Capítulo Único.
Essa sensação vem me perseguindo há longas duas semanas, algo tão estranho, um vazio descomunal. Ginny já me disse que não devo ficar angustiado, mas feliz. Por maior que seja a certeza que eu tenho de que tudo ficará bem, ainda sim, ao me olhar no espelho e ver minha cicatriz, um temor fora do comum toma conta de meu ser. Estou começando a me sentir um idiota, um verdadeiro pai coruja. Por Mérlin, a Lily ficará bem em Hogwarts, por que tenho que me preocupar dessa maneira?
- Harry, não acredito, estamos atrasados para o jantar! – Ginny disse entrando em nosso quarto. – Saia já desta cama e vá se arrumar.
- Ginny, não estou me sentindo muito bem, acho melhor cancelarmos. – suspirei cansado. Sempre faço aquilo que minha mulher pede, mas meu humor não está dos melhores para sairmos. Bem, ela está me lançando aquele típico olhar espreito com uma postura tão rígida que faria a Senhora Weasley ficar extremamente orgulhosa. Por Mérlin, ela ainda está sustentando o olhar para mim! Não posso nem ficar deitado na minha cama mirando o teto que ela tem que implicar. Por que minha mulher tem que ser mais teimosa que um hipogrifo? Pior, por que ela SEMPRE consegue o que quer? – Está bem, está bem, eu vou. – me permiti dar um suspiro para enfatizar minha contrariedade.
- Harry, eles estão bem. E por favor, nem comece com a “Síndrome do Ciúmes Desmedido” que só o Ronald tem! A Lily não merece isso. – Já disse que Ginny consegue o que quer quando fala comigo enquanto massageia meus cabelos e aproxima seu corpo ao meu de um jeito muito provocativo?
- Ginevra... – Podem rir, minha mulher consegue me tirar do sério! – Agora, mais do que nunca, tenho certeza de que vamos nos atrasar. – disse em meu tom mais maroto, enquanto puxava minha mulher para mais perto de mim.
- Desista, Potter. Pode ir tomar banho, é bom que seus ânimos acalmam e você fica apresentável para o jantar! – Eu, definitivamente, ODEIO quando ela faz isso comigo!
Agora estou feito um palerma mirando a porta do meu quarto, com um olhar abobalhado, por onde Ginny acabou de sair. O mais humilhante de nossa relação é que, por mais que eu diga o contrário, no fundo, adoro quando ela me provoca desse jeito. É, estou mesmo precisando de um bom banho gelado.
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- Nem me fale, Mione. – Gina disse desanimada – O Harry também está dando sinais de ciúmes infantis. – Eu o que? Por que eu tinha que estar intercalando meus pensamentos entre quadribol e a pureza de Lily e simplesmente ignorar a conversa das duas? Droga, o que será que eu fiz para elas estarem fofocando?
- Quer dizer que o Harry está se remoendo só porque sua ruivinha está em Hogwarts, fora do alcance do papai? – Eu admito que estou morrendo de ciúmes da minha filha, mas, escutar o Ron tirando uma com a minha cara e, pior, de boca cheia? Não, isso é demais!
- A diferença é que eu externo isso, Ron. – sorri debochado – E a Rose, como tem andado? Alguma correspondência falando sobre o Josh? – Sim, eu sei que não devia ter falado isso, mas ele provocou! O melhor de tudo é que esse Josh nem existe, mas, só pela expressão aflita que está estampada no rosto do meu melhor amigo, tenho certeza que ele está se perguntando quem é esse cara.
- Ele não existe, existe? – BINGO! Voz trêmula, incerteza e orelhas vermelhas, ele acreditou!
- Ronald, por Mérlin, é claro que não existe. – Mione disse tentando soar ríspida, mas é nítida a presença de um sorrisinho de canto em sua expressão. Incrível como conheço todos os presentes nesse jantar, desde Ron e sua baixa auto estima até Hermione e seu jeito lógico de entender o mundo. Assim como sei que Gina não gostou nenhum pouco da brincadeira que fiz e deve estar me lançando um olhar nada amistoso, contudo, acho que encarar meu frango frito é melhor negócio se comparado ao desconcertante olhar da ruiva.
- Harry-James-Potter, isso foi a coisa mais baixa que você já fez! Tenho certeza que o Ron está acreditando que esse tal de Josh realmente exista! – Ginny sussurrou colérica.
