único.



                                                                                                Narrado por: Marlene M.


                                                                                                Local: Ginger’s Bar


                                                                                                Horário: 06:17 AM


                                                                                                Quando: 03/ Janeiro


 


Não sei que ideia idiota foi essa de passar o Ano Novo na praia. Honestamente, já passou da hora de eu ir para casa. Tudo bem, eu gosto de acordar cedo e caminhar pela areia. É bom de verdade ouvir o mar batendo nas pedras, e o vento batendo no mar. E além de tudo, existe o cheiro. Não há nada como o cheiro do mar. Penso que quando Deus criou tudo isso, ele estava tentando fazer o cheiro. Alguma coisa que nos fizesse querer mais quando o vento batesse nos nossos rostos. Mas, temos que concordar, esse lugar me faz lembrar ele, e eu não quero estar aqui. Não quero me lembrar dele e nem nada que se relacione a ele.


Foi um azar do destino termos nos encontrado naquele acampamento, mas quem pode nos culpar? Éramos dois adolescentes de 18 anos. O que sabíamos da vida? Não sabíamos nada da vida. A única coisa que sabíamos era que, queríamos comprar uma casa na praia, pra ficar sentindo o cheiro do mar. Irônico não? O cheiro do mar.


E o quê eu sabia? Que aquele acampamento me proporcionara os melhores dois meses da minha vida? Certo, sabia disso, e o quê mais? Que a minha mãe queria ficar sozinha em casa pra se entupir de remédios e dormir. Certo, eu sabia disso. E o quê mais? Que eu me apaixonara. Tão triste, e tão simples.


Mas não naquela época, estar apaixonada naquela época era calmo, tranquilo, e bom. Extremamente bom. E precioso.


E salgado.


Bem salgado.


 “Você não pretende comer isso, pretende?” – um par de olhos castanhos se virou para mim, era noite e um grupo com cerca de 50 jovens se reunia ao redor de uma fogueira no nosso segundo dia de acampamento.


“- É claro que eu vou comer isso, é cheetos, por que eu não comeria?” – revirei os olhos. Como se já não bastasse ter que passar dois meses na companhia desse bando de desconhecidos.


“- É um acampamento, você devia experimentar os marshmallows.” – ouvi-lo dizer aquilo fez com que eu me sentisse ridícula. Bem quando eu começava a pensar que eu já devia emanar cheiro de cheetos (devido ao excesso de consumo), ele terminou seu raciocínio – “aposto que você come tanto disso, que daqui alguns dias você vai acabar cheirando queijo parmesão. Sem ofensas.” - e deu um sorriso. Pensando melhor, ele adorava me matar com aqueles sorrisos desde o princípio. Quem ele estava pensando que era pra dizer que eu tinha cheiro de queijo parmesão? Tá tudo bem, naquela época eu vivia a base de cheetos, mas e daí? Eu também tomava (e tomo até hoje graças a Deus) de dois a três banhos por dia. Isso mesmo, me prenda Greenpeace.


Ele não era ninguém. Fora uma vez, mas não era mais, e nunca seria. E além do mais, eu já o perdoei por me chamar de fedida. Ele disse Sem ofensas né?


Sem ofensas. Certo. Porque para Sirius nada era ofensivo.


Tudo era azul, e beje, e no fim de tarde era laranjado com lilás. E a noite era azul marinho, pontilhado de branco. E era salgado. O gosto dele era salgado.


Mas ofensivo? Jamais...


Trocar-me por uma vadia americana depois de um mês e 26 dias (não que eu estivesse contando) e não me procurar pelo resto da minha vida, isso também não era ofensivo suponho.


Dei um suspiro, e chamei Carly, a garçonete que vinha me atendendo quase todas as manhãs. Pedi ovos mexidos com bacon, e suco de laranja. E uma maçã, para levar.


Foi isso o quê me conquistou nessa lanchonete. Tudo aqui é azulejado de branco e azul. Muito, muito limpo. E eles vendem maçãs. Maçãs. Que tipo de lanchonete vende maçãs hoje em dia? Nenhuma. As lanchonetes hoje em dia só vendem coxinha.


E sabe o quê mais é encantador por aqui? O papel de parede do banheiro.


Cavalos Marinhos.


Eles são tão fofos que desde o dia que eu descobri essa lanchonete, eu tenho vontade de vir aqui só pra ficar lá olhando pra eles. E lembrando. Antigamente eu costumava ter um chaveiro em forma de cavalo marinho, daqueles de gel, e coisinhas que ficam nadando lá dentro. Foi o Sirius que me deu, antes de me trair uma semana depois que a gente estava junto. Um dia eu parei de usar, guardei e hoje eu simplesmente não sei mais onde ele está na caixinha dentro da terceira gaveta da minha cômoda em Londres.


Londres. Sinto falta de Londres. A poluição, o barulho, os ônibus vermelhos, o metrô, ver atores famosos em cafés, o Parlamento, tudo o quê faz com quê a gente se sinta em casa. Não me entenda mal. Eu estou gostando daqui, mas não é Londres. Aqui não existe a menor sensação de estar segura. De me sentir em casa.


Onde está a Dorcas por falar nisso?


É de se esperar que quando a sua roommate - alta, morena, de pernas longas, olhos azuis, franjinha e bochechas destacadas - chama você - estatura mediana, cabelos pretos desfiados até por baixo dos ombros, olhos indecisos entre azul e azul - uma pessoa completamente normal, para passar duas semanas na praia, você já saiba que ela vai arranjar um cara lindo de morrer, e vão ficar a viagem toda juntos, enquanto você fica abandonada, apenas com o cheiro, e o gosto do mar nos lábios, pensando sobre o grande amor da sua vida, e, quais são as suas chances de ser feliz novamente.


Como por magia, Dorcas irrompeu pela porta (que fez um barulho de sininho) com uma cara de noite mal dormida, e poucos amigos. Eu acenei pra ela, e ela arrastou sua rabugice por sobre a mesa.


- O que te deu na cabeça pra acordar ás seis horas da manhã ein? Estamos de férias, é verão. Por que, em nome de Merlin eu não posso dormir até nove horas?


- Por que estamos de férias, e é verão. – eu sorri. Não sei como a Dorcas consegue ser tão mal-humorada. Ela acabou de achar um homem muito gato, que morre de amores por ela, e além do mais gosta de ser chamado de Remmie. Fala sério! Alguém avisa pra ela, que esse cara é o último do universo, e que se ela continuar se queixando de tudo na vida, eu vou pegar ele pra mim. – Eu já pedi ovos com bacon pra você, e um suco de laranja também, acho que nós podemos dar uma caminhada ao redor do píer depois do café.


Ela revirou os olhos e disse:


- E depois eu posso voltar pro nosso quarto e dormir até o fim da eternidade?


- Onde-é-que-a-senhora-esteve-durante-a-noite ein Dorcas?


Ela deu seu primeiro sorriso da manhã, Carly, a garçonete, colocou nosso café da manhã por sobre a mesa.


- Obrigada Carly. – eu sorri, e quando Carly deu as costas Dorcas começou.


- Sabia que quando você começa a chamar as garçonetes pelo nome quer dizer que já está em casa né? – pegou um pedaço crocante de bacon e pôs na boca – enfim. Remus me levou pra jantas lá no Nona: A Italiana ontem. – fiz uma cara de espanto, mas contive os comentários, afim de que ela continuasse logo.


