sem teto



30 de Junho de 1974



Custa a acreditar que isso esteja acontecendo. Que esse dia realmente tenha chego. É o fim! Fim de uma fase inteira da minha vida. Adeus Hogwarts! Adeus a muitos amigos. Adeus grandes mestres. Adeus meu lar de tantos anos.



Todos começamos essa jornada já sabendo quando ela terá fim. E achamos que estamos preparados para quando isso acontecer. Mas essa manhã, eu descobri que, apesar de ter me preparado por mais de uma semanas, por mais que saibamos que Hogwarts não será para sempre nosso mais querido lar, é difícil. Muito difícil.



A realidade que nos cercará agora será outra. É triste saber que não mais acordarei ao lado de minhas fiéis amigas. Não mais descerei para as refeições no grande Salão Principal, com aquelas mesmas pessoas de anos, chegando a enjoar, alcançando o tédio repetidas vezes! Sem mais rondas noturnas, sem mais folgas à beira do lago. Sem mais partidas de Quadribol (tá certo, nunca fui muito ligada aos jogos, mas são nessas horas que sentimos falta das coisas mais bobas). Uma grande nuvens de incertezas paira no ar. O que será de mim? O que será da minha vida?

Tiago me disse que eu ando exagerando. Disse que eu não devo ficar despreocupada porque, não é o fim e sim um recomeço. Alegra-me saber que ao menos ele estará ao meu lado daqui pra frente. E quando digo ele, sei que, de brinde, tenho mais três marotos. Ah, esses marotos! São minha sina. Por anos os persegui e agora não consigo pensar como seria sem ter suas brincadeiras, a alegria constante ao meu redor.



"E quem conseguiria?".



O que mais me aflige é a segurança que não mais teremos. Muitas coisas têm acontecido ultimamente e sinto que ainda têm muito que acontecer. Alguma coisa me diz que irei sentir falta da proteção que sempre senti aos olhos de Dumbledore. Por Merlin, que isso seja apenas uma das minhas intermináveis neuroses, como diz Tiago.



Ontem aconteceu a formatura dos alunos do sétimo ano. Nossa última reunião. Dançamos, cantamos, nos divertimos. Dumbledore discursou. E Tiago discursou. E quem disse que ele iria perder a chance de estar em evidência por uma última vez em Hogwarts? Deixando dilacerado os corações das pobres garotas que não mais poderão suspirar pelos corredores quando vissem os marotos. Particularmente Sirius, pois Lupin nunca se preocupou em chamar atenção, embora seja inevitável. Pedro é o que está sempre em menos evidência. Acredito que Pedrinho já esteja feliz o suficiente por estar com os seus amigos. Sirius Black teve seus meses de glória quando Tiago e eu começamos a namorar. Como se todas as garotas quisessem aproveitar dos poucos meses que o terão no castelo. Não preciso dizer o quanto isso me soa infantil. Quem entende essas meninas?



"Elas são espertas, isso sim. Conhece o ditado: O que é doce sempre acaba!".



Voltando à formatura, mais precisamente ao discurso de Tiago Potter, que pegou todos de surpresa, inclusive a mim. Foram mais ou menos essas as suas palavras:



"Hoje se encerra uma importante fase daqueles que estão aqui presente. Para mim, foram sete longos anos abençoados. Em Hogwarts eu cresci, aprendi grandes lições. Encontrei meus irmãos do peito. Amadureci. Encontrei o amor da minha vida e dois anos depois, ela me encontrou. Aqui nesse castelo eu aprendi a ser uma pessoa melhor e um grande bruxo. Graças a Hogwarts estou pronto para a vida que nos aguarda lá fora. É com tristeza que me despeço desse querido lugar hoje, com a certeza de que deixei minha marca em cada canto desse Castelo. E voltarei, para comemorar dias importantes como esse junto aos meus filhos e meus netos. Aos amigos que aqui encontrei: nos veremos do lado de fora. Enfrentando a vida, como assim fomos ensinados em Hogwarts. Obrigada!”.



Ainda me surpreendo com os surtos de maturidade que ele demonstra com uma freqüência progressiva. Muito pouco me recordo daquele Potter metido, arrogante que um dia conheci e cheguei a odiar. Não o odeio mais. Eu o amo. Cada dia mais. Para sempre.



Ah, esqueci de dizer. Sirius convidou a Liza para acompanhá-lo na festa. Dá para acreditar? Depois de tanto tempo, tanto esforço para mostrar que ela merece alguém melhor. E foi só o Sirius sorrir torto. Talvez meio sorriso. Não que Sirius Black seja uma má pessoa. Longe disso. Mas Sirius não está preparado para o que Elizabeth Moore procura. E isso faz com que ela sofra. Espero que ela não tenha uma recaída, apesar de que, no fundo, ela ainda não esqueceu o Maroto Almofadinhas. Por enquanto, ela ainda não falou nada a respeito do ocorrido. Indiferença? Talvez porque ele também esteja presente no momento.



