Traição
Severo Snape estava em seu laboratório, refletindo sobre todos os problemas que o rodeavam, sendo eles a carta de Dumbledore e a proposta de Voldemort, quando entra pela janela uma coruja que ele reconhecera ser da família Malfoy. Pegou o pergaminho preso na perna da coruja e o leu:
“Severo
Preciso de você agora. Lúcio me agrediu e estou com uma imensa vontade de acabar com a minha vida miserável. Mas antes queria vê-lo novamente. Venha até minha casa, ele não está aqui. Provavelmente foi se divertir com suas amantes. Por favor, venha assim que receber essa mensagem. Estou desesperada!
Narcisa M.”
Como Malfoy pode ser tão cruel com uma criatura tão frágil como Narcisa? se perguntou Severo com ódio. “Pobre mulher… Deve estar descontrolada. Melhor tentar acalmá-la.”
Assim, ele aparatou nos jardins da Mansão Malfoy. Bateu na porta e foi atendido por um dos elfos domésticos da família, que dissera que Narcisa aguardava-o em seus aposentos. Severo entrou e foi apressado em direção à escada. Não percebeu que um vulto atrás de uma porta o observava.
Chegou aos aposentos de Narcisa. Ela estava sentada em uma confortável poltrona verde musgo. Estava vestida com uma camisola preta, seus cabelos estavam desalinhados e seus rosto entre os joelhos. Ao perceber sua presença, foi correndo ao seu encontro.
- Severo! - Narcisa se jogou nos braços do seu amante - Por favor, fique aqui comigo! Fique e não vá embora. Ou eu me mato antes que Lúcio o faça!
Severo olhou o rosto de Narcisa. Vários hematomas eram visíveis em sua linda face. Ele passou a mão pelos cabelos sedosos da loira, ajeitando-os.
- Narcisa, não se precipite. Você é uma mulher fantástica, e Malfoy não sabe disso porque é cego.
- Oh, Severo! - Ela o abraçou com mais força. - Como você me faz bem! Fique comigo esta noite. Quero me sentir viva nos seus braços…
- Mas Lúcio pode chegar a qualquer momento.
- Ele não virá tão cedo. Quando sai nessas horas, só retorna no outro dia. E nem me procura, talvez por vergonha do que fez. Severo, por favor, espere um pouco. Irei refazer-me. Devo estar parecendo um monstro.
- Você? Não, está linda como sempre.
- Por favor. Guarde seus elogios para depois.
Narcisa saiu para cobrir os falsos ferimentos que fizera com magia para impressionar Severo. Ela trocou a camisola preta por uma vermelha. Voltou ao quarto e viu satisfeita com o olhar de desejo do seu amante.
- Assim estou melhor?
- Muito - respondeu ele, em um sussurro rouco.
Narcisa puxou Severo pelas mãos, fazendo-o levantar-se da poltrona. Colocou seu rosto entre as próprias mãos e beijou-o calorosamente. Severo retribuiu à altura. Suas mãos percorreram a cintura da bruxa e iam abaixando a cada segundo. Não resistindo mais, pegou-a no colo e levou-a para cama. Deitou-a delicadamente. Suas mãos deslizaram sobre sua coxa até chegar em sua calcinha, que foi tirando lentamente. Depois, Narcisa tirou a camisa de Severo, a calça e, por último, a cueca. Ela, invertendo as posições, deitou-se sobre o corpo bem definido de Snape. Procurou sua boca e beijou-o. Seus corpos sedentos de prazer se entregaram aos mais loucos desejos.
Após horas e mais horas de amor, Severo, exausto, se acomodou ao lado de Narcisa. Nunca fora de negar fogo, mas aquela mulher era um incêndio. Ele fechou os olhos e acabou cochilando. Sentiu Narcisa levantar da cama e ir em algum lugar. Ouviu o tintilar de copos.
Narcisa voltou a cama e sussurrou em seu ouvido.