- Lá é completamente maravilhoso! No banheiro tem um sabonete líquido transparente que tem bolinhas cor de rosa. Parece um creme, de tão gostoso. Sinceramente, eu quase comi! – alguma coisa me diz que ela não vai calar a boca tão cedo - Ah, e a comida, também é maravilhosa. E é claro tem o Remus. O quê eu vou falar sobre o Remus? Lene –pausa- acho que eu estou apaixonada pelo Remus! Surpreendentemente uma Dorcas que, a essa altura estava completamente acordada, calou a boca.


Tudo bem. Agora temos um sério problema.


- Apaixonada Dorcas? Do que é que você está falando?


- Bem, você sabe! Meu estômago revira quando eu sei que faltam menos de dez minutos pra eu me encontrar com ele. E eu fico pensando no quê ele pode estar fazendo agora, e com quem está falando, e se está pensando em mim, e o quê ele pensa de mim, e se os pais dele vão gostar de mim. E fico sentindo o gosto de bala de amora que a boca dele tem, um gostinho meio doce sabe? Só que não é doce por que se mistura com o gosto de sal que vem do mar. – registre o momento em que eu parei de ouvir: esse.


Tomei um pouco do suco de laranja, e apertei a maça contra meus dedos. Olhei a janela por sobre os ombros de Dorcas, e lá estava ele.


Uma imensidão azul, que eu podia ouvir batendo contra as pedras. O vento forte levando embora tudo o que não pertencia àquele lugar. O horizonte também azul. E Londres em algum lugar atrás dele. “O gosto de sal que vem do mar.”


Onde será que está o gosto de sal que vem do Sirius?


O Oceano Índico olhou pra mim, e, me convidando, jogou uma onda de espuma branca na areia.


Perth. Bastante bonito esse lugar. Mas não um lugar para se apaixonar.


Apaixonar. Dorcas.


Voltei á realidade e os olhos azuis de Dorcas, facilmente confundíveis com o mar, estavam a me encarar.


- Mckinnon?


- Apaixonada Dorcas? Faz uma semana que você conhece o Remus. Você não sabe nada sobre ele.


- Remus tem 27 anos, tem uma empresa aqui em Perth que abriu há três anos com um amigo de faculdade. Ele e o amigo conheceram esse lugar através de um acampamento para o qual a mãe do amigo os mandou há sete anos.


Ele fez faculdade em Sidney mesmo, e mudou pra cá com o amigo para abrir essa empresa. Os pais de Remus são separados, a mãe dele mora em Londres, e o pai dele que é casado e tem mais um casal de filhos, mora em Manhattan. Além disso, o Remus tem os olhos azuis mais lindos que eu já vi, o quê significa que eu preciso casar com ele. É a chance de passar meus olhos azuis recessivos para as próximas gerações, e eu acho que ele gosta de mim também. A cor favorita dele é verde limão, ele é vegetariano e gosta de kiwi e lasanha quatro queijos. O quê mais eu preciso saber sobre o Remus?


Pisquei algumas vezes. Dorcas realmente não perdia tempo.


- Dorc, nós vamos ficar aqui mais uma semana.


- Sim, - disse ela simplesmente – é verdade.


Eu a olhei indignada.


- E depois?


- E depois o quê?


- Bem, você vai voltar pra Londres comigo. Eu vou voltar pra agência, e você vai continuar a gravar. – a Dorcas é atriz, ela filma basicamente séries policiais, e eu trabalho numa agência de modelos, quer dizer eu não modelo, pelamor! Eu sou a pessoa que cuida pra que as modelos certas apareçam na capa das revistas certas, e esse tipo de coisa, e os modelos de cuecas também é claro.


- Bem. Eu amo ser atriz, é verdade, mas posso ser atriz em qualquer lugar do mundo. – ela disse sorrindo.


Oh Meu Santo Deus. Ela está sorrindo. Ela está pensando em mudar pra um lugar desconhecido por causa de um cara. Largar tudo, por um cara que conhece a uma semana. Nem isso. Seis dias. Faz seis dias que nós estamos aqui, e a Dorc conheceu o Remus no aeroporto.


- Dorc, querida, você nem sabe se esse cara te ama, - E de repente estávamos no colégio novamente, e eu estava dizendo a Dorcas tudo o quê ela podia e não podia fazer. Isso mesmo Marlene, seja pé no chão. Acabe com o sonho de todos os seres vivos no planeta Terra – você não pode simplesmente pedir demissão, e mudar pra um lugar que você não conhece, onde você não tem emprego, e nem casa, e nem nada, simplesmente por que, por que, bem por causa desse cara. Aliás, um cara que eu só vi uma vez no aeroporto.


- Tudo bem. Você quer conhecer o Remus não é? Quer conversar com ele, e saber se ele é uma boa pessoa. –Já estou começando a achar que a Dorcas está mesmo apaixonada. Veja bem a pobrezinha não está falando coisa com coisa. – Vou ligar pro Remus agora, e nós três podemos ir tomar um café de verdade, com muita cafeína de preferência, na Starbucks mais próxima, que eu tenho certeza, o Remus sabe exatamente onde fica.


E então ela já foi tirando o celular do bolso. E discando furiosa, e daí já não havia nenhum vestígio da Dorcas que chamava Merlin pra mim há alguns minutos atrás.


- Remmie querido. Bom dia. – pausa com risos – não eu sei. – pausa – não, nem são sete horas ainda. – pausa- Foi exatamente o quê eu pensei quando a Marlene, você não conheceu a Marlene ainda né? Mas foi exatamente o que eu pensei quando a Marlene me acordou ás seis e meia da manhã hoje, pra perguntar onde fica a Starbucks mais próxima. E a única coisa que eu pensei foi – risos – ninguém melhor que o Remus pra levar a gente lá. – pausa prolongada – Meia hora na portaria do meu hotel? Mais é claro. É mesmo muita gentileza sua Remmie, você é um amor. – desligou –


Por um momento eu achei que estivesse acabado de ouvir uma conversa da Héstia com o Edgar. Mas dai dei um aperto forte na pobre maçã que eu ainda segurava em minhas mãos, e olhei para uma Dorcas satisfeita que detonava mais um bacon.


Vou ficar tranquila quanto a esse relacionamento. Um vegetariano não dura um mês nas mãos da Dorcas. No mínimo ela acaba comendo ele (no melhor sentido da frase, é claro).


Paguei a Carly e agradeci, enquanto Dorcas já estava batendo o pé lá fora.


Pela primeira vez que eu vou a essa lanchonete, vou embora sem ir ao banheiro.


 


 


Duas horas depois, A Dorcas, o Remus e eu estávamos satisfatoriamente cafeinados, dentro do carro do Remus, ouvindo uma música muito legal que eu não conheço, enquanto o Remus dirigia para a empresa dele [Blupin Security Company (?)] a fim de pegar uns documentos que precisava para o fim de semana, e a Dorcas no banco na frente, não parava de lançar olhares de “eu não disse?” para mim, quando o Remus falava alguma coisa excepcionalmente encantadora.


Tudo o que eu posso fazer é sorrir, e pensar que quero ir pra Londres mergulhar numa piscina de açúcar. Toda cidade cheira maresia, como era realmente de se esperar, mas sabe quem mais cheira maresia? O Sirius.


Nós paramos em frente um edifício totalmente imponente, de tipo, uns vinte andares, e o Remus disse:


- Chegamos meninas. Blupin Security Company meninas. Meninas essa é a Blupin Security Company.


Eu dei um sorriso meio torto. PUTAQUEPARIU, ESSE CARA DEVE SER MUITO RICO, agora sim não vai querer mais nada com a Dorcas. A Dorcas tadinha, só ficava lá com uma cara de quem engoliu uma bola de meia.


É meio estranho ver um prédio desse e olhar pro outro lado da Avenida e ver o mar. Tipo assim é muito contraditório mesmo.


