Paciência



 


 PACIÊNCIA - SONG FIC

 Levantei a varinha mais uma vez. Aquele movimento me parecia muito familiar, afinal, era a terceira horcrux que eu fazia. E como das outras vezes, meu corpo reagiu mal: ele estremeceu de leve e mais uma dor foi adcionada à minha coleção, enquanto uma fumaça prateada, ou dourada - eu não sabia ao certo -, saia da ponta de minha varinha, sumindo dentro daquela taça estranha. 

 Mais uma vez, a sensação de perda e vazio me atingiu. Era como se eu sentisse a minha alma se dividindo. Não chegava a ser um processo doloroso, mas era no mínimo desconfortável. Minha mente sentia aquele pedacinho de alma se soltando do meu ser, para começar a habitar um objeto, até então, inútil. Era como se sobrasse espaço demais dentro de mim. 

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma

Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma

 Mas não havia tempo a perder. Eu não podia ficar me lamentando, sentindo a dor de mais aquela perda. Não podia me dignar a perder tempo, porém não havia sentido em ter pressa. Sendo assim, dividido pelo dilema, saí pela porta da frente daquele estabelecimento imundo que ficava nos subúrbios de Londres. 

 - Obrigado. - agradeci educadamente ao homem atrás do balcão, antes de fechar a porta atrás de mim. 

 - Disponha. - ouvi ele responder antes de a porta de madeira velha e lascada se fechar. 

 O clima era frio. Ainda não havia nevado, mas o céu mostrava que isso não estava longe de acontecer. Olhei para os lados, em busca de algum observador curioso, mas nada encontrei. Coloquei a taça dentro do bolço interno de meu casaco de inverno. 

A vida não pára

 Andei devagar pelas ruelas sombrias daquela parte pobre da cidade, sem me preocupar em dar dinheiro para um garotinho descalço e enrolado em um cobertor velho e rasgado. 

 - Tem um trocado, moço? - ele me perguntara com a mão estendida. 

 - Para o que? - respondi sem parar de andar. - Para você entregar tudo em drogas? 

 O garoto não respondeu. Talvez pensasse que eu era uma pessoa má e sem coração. Acho que ele está certo. Mas as crianças de hoje em dia são mais viciadas que os adultos. E mesmo que esse não fosse o caso, eu também não teria dado dinheiro à ele. 

 Um vento gélido passou pelo meu rosto, retirando-me de meus devaneios e me colocando de volta naquela rua cheirando à urina. E, de repente, flocos brancos de neve estavam caindo. 

 As condições diziam para eu ir para casa, ou morreria congelado. Mas eu não tinha pressa. Se morresse de frio, com certeza continuaria presente: três pedaços de minha alma perambulavam pelo mundo. Não, não havia pressa; não, não havia medo de morrer. 

 

Enquanto o tempo acelera e pede pressa

Eu me recuso, faço hora, vou na valsa

 Tomei uma ruela que me levava diretamente à uma rua iluminada. As casas estavam enfeitadas com luzes de Natal. Faltavam duas semanas para o Natal. 

 Eu não me importava. Não havia com quem comemorar. Eu também não sabia como. A vida não funcionava da mesma forma para mim. Ninguém ficava perto de mim tempo o suficiente. 

A vida é tão rara

  Mantive o mesmo passo andando pela rua iluminada, imaginando as pessoas dentro de suas casas, apreciando um bom jantar. Depois elas deviam se sentar perto da lareira para tomar chocolate quente e falar besteiras, rindo e jogando xadrez. Perto das dez horas, a mãe anunciaria que era hora de dormir e colocaria as crianças na cama, dizendo que durmisse com os anjos e rezasse para Deus, pedindo proteção. 

 Nenhuma destas pessoas jamais pensaria que um maníaco com a alma dividida passeava calmamente pela rua. Estavam ocupadas demais pedindo a cura da corrupção para Deus, enquanto elas mesmo não faziam nada para ajudar. Hipócritas.