Por mais cômica que essa cena possa parecer, sinto que isso vai resultar em um Harry Potter, em casa, sentado em sua poltrona, mirando o nada enquanto Ginevra faz um discurso incansável sobre o quão sou infantil, devido às minhas ações, e irritante, devido ao meu charme não permitir que uma briga nossa dure mais que dois dias. Nessas horas, oscilo entre prestar atenção no sermão de Ginny, fazer notas mentais para apostar nos Chudley Cannos no bolão dos aurores e pensar em maneiras de desencorajar qualquer futuro pretendente hediondo de cortejar minha filhinha. Definitivamente, sou o cara mais feliz de todo o mundo!
- É claro que eu sabia que ele não existia, Mione! – Ronald, Ronald, Ronald, quando você vai aprender que essas suas falas em tom de falsa segurança não enganam, e nunca enganaram, ninguém? – Você acha que a MINHA Rose, com seus míseros treze aninhos, se interessa por garotos? – É impressão minha ou um silêncio perturbador tomou conta da mesa do jantar? Ron, pare de falar, você só está se complicando, ou melhor, você está inventando um caso amoroso para sua filha, caso esse que apenas você acredita! - POR MÉRLIN, HERMIONE, DESDE QUANDO NOSSA ROSE ESTÁ SE AGARRANDO PELOS CORREDORES DE HOGWARTS COM ESSE TAL DE JOSH?
- Ronald... Billius... Weasley. – Certeza que Hermione está contando até mil. E mais certeza ainda que Ginny vá me matar quando chegarmos em casa. Por que eu não fiquei quieto? Aposto meu cargo de chefe dos aurores que o infalível “Potter Modo Automático” não enganará minha ruivinha na nossa quase certa discussão. Pior, qual será a minha reação quando a minha Lily aparecer com um moleque, chamando-o de namorado? Harry Potter, por Mérlin, pare de pensar nessas coisas! Sua Lily, a sua princesinha, seu orgulho, sua ruivinha possui apenas onze anos! Definitivamente, acredito que Ginevra esteja coberta de razão ao afirmar que eu tenha a “Síndrome do Ciúmes Desmedido”!
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- Não acredito que ela fez isso comigo. – Ron disse desiludido enquanto virava mais um copo de uísque de fogo.
Eu não fazia ideia do que havia acontecido. Recebi apenas uma mensagem de Ron quase implorando por companhia no Caldeirão Furado. O pior de tudo é que já faz quase uma hora que estou aqui sem fazer a menor ideia do porquê. Meu amigo apenas pede doses e mais doses de bebida além de murmurar e enfatizar sua incredulidade.
- Ron... Você e a Mione brigaram mais uma vez? – perguntei com certa hesitação, afinal, sempre que esses dois discutem, Ron fica irritadiço.
- Antes fosse, Harry, antes fosse. – suspirou cansado, largando, pela primeira vez desde que cheguei, o copo de bebida – Eu vou matar o Longbottom! Ah, se vou!
- Ron, por Mérlin! Que culpa o Neville tem de seus problemas? – Ron sempre tentou culpar alguém por algum erro ou infortúnio. Contudo, devo confessar que tais argumentações de Ronald, por mais hilariantes que fossem, podiam ser usadas, mesmo que não condissessem com a realidade. Agora, culpar o Neville? Acho que a criatividade do meu amigo está acabando, essa é a única explicação!
- Ele é o principal culpado – vociferou entre dentes – VOU MATÁ-LO QUANDO CRUZAR COM ELE, AH SE VOU!
- Ronald, pelo amor que você tem a Rose, pare de fazer escândalo! – falar na Rose sempre deixa Ron com as orelhas vermelhas e com uma cara abobalhada. Será que faço a mesma coisa quando falam da Lily? Não, não perco a compostura quando falam da minha princesinha, não mesmo - Pois bem, agora que já estamos mais calmos – Na verdade, eu sempre estive calmo, só o Ron que não – podemos conversar sobre o que lhe deixou desse jeito. Ah, nada de bebidas. – disse enquanto puxava a garrafa de uísque de fogo para perto de mim e fora do alcance de Ronald.
- Rose, a Rose me deixou desse jeito.
Na hora que escutei isso, fiquei em choque, sem reação. Acho que aparentei minha incredulidade, uma vez que Ron riu debochado até dizer “Espere até saber o que ela aprontou”. Não sei dizer o que foi mais chocante, se foi o fato de Rose, uma cópia fiel de Mione, ter aprontado algo ou o tom de contrariedade na voz de meu amigo. Ron nunca usara tal tom ao falar de seus filhos, normalmente, ao falar de Hugo, morríamos de rir com as marotices do garoto enquanto sempre falávamos com admiração da exemplar postura de Rose. Associar a menina a mau comportamento ou qualquer ação passível de punição ou embaraço era, no mínimo, inimaginável!