- Vamos descer garotas? – o Remus convidou gentilmente dando a volto no carro e abrindo a porta pra mim rapidamente, e depois pra Dorcas com um floreio. É a primeira vez que um cara abre a porta do carro pra mim.


Mas eu preciso mesmo é fazer alguma coisa pela Dorcas. Se ela continuar com essa cara o Remus não vai querer nada com ela nem aqui nem em Londres.


- Anh, Dorcas? – disse Remus – tá tudo bem querida?


Dorcas deu um meio sorriso – Claro. Tudo bem. É, tudo bem mesmo.


- Então, vamos? Eu vou pegar os documentos que preciso e ver se o Si...


- Não, tudo bem. Vai você e a Marlene que tal? Vocês vão ter alguma coisa pra falar sobre. É, vai ser bom até pra vocês se conhecerem melhor.


Se eu não visse que a Dorcas estava tão atônita, eu até poderia ter recusado, roubado pegado o carro do Remus e voltado direto pro hotel com a Dorcas sã e salva do meu ladinho. Mas isso seria num outro dia, em outra viagem, num universo paralelo talvez?


Hoje eu só disse: - Ah. É. Ir com o Remus né? Isso mesmo. É.


A gente não ia levar mais do quê quinze minutos né? Tempo mais do quê suficiente pra Dorcas se recompor.


E uma partezinha minúscula daquela Dorcas insana estava certa. Remus e eu precisávamos mesmo nos conhecer.


Eu estou começando achar que o Remus pode mesmo estar apaixonado pela Dorcas. O cara foi acordado acordou sete horas da manhã. Levou a gente pra tomar o café de verdade da Dorcas (por conta dele), e agora só porque ela ficou toda boba com o tamanho, e grandeza, e beleza da Empresa do Remus (coisa que ele nem percebeu) ele está comendo na mão dela.


Não existe justiça no mundo. É isso o que eu digo.


Quero dizer, existe. A Dorcas merece ser feliz e tal, e eu estou mesmo começando a gostar desse cara, ele parece ser legal.


Mas por que eu não tenho a mesma sorte?


Relaxa Lene. Tudo vai ficar bem.


Daí eu levantei do carro, fechei a porta. Dei um sorriso a Dorcas, e ela me sorriu de volta.  Depois, tudo o que me restou fazer foi seguir um Remus confuso, que colocou a digital dele, A DIGITAL DELE no portão, que só fez abrir.


- Então, eeer, sua empresa ein? – hahahaha, eu sei que esse não é o seu melhor Lene, me poupe. Respirei fundo.


- Bem, não é só minha sabe. Mas é minha também. Nós começamos com uma empresa pequena, você nem acreditaria, - não, eu não acreditaria. Sinto muito Remus, mas essa empresa sua tem cara de quê foi herdada do seu super pai. Nós caminhamos pelo jardim até chegar á recepção. Remus cumprimentou a recepcionista e dois (de váaaaaarios) seguranças. Nós entramos no elevador, e ele apertou (em cheio Marlene) o 20° andar. – mas terminamos a construção desse prédio recentemente, e só há dois meses quitamos o empréstimo no banco.


- Desculpe mas, - o elevador parou e eu ainda o encarava ao dizer isso, dai a porta abriu e eu continuei olhando fixamente para ele, enquanto meus pés automaticamente seguiam os passos dele, que também olhava pra mim. Mesmo olhando pra ele eu vi que o elevador parou diretamente num pequeno hall, onde tinha uma secretária num cantinho afastado, um vaso de planta, dois sofás de dois lugares, e uma poltrona. Uma mesa de centro com algumas revistas por cima. – quem é o nós?


Entramos por um portal que ficava ao lado da mesa da secretária (Emily Danforth a plaquinha me contou) e ele disse:


- Você vai conhecê-lo agora.


A sala onde nós entramos era enorme. Tipo, a parede de trás era toda de vidro, e dava pra ver o mar muito bem lá de cima. Eu imaginei que aquilo era bom. Mas que se eu fosse a dona daquele escritório ia querer ir lá a noite, só pra ficar olhando as estrelas. Meu observatório particular.


Um bebedouro e uma mesinha de café ao lado do portal pelo qual tínhamos acabado de passar. Mais um sofá e outras duas poltronas com outra mesinha no meio daquela sala tão grande que chegava a ser desperdício. De frente uma pra outra, mas muito afastadas estavam duas mesas muito bem arrumadas, atrás de cada mesa havia uma porta. E mais á esquerda da porta alguns arquivos, tudo muito assimétrico. As paredes brancas com detalhes, de uma lado azul, e do outro verde limão.  Nada disso foi um problema. Nada disso me sobressaltou. Nada me deu ânsia de vômito. Nada me fez querer voltar para Londres correndo, e muito menos, nada me fez me arrepender de ter nascido. Mas daí eu vi que atrás da mesa que estava em frente á parede branca de detalhes azuis (seriam minúsculos cavalos marinhos?) havia uma cadeira daquelas super confortáveis que a gente pode até dormir. E a cadeira que estava de costa pra gente, virou. E então Sirius Black pegou o gancho de telefone que estava segurando sob a orelha, e colocou na base sobre a mesa.


Tudo não durou um segundo.


E eu não sei como pude pensar tantas coisas ao mesmo tempo, mas pensei. “Isso não está acontecendo. Não é real Marlene. Sirius Black não está de terno lindo de morrer, sentado na cadeira a sua frente.”, “Por quê? Por quê isso tem que acontecer comigo? Não é justo. Não existe justiça no mundo mesmo. Vou acabar morrendo de parada cardíaca se esse tipo de coisa continuar acontecendo.”, “Merlin, eu sei que você é camarada. Faça um buraco aparecer sob os meus pés, e dai eu vou cair, e vou desmaiar, e então quando acordar tudo não vai ter passado de um grande mal entendido, e eu vou estar de volta ao meu apartamento em Londres.”, “Que diferença faz não é mesmo? Fugir, ficar. Gritar, espernear. Não faz a menor diferença. Não tem a menor importância. Não importa. Nada importa. Deixe me sofrer até o fim.”, “Certo. O que é que você está pensando Marlene? Tudo está bem. Tudo vai ficar bem. Você vai voltar pra casa sã e salva. E nunca mais vai ter que sentir o cheiro, ou o gosto do mar. E nunca mais vai ter que pensar, ouvir ou falar sobre cavalos marinhos, ou qualquer outra coisa que te lembre, mesmo que remotamente, Sirius Black (que não é esse cara parado aqui).


- Lene, esse é Sirius Black. O nós da empresa. Ele e eu. Parceiros no crime. – Remus deu um sorriso. Tadinho. Devia mesmo confiar no Sirius. Tão enganado! Pena que eu estava muito ocupada ficando pálida e muda, tentando respirar pra me preocupar com qualquer coisa que não fosse fazer com que o ar chegasse ao meu pulmão.


Sirius parecia estar em um estado de choque um pouco maior que o meu. Talvez ele achasse que não fosse possível me encontrar nunca mais em um milhão de anos, ou talvez pensasse que não fosse eu. Ou talvez, como eu, ele estivesse pensando que era irônico demais, voltar a Perth e me encontrar lá. Por que Perth sempre era o começo, e sempre era o meio, e sempre era o fim.


Numa última opção, quem sabe ele estivesse ocupado demais tentado fazer seu ventrículo esquerdo funcionar. Ou alguma parte de seu cérebro. Ou seu pulmão. Ou talvez seu coração. Isso é claro, se ele tivesse um. Só pude concluir que estava tudo bem com ele. Afinal, ele não tinha nada do que se preocupar com o perfeito funcionamento das suas funções vitais.