- Tome, Severo, beba isso - disse ela, oferecendo-lhe um copo de vinho - Vai renovar a suas forças.
Ele pegou o copo e brindou com ela.
- A nós e ao Lorde - disse ela, com um sorriso misterioso.
Severo deu um grande gole em seu vinho, enquanto era observado pelos grandes olhos azuis de Narcisa.
O silencio pairou sobre os amantes. Severo havia fechado os olhos novamente, e Narcisa o olhava atentamente. Após alguns segundo, quando percebeu que ele estava totalmente em transe, pôs em prática o que havia planejado.
- Quem você ama Severo? - perguntou ela, sensualmente.
- Lílian Potter - respondeu, normalmente, sem abrir os olhos.
Narcisa sorriu. A poção estava fazendo efeito. Ela abriu uma gaveta do criado mudo e tirou um pergaminho dali. Ali estavam anotadas as perguntas que ela devia fazer ao homem deitado ao seu lado, segundo as ordens de seu marido.
- Severo, Alvo Dumbledore se comunicou com você recentemente? - perguntou a bruxa.
- Sim.
- E o que ele queria? - Ela tinha um sorriso de triunfo em seus lábios.
- Quer que eu deixe de ser Comensal e me una a ele.
- E o que você vai fazer? Vai aceitar?
- Sim, eu vou.
Narcisa arregalou os olhos. Era verdade! Lúcio tinha razão, Severo era um traidor! E descobrir aquilo lhe traria muitos pontos com o marido e com o Mestre, apesar de ter sentindo uma pequena pontada de culpa por fazer aquilo.
- Por que você quer mudar de lado, Severo? - continuou ela, sua voz falhando levemente.
- Voldemort tem planos - ele disse misteriosamente - Lílian Potter acaba de ter um filho. Por causa de uma tal profecia, ele pretender matar o filho dos Potter. Eu temo pela vida de Lílian. Quero poder protegê-la.
- Oh, por Merlin! - lamentou Narcisa, penalizada.
Ela não conseguia mais ler o pergaminho. As lágrimas começaram a transbordar dos seus lindos olhos azuis e se sentiu particularmente detestável naquele momento.
- Vai trair o Mestre por amor a uma mulher que se casou com outro e ainda tem um filho?
- Sim.
Louco! ela pensou. Ele está louco! Arriscar a própria vida por uma mulherzinha ridícula e sem graça como Lílian Potter? Ela sentia o ódio queimar suas entranhas. Por que ele faz isso por ela, enquanto eu estou aqui, precisando de sua ajuda, de seu carinho… do seu amor…
De súbito, ela se levantou, vestiu sua camisola, pegou sua varinha e apontou para o homem deitado na sua cama.
- Estupefaça - disse e logo depois abriu a porta, gritando para o corredor - Entre, Lúcio, eu já terminei.
Ele passou pela porta a passos largos e fortes, com a verdadeira dignidade do homem alto e elegante que era, com seus longos cabelos loiros platinados, olhos azuis profundos, vestindo um longo manto negro. Entrou e observou o homem nu, coberto por apenas um lençol fino, deitado na cama, com grande aversão.
- Homem desprezível… traindo seu companheiro, dormindo com minha mulher!
- Mas você também o está traindo, Lúcio - falou Narcisa, sem poder se conter.
Ele não se deu o trabalho de responder. Acertou um forte tapa com as costas da mão no rosto maquiado de Narcisa, que caiu aos pés da poltrona verde musgo. Ela choramingou, enquanto limpava o sangue que escorria de sua boca.
- Cale-se, mulher idiota! Não está aqui para dar suas opiniões ridículas, mas sim para cumprir minhas ordens!
- Sim, meu marido - ela respondeu, lançando um olhar carregado de ódio para o homem.
- O que este parvo respondeu?
- Você não ouviu o que ele disse? - perguntou ela, enquanto se levantava
- Lógico que não, sua tola, só ouvi seus gemidos de prazer com esse bastardo! Responda, sua vadia!