Depois de passado o choque inicial, tomei coragem e perguntei o que Rose havia feito exatamente.
- O que ela fez? O que ela fez? – Ron esboçou um sorriso nervoso – Ela está confraternizando com o inimigo, é isso que ela está fazendo! – Se antes eu não estava entendendo nada, agora, depois dessa fala, passei a entender menos ainda.
- Confraternizando com o quê? Ronald, você enlouqueceu de vez? – Assim que essas palavras saíram de minha boca, bateu o arrependimento. No lugar da previsível coloração das orelhas, Ron começou a rir, mas não um riso divertido, mas sim um riso baixo e contido, uma risada que beirava o desespero.
- Minha Rose está se agarrando pelos corredores com um Malfoy. – Eu não faço ideia da expressão que meu rosto adquiriu, mas não deve ter sido nada muito bom, afinal, Ron sorriu de canto e prosseguiu – Você é o único que me entende! Hermione e Ginny só souberam me criticar, falar que a guerra já acabou e que não faz mais nenhum sentido continuar uma rixa entre famílias, mas, minha filha NUNCA terá qualquer relacionamento com um sangue puro metido a besta.
- Er, bem, vejamos como posso lhe dizer isso... – suspirei. Não devo por lenha na fogueira, por mais que eu concorde com Ron. Como Ginny me domesticou de maneira exemplar, fiz exatamente aquilo que ela gostaria que eu fizesse – Ron, você já chegou a pensar que os Malfoys mudaram? Nem me venha fazer nenhuma careta de incredulidade, eles salvaram a minha vida há vinte cinco anos! Talvez, eu disse talvez, Ronald! TALVEZ, esse tal de Scorpius seja um bom menino.
- Ah, ótimo! Até você, Harry? Vai me dizer que eu deveria dar força para o provável namoro dos dois?
- Bem, acho que sim. – disse com hesitação – Ronald, é bom que os dois quebrem essa rivalidade exacerbada entre Grifinória e Sonserina! É, eu dou a maior força para esse relacionamento da Rose, assim como daria para um namoro entre Alvo e uma sonserina. James, por exemplo, está namorando uma ex-colega de Hogwarts, que se formou pela Corvinal. Ronald, sabemos, mais do que ninguém, que a casa de uma pessoa em Hogwarts não pode ser usada como única prova referente ao seu caráter!
- Exato, não pode ser usada como única, mas pode me deixar com um pé atrás, não? Harry, por Mérlin, ele é da SONSERINA. Um sonserino está querendo usar minha menina e depois jogá-la fora, como se não fosse nada! – disse enquanto colocava as duas mãos nos cabelos, bagunçando-os.
- Ronald, menos. – respirei, buscando calma para lembrá-lo de algo óbvio – Snape era da Sonserina.
- Exato, assim como aquele-que-não-deve-ser-nomeado, Bellatrix, Dolahov entre tantos outros!
- Caso você não se lembre, Snape foi um dos principais responsáveis pela nossa vitória na guerra!
- Ah, claro, assim como ele foi responsável por tornar nossas vidas um inferno em Hogwarts! Nunca vou me esquecer, aquele andar frio, esvoaçando com sua capa, era um morcego maldito, isso que ele era!
- Ele era um bom homem! Teve uma vida infeliz, não o julgue.
- Como você quiser, ele era um morcego maldito com uma vida infeliz e responsável pela nossa vitória, satisfeito? – Ron disse carrancudo, fazendo-me revirar meus olhos – Já que você não se importa com o fato de nossos filhos namorarem sonserinos, acho que não vai se incomodar em saber que a Lily está namorando com o filho do Zabini.
Ao ouvir aquele comentário de Ron, engasguei com minha saliva, tendo uma crise de tosses. Ronald nada fez para minimizar meus sintomas, apenas me encarava com um sorriso debochado.
- Como você sabe disso? Melhor, quem lhe contou essa mentira absurda? – perguntei em um sussurro, como se comentar tal barbaridade em voz alta fosse um crime. Minha Lily, namorando? IMPOSSÍVEL!
- Ninguém me contou nada, eu li em uma carta que Rose mandou para Hermione. – ele disse com um sorriso vitorioso, como se desse fim a discussão. – Carta essa onde li sobre o namorico da minha Rose com o filho do Malfoy.
- Você andou remexendo nas coisas da Mione? Ron, quando ela descobrir, você vai estar frito!
- Ela é quem estará frita quando eu chegar em casa! Só não fui discutir com ela sobre o fato dela ficar encobertando as peripécias de Rose ainda porque achei que devia lhe contar sobre o casinho de Lily. Outra, tenho certeza de que minha irmã está fazendo a mesma coisa que Hermione.