Agora eu pelo contrário...


Nem sei como, mas eu consegui me arrastar para a poltrona no centro da sala, e implorar ao Remus que abrisse toda e qualquer entrada de ar. Remus andou de um lado pro outro abrindo as janelas e umas duas persianas que estavam fechadas. Começou a ficar meio desesperado, feito uma barata tonta. Depois de meio segundo se recompôs e trouxe um copo com água pra mim.


- Marlene? É, água tá? Melhor você beber.


De alguma forma eu peguei o copo que Remus me estendeu enquanto o Sirius só ficava lá tentando e conseguindo fazer com que eu me sentisse a maior idiota do mundo.


O que aconteceu comigo afinal? E por que em nome de Merlin esses cavalos marinhos não podem parar de me olhar?


Tudo bem. Eu respirei fundo e contei até quatro. Fechei os olhos e comecei uma sessão rápida de terapia que eu li numa revista no avião, a caminho pra cá. Você é Marlene Mckinnon. Você está em Perth e esse a sua frente é Sirius Black. Isso mesmo, Sirius Black. Um homem perfeitamente normal como todos os outros três bilhões de homens que existem no mundo.  Respirei fundo novamente. Você é Marlene Mckinnon. Você é forte, é bonita, e não precisa que ninguém lhe diga o quê fazer. Marlene Mckinnon é uma mulher independente. Veja só, está funcionando mesmo. Você é Marlene Mckinnon, você vai se levantar, e vai pro carro, e então num segundo estará no hotel. Você vai poder pedir o quê quiser pro serviço de quarto, e chorar até o fim da eternidade. Isso é isso o quê você vai fazer.


- Olá Sirius, é um prazer conhecer você, - Você é ótima Mckinnon. Você devia arrumar um emprego junto com a Dorcas, é isso o quê você devia fazer. Seja cínica mesmo, o quê mais pode fazer? – com licença Remus? Eu não estou me sentindo muito bem, será que você se apressar com seus documentos e, por favor, me levar de volta pro hotel?


- Eu... É. Bem, eu posso. É. Eu posso. – Remus parecia um pouco perdido, como se não soubesse o quê fazer por que, a verdade é que há dois minutos eu estava ótima. – Só um minutinho por favor.


Daí o Remus entrou pela porta que estava atrás da mesinha dele, e então eu estava sozinha na Blupin Security Company (Como eu pude ser tão burra? A Dorcas me disse o sobrenome do Remus. É claro que eu devia ter sacado, Black & Lupin) com o Sirius que acabara de sentar ao meu lado, no pescoço dele tem uma corrente de prata, mas não dá pra saber se tem alguma coisa pendurada por causa da gravata.


No momento que ele sentou do meu lado eu percebi que, qualquer esperança que eu outrora tive, de aquele ser outro cara, outro Sirius, tinha de ir embora mesmo. Nenhuma pessoa no mundo podia ter aquele cheiro. Nenhuma pessoa além do Sirius.


E ele estava sorrindo. Sorrindo como se o mundo fosse mesmo azul. Como se o aquecimento global não existisse, e como se, além de tudo, todas as pessoas fossem felizes, e como se ele não tivesse me traído com aquela lambisgoia americana. Por que é que ele continua sorrindo?


- Meu nome é Sirius Black, Marlene. E o prazer é todo meu. Mas acho que você já sabe disso não é mesmo?


Eu não acredito que ele está fazendo isso! Mas que coragem!


- Me poupe Black! – já estou começando a me sentir melhor, agora eu só vou precisar correr um pouco e tudo vai ficar bem.


- Se você for continuar fingindo que não me conhece as coisas vão ser muito mais fáceis pra mim, por que eu vou começar a te tratar como uma mulher atraente, que chama a minha atenção, e a quem futuramente, eu posso fazer feliz. – sorrindo. S-O-R-R-I-N-DO. Como é que ele faz isso? E daí que ele é acostumado a seduzir as mulheres? Não estou nem aí.


Eu também tive outros namorados.


Teve o Geofrey, aquele que tinha o labrador, e teve também o Matt jogador de rúgbi, e certo, eu realmente gostei do Matt.


Não estou nem aí se o Sirius vai dormir com uma mulher diferente todos os dias. Azar o dele, deve estar com um monte de doenças sexualmente transmissíveis enquanto eu, a chance de eu ter uma doença sexualmente transmissível é, se a minha mãe tiver e ter passado pra mim quando eu era apenas um feto. Aliás é só AIDS que pega assim?


- Não se aproxime de mim Black. Tudo o que eu quero de você é distância. Muita distância, aliás, o quê é que você está fazendo em Perth?


Sirius Black ficou sem palavras. Não acredito. Eu deixei Sirius Black sem palavras.


- É... B-bem. Eu tenho essa empresa com o Remus né. Moro aqui.


Tá okay. Vou fingir que acredito. Mas ele ainda era Sirius Black, e não ia parar por ai.


- O quê é que você está fazendo aqui?


- Bem, a Dorcas minha amiga, conheceu o Remus no aeroporto no dia que a gente chegou, aí hoje fomos tomar café da manhã juntos, por que a Dorc e eu não conhecemos a cidade direito porque faz sete anos desde que estive aqui, dai o Remus tinha que pegar uns documentos e a Dorc está lá embaixo esperando a gente, mas eu subi com o Remus por que preciso avaliar se ele é um cara bacana suficiente pra sair com a Dorcas.


Agora ele já não estava rindo. Estava gargalhando mesmo. Que ousadia! Rindo de mim, na cara lavada.


Espero que o Remus não demore, já faz três minutos e quarenta e seis segundos desde que ele saiu e me deixou aqui sozinha com o Sirius e o cheiro excessivamente acentuado de maresia que ele carrega.


- Eu não quis dizer aqui na Blupin, quis dizer aqui, em Perth. Sentiu saudades Marlene querida? – Acho que já estou completamente curada do choque que ver o Sirius me causou, e sabe por quê? Por que eu estou com vontade socá-lo exatamente agora.


- Na verdade, eu senti sim. Estava com saudades do Ginger’s Bar, e de correr na praia sob o sol da manhã, senti saudades do cheiro que esse lugar tem, e até do cheiro de peixe quando a gente se aproxima das docas e do porto. Senti saudades da cor do céu, da cor do sol, da cor do mar. É verdade, eu senti saudade dos cavalos marinhos, e de tudo. Da vida que esse lugar traduz. Senti muita saudade de Perth.


Ele sorriu como se tivesse acabado de entender uma piada antiga.


Ou talvez como se tivesse acabado de entender o sentido da vida.


Ou como uma criança que descobre o significado de uma palavra nova.


Mas não foi nada disso é claro.
Ele só estava sorrindo daquela forma, pra ver se eu ia me derreter por ele.


Depois de cinco minutos e doze segundos o Remus apareceu com uma pasta em mãos.


- Tudo bem Lene? Você melhorou? O Sirius é uma ótima companhia, eu sabia que ele ia fazer com que você se sentisse melhor.


Mentalmente é claro que eu gargalhei.


O Sirius? Fazer com que eu me sinta melhor? Tá legal. E eu sou um sapo de chocolate.


Eu, claro. Apenas sorri. O que mais eu poderia fazer?


- Então, vamos?


- Claro. – respondi instantaneamente. Sair daqui o mais rápido possível é tudo o que eu quero na vida.


- Sabe Remus eu estava pensando, - Sirius pensando, nada de bom pode vir disso – a gente pode ir lá deixar as meninas, e depois ir junto ver o Detetive Angkatell sobre o arrombamento de quinta-feira na Burdett.