Narcisa logo despejou o interrogatório; o sorriso de Lúcio aumentava a cada palavra.
- Muito bem, Narcisa, isso prova que você não é apenas uma vagabundinha.
- Por favor, Lúcio, não fale assim comigo quando não há motivos!
Lúcio desferiu uma outra boa bofetada no rosto da sua esposa, fazendo-a calar.
- Eu falo o que eu quiser, quando eu quiser, do jeito que eu quiser! Agora vá fazer algo de útil e chame os rapazes lá embaixo. Vá logo e não fique me olhando com essa cara de cachorro abandonado!
Narcisa pegou seu roupão e saiu do quarto apressadamente. Quando voltou, estava acompanhada de mais cinco homens, todos vestindo o mesmo manto negro de Lúcio. Sorriam estranhamente um para os outros, lançando olhares para Narcisa. Lúcio notou esses olhares e escorraçou a mulher do quarto.
- Vá tirar esse cheiro nojento desse traidor, Narcisa! Sai, sai!
Narcisa lançou um olhar magoado para o marido e saiu. Pôde vislumbrar os homens se aproximarem de Severo, com as varinhas em punho. Ela tremeu e temeu pela vida de Severo.
******
Enquanto banhava-se, chorava. Pensava se estaria fazendo a coisa certa. Sentia muito remorso naquele instante. Severo fora tão carinhoso. E ela o apunhalara pelas costas. Podia sentir ainda nos lábios os beijos ardentes. Beijos esses que tanto sonhava receber de Lúcio.
Após o banho, desceu até o escritório e tentou saber sobre o que aconteceu no quarto.
- Vocês já o mandaram para o Mestre - perguntou a mulher, tentando parecer calma.
Lúcio, que estava escrevendo em um pergaminho, apenas balançou a cabeça, negando.
- E… o que vocês fizeram com ele, então?
O homem parou de escrever e lançou um olhar para a esposa. Ela tremeu, e desviou o olhar.
- Por que tanta curiosidade, minha querida?
Narcisa ficou levemente pálida, e tentou dissimular.
- O-ora, Lúcio, só quero saber o que vai fazer… Quer dizer, eu estou participando disso também, não estou? Que mal há em eu saber?
Lúcio olhava sua esposa atentamente. Havia algo de errado com ela.
- Nenhum, minha querida, nenhum. Eu não o entreguei, ainda. Só lancei um feitiço para apagar parte de sua memória, para ele não lembrar das perguntas que você fez a ele. Mandei meus rapazes levá-lo para aquele pulguero que ele chama de casa e usar um feitiço para ele pensar que foi para lá com as próprias pernas.
- Oh, fantástico, Lúcio, você pensou em tudo! - disse a mulher, admirada - Que feitiços são esses, que eu não conheço?
- Não é da sua conta, não quero que use eles contra mim - respondeu ele, já se incomodando com as perguntas de Narcisa - E além do mais, você não tem poder nem inteligência o bastante para usá-los. Nem sei como conseguiu se formar, de tão burra que é! - Ele riu ruidosamente e voltou a escrever.
Narcisa abriu a boca mais depois a fechou, mordendo o lábio. Não queria levar mais uma bofetada.
- Lúcio, eu terei que fazer mais alguma coisa?
- Não, você já fez sua parte. Agora, vá cuidar de sua vida, fazer algumas compras, sei lá, mas me deixe em paz.
Narcisa balançou a cabeça, submissa. Saiu do escritório e pensou como Lúcio tornava sua vida miserável.
Quando a porta do escritório se fechou, Lúcio Malfoy se levantou e pegou um espelho de prata na estante. Batendo sua varinha nela, chamou o nome de alguém.
- Brutus!
O reflexo do espelho tremeu e tomou a forma de um homem jovem de longos cabelos castanhos escuros.
- Sim, Mestre. O que deseja de mim? - perguntou o homem, suavemente.