Enquanto todo mundo espera a cura do mal

E a loucura finje que isso tudo é normal

Eu finjo ter paciência

 Dentre todas aquelas casas iluminadas, havia um pequeno prédio de dois andares. Algumas de suas janelas estavam acesas e enfeitadas para o Natal, menos uma que estava apagada. Entrei pela porta de vidro e logo senti a mudança de temperatura. O porteiro sorriu para mim. Sorri de volta. 

 - Como vai, Michael? - perguntei. 

 - Muito bem, senhor. - ele respondeu. Michael era um homem velho, na casa dos setenta. Ele usava um óculos meio torto e roupas surradas. Tinha pouco cabelo, mas o pouco que tinha era branco e estava penteado. 

 Eu acenei para ele e comecei a subir as escadas. Cheguei à um corredor largo com três portas de cada lado, em intervalos regulares de quatro metros. Eu segui pelo corredor até a última porta da direita e comecei a procurar as chaves. 

 Por um mísero segundo, senti falta de Hogwarts. Era incrível como tudo havia mudado desde que saí da lá. Me mudei de um castelo confortável para um apartamento pequeno de três cômodos. 

 Ainda assim, não havia realmente do que reclamar. Quando tudo acabasse, eu não teria que ficar morando em um prédio velho. Até lá... Paciência. 

O mundo vai girando cada vez mais veloz

A gente espera do mundo e o mundo espera de nós

Um pouco mais de paciência

 Destranquei a porta e entrei, fechando e trancando tudo atrás de mim. Acendi a luz e retirei meu casaco, colocando-o no sofá. Retirei a varinha e a taça de dentro dos bolços e acomodei os objetos na bancada da cozinha. 

 Abri a geladeira e peguei uma jarra com água. Busquei por um copo nos armários e encontrei, colocando o conteúdo da jarra ali. Bebi toda a água em questão de segundos. Viver naquele bairro trouxa estava acabando comigo. Mas eu queria sossego e consegui.

  Andei até a janela do meu pequeno apartamento, ainda carregando o copo vazio. Acomodei-me ali, apoiando os cotovelos nas pernas enquanto sentava em uma poltrona com cheiro de mofo que ficava ao lado da janela. Olhei para fora, para as casas iluminadas e me perguntei quanto tempo levaria para eles descobrirem o que estava acontecendo. Quanto tempo até eles começarem a relacionar as mortes de trouxas. Quanto tempo até ficarem aterrorizados e sem sair de casa. Quanto tempo?

 O Natal acabaria para eles também, assim como acabou para mim? E será que isso importava? Não pareceu incomodar àqueles que já foram mortos: suas mortes foram usadas para algo além da compreensão de trouxas. 

Será que é tempo que lhe falta para perceber?

Será que temos esse tempo para perder?

E quem quer saber?

  A vida é tão rara, tão rara

 Quem sabe se os matasse agora, eles aprendessem a valorizar o que tinham. A maioria das pessoas espera a hora da morte para começar a amar a vida. Eu não preciso esperar a morte. Eu garanti que ela não acontecesse. Meu amor pela vida superou meus interesses materiais deste mundo... E agora eu me recuso a morrer. 

 Mesmo sabendo do que pode acontecer se eu fizer horcruxes demais e perder o controle delas. A vida vale esse risco. E cada pessoa que morreu por intermédio de minha varinha, morreu para salvar uma vida: a minha. Mesmo que ela não precisasse ser salva. Eu me tornarei forte o bastante para que queiram me matar no futuro. 

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma

Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma

Eu sei

A vida não pára

A vida não pára, não

  No futuro. Apenas no futuro. Porque, agora, ninguém percebeu ainda o que esta acontecendo. O que estou fazendo. Não há aurores me procurando nas ruas. Meu rosto não está nos cartazes de procurados. 

 Para eles, eu ainda sou um jovem sonhador que trabalha no Beco Diágonal, guardando dinheiro para viajar pela Europa, ou quem sabe até a América esteja incluida. Mas me digam: o que eu faria por lá. Claro que ninguém se pergunta o que vou fazer por lá. Eles se deixaram levar pela aparência de bom moço e a educação. 