"Se eu soubesse que Lílian me difamava, eu teria aderido à interminável missão de Tiago para capturar esse diário".



Falta pouco para chegarmos na Estação King Cross. Pela última vez. E eu não consigo tirar essa tristeza dos olhos. Aqui comigo, enquanto escrevo, estão as pessoas mais importantes da minha vida. Me dá um nó na garganta saber que não os terei todos os dias comigo. Vou ter que aprender a me enquadrar numa nova rotina de vida. Ainda não pensei muito que fazer. Sim, pretendo ser curandeira. Tenho isso em mente desde os N.O.M.s e foi para isso que estudei tanto. Mas e o resto? Bom... vamos esperar o resto e esperar que seja bom.



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"Lupin?!"



"Harry, me desculpe! Eu não queria invadir ...".



Ao abrir a porta do quarto Harry encontrou o antigo professor absorto em uma leitura. Não foi difícil reconhecer o que tinha em suas mãos. Nem pelo diário em si, nem pela expressão em seu rosto. Harry não o interrompeu. Ficou a observar a alegria contida que podia ler nas expressões que fazia a cada linha que lia. Imaginou como estaria sendo relembrar tantos momentos de alegria, em meio a tanta tristeza que Harry sabia que faziam parte da vida do antigo maroto.



Somente quando Lupin deixou o diário de lado e passou a encarar o teto. Harry se perguntou se seria uma boa hora avisar que estava ali. E assim o fez.



"Não se preocupe. Não é invasão alguma. Deve ser tão bom para mim quanto para você".



"Foi como se eu tivesse usado o vira-tempo e pudesse rever cada situação descrita por Lílian".



Harry pode perceber que a tristeza estava mais do que óbvia nos olhos de Lupin. Jamais o vira se render de tal forma. Então acreditou o quão poderoso era aquele monte de papéis. Ele mexeu com Sirius, com Lupin, até com Rony e Hermione. Mas teria surtido tanto efeito quanto em Harry? Ele não saberia dizer.



"Continue!"



"O quê?"



"Pedi para continuar. Vamos ler juntos. Bem... isso se você quiser".

Lupin sorriu e entregou o diário nas mãos do garoto.



"Leia você Harry. Em voz alta".



E assim Harry fez.

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22 de Novembro de 1974



Um mês foi mais do que suficiente na companhia de Petúnia até que eu percebesse que já era hora de um lugar só meu. Por mais que eu ame meus pais, não pertenço mais àquela casa. Eu sou diferente. Ou melhor, não sou igual a eles. No começo confesso que era engraçado ver a cara de Petúnia toda vez que aparatava dentro de casa, mas tudo perde a graça um dia. E eu comecei a ficar aborrecida com os seus

consecutivos: "aberração", "anormal", "esquisita". Eu definitivamente precisava me mudar.



Primeiro passo: arranjar uma casa. Londres não é nenhum vilarejo, mas a cada dia que se passava, as chances de encontrar um lugar que eu gostasse eram mínimas.



"Vem morar comigo Lily".



"Pela trilhonésima vez, Tiago: não!"



"Por quê não?".



"Não vou me alojar na casa dos seus pais".



"Não precisa. Encontraremos uma casa para nós dois".



"Eu já estou procurando uma casa para mim Tiago".



"Para nós, vocÊ quer dizer?".



"Não... para mim!"



"Lily, nós iremos morar juntos quando nos casarmos. Por quê não agora? Ou será que depois do casamento voltarei para minha casa e você para a sua?".



"Não seja besta Tiago. Você disse muito bem: quando casarmos".



"Entendi o que você quis dizer. Muito fácil de se resolver. Casa comigo!".



"Como é que é?"



Tiago ajoelhou-se ao pé do sofá do apartamento de Marlenne e pegou minha mão.



"Lílian Evans, quer casar comigo?".



"Merlin! Eu não estou vendo isso". Sirius ria sem se controlar. Diferente de Remo, Pedro, Liza que levaram um pouco mais a sério a situação do que ele.



"A cena foi tão ridícula que chegou a ser hilária".



"Cala a boca Almofadinhas". Tiago atirou o jornal que eu olhava dia após dia. "E então Lily?".



"Você perdeu o juízo, não é mesmo?". Fiz sinal para que Tiago se levantasse.



"Sim, mas isso já tem alguns anos quando me apaixonei pela garota mais brava de Hogwarts. Já me acostumei".



Ele sentou-se ao meu lado e eu não pude deixar de rir de sua expressão ansiosa.



"Lily, você ainda não me respondeu".



"Tiago, eu não vou casar com você".