- Quero que siga minha esposa, Narcisa. Em todos os lugares, até mesmo no banheiro. E depois me diga aonde ela foi, com quem foi e o que fez. Está entendido?
- Sem dúvida, Mestre. Deseja mais alguma coisa?
- Na verdade, sim. Marque uma reunião particular com o Lorde. Diga a ele que descobri um traidor entre nós. É só isso, Brutus - Ele bateu a ponta da varinha no espelho e a imagem do rapaz sumiu.
Sorrindo perfidamente, Lúcio voltou a sua escrivaninha e pensou em Narcisa. Ela já estava ficando muito usada. Era melhor descartá-la e se casar com uma moça mais jovem… e, se possível, mais bonita.
No seu quarto, Narcisa pensava na sua vida após se casar com Lúcio. Ele nunca, nem mesmo quando noivaram, fora carinhoso com ela, salvando a época em que eles eram apenas namorados em Hogwarts, e, sempre que podia, a usava para conseguir alguma coisa. E ela sempre obedecia, até gostava. Mas agora não poderia viver sabendo que ajudara Lúcio a delatar Severo para o Lorde. Pegando seu manto, saiu de casa silenciosamente, sem notar o vulto que a seguia.
******
Severo despertou sobressaltado, com a varinha em punho. Estava em sua cama, vestido com seu pijama negro. Sua cabeça latejava e não conseguia recordar direito como havia parado em sua casa.
Estranho, sempre lembro de tudo que faço - pensou ele, passando as mãos nos cabelos oleosos. Então ele viu, pela janela.
Ao longe, um vulto negro caminhava até a sua casa, apressadamente. Chegou em sua porta e bateu com violência.
Ele se levantou, vestiu seu roupão e abriu a porta com cautela, a varinha pronta para estuporar, ou até matar, quem quer que seja.
- Severo, preciso falar com você.
Os olhos de Severo Snape quase saíram das orbitas, quando a figura abaixou o capuz. Era Narcisa Malfoy, e seu lindo rosto parecia uma máscara de agonia.
- Severo! Oh, Severo, por favor perdoe-me! Perdoe-me! - implorou ela, jogando-se nos braços dele.
- Calma, Narcisa! Fique calma. Não posso ajudá-la sem que antes se acalme - Ela o olhou pesarosamente, deixando várias lágrimas escorrerem por seu rosto - Venha, vamos nos sentar ali.
Severo fechou a porta com um chute e a levou pela mão até uma poltrona próxima, defronte à lareira apagada. Fê-la se sentar e se ajoelhou na sua frente, olhando fixamente para aqueles olhos que agora fitavam o chão, deixando transparecer uma profunda vergonha que Severo queria entender.
- Vamos. Conte-me o que foi. Lúcio a espancou novamente?
- Sim… mas não é isso que está me fazendo chorar, Severo. Eu… eu não sei como começar.
- Pois comece pelo começo - Ele tentou ajudar, mas ela só soluçava - De quê devo perdoá-la?
- Severo… eu fiz uma coisa que não devia. Eu traí sua confiança. Por minha causa, você a essa hora está em grandes apuros - finalmente ela disse, de cabeça baixa, sem coragem de olhá-lo direto nos olhos.
O bruxo a olhou, intrigado. Franziu o cenho. Com um dedo, levantou o queixo dela.
- Olhe para mim, Narcisa. Explique-se melhor. O que fez?
As lágrimas voltaram. Ela engoliu em seco, respirou profundamente e começou a contar tudo, desde o começo, que havia feito. Sem omitir detalhes. E à medida que ela ia contando, Severo ia mudando sua expressão para algo que ela não conseguia decifrar. Após terminar de contar, ele ficou em silêncio, por muito tempo, olhando para o chão.
- Severo, por favor, está me deixando nervosa. Fale alguma coisa!
- Eu não sei o que dizer, Narcisa, nem o que pensar. Jamais esperaria isso de você. Admito que achei um tanto estranho aquele seu interesse repentino por mim, mas não achei que… Por Merlin, mulher, eles vão me matar!