- Mas isso é um absurdo! – vociferei, enchendo um copo vazio com uísque de fogo, virando o mesmo em um único gole – Minha princesinha namorar um sonserino? Onde Ginevra está com a cabeça?
- Ué, achei que você não se importava. – Ron disse como se não quisesse nada, tirando-me completamente do sério. – Mas é claro, a filha dos outros namorar um sonserino é compreensível, agora, a filha do GRANDE HARRY POTTER não pode! Muito ético de sua parte, Harry, seu hipócrita! Ah, nada de bebidas, como você muito bem disse. – Ron disse rabugento enquanto tomava a garrafa de uísque de fogo de minhas mãos.
-Não compare o incomparável, Ronald! Rose tem dezessete anos enquanto a Lily é uma criança! Minha princesinha só tem quinze anos! Eu vou matar o Longbottom! Ah, se vou!
- Pensei que ele não tinha culpa. Não foi você mesmo quem me disse isso? – disse debochado, aumentando ainda mais a minha irritação.
- Disse mesmo! Pois bem, matarei Alvo e Hugo então, por permitirem que Rose e Lily se envolvam com aquelas duas cobrinhas!
- Eu até deixo você matar aqueles dois imprestáveis, mas adianto-lhe que antes torturarei os dois até que peçam pela morte. Onde já se viu, deixar a prima e a irmã ao léu, sendo seduzidas por aliciadores quaisquer!
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- EU VOU MATAR O RONALD! – Ginny gritava enquanto andava de um lado para o outro – E outra, qual o problema da Lily namorar alguém na escola?- disse ríspida, dando-se conta de que a culpa de nossa discussão nada tinha haver com Ron.
- QUAL O PROBLEMA? O PROBLEMA? – gritei exasperado. Como assim? Minha mulher não estava entendendo o que estava em jogo: a felicidade da MINHA pequena Lily! – O problema, Ginevra – disse tentando conter minha irritação – é que a Lily é muito nova para namorar! Outra, pelo que eu soube, esse tal de Zabini é mais velho do que ela! É um aproveitador, isso que ele é!
- Ah, claro, seu ciúmes IRRACIONAL está lhe cegando. Mas, Haryzinho – odeio quando ela me chama desse jeito, cheio de ironia, como se eu fosse uma criança mimada sendo contrariada – quando começamos a namorar, se não me falhe a memória, eu estava no meu quinto ano! E, ó, não podemos esquecer, você ERA E CONTINUA SENDO MAIS VELHO DO QUE EU!
- Nossa história é completamente diferente, Ginevra! Não tente comparar o incomparável!
- Então pare de inventar desculpinhas para impedir que Lily saia de debaixo de suas asas! Não comece a agir como o legume insensível do meu irmão! Nossa filha teve a sorte de começar a namorar quando James já se formou, não estrague a felicidade dela! – ela disse séria, me fitando com intensidade. Nesse instante, era como se eu visse a Senhora Weasley prestes a azarar Bellatrix. Só que, nesse caso, infelizmente, Ginny seria a matriarca e eu a morena louca prestes a ser nocauteada.
- O James é quem está certo! Ele tem que defender a honra da irmã dele! Ah, quando o Alvo vir aqui para o natal... Vou ter um conversa muito séria com ele!
- Não se atreva a incomodar o Alvo com seu ciúmes infantil! Outra, seu eu suspeitar que você e o James estão tramando algo contra o namoro da Lily, uma leve suspeita sequer, Harry, juro por tudo que me é mais sagrado, eu acabo com vocês dois!
- Ah, que ameaça! – ironizei. Sim, eu estava cutucando uma mantícora com uma varinha quebrada, mas não deixaria Ginny sair por cima na discussão, não mesmo! – E o que você vai fazer? Azaração do bicho papão contra seu marido e filho? – provoquei.
- Não, farei pior. – ela disse meio a um sorriso tão doce que beirava o demoníaco – A partir de hoje, você dorme no sofá. Não farei mais a comida e proibirei Monstro de fazê-la, sendo obrigação sua e do James cozinhar e arrumar a casa. É, acho que isso deve bastar para ensiná-los o quão imbecis vocês dois são. E, antes que eu me esqueça, o nosso banheiro também está proibido para você. – ela disse em tom maroto, enquanto subia para nosso quarto. A partir desse momento, passei a odiar ainda mais esse tal de Zabini.