- É uma idéia considerável. Mas eu prometi a Dorc que almoçaríamos juntos.


- Melhor ainda. Quando a gente sair da delegacia, podemos pegá-las pro almoço.


Olá? Será que tem alguém que ainda lembra que eu estou aqui? Será que eu sou só a protagonista dessa história ou o quê?


Merlin? Aquele buraco lembra?


Almoçar com o Sirius. Essa é boa.


Pensei ter dito isso em voz alta, mas parece que não, já que o Remus está me perguntando o quê eu acho.


O quê eu acho? Acho que cada um deve voltar pra sua casa/apartamento/hotel, e ser feliz pra sempre. É isso o quê eu acho.


Então por que eu disse:


- Almoço? Se a Dorcas concordar...


Até o Sirius, que certamente me conhecia melhor, me olhou surpreso.


- Tanto faz né? Eu só quero mesmo deitar um pouco. Ainda não estou me sentindo muito bem.


Genial Marlene! Você pode dizer que não está boa, e daí não vai precisar almoçar com o Sirius.


O Sirius sorriu.


Como se ele pudesse mesmo ter lido a minha mente.


- Então vamos.


 


Eu voltei totalmente em silêncio até chegar ao carro. Black e Lupin vieram falando sobre o arrombamento na Burdett.


Como se eu estivesse minimamente interessada em saber daquilo.


Foi bom chegar ao ar livre. A cobertura onde os meninos trabalham é muito espaçosa e ventilada, mas aqui fora, cheira vida.


Eu sei que, quando eu cheguei aqui hoje, eu queria voltar pra Londres, e me afastar desse cheiro.


Mas agora, o tempo que eu passei lá dentro, longe dele, já sinto falta.


Como as coisas mudam.


Dorcas ficou contente em nos ver. Suponho que nós não demoramos mais do que 15 minutos, como previsto. Mas pra mim foram quase duas horas.


- Eu já estava morta de tédio. – olha aí a boa e velha Dorcas está de volta. Se ela ao menos soubesse o quê eu arrisquei entrando naquela empresa por ela! Pelo menos comprovei. O Remus é mesmo um cara bacana.


Sorri pra ela.


- Dorc querida, como passou? Vocês mulheres tem umas coisas... Primeiro você e depois a Lene. – Acho que na verdade o Remus e a Dorcas tem boas chances de ficarem juntos. Os dois são ótimos pra começar assuntos e ir desviando a idéia, até que já tenham falado de tudo, sem terminar nada. – Mal chegamos lá em cima e a Marlene estava branca feito papel.


Ela me olhou interessada.


- Lene, o que aconteceu? Você está se sentindo melhor?


- Eu estou bem sim Dorc, acho que foi apenas o elevador, você sabe né? Abafado e tal. – Mais que grande mentirosa ein Marlene? Você não vale nada. – Estou bem, só preciso deitar um pouquinho.


Ela sorriu, e então pareceu perceber o Sirius.


- Olha mais que cabeça a minha, até esqueci-me de te apresentar não é mesmo querida? Sirius, - disse Remus fazendo sinal com as mãos pra que o outro se aproximasse – essa aqui é a Dorcas de quem lhe falei. Dorcas, esse é o Sirius, meu amigo e sócio na Blupin.


- Encantando senhorita. – aposto que está encantado mesmo, a Dorcas é adorável com aquelas bochechas dela, e olhos azuis.


Eu pensei que ela não fosse se lembrar do nome, mas ela fez a associação corretamente por que começou a me olhar esquisito.


Quando o Sirius apertou a mão dela, ela disse “muito prazer”, e na hora que entramos no carro, ela sussurrou pra mim “Você está de brincadeira? Quais são as verdadeiras chances de isso ter acontecido? Falando de probabilidade mesmo”.


O transito não estava uma loucura como quando nós fomos. Ainda são umas dez e meia eu acho. Sinceramente não estou com muita noção de nada.


Eu escrevi no meu celular pra Dorcas ler: “Quando nós chegarmos eu vou te contar tudo.” ela acenou com a cabeça e nós continuamos nosso caminho completamente em silêncio.


Eu não acredito até agora que isso está mesmo acontecendo! Sinceramente, a Dorcas tem toda a razão. Quais são as reais chances de isso estar acontecendo?


Eu vim a esse lugar em busca de paz. Queria apenas me desviar dos pensamentos de uma cidade tão grande e cinza como Londres, e certo, eu senti falta mesmo de tudo o quê disse ao Sirius, e também do cheiro do mar que eu ocultei dele, por que acho que ele pode fazer a associação com ele próprio, já que nós dois na época em que ficamos juntos só andávamos pela praia, e teve também aquele lance de querer casar e morar aqui por causa do cheiro.


Mas nada disso quer dizer que eu esperava encontrar o Sirius aqui. Quer dizer, não conscientemente. Eu esperava apenas ter uma boa virada de ano, pular minhas ondas da sorte e voltar pra casa feliz algum tempo depois. E agora, convenhamos, como eu vou poder voltar pra casa feliz agora? Tendo deixando o Sirius aqui e tudo o mais.


Graças a esse idiota a minha vida nunca mais vai ser a mesma!  Agora, quando eu voltar a Londres vou ter sempre esse fantasma me assombrando sobre o quê eu podia ter feito, quando na verdade eu só vim aqui renovar minha lembrança salgada boa desse lugar. Por que, eu digo novamente, por que isso tem que acontecer comigo?


Talvez se eu sofresse uma sincope e morresse, não ia ter nem que almoçar com o Sirius, e nem voltar pra Londres sem ele.


Se bem que morrer não resolveria as coisas, eu acho.


O carro parou e a Dorcas me cutucou achando que talvez eu tivesse dormido, já que eu estava com o rosto colado á janela.


- Chegamos Lene, - começou minha adorável amiga que, pra começo de conversa, foi quem me arrastou para esse fim de mundo. O Sirius desceu do banco de passageiro na frente onde estava, e abriu a porta do banco de trás para nós. – obrigada Sirius, - ainda bem que ela agradeceu, nem hoje nem amanhã que eu vou agradecer alguma coisa pro Sirius – Lene, você talvez devesse descer e


Mas eu já estava descendo do carro. Eu disse a Dorcas (e também ao Remo e ao Sirius) que eu iria subir por que precisava tomar um banho de sais, a única coisa que poderia fazer com que eu voltasse a agir de forma certa. Eu preciso muito relaxar. Preciso muito mergulhar numa banheira e me afogar esquecer que esse dia aconteceu.


Eu entrei no nosso prédio e cumprimentei o porteiro, daí saí correndo pelas escadas. Existe uma coisa em fazer exercício físico quando você está simplesmente puta da vida. Você sente cada músculo do seu corpo ser tomado pela endorfina, e quer simplesmente mais. E logo seus problemas já não importam mais, importa se você consegue fazer ou não, seu cérebro querer liberar mais hormônio.


Cheguei ao quinto andar e respirei fundo.


Acho que a Dorcas vai chegar antes de mim, por causa do elevador e tal, mas eu realmente gostaria de chegar antes. Você sabe, me trancar no banheiro e não dar satisfação e nem nada.


Eu abri a porta do quarto de hotel, e com a graça de Deus, a Dorcas ainda não estava lá. Eu dei um pulo no quarto, peguei meu MP3, depois fui á cozinha e enchi uma taça com sorvete, ouvi um barulho na porta da frente. Corri para o banheiro e fechei a porta à chave.


Ouvi a Dorcas chamando por mim e comecei a encher a banheira.


Uma batida na porta. Eu subi na pia escorei na parede e dei uma olhada no espelho, liguei meu mp3 e “Vento no Litoral” começou a tocar. É o que eu digo, simplesmente não existe justiça no mundo.