- Eu sei, Severo, e por isso vim lhe contar. Entenda, eu não queria ter feito tudo isso! E por demonstrar isso é que Lúcio me encheu de tanta porrada. Ele me ameaçou de morte! Disse que se eu não fizesse, me socaria até eu morrer e arranjaria outra prostituta que o obedecesse. Fiquei apavorada!
Ele olhou para ela e se levantou. Ficou de costas e ficou fitando as cinzas na lareira. Tentava pôr os pensamentos em ordem. Naquele instante não queria ouvir as desculpas de Narcisa. Precisava pensar em algo que o livrasse daquilo. Precisava descansar.
- Olhe, Narcisa… não estou em condições de analisar suas desculpas, agora. Não quero ouvir suas justificativas, só quero tentar entender tudo isso. Preciso pensar e agir rápido. E não quero seu mal. Por isso deixarei que fique aqui, se assim desejar. Mais tarde conversaremos com mais calma.
Narcisa sorriu e o abraçou, por trás, recostando sua cabeça levemente nas costas dele.
- Muito obrigada, Severo. E perdoe-me. Eu posso dizer com toda a certeza que, apesar de ter feito tudo o que fiz, meus sentimentos por você são reais. Apesar de eu ter falado aquelas coisas num clima de mentira, era tudo verdade.
- Tudo bem, Narcisa. Depois conversamos. Bem…- disse ele se afastando em olhando em volta - Pode ficar por aí, vá até a cozinha e coma alguma coisa. Se quiser tomar um banho ou se deitar um pouco, meu quarto é a primeira porta à direita indo por aquele corredor - disse apontando - Eu vou para o meu escritório. Se precisar de algo, me chame.
- Mas o seu elfo-doméstico?
- Estão todos na mansão de minha família. Eu prefiro ficar aqui sozinho.
- Tudo bem… Eu vou comer alguma coisa. Quer que eu lhe prepare algo?
- Não precisa. Perdi totalmente meu apetite - respondeu Severo com um olhar frio. Então virou e foi em direção ao escritório.
Narcisa ficou ali, parada, vendo o bruxo que descobrira amar após tê-lo traído bater a porta e trancá-la. Jogou-se na poltrona atrás de si e chorou como nunca havia chorado.
******
Nesse momento, Brutus tirava seu espelho da bolsa e chamava por seu Mestre.
- O que foi, Brutus? - perguntou Lúcio, ríspido.
- É sobre sua esposa, Mestre.
-O que tem ela?
- Ela está na casa de Londres de Severo Snape. A casa tem proteções, por isso não posso ouvir nem ver o que se passa lá dentro. Mas a Sra. Narcisa está lá há um bom tempo. Creio que não sairá tão cedo.
Lúcio levantou bruscamente de sua cadeira, ficando vermelho de raiva.
- Aquela prostitua traidora! Deve estar contando tudo ao amante querido dela! Merda! - gritou para si mesmo. Então se voltou ao espelho - Brutus, já marcou a reunião com o Lorde?
- Não, senhor, eu achei melhor primeiro seg…
- Pois marque agora! Ou melhor, apenas avise-o que o estou esperando em minha casa. AGORA!
-É para já, senhor.
A imagem de Brutus desapareceu do espelho. Lúcio Malfoy jogou-o na mesa, sem medo de que quebrasse. Ficou andando de um lado para o outro, amaldiçoando a cadela com quem se casou.
Abriu a porta de seu escritório com violência e saiu depressa. Parou no meio do salão, gritando pelo elfo-doméstico.
- DOBBY! VENHA JÁ AQUI!
O elfo veio correndo, parando aos pés de seu mestre e se ajoelhando.
- Diga, senhor, o que deseja?
-Chame Bellatriz aqui. Quando ela chegar, provavelmente estarei com o Lorde em minha sala. Mande-a esperar.