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- Deixe-me ver se eu entendi bem – Ron disse segurando uma risada enquanto esperávamos nossos filhos na plataforma nove e três quartos para o recesso de natal – Você pediu para o Kingsley inventar uma reunião de emergência entre o departamento de execução de leis da magia e de esportes para que Ginny e Mione não pudessem nos acompanhar na recepção de nossos filhos e cunhadinhos?
- Exato. – sorri de canto, sentindo vergonha do quão mesquinho eu estava sendo ao querer dar um susto no tal do Zabini, afastando-o de minha filha.
- Harry, você é um gênio! – Ron disse com um sorriso de canto – Mas, onde estão Ted e James? – o ruivo disse olhando por toda a plataforma.
- Ted está com a Vic, então, Ginny não tem como saber o que aconteceu antes de acontecer. – sorri, sentindo-me cada vez mais confiante – E James está na Toca, para evitar suspeitas.
- Minha irmã e Mione não fazem ideia de que isso é uma armação sua, não é? – perguntou com certo receio – Se elas suspeitarem, Harry, estaremos fritos! – Ron disse com seu típico tom apavorado. Pela careta que ele fez, muito provavelmente, deve ter imaginado a reação de Hermione ao descobrir sobre nossa reunião com os sonserinos.
- Não fazem, nem farão. – falei meio a um suspiro - Pedi sigilo total ao ministro. Então, para todos os efeitos, esperaremos com as crianças por quase uma hora, como se não fizéssemos ideia do motivo do atraso. Enquanto isso, sorrateiramente, puxaremos o Scorpiuszinho e o Joshizinho para um conversa. – sorri maliciosamente, descontar toda minha frustração em alguém que, a meu ver, era culpado pelos meus recentes problemas me parecia a melhor solução possível.
- Sabe o que é mais engraçado nisso tudo? – Ron me perguntou enquanto segurava uma gargalhada – É que, no final das contas, o tal do Josh ficou com a Lily, não com a Rose.
- Ronald, por Mérlin, aquele Josh nunca existiu!
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- O... Que... Vocês... Dois... Aprontaram? – Hermione disse de olhos fechados. Definitivamente, meu plano para amedrontar os sonserinos não foi uma boa ideia. Agora, estávamos eu e Ron sentados no sofá da sala de estar da Toca enquanto Ginny e Hermione pareciam contar até mil para não avançarem sobre nossos pescoços.
- Nós não aprontamos nada! – Ron disse com a cara de pau mais lavada que eu já sonhei em ver. O pior é que, por mais que seu tom de voz transmitisse certeza, suas malditas orelhas estavam vermelhas.
- Ronald, suas orelhas estão vermelhas. – Ginny disse com um revirar de olhos – Além do mais, nós sabemos de tudo. – minha mulher disse em tom cansado, sentando-se em uma poltrona velha à nossa frente.
- Se vocês já sabiam, por que perguntaram? – Mirei Ronald com minhas sobrancelhas erguidas, minha expressão devia ser pura incredulidade. Por Mérlin, Ron nunca sabe quando é hora de ficar quieto e mirar o chão?
- Porque esperávamos que vocês fossem assumir seus atos! – Hermione vociferou com um olhar de pura decepção – Harry, Ronald, quantos anos vocês acham que possuem? Por Mérlin, agiram como adolescentes! Afastar Scorpius e Josh dos amigos, dizendo que, por serem aurores, poderiam condená-los a prisão perpétua em Azkaban só por namorarem nossas filhas? Onde vocês estavam com a cabeça?
- Ei, não foi bem assim! – Ron disse atrapalhado, engasgando com as próprias palavras. Já eu, bem, eu parecia um covarde que conseguia mirar apenas os próprios pés. Por mais infantil que tenha sido minha ação, confesso que não me arrependo, me senti aliviado por deixar claro para o Josh Zabini até onde ia minha simpatia para com ele e o que poderia fazer caso minha filha sofresse.
- Claro que não foi, Roniquinho. – Ginny disse ríspida – Foi bem pior! Já sabemos de tudo, Alvo e Hugo fizeram o favor de nos dizer!
- Ah, esses dois traidores vão se ver comigo, ah se vão! – Ron disse em um tom frio. Mirei meu amigo surpreso com sua reação. Ao ver a expressão de Ron, senti uma vontade descomunal de cair na gargalhada. Nunca havia visto Ronald tão concentrado, pior, concentrado em dar uma lição em nossos filhos, devo ter esboçado um sorriso, pois Ginevra perdeu o controle e começou a gritar.