- Lene, está muito claro pra mim que você pegou uma taça de sorvete e agora está trancada aí dentro, tentando encher a banheira pra depois fingir que não me ouviu. Tenho certeza que você está sentada em cima da pia, escorada na parede olhando no espelho.


Dorcas? Oi? Por acaso você ingressou num culto de feitiçaria?


- Abre a porta pra mim Lene.


Eu tirei a minha roupa, peguei o mp3 e coloquei no suporte da banheira, e fiquei lá dentro tomando sorvete com meu mp3 ligado.


A água estava boa, nem muito quente nem fria demais, que é o jeito que é o clima de Perth nessa época do ano.


Perth é lindo. Perth é maravilhoso de verdade.


Eu fico imaginando se a Dorcas sabia que nós encontraríamos o Sirius aqui. Tudo bem que eu sempre vivo falando sobre como esse lugar é maravilhoso (mas nunca de como terminou o meu trágico acampamento), e sobre a vontade que eu sempre tive de voltar aqui, mas a Dorcas podia ter escolhido qualquer lugar no mundo pra visitar, e nós acabamos caindo aqui.


E além do mais, encontrar com o melhor amigo do Sirius no aeroporto? Fala sério, essa história tá ficando muito manjada para o meu gosto.


A Dorcas continua batendo na porta, o quê na verdade, me impede de colocar os pensamentos em ordem.


Eu peguei o MP3 coloquei no modo aleatório e deixei tocando, respirei fundo.


 


- Dorc, é claro que eu estou aqui.


- Lene, até que enfim você me respondeu. Saia daí.


 


A voz dela está saindo um pouco abafada, por causa da porta, talvez a minha voz também esteja, mas eu vou continuar falando.


 


- Dorcas, eu estou tomando banho, por favor, pare de gritar pra eu poder pensar um pouco.


- Tudo bem, eu cancelei meu almoço com o Remus pra não correr o risco de você ver o Sirius, - a voz dela meio que embargou nessa hora, mas ela continuou – vou te esperar lá no Ginger’s pra gente comer alguma coisa ok?


 


Minha melhor amiga é uma fofa, e eu achando que ela estava por trás de toda essa história.


- Tudo bem, te encontro lá daqui uma hora.


Depois disso tudo ficou em silêncio. Até parece que eu vou encontrar a Dorcas no Ginger’s daqui uma hora, preciso correr pela praia e sentir a areia por entre meus dedos pra ver se alguma coisa faz sentido.


Quando eu peguei meu MP3 de novo estava tocando a música “Hallelujah” na versão da Kate Voegele.


“Baby I’ve been here before, I know this room, and I walk this floor”


Certo. O que está realmente acontecendo?


Primeiro Vento no Litoral, e agora Hallelujah, por que as músicas mais significativas tem que começar a tocar nos momentos em que você não quer e nem precisar se lembrar de nada?


É verdade, eu já estive aqui antes.


Sabe que eu amo músicas? É uma sensação que você tem quando ouve uma música, num dia você ouve uma música, e está super triste por que brigou com alguém ou alguma outra coisa qualquer, e talvez, se for a primeira vez que ouviu aquela música, essa vai ser a marca que aquela música terá. Um rótulo que você vai lembrar quando ouvi-la novamente.


Mas se você ouve uma música mesmo que seja triste, num dia em que está feliz você vai amar muito aquela música, e daí quando um amigo seu estiver triste, você vai mostrar aquela música pra ele. Por que aquela música faz bem a você.


E daí a mesma música que pra você tem um significado, para o seu amigo vai ter outra.


É a música. O som que você ouve de uma onda quebrando nas pedras. Isso é música.


É o vento que bate nas árvores, e faz com que os passarinhos tenham de sair voando.


É música.


Tudo é música. Por que a música simplesmente está em todo lugar, por que existem músicas para cada momento da sua vida, e por isso a música é tão apaixonante. Milhares de pessoas, unidos pela mesma paixão, pelo mesmo som.


Pela mesma música.


A música terminou e “Talking to the Moon” do Bruno Mars começou. Eu decidi que só ia ouvir mais aquela música, por que não quero que a trilha sonora da minha vida seja montada em um dia só.
Tem que ter calma.


Tem que ir devagar.


Tem que esperar, e saborear cada estrofe.


Será que o Sirius ainda me ama?


O quê o Sirius pensou quando me viu? O quê o Sirius sentiu quando me viu?


Engraçado, eu estou pensando na trilha sonora da minha vida, e estou pensando no Sirius, estou lembrando cada coisa tão maravilhosa que eu vivi em Perth, mas ao mesmo tempo tento não pensar em nada.


Tem uma rachadura no teto, que começa na lâmpada e termina á uns três palmos da parede á esquerda. Aqui não tem cavalos marinhos. Talvez por que isso seja a minha atual noção de realidade.


Tem uma rachadura no teto.


Será que o Sirius me ama?


A parede é azulejada de branco, mas têm aqueles azulejos pequenos e fininhos que se encaixam, o daqui é meio amarelo.


Será que eu amo o Sirius?


Na pia tem uma cuba transparente com uma faixinha amarela, bem no comecinho.


Será que foi o destino que nos trouxe aqui?


Engraçado que essa banheira é até grande, mas não tem aquelas portinhas de vidro pra cercar a gente, ela só fica aqui, toda aberta pra gente relaxar.


Mas o quê é mesmo o destino afinal?


Não estou muito certa disso, mas tem uma formiga entrando naquela rachadura.


Existe mesmo uma chance de o Sirius e eu ficarmos juntos?


 


Existe mesmo essa tal de Lei que rege todas as coisas?


E se existe, isso não é uma tremenda sacanagem? Se existe, então todo aquele papo de “colher o que plantou” é uma farsa.


Mas eu estou sem o Sirius agora. O Sirius está em algum lugar lá fora, e ele não é meu.


Se existe, por que essa Lei me trouxe aqui?


Se existe, por que a Dorcas tinha que se apaixonar pelo melhor amigo do amor da minha vida?


A vida continua Marlene, e ficar numa Marlene não vai fazer as coisas mudarem. Por mais que a água esteja quente, por mais que você decore cada pedaço do ambiente, por mais que teime em adiar as decisões, uma hora você tem que se levantar e encarar a realidade. Por que nada vem de graça.


 



  •                                 



 


                                                                                                Narrado por: Sirius B.


                                                                                                Local: Algum lugar no meio da praia


                                                                                                Horário: 16:47


                                                                                                Quando: 03/07


 


Esse foi o dia mais louco da minha vida. Eu juro que acordei pensando em como seria maravilhoso adiantar o serviço do final de semana pra poder ir pra praia amanhã.


Mas que grande engano. Tudo o que eu consegui fazer antes das 10:30 da manhã foi realmente muito pouco em vista do quê eu precisava resolver, e ainda teve a invasão da Burdett.


Enfim. Um dia normal para uma empresa de segurança, mas isso não foi nada comparado ao que eu vi quando o Remus passou lá na Blupin pra pegar a parte dele no projeto weekend.


Mas a Lene?


Nem nos meus sonhos mais lindos, salgados e cheirosos eu poderia sonhar em encontrar a Lene.


Vou me lembrar do quê aconteceu naquele acampamento há tantos anos atrás.


Vou tentar recordar essa lembrança que eu sufoco á mais de cinco anos.


Tudo bem. Eu conheci a Marlene aquele dia na fogueira. O fatídico dia que eu conheci a Marlene.


E depois?


Bem nós começamos a namorar.


E então simplesmente na última semana de acampamento ela ficou com aquele cara idiota que cheirava a peixe podre, e depois nós nunca mais nos falamos.