"Mesmo namorando Lily, Tiago não perdeu o costume de levar foras".



"Não vai?".



Merlin, eu não estava vendo uma cara de decepção em Tiago. Ele não poderia estar falando sério.



"Não... digo... não agora. Nós acabamos de nos formar. Temos apenas dezoito anos. Não estou com pressa. E um pedido de casamento feito só para que eu aceite morar com você não é nada romântico".



"Eu te amo, é só o que importa!".



"Eu também te amo Tiago, mas ainda é muito cedo".



"Frank e Alice irão se casar e eles têm a mesma idade que nós".



"Nós não somos Frank e Alice. É diferente. Eles não têm apenas nove meses de namoro".



Tiago fez cara de quem tinha desistido de argumentar. Cara de quem tinha perdido a discussão.



"É tudo culpa sua Lily".



"O quê?"



"Teríamos mais tempo de namoro se você não tivesse sido tão cabeça dura por mais de dois anos. Poderíamos ser nós casando agora".



"Para quê a pressa Tiago? Temos muito tempo juntos pela frente. Temos a vida toda juntos!".



"U-hum! Sem querer intrometer. Lily, você pode morar comigo se quiser. Mi casa es su casa!".



"Agradeço de coração Sirius, mas vou recusar".



"Está certo então. Quis oferecer um apoio de amigo. Fica morando na casa da sua irmã esquisita".



"Como se eu fosse deixar ela morar com você não é mesmo?".



"O que havia de mal nisso? Aquela casa tava precisando mesmo de uma mão feminina. Estava beirando caverna de trasgo”.



Eu recolhi o jornal espalhado no chão e voltei a estudá-lo minuciosamente.



"Porquê não procura no Profeta Diário?". Remo perguntou.



"Por mais que eu quisesse morar em um povoado bruxo, eu vou ter que ficar aqui em Londres. Assim meus pais podem me visitar sem muita dificuldade".



Nesse instante, Marlenne aparatou na sala.



"Eu vou pedir informações a Dumbledore de como ele fez para impedir que aparatem no Castelo. Isso aqui virou ponto de encontro, agora?".



"Len, você não estava em casa?". Tiago perguntou irônico.



"Estamos abusando da sua hospitalidade, não é mesmo?".



"Estamos nada Aluado. Ela mora aqui sozinha. Marlenne deveria agradecer por visitarmos constantemente". Sirius disse jogando-se num sofá todinho para ele.



"Constantemente? Vocês ficam aqui mais do que eu mesma! (...) "Levanta Sirius, larga de ser folgado. Eu também mereço sentar".



"Tem tapete para quê?".



"Levanta e não reclama". Sentou-se então ao seu lado esticando as pernas em seu colo, mostrando cansaço. "E então Lily. Teve sorte hoje?".



"Nada!"



"Sabe Lily. Hoje eu estava pensando. Por quê você não vem morar aqui comigo?".



"Aqui?".



Finalmente um luz surgiu nos meus dias escuros. Quando Marlenne afirmou que adoraria ter Lílian Evans novamente como colega de dormitório, digo, de casa, eu não me contive de felicidade e aceitei no mesmo instante.



"Ela você aceita". Tiago demonstrou uma falsa decepção.



"Cala a boca Tiago".



Depois de muito dias procurando um lugar para morar, eu não podia esperar por melhor. Arranjei moradia em Londres, como assim queria. Estaria novamente junto de minha melhor amiga. Sairia finalmente das vistas de Petúnia. Com menos de uma semana, aqui estou em meu novo lar. Peço desculpas por não escrever em você por esses dias. Fiz de tudo para não precisar mais compartilhar a sala de televisão com Petúnia e seu novo namorado Válter. As coisas finalmente começaram a se acertar. E hoje eu não poderia pedir mais nada! Apesar dos dias estarem cada vez mais conturbados, eu jamais estive tão feliz!



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Harry virou mais uma página e antes que voltasse a ler para um Lupin extremamente extasiado, perguntou.



"Lupin...".



"Sim, Harry!".



"Quando minha mão mencionou sobre dias conturbados...".



"Sim Harry. Ela estava falando sobre Voldemort e os ataques dos Comensais que, na época, se tornavam cada vez mais freqüentes".



"Ela já participava da Ordem?".



"Eu não sei ao certo. Mas não demorou muito para que Dumbledore chamasse seus pais para juntar-se a eles".



"E era como hoje? Digo...".



"Mais ou menos. Na época as pessoas não tinham idéia do que estava acontecendo, diferente de hoje que todos já carregam o medo de que se repita tudo novamente. Agora se me dá licença Harry...".



"Não quer continuar a ler?".



"Adoraria. Mas tenho um compromisso. Quem sabe mais tarde!". Lupin levantou-se, direcionando-se à porta. "Obrigada Harry. Foi uma experiência única!".

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