- E você acha graça, Potter? Bem, SUA FILHA NÃO QUER NEM PASSAR O NATAL AQUI, DE TANTO ÓDIO QUE ESTÁ SENTINDO! ROSE SÓ SABE CHORAR AOS SOLUÇOS, TAMANHO A SUA DECEPÇÃO. – ela pareceu que pararia de gritar, contudo, fora apenas uma pausa para respirar – EU LHE AVISEI, HARRY, LHE AVISEI QUE EU NÃO DEIXARIA BARATO! – Ginny estava de olhos fechados e tremia, suponho eu, de raiva – A partir de hoje, sem treinos semanais de quadribol, nada de participar dos bolões dos aurores ou qualquer eventualidade do ministério. Apenas eu escreverei para as crianças, sendo intermediadora das correspondências. Como você insiste em se comportar como um adolescente, será tratado como um! Ah, o mais importante, pedirei para monstro montar uma cama para você em nossa sala, para que todos que nos visitem saiba onde você dormirá PELO RESTO DA SUA VIDA. – Apenas engoli em seco, sem coragem de encarar Ginny. Por mais doloroso que fosse a proibição de quadribol e de tudo que eu gostava, por pior que fosse dormir na sala, nada era tão doloroso quanto o olhar de decepção de Ginevra.
- Vixi, se ferrou em cara. – Ronald disse meio a um suspiro divertido.
- Ele não foi o único a “se ferrar”, Ronald. – Hermione disse ríspida – Você terá o mesmo castigo de Harry – ao dizer isso, Ron se encolheu desanimado – com uma exceção. – ao ouvir tal colocação de Mione, Ronald a encarou com um sorriso no rosto. Tenho certeza de que ele pensou que a exceção seria dormir na sala – Você fará a limpeza da casa, sem magia é claro. – Hermione disse em um tom calmo que não condizia com seu olhar.
- Sem magia? – Ron engasgou com sua saliva – Mione, você acha que ainda estamos em Hogwarts? Por Mérlin, eu sou um homem, não um garoto! – disse ríspido, encarando Hermione com um olhar colérico.
-Se comporte como um então, Ronald. Se quiser ainda morar no mesmo teto que eu, já sabe, limpeza, sem magia e sem reclamações.
- Que seja... – o ruivo disse contrariado.
- Acho que não fui o único a me ferrar, cara. – me permitir dar um riso debochado, riso esse que só fez Ron afundar ainda mais no sofá no qual estávamos sentados.
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Depois do que fiz ao caminho D’Toca, Lily e Alvo sequer conversaram comigo. Minha princesa sequer olha em meus olhos, muito menos me cita nas carta que escreve para Ginny. Mas, o pior de tudo, é saber que seu namoro com o tal de Zabini ficou sério. Já Alvo, bem, sinto-me ainda pior em relação a ele, pois meu filho não consegue me encarar sem sentir vergonha, algo como um pedido silencioso de desculpas por não ter a mesma visão que eu sobre o namoro de Lily.
O sofá continua sendo minha cama desde então e, bem, já estamos no recesso de páscoa e nada de eu e Ginny nos acertarmos. Teddy, por mais que discorde de meu comportamento, age como se nada tivesse acontecido – o que devo agradecer – enquanto James sempre me apóia, dizendo que temos que acabar com “a cascavel que deseja tirar a honra de sua irmã”. Desde o ocorrido, as refeições em minha casa tem ocorrido no mais profundo silêncio, sem, ao menos, uma simples troca de olhar entre eu e qualquer outro.
Agora estou aqui, sentado em minha cadeira, na mesa de jantar, enquanto o silêncio toma conta de todos. Por ser recesso de Páscoa, todos os meus filhos e Teddy estão em casa. Se fosse há alguns meses atrás, isso seria sinônimo de bagunça e barulho, contudo, graças à minha “Síndrome do Ciúmes Desmedido”, esse clima de agouro toma conta de casa.
- Pelo menos o Alvo se forma esse ano. – James disse em tom de alívio, quebrando o silêncio insuportável que tomava conta de todos. Devido à sua fala, olhares de incompreensão foram lançados ao ruivo. – Por Mérlin, se o Alvinho está se formando quer dizer que o tal Zabini também está, então, nossa Lily estará comportando-se como uma menina direita pelos próximos dois anos, focando-se nos estudos, ou seja, focando-se no que se deve ser focado em Hogwarts. – essa fala de James me permitiu sorrir, algo que eu não fazia desde o natal. Lily, minha princesa, minha ruivinha sem se agarrar pelos corredores de Hogwarts porque o desprezível do Zabini não estará mais no castelo? EXCELENTE NOTÍCIA! – O melhor seria se ela conhecesse outro rapaz, dessa forma, garanto que eu aprovaria o relacionamento.