E certo, ela estava muito bêbada naquela festa. Ou talvez estivesse fingindo. Quem pode saber?


Eu não sei.


O quê eu sei é que eu estou aqui em algum lugar perto do Ginger’s. Esse restaurante com seus cavalos marinhos que significam tanto para a Marlene e eu.


Eu nem sei o quê eu estou fazendo aqui, mas a verdade é que, depois que a Marlene subiu correndo, o Remus a Dorcas e eu resolvemos esperá-la no Ginger’s que fica pertinho do hotel onde elas estão.


Depois de quase duas horas esperando por ela, eu decidi que não aguentava ficar lá no Ginger’s, e precisava caminhar na praia pra pensar.


Eles entenderam é claro. Afinal de contas, a Marlene não foi a única que levou um susto.


A tardinha está caindo, e o céu está começando a tomar aqueles tons que só podem ser visto com clareza no hemisfério sul. É verdade. Eu amo esse lugar.


E, sim. Eu vim pra cá por que tinha esperança de que se voltasse ao lugar onde conheci a Marlene, existiria uma chance de nós no reencontrarmos depois.


Mas, por que eu quero tanto encontrar com a Marlene?


O vento está forte.


Por que é importante saber se a Marlene realmente gostava daquele cara idiota, ou se ela estava simplesmente zoando com a minha cara, ou por que ela não atendeu minhas ligações depois que tudo acabou.


Eu subi em algumas pedras, e deixei as ondas baterem nos pés. Por que é preciso que alguma coisa, leve tudo embora. E a água faz isso por nós.


Incrivelmente o sal ajuda. Ou não. Tanto faz por que a Marlene está por aí em algum lugar.


Você sabe o quê existe depois daquela linha que divide tantas coisas?


Deve haver um lugar por detrás do horizonte onde aja felicidade plena.


Não é possível que o horizonte só sirva pra distrair a gente. Mas não tem problema, por que de qualquer forma, funciona.


Será que a Marlene ainda se lembra de tudo o quê nós sonhávamos, será que ela realmente se apaixonou a primeira vista por mim naquele dia, ou foi tudo uma coisa ridícula e eu sou até hoje um idiota que não consegue encontrar uma mulher para me fazer companhia, por que simplesmente não paro de pensar “o quê a Marlene faria nessa situação.”, “a Marlene aprovaria esse sistema de segurança?”, “a Marlene nunca vestiria uma coisa como essa.” Seis bilhões de pessoas no mundo.


Seis bilhões de mentes. Seis bilhões de personalidades. Seis bilhões de vidas, de paixões, e histórias. Seis bilhões de possibilidades que você nunca provará por que na sua cabeça só existe uma.


Eu comprei uma casa na praia. Pra guardar o cheiro do mar. Essa foi a razão pela qual eu mudei de vez para Perth não é? Realizar os sonhos que eu prometi a Marlene que realizaria. Sonhos que eram nossos.


Talvez eu simplesmente tenha criado a Marlene.


Talvez eu, Sirius Black seja um louco que imagina as pessoas e não consigo sobreviver sem a pessoa idealizada ao meu lado.


É verdade. A Marlene não existe em lugar nenhum senão nos meus sonhos.


Ou talvez exista, nem eu seria capaz de criar uma perfeição tão salgada.


A verdade é que, por mais de quatro anos, a Marlene foi a pessoa que ocupou cada centímetro da minha mente. É verdade mesmo que nos primeiros três anos eu fiquei pensando se eu havia feito alguma coisa para que a Marlene acreditasse que eu não gostava dela, e no por que dela ter feito o que fez. Ainda que, na época do nosso relacionamento, antes de todo o escândalo, dois dias antes de nós termos terminado, houve aquela história com a Bel, mas eu tenho certeza que provei a todos que aquela garota era louca e que eu não havia encostado um dedo nela. Simplesmente eu não encontrava uma resposta, por que não existia resposta. Depois de pensar sobre todos os assuntos possíveis. Depois de três anos, eu passei a pensar em como tirar a Marlene da minha cabeça, e no final, eu simplesmente abolia qualquer pensamento e me concentrava em como eu ia criar uma empresa aonde pudesse enfiar a cara 10 horas por dia, e não ter tempo pra pensar em outra coisa.


Foi muito simples. No primeiro ano eu já era completamente apaixonado pelo meu trabalho. E só conseguia pensar em como eu faria aquela empresa crescer. Trabalhando mais de 10 horas por dia, criando softwares, e programando sistemas. Foi assim.


A Blupin acabou se tornando minha primeira casa, por que eu simplesmente não podia voltar pra casa e ver a Marlene em cada canto que eu tinha construído com base as lembranças que tínhamos.


Que idiota eu sempre fui. A Marlene nunca mais pensou em mim, e eu mudei a minha vida toda por causa dela.


Talvez a gente simplesmente não tenha nascido pra ficar junto. Talvez tenhamos nos encontrado na hora errada, um na vida do outro. Esse tipo de coisa acontece. Você encontra a pessoa mais perfeita do mundo, e sabe que vocês não vão poder ficar juntos, por que tem que viver algumas coisas para crescerem, e a mudança é solitária.


 


Eu respirei fundo, e considerei voltar. Talvez a Marlene já estivesse no Ginger’s.


O cheiro maresia é tão delicioso. Tão fascinante.


Eu me levantei para voltar ao restaurante, e a Marlene estava parada ao meu lado.


 


Existe mesmo essa tal de Lei que rege todas as coisas?


 


- Eu não sei, - começou a Marlene – por que diabos você veio parar nesse lugar. Ou por quê eu tinha que ter te encontrado aqui e agora, quando na verdade eu só queria uma caminhada na praia pra sentir o cheiro do mar. O que eu sei é que a vida não é justa mesmo, e eu preciso perguntar uma coisa. Eu preciso saber Sirius.


Eu achei que ela fosse chorar a qualquer minuto, e torci para que isso não acontecesse, por que eu simplesmente não saberia se deveria abraça-la ou deixa-la chorando mais afastada, ou Deus sabe o quê.


 


Será que o Sirius me ama?


 


O fato é que, quando eu vi a Marlene hoje, todos os meus pensamentos sumiram como se nunca houvessem existido. Toda tentativa de odiá-la desapareceu e eu senti como se alguém houvesse pausado a minha vida, e só naquele momento, a pessoa se lembrou de dar o play.


O fato é que eu nunca deixei de amar a Marlene.


 


- Por quê. Em nome de Merlin eu te pergunto. Por quê você dormiu com a Bel aquele dia no acampamento?


 


A Bel e eu? Dormimos juntos? Oi? Pelo o que eu saiba eu nunca consegui estar com nenhuma mulher por que cada vez que chegava perto de possuí-las pensava se tinha alguém tocando a Marlene daquela forma, e dai simplesmente desisti.


Quando a Marlene fez aquela pergunta, foi como se o mundo, que a poucas horas tinha voltado a girar, o filme da minha vida que estava no pause, e depois no play, estivesse sido colocado no pause novamente.


E enquanto a fita estava parada e eu sentia o vento castigando meu rosto, só conseguia pensar que tudo ficaria bem, de alguma forma. Por que o mar estava lá pra levar tudo o que eu não pudesse mais aguentar, embora.


Eu sabia que a Marlene estava com frio, por que ela estava mais branca que o normal e ainda abraçava os braços. Apesar do Sol ligeiramente forte, a tarde estava caindo, e ventava forte. Meu primeiro instinto foi realmente protege-la. Levá-la para um lugar seguro, e aquece-la.