 A única coisa com que se importam realmente é com a decoração que usarão neste Natal. As luzes das casas são quase as mesmas do ano passado. Talvez eles estivessem reciclando a decoração do ano passado. Eu não sei. Não fazia diferença para mim. 

Será que é tempo que lhe falta para perceber?

Será que temos esse tempo para perder?

E quem quer saber?

A vida é tão rara, tão rara

 É interessante perceber o quanto dói para alguns a morte dos outros. É irônico que a morte seja mais dificil de aceitar porque tiveram uma vida comum maravilhosa. Há muitas razões para sentir saudade, muitas lembranças de coisas que nunca tornarão a acontecer. Para mim, é a indiferença que reina. Antes eles do que eu, afinal. 

 Me incomoda o modo como a morte é triste para eles. Alguns chegam a dizer palavras inuteis ao seus filhos: tudo vai passar. Se vai passar, porque se incomodam em sofrer?  Os mortos não precisam de lágrimas. 

 Três em cada três vão morrer, portanto cale a boca e dê as cartas, disse Ring Lardner. A cada vida que tiro, me identifico ainda mais com essa frase. 

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma

Até quando o corpo pede um pouco mais de alma

Eu sei

A vida não pára

A vida não pára, não

 Somos criados para esperar um final feliz. Mas não existe nenhum final feliz. Há apenas a morte à nossa espera. Encontramos o amor e a felicidade que de repente nos são arrebatados sem qualquer motivo. Estamos numa espaçonave abandonada, deslizando a esmo entre as estrelas. O mundo é Hitler* e somos todos judeus. 

 Saí de perto da janela, pousando o copo vazio na bancada, junto com a taça e minha varinha. Segui para o quarto e me joguei na cama. Amanhã era outro dia. 

A vida não pára.

..........................................................................................

N/A: só para esclarecer: *Hitler foi um líder nazista que perseguia os judeus na Alemanha.

A música usada foi Paciência do Lenine.

Essa cena veio na minha cabeça e eu tive que postar, porque as minhas idéias são poucas e eu as aproveito ao máximo.  

Espero que curtam e comentem.

 PACIÊNCIA - SONG FIC
 

 Levantei a varinha mais uma vez. Aquele movimento me parecia muito familiar, afinal, era a terceira horcrux que eu fazia. E como das outras vezes, meu corpo reagiu mal: ele estremeceu de leve e mais uma dor foi adcionada à minha coleção, enquanto uma fumaça prateada, ou dourada - eu não sabia ao certo -, saia da ponta de minha varinha, sumindo dentro daquela taça estranha. 

 Mais uma vez, a sensação de perda e vazio me atingiu. Era como se eu sentisse a minha alma se dividindo. Não chegava a ser um processo doloroso, mas era no mínimo desconfortável. Minha mente sentia aquele pedacinho de alma se soltando do meu ser, para começar a habitar um objeto, até então, inútil. Era como se sobrasse espaço demais dentro de mim. 



Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma

Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma



 Mas não havia tempo a perder. Eu não podia ficar me lamentando, sentindo a dor de mais aquela perda. Não podia me dignar a perder tempo, porém não havia sentido em ter pressa. Sendo assim, dividido pelo dilema, saí pela porta da frente daquele estabelecimento imundo que ficava nos subúrbios de Londres. 

 - Obrigado. - agradeci educadamente ao homem atrás do balcão, antes de fechar a porta atrás de mim. 

 - Disponha. - ouvi ele responder antes de a porta de madeira velha e lascada se fechar. 

 O clima era frio. Ainda não havia nevado, mas o céu mostrava que isso não estava longe de acontecer. Olhei para os lados, em busca de algum observador curioso, mas nada encontrei. Coloquei a taça dentro do bolço interno de meu casaco de inverno. 



A vida não pára



 Andei devagar pelas ruelas sombrias daquela parte pobre da cidade, sem me preocupar em dar dinheiro para um garotinho descalço e enrolado em um cobertor velho e rasgado. 

 - Tem um trocado, moço? - ele me perguntara com a mão estendida. 

 - Para o que? - respondi sem parar de andar. - Para você entregar tudo em drogas? 