- Ah, claro, James. – Lily disse com desdém – Tudo o que eu sempre busco em meus relacionamentos é a sua aprovação. Outra, acho que você precisa aprender a contar, irmãozinho, Josh é apenas um ano mais velho do que eu, não dois, como o Alvo. – ao ouvir tal constatação, meu sorriso e minha felicidade se esvaíram tão rapidamente o quanto vieram.
- Lily Luna Potter, escute seu irmão! – não tenho ideia de como minha voz saiu tão séria e dura, pior, não lembro, em nenhum momento, de ter querido falar – Você está em Hogwarts para se formar, não para fornicar por aí! – Por mais que eu não concorde com o que eu disse, meu desespero, minha síndrome, meu ciúmes compulsivo me fizeram dizer os absurdos que falei. Mérlin, por que sou tão infantil?
- Ah, ótimo! – Lily disse se levantando da mesa. Tive a impressão de que Ginny falaria algo, contudo, ao ver os olhos de Lily cheios de lágrimas, se calou – É isso que você pensa, pai? Que não me dou ao respeito? Pois bem, se é isso que você pensa, é isso que farei! Afinal, o James aqui é o principal exemplo de esforço e dedicação na escola, não é, “senhor detenção”? – ela disse com a voz embargada, oscilando o olhar de decepção entre mim e James. – Vou para meu quarto e não pretendo ser incomodada. – disse séria, saindo da mesa.
Ótimo, existe alguém mais idiota do que eu?
- Eu hein, o que deu nela? – James perguntou estupefato, arrancando um olhar incrédulo de Alvo e um revirar de olhos de Ginevra.
- Er, bem, eu estou pensando em pedir Victoire em casamento, o que acham? – Teddy disse meio a um sorriso amarelo. Pelo que me pareceu, ele pretendia dar tal aviso hoje e, devido ao meu comportamento ridículo, o momento não favoreceu à grande notícia.
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- Harry – Ginny disse hesitante, um bom sinal. Quer dizer, bem, nós dois não estávamos nos falando e depois da cena que fiz no jantar, me isolei em meu mais novo quarto: o sofá, achando que seria expulso de casa, contudo, Ginevra veio me procurar. Ou ela faria as pazes comigo ou me enxotaria de vez de sua vida. Dessa forma, me apeguei mortalmente à primeira opção – Teddy e Vic se casando, quem diria!
- Pois é, boa notícia. – murmurei resignado. Eu sei que é egoísmo não comemorar o casamento do meu afilhado, mas minha infelicidade causada por uma decepção comigo mesmo não me permite comemorar. Agora, além de péssimo pai, sou também um péssimo padrinho.
- Harry, precisamos conversar sobre a Lily – ergui meus olhos para encará-la, eu não conseguia acreditar que Ginny era quem estava dando o braço a torcer. Mas, ao perceber isso, senti uma tristeza enorme. Para que minha mulher estivesse agindo dessa forma, eu, muito provavelmente, devia ter magoado profundamente a Lily, ou pior, magoado a todos.
- Estou ouvindo. – MÉRLIN, POR QUE AJO COMO SE NÃO ME IMPORTASSE OU COMO SE ACHASSE QUE ESTOU COM A RAZÃO? GINEVRA QUEBRA O GELO, TENTA DIALOGAR E EU RESPONDO UM SIMPLES E SECO “ESTOU OUVINDO”?
- Bem, Lily estava planejando trazer Josh para nos visitar nas férias, sabe, buscando a aprovação do pai. –Disse séria, me fitando com aquele eterno carinho e misto de compreensão. – Mas, depois da cena de hoje, duvido que ela queira olhar para você! – fitei um chão, fingindo ignorar, por mais que doesse, a fala de Ginny – Harry, por Mérlin! Lhe conheço a suficiente para saber que está sofrendo feito um trasgo, mas, que devido ao seu orgulho e ciúmes excessivo, não admite! – disse em tom terno, estava à porta quando se virou para mim – Lily está chorando no quarto.
Ótimo, minha filha chorando porque ajo feito um idiota e eu, mesmo me sentindo o pior de todos os pais do mundo, sou incapaz de ir consolá-la. Definitivamente, preciso acabar com minha “Síndrome do Ciúmes Desmedido”.
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- Lily? – perguntei hesitante, enquanto abria a porta do quarto da minha filha – Podemos conversar? – toda vez que revejo essa cena em uma penseira, tenho uma crise de risos fora do normal, afinal, acredito, nunca fiz tamanha cara de idiota como a que fiz nesse momento, com o medo estampado em meu rosto, ao entrar no quarto da minha própria filha.