- Sim, Mestre. Mais alguma coisa?
- Não. Agora suma daqui! - gritou, chutando o elfo para longe.
******
Severo não sabia dizer quanto tempo estava trancado dentro daquele escritório, só pensando, pensando, pensando… Provavelmente Malfoy não havia mandado a esposa fazer aquilo por nada. Ou seu Mestre estava desconfiado, ou apenas Malfoy estava e fez isso para ganhar créditos com o Mestre, caso descobrisse algo.
E Narcisa… Ele gostava dela, é claro. Ela conseguia fazê-lo sentir sensações que nenhuma outra mulher provocara. E saber que Narcisa fez tudo aquilo sem intenções verdadeiras… foi uma verdadeira prostituta.
Não, ele não tinha o direito de pensar isso dela. Ela fez tudo obrigada. E se arrependera. E ainda dissera que seus sentimentos eram verdadeiros. Seria uma ótima vingança roubar a mulher de Lúcio. Afastou esse pensamento. Narcisa já fora usada demais.
Olhou no relógio. Já era quase 7h da noite. Decidiu ir conversar com a mulher, saber de algumas informações e talvez contar com a ajuda dela para ver como sairia da roubada em que foi colocado.
Abriu a porta. Narcisa estava sentada na mesma poltrona, defronte à uma lareira agora com o fogo aceso. Tinha o rosto entre os joelhos. Não percebeu quando ele se aproximou, ficando na frente dela, e levou um susto ao ouvir a voz grave e sensual dele chamar por seu nome.
- Narcisa.
- Severo! Puxa, você me assustou - disse ela erguendo os olhos para ele.
Ele reparou no rosto que outrora fora tão belo. Em volta dos olhos estava um roxo intenso, as maçãs do rosto inchadas e o canto da boca com um pequeno corte e sangue já seco. Ela sorriu, um sorriso desanimado, e deixou mais lágrimas caírem.
- Você não teve tempo para reparar em meu rosto mais cedo, não é? Veja o que Lúcio fez comigo.
- Ele é um canalha, Narcisa. Não há motivos no mundo que justifiquem usar a força contra uma mulher, ainda mais a própria esposa. E tão bela, quanto você.
- Talvez seja… ou talvez você que é cavalheiro.
- Estou longe de ser cavalheiro, Narcisa. Sou apenas um bruxo carrancudo e estúpido.
- Seja ou não seja, você é o único homem que me trata decentemente - E, dizendo isso, Narcisa se levantou e se aproximou - Obrigada. Lúcio fazia eu me sentir a prostitua e vagabunda que dizia que eu era. Já você faz eu me sentir uma mulher. Faz eu me sentir amada e desejada, me respeita, me beija de um modo que sempre sonhei ser beijada por meu marido.
Ela passou a mão pelo rosto dele, afastando as mechas do cabelo negro. Aproximou-se mais e deitou o rosto no peito dele, o abraçando.
- Perdoe-me, Severo. Eu lhe imploro. Eu amo você.
O bruxo ficou parado por um momento, chocado. Jamais pensou que Narcisa chegasse a esse ponto. Por fim, respondeu ao abraço, afagando os cabelos dela.
- Eu já a perdoei, Narcisa. Agora não faz mais diferença, o que está feito, está feito. Pare de chorar, por favor. Eu não sei o que fazer com uma mulher chorando no meu ombro.
- Apenas fique assim. Abrace-me mais forte, Severo, eu preciso da sua proteção.
Em vez disso, ele a afastou, tomou o rosto dela entre as mãos e encostou de leve seus lábios nos dela, para logo se afastar novamente.
- Precisamos conversar. Preciso que você me conte mais coisas. Preciso pensar no que vou fazer para escapar. A essa hora o Lorde já deve saber de tudo. Espero poder contar com a sua ajuda, Narcisa.
- É claro que sim, Severo. Mas vamos deixar isso para amanhã. Agora você precisa descansar. E eu também.