 O garoto não respondeu. Talvez pensasse que eu era uma pessoa má e sem coração. Acho que ele está certo. Mas as crianças de hoje em dia são mais viciadas que os adultos. E mesmo que esse não fosse o caso, eu também não teria dado dinheiro à ele. 

 Um vento gélido passou pelo meu rosto, retirando-me de meus devaneios e me colocando de volta naquela rua cheirando à urina. E, de repente, flocos brancos de neve estavam caindo. 

 As condições diziam para eu ir para casa, ou morreria congelado. Mas eu não tinha pressa. Se morresse de frio, com certeza continuaria presente: três pedaços de minha alma perambulavam pelo mundo. Não, não havia pressa; não, não havia medo de morrer. 

 

Enquanto o tempo acelera e pede pressa

Eu me recuso, faço hora, vou na valsa



 Tomei uma ruela que me levava diretamente à uma rua iluminada. As casas estavam enfeitadas com luzes de Natal. Faltavam duas semanas para o Natal. 

 Eu não me importava. Não havia com quem comemorar. Eu também não sabia como. A vida não funcionava da mesma forma para mim. Ninguém ficava perto de mim tempo o suficiente. 



A vida é tão rara



  Mantive o mesmo passo andando pela rua iluminada, imaginando as pessoas dentro de suas casas, apreciando um bom jantar. Depois elas deviam se sentar perto da lareira para tomar chocolate quente e falar besteiras, rindo e jogando xadrez. Perto das dez horas, a mãe anunciaria que era hora de dormir e colocaria as crianças na cama, dizendo que durmisse com os anjos e rezasse para Deus, pedindo proteção. 

 Nenhuma destas pessoas jamais pensaria que um maníaco com a alma dividida passeava calmamente pela rua. Estavam ocupadas demais pedindo a cura da corrupção para Deus, enquanto elas mesmo não faziam nada para ajudar. Hipócritas.



Enquanto todo mundo espera a cura do mal

E a loucura finje que isso tudo é normal

Eu finjo ter paciência



 Dentre todas aquelas casas iluminadas, havia um pequeno prédio de dois andares. Algumas de suas janelas estavam acesas e enfeitadas para o Natal, menos uma que estava apagada. Entrei pela porta de vidro e logo senti a mudança de temperatura. O porteiro sorriu para mim. Sorri de volta. 

 - Como vai, Michael? - perguntei. 

 - Muito bem, senhor. - ele respondeu. Michael era um homem velho, na casa dos setenta. Ele usava um óculos meio torto e roupas surradas. Tinha pouco cabelo, mas o pouco que tinha era branco e estava penteado. 

 Eu acenei para ele e comecei a subir as escadas. Cheguei à um corredor largo com três portas de cada lado, em intervalos regulares de quatro metros. Eu segui pelo corredor até a última porta da direita e comecei a procurar as chaves. 

 Por um mísero segundo, senti falta de Hogwarts. Era incrível como tudo havia mudado desde que saí da lá. Me mudei de um castelo confortável para um apartamento pequeno de três cômodos. 

 Ainda assim, não havia realmente do que reclamar. Quando tudo acabasse, eu não teria que ficar morando em um prédio velho. Até lá... Paciência. 



O mundo vai girando cada vez mais veloz

A gente espera do mundo e o mundo espera de nós

Um pouco mais de paciência



 Destranquei a porta e entrei, fechando e trancando tudo atrás de mim. Acendi a luz e retirei meu casaco, colocando-o no sofá. Retirei a varinha e a taça de dentro dos bolços e acomodei os objetos na bancada da cozinha. 

 Abri a geladeira e peguei uma jarra com água. Busquei por um copo nos armários e encontrei, colocando o conteúdo da jarra ali. Bebi toda a água em questão de segundos. Viver naquele bairro trouxa estava acabando comigo. Mas eu queria sossego e consegui.