Não obtive resposta, minha princesa estava deitada em sua cama, o rosto escondido em seu travesseiro, com uma respiração descompassada, ofegante, ela estava chorando. Senti-me sujo, mau, egoísta. Minha filha estava sofrendo, um sofrimento que podia ser evitado, bastasse que eu superasse minha “Síndrome do Orgulho Desmedido” e desse a tão sonhada permissão para seu namoro com Josh, mas, por que eu insistia em ser tão desprezível?
- Deixe-me sozinha, por favor. – Lily disse sem tirar seu rosto de seu travesseiro.
- Mesmo se eu estiver aqui para pedir perdão? – minha princesinha ergueu os olhos para mim, largando o travesseiro, ela me fitava com pura incredulidade – Er, como posso lhe dizer? – disse acanhado, enquanto remexia meus cabelos, um sinal claro de desconforto – Bem, sei que venho agindo como um pai ciumento em demasia – ignorei o sussurro de confirmação – Mas, Lily, eu sou ciumento! Dói saber que você deixará de ser a minha menininha, dói saber que você está se tornando uma mulher!
-Pai – Lily disse em seu tom meigo, cheio de carinho, aquele tom que conseguia furar todas as minhas defesas e realizar exatamente àquilo que ela gostaria que eu fizesse – Eu sempre serei sua princesinha, a sua pequena Lily, sempre!
Ao ouvir tal declaração, meu mundo parou. Percebi o quão infantil fui, o sofrimento desnecessário, as feridas feitas de maneira estúpida. Minha filha, meu tesouro, me disse o que eu sempre quis ouvir e, sem saber como, sem querer ter dito, pronunciei a frase que Lily mais quis escutar nos últimos meses.
- Lily, está dada a minha aprovação para seu namoro.
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Não faço ideia de como a situação chegou ao ponto em que me encontro agora. Eu apenas MURMUREI que aprovava o relacionamento passageiro da minha filha e bomba: ele dura quatro anos e resulta em noivado! Agora estou aqui, entrando em um altar, segurando o braço de minha princesa, prestes a entregá-la para o Joshzinho, que já provou ser um excelente rapaz. Ginny e Mione resumem-se a lágrimas. Alvo apenas sorri, enquanto acaricia a barriga de Emma – uma ex-grifana! – que está grávida do meu primeiro neto. James ainda está noivo de Sophie há dois anos e não pretende se casar tão cedo, alegando que não está preparado para se amarrar de maneira tão intensa.
O pior de tudo é o sorriso presunçoso de Ronald, aquele olhar de vingança, de alívio ao ver que não era o único a rumar para uma vala, um buraco profundo e sem volta. Tudo porque gargalhei ao descobrir que Rose e Scorpius se casariam! Mal sabia eu que, em menos de seis meses, minha pequena Lily anunciaria seu noivado. Não sei se o mais cômico foi o fato do, até então, fictício Josh ter, no final das contas, terminado junto à minha filha ou o fato da minha “Síndrome do Ciúmes Desmedido” não ter acabado.
Confesso que enfrentar Voldemort sabendo da minha morte foi muito menos amedrontador do que imaginar o que minha filha fará ao final dessa cerimônia. Por Mérlin, vou alugar o quarto ao lado de onde os dois ficarão no hotel, ah se vou! O único problema seria Ginny... Como enganá-la?
Harry James Potter, pare com isso! Como posso pensar em acabar com o casamento de minha própria filha? Que tipo de pai eu sou? Bem, a triste resposta para essa pergunta é: sou um pai ciumento desesperado, que mira uma filha que chora de alegria largar seus braços para encarar seu futuro marido, o homem que dividirá comigo, daqui para frente, aquilo de mais importante que existe em minha vida. Mas, uma única coisa me consola, uma certeza que apenas minha princesinha me deu. A certeza de que ela é, e sempre será, a minha pequena Lily.
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NA: One-shot beem bobinha, mamão com açúcar mesmo. Espero que gostem! Ah, por favor, comentem! (:
Comentários (5)
MUUUUUUUITO BOA SHAUSHUAHSUASHAUS, eu ri tanto kkkk está de parabéns, viu (:
2011-09-26Muito engraçada!! Ótima de ler, gostei demais!! Você escreve super bem!! Adoro as suas fics! Parabéns
2011-08-26Awwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwn*--*Que fic mais perfeita!!!!Amei!!!!!!Ri muito!!!!!!Parabéns!!!Bjs.
2011-08-20CHOREI DE RI!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!perfeito.
2011-08-13Muito engraçada eu ri muito kkkkkk E o desfeixo perfeito parabens
2011-08-12