- É melhor, mesmo. Eu vou tomar um banho, então pego minhas coisas e trago para cá. Pode ficar com minha cama. Me arranjo no sofá.
- De jeito nenhum! Não vou tomar sua cama para mim. Vamos dormir juntos, Severo. Não vejo mal nenhum nisso depois do que já fizemos.
- Tudo bem. Vamos.
- Vá tomar seu banho. Vou preparar algo para comermos.
- Ótimo.
Narcisa pegou queijo da geladeira, cortou em quadradinhos e colocou em um pratinho e pegou uma garrafa de vinho. Levou para o quarto e colocou na cômoda. Olhou-se no pequeno espelho em cima da cômoda. Seu rosto estava horrível. Mas não faria nada. Preferia ficar ao natural. Não queria parecer oferecida a Severo, como já havia feito.
Sentou-se na beirada da cama e esperou mais alguns minutos, até que Severo saiu pela porta do banheiro com um roupão verde escuro.
- Pronto, Narcisa. Vai querer tomar banho também?
- Já tomei à tarde… Peguei uma toalha na gaveta.
- Ótimo. E o que trouxe para comer?
Narcisa apontou para a cômoda.
Os dois comeram o queijo e beberam o vinho em silêncio, sentados na ponta da cama. Narcisa olhava para o chão, enquanto Severo olhava para o rosto dela.
Severo não conseguia resistir. Desejava aquela mulher. E parecia desejá-la ainda mais vendo-a naquele estado deplorável, o rosto machucado, o olhar triste, toda a situação… e não estar, pela primeira vez, se oferecendo. Implorando por sexo. Isso o deixava louco.
Passou o braço pelo ombro dela e a trouxe para perto. Narcisa apenas apoiou a cabeça no ombro dele.
- E agora, Severo?
- Eu não sei… e nem quero saber. No momento quero apenas você.
E dizendo isso, a puxou para um beijo quente e demorado. Ela ficou um tanto espantada com a atitude, mas gostou. Correspondeu ao beijo. As mãos dele passavam por todo o corpo dela, puxando-a mais para cima da cama. Deitou-a delicadamente e foi por cima, beijando sua boca, seu rosto, o pescoço, o colo, chupando os seios e a barriga.
Algum tempo depois, estavam os dois enroscados um no outro, ofegantes e felizes. Não havia mais culpa no ato deles. Apenas paixão. E logo adormeceram abraçados.
******
Narcisa abriu os olhos. Estava nos braços de Severo. Sorriu ao lembrar da noite que tiveram. Sorriu ao lembrar que fizera amor com ele sem se sentir culpada, sem trair quem amava e por vontade própria.
Olhou no relógio ao lado. Ainda era cedo, mas eles precisavam agir. Ela faria tudo que estivesse ao seu alcance para ajudar Severo. Não podia deixá-lo simplesmente morrer.
A lembrança de o que ele dissera sob efeito daquela poção, sobre Lílian Potter, fê-la sentir uma pontada de raiva, mas logo afastou o pensamento. Afinal, ele estava ali, com ela, não estava?
Sons de pessoas aparatando assustou Narcisa. Ela se ergueu e acordou Severo.
- Severo! Severo, acorda!
- O que foi, Narcisa?
- Não sei, ouvi uns sons de pessoas aparatando vindo lá de fora, Severo.
Os dois se entreolharam.
Severo se ergueu e foi até a janela. Ainda estava escuro, não conseguia ver nada.
- Pegue uma camisa minha, Narcisa, e fique aqui. Vou lá ver.
- Não, Severo, eu vou com você!
Rapidamente Narcisa pegou a camisa e sua varinha. Severo vestiu uma calça e também empunhou a varinha. Foram cautelosamente até a sala, iluminados pela varinha. Antes mesmo que pudessem chegar até a porta, ela se escancarou e três pessoas com capas pretas e capuz, as varinhas em punho, invadiram a sala.
Continua
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