu Fiel. Não contará para ninguém, nós fizemos o feitiço.
- Não, ele não vai dizer nada, afinal, mortos não falam. – Peter ergueu a mão direita na direção de Liam e avançou um passo à frente.
- Meu irmão, por favor, eu lhe peço piedade. – Ela jogou-se na frente de Liam, os braços abertos como numa barreira. – Deixe-o.
O irmão dela apenas balançou a cabeça, um sorriso se estendendo em seus lábios.
- Estupefaça! – Gritou Liam por trás de Kate.
O jato de luz vermelha atravessou a clareira e bateu certeiramente contra o peito do moreno.
Ele nem piscou.
- Seus poderes mágicos não são um milésimo dos meus, bruxo! – Impaciência e raiva encheram sua voz. – Agora é a minha vez. Estupefaça!
Não havia varinha em sua mão, que brilhou em vermelho antes de disparar uma luz forte na direção do oponente.
Kate cobriu os olhos com a aproximação do feitiço. Mas ela não teria precisado, pois o feitiço parecia saber o que buscava e se esquivou do corpo da garota, acertando o garoto em suas costas, fazendo-o voar contra as árvores e cair no chão, com o corpo ferido.
- Liam, não! – Ela se movimentou na direção do rapaz, mas o seu irmão foi mais rápido, segurando seu braço e a atirando contra a relva, para fora do caminho.
- Ele é meu. – Ele se abaixou por um instante, pegando algo do chão.
Instintivamente Liam procurou sua varinha em algum lugar próximo. Ela sumira.
- Procurando por isso? – Peter segurou a varinha na direção do rapaz caído. – Você não vai sentir falta dela para onde vai. – Ele balançou a cabeça. – Alguma ultima frase de impacto, meu caro?
Liam vagou com o olhar até sua amada, deitada no chão, olhando para ele, as lágrimas descendo pelo seu rosto como fogo.
- Eu... te... amo... – Ele suspirou. Seu último suspiro.
- Que clichê. – Peter apontou a varinha para o peito do outro. – Adeus. Avada Kedrava!
O lampejo de luz verde sumiu rapidamente, levando consigo a vida de Liam Hawke.
- Fácil demais. – O moreno jogou a varinha aos pés do cadáver e se virou para a irmã, que vinha vagarosamente na direção do corpo. – Nós partimos amanhã para Londres, esteja pronta, não quero ter de falar duas vezes. - E saiu com passos decididos por uma pequena trilha para fora da clareira.
Kate aproximou-se do corpo.
Tudo que ela amava, todos os seus sonhos, tudo que havia previsto para si própria sumira junto com aquele rapaz. O amor da sua vida.
As lágrimas que desciam pelo seu rosto eram ao mesmo tempo de dor e de ódio. Ela amava Peter, mas o ódio que sentia naquele momento era o bastante para cortá-lo em pedaços.
A garota esticou a mão, tocando os lábios frios de Liam.
Estava tudo acabado. Mais uma vez. Era hora de recomeçar. Mais uma vez. Ela apenas queria que dessa vez fosse a última.
Com um ultimo esforço seus lábios alcançaram os do rapaz caído.
Um último beijo. Um último carinho.
Ela deitou a cabeça em seu peito e ficou soluçando por mais algum tempo, enquanto o vento vinha aconchegá-la por uma última vez.
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