Mas eu não vou poder fazer isso agora, por que de alguma forma sei que estou num estado de percepção extrema, e mesmo tendo percebido tudo isso em menos de cinco segundos, a Marlene ainda está parada na minha frente, e ela acabou de me fazer uma pergunta.


Mesmo sem saber a resposta, eu ainda preciso responder.


 


Será que foi o destino que nos trouxe aqui?


 


- Marlene eu, - eu dei um passo em direção a ela, mas ela recuou um passo, então acho que vou ter que ficar bem longe mesmo – Marlene eu sinceramente não faço a menor idéia do que você está falando.


 


Destino. A fatalidade a que estariam sujeitas todas as pessoas e todas as coisas do mundo.


 


Um monte de coisas começaram a aparecer na minha mente, mas mesmo assim eu percebi que a mente dela, estava mais confusa que a minha.


 


- Eu quero saber Sirius, - A Marlene é muito real. Mesmo que eu tenha passado todos esses anos sem tocá-la, sem ouvir a voz dela, eu acabo de perceber que, de forma nenhuma eu poderia ter criado a Marlene na minha mente. Eu nunca seria tão audacioso. A Marlene tem medo, mas ela está tão firme aqui diante de mim, que estou com medo dela me dar uma surra a qualquer momento. – por que a Bel foi no meu quarto no dia da festa de despedida do acampamento, e me disse que você tinha passado o verão todo em cima dela, e que ela não teve outra escolha senão ceder ao seu charme, e transar com você. Foi isso o que eu te perguntei. Por que eu sei que a Bel era uma vadia, eu me lembro muito bem. Mas eu não sei como alguma pessoa pode namorar com uma primeira, seduzir uma segunda e leva-la para cama, e depois achar que a primeira ainda vai continuar te amando.


 


Será que eu amo o Sirius?


 


- Por que se você não sabe Sirius. Eu amava você.


E doeu. E doeu ouvir aquilo. Por que foi tudo há tanto tempo. É realmente estranho estar aqui agora, no lugar aonde tudo começou, e achar que voltamos no tempo. Achar que hoje é o dia que nós nos conhecemos.


A areia clara, quase branca. As nuvens pintando o céu de azul, rosa, lilás e laranja. As ondas batendo nas pedras, e os respingos de água batendo ligeiramente em nós.


O gosto do sal.


 


- E eu amava você também Marlene.


O rosto dela se distorceu numa careta. Ela não esperava ouvir aquilo.


Ter um fantasma do passado te assombrando, não consola ninguém.


 


Respirei fundo, e percebi que ela estava olhando fixamente para o meu pescoço. Aonde uma corrente de prata com um pequeno cavalo marinho descansava tranquilamente.


- Eu juro pelo amor que existe em mim existiu entre nós, que eu nunca encostei um dedo na Bel.


Eu sei que ela ficou meio abobalhada, por que eu dei um passo em direção a ela, e ela simplesmente continuou parada lá.


- Por que você beijou o Drake?


De todas as formas de encanto que uma pessoa pode ter, a Marlene tem o melhor, que é dar sorrisos doces e sarcásticos ao mesmo tempo, tipo esse que ela deu agora.


- Não é obvio? Você não estava por perto Sirius. Pelo que eu sabia, pelo o que eu tinha ouvido da boca da própria Bel, você era o maior cachorro de quem eu já ouvi falar. Você não estava mais por perto, e segundo meus planos, tudo o que eu podia fazer era ficar bem.


Mais uma onda açoitou as rochas, e eu fiquei com vontade de desviar o olhar dos da Marlene, pra ver se havia algum quebra mar por perto.


- o plano, - eu consegui dizer firmemente – era ficarmos bem. – ela meio que sorriu, só que dessa vez, sem o sarcasmo. E eu me vi forçado a continuar, por que a Marlene tem isso. Ela liberta em vocês suas vontades escondidas. – o plano, era ficarmos juntos.


- Talvez as coisas mudem. – ela disse simplesmente.


 


Será que foi o destino que nos trouxe aqui?


 


- Ou talvez, - disse eu – elas continuem as mesmas. Como sempre foi, como sempre será. – Eu tirei a corrente de prata com o pingente de cavalo marinho do meu pescoço, e colocando no dela terminei – como tem que ser.


- Por que você está fazendo isso comigo Sirius Black?


Essa foi a mais fácil de todas, mas mesmo assim eu tive que me forçar a responder com calma, por que se eu me apressasse demais, talvez meu coração não conseguisse bombear sangue suficiente e eu acabasse morrendo, só que eu não podia morrer agora, por que aquele era um dos momentos mais importantes da minha vida.


Ou talvez eu simplesmente morresse de derrame.


Ou talvez, mas só talvez tudo fosse ficar bem, e eu conseguisse dizer o que eu realmente queria.


 


Existe mesmo uma chance de o Sirius e eu ficarmos juntos?


 


- Por que eu te amo Marlene Mckkinon. Só por isso.


 


Ela começou a chorar, mas não soluçando da maneira como eu soube, ela havia chorado na última semana do nosso acampamento.


Chorou meio que de felicidade, eu acho, por que daí disse;


 


- Isso vai ser realmente necessário. Por que eu também amo você.


 


E agora? A Marlene me ama. É verdade mesmo.


Será que eu deveria abraçá-la? Será que ela vai me xingar se eu não o fizer?


E se eu fizer?


 


Nunca precisei descobrir por que a Marlene me enlaçou num beijo.


E foi Salgado.


Com gosto de Mar.


Marlene.


Ficamos ali por um minuto inteiro, mas eu tenho certeza que no meu filme pausado, aquilo durou umas três horas. Se o meu filme estivesse mesmo pausado por agora eu tinha a Marlene de volta, e tudo o que, outrora fora vão, tem um sentido.


 


Será que foi o destino que nos trouxe aqui?


 


Fui forçado a interromper aquele momento, por que precisava fazer uma última pergunta.


- Por que você voltou a Perth Lene?


Ela me olhou com um sorriso, e eu soube que aquela fora a questão que a torturara desde o inicio da viagem.


Fez uma cara de quem acaba de entender uma piada antiga.


Ou talvez como se tivesse acabado de entender o sentido da vida.


Ou como uma criança que descobre o significado de uma palavra nova.


 


- Por que eu queria, mais do que tudo te encontrar aqui, e saber que você era real. Eu precisava saber que não tinha te criado na minha mente. Eu precisava encontrar você novamente.


Eu abracei e depois dei-lhe um novo beijo.


Com gosto de mar.


Marlene.


_________________

n/a: amo essa fic, sim, sem nenhuma razão aparente por que ela nem é lá grandes coisas. e, ela foi escrita pra participar do concurso de FanFics da Anne Malfoy, que você pode saber mais aqui: http://fanfic.potterish.com/visucap.php?identCap=16696&identFic=38888&tCh=12

então anh... quem quiser agradar, é só deixar um comentáriozinho de nada :D
ps: essa fic não é 'nova', mas nao estava postada no meu login, só criei um perfil pra ela, depois que a nossa linda Nom-Nom fez aquela capa mais linda ever, que você viram lá no menu da fic. beijos ;* 

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Comentários (1)

  • IsaBlack

    WOOOOOOOW! *-* Eu tenho necessidade de patológica de Sirius/Lene, e, giiiirl, essa fic é... perfeita! *u* Tem gosto de SM em todos os níveis! É amor, saudade, paixão e cumplicidade... É encaixe perfeito! E você traduziu isso tudo de modo incrível! Parabéns pela história, e pela escrita!  Se quiser, puder e estiver disposta e me deixar muuuito feliz, dá uma passadinha nas minhas? beijão!

    2012-01-11
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