Os Olhos de Severo

Lilian só iria para Hogwarts no próximo ano, em Setembro, quando já tivesse 11 anos, até lá ela deveria continuar seu último ano estudando em uma escola “normal”, estava na 5ª série e não tinha muitos amigos por lá. Na verdade, não tinha amigo nenhum, era considerada estranha por seus colegas, e sempre acabava assustando eles quando ficava muito nervosa.

 

O almoço era sempre exatamente ao meio-dia, quando tocava o sino Lilian e seus colegas se dirigiam ao refeitório da escola, a comida não era tão agradável, na