  Andei até a janela do meu pequeno apartamento, ainda carregando o copo vazio. Acomodei-me ali, apoiando os cotovelos nas pernas enquanto sentava em uma poltrona com cheiro de mofo que ficava ao lado da janela. Olhei para fora, para as casas iluminadas e me perguntei quanto tempo levaria para eles descobrirem o que estava acontecendo. Quanto tempo até eles começarem a relacionar as mortes de trouxas. Quanto tempo até ficarem aterrorizados e sem sair de casa. Quanto tempo?

 O Natal acabaria para eles também, assim como acabou para mim? E será que isso importava? Não pareceu incomodar àqueles que já foram mortos: suas mortes foram usadas para algo além da compreensão de trouxas. 



Será que é tempo que lhe falta para perceber?

Será que temos esse tempo para perder?

E quem quer saber?

  A vida é tão rara, tão rara



 Quem sabe se os matasse agora, eles aprendessem a valorizar o que tinham. A maioria das pessoas espera a hora da morte para começar a amar a vida. Eu não preciso esperar a morte. Eu garanti que ela não acontecesse. Meu amor pela vida superou meus interesses materiais deste mundo... E agora eu me recuso a morrer. 

 Mesmo sabendo do que pode acontecer se eu fizer horcruxes demais e perder o controle delas. A vida vale esse risco. E cada pessoa que morreu por intermédio de minha varinha, morreu para salvar uma vida: a minha. Mesmo que ela não precisasse ser salva. Eu me tornarei forte o bastante para que queiram me matar no futuro. 



Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma

Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma

Eu sei

A vida não pára

A vida não pára, não



  No futuro. Apenas no futuro. Porque, agora, ninguém percebeu ainda o que esta acontecendo. O que estou fazendo. Não há aurores me procurando nas ruas. Meu rosto não está nos cartazes de procurados. 

 Para eles, eu ainda sou um jovem sonhador que trabalha no Beco Diágonal, guardando dinheiro para viajar pela Europa, ou quem sabe até a América esteja incluida. Mas me digam: o que eu faria por lá. Claro que ninguém se pergunta o que vou fazer por lá. Eles se deixaram levar pela aparência de bom moço e a educação. 

 A única coisa com que se importam realmente é com a decoração que usarão neste Natal. As luzes das casas são quase as mesmas do ano passado. Talvez eles estivessem reciclando a decoração do ano passado. Eu não sei. Não fazia diferença para mim. 



Será que é tempo que lhe falta para perceber?

Será que temos esse tempo para perder?

E quem quer saber?

A vida é tão rara, tão rara



 É interessante perceber o quanto dói para alguns a morte dos outros. É irônico que a morte seja mais dificil de aceitar porque tiveram uma vida comum maravilhosa. Há muitas razões para sentir saudade, muitas lembranças de coisas que nunca tornarão a acontecer. Para mim, é a indiferença que reina. Antes eles do que eu, afinal. 

 Me incomoda o modo como a morte é triste para eles. Alguns chegam a dizer palavras inuteis ao seus filhos: tudo vai passar. Se vai passar, porque se incomodam em sofrer?  Os mortos não precisam de lágrimas. 

 Três em cada três vão morrer, portanto cale a boca e dê as cartas, disse Ring Lardner. A cada vida que tiro, me identifico ainda mais com essa frase. 



Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma

Até quando o corpo pede um pouco mais de alma

Eu sei

A vida não pára

A vida não pára, não



 Somos criados para esperar um final feliz. Mas não existe nenhum final feliz. Há apenas a morte à nossa espera. Encontramos o amor e a felicidade que de repente nos são arrebatados sem qualquer motivo. Estamos numa espaçonave abandonada, deslizando a esmo entre as estrelas. O mundo é Hitler* e somos todos judeus. 

 Saí de perto da janela, pousando o copo vazio na bancada, junto com a taça e minha varinha. Segui para o quarto e me joguei na cama. Amanhã era outro dia. 



A vida não pára.



..........................................................................................

N/A: só para esclarecer: *Hitler foi um líder nazista que perseguia os judeus na Alemanha.

A música usada foi Paciência do Lenine.

Essa cena veio na minha cabeça e eu tive que postar, porque as minhas idéias são poucas e eu as aproveito ao máximo.  

Espero que curtam e comentem.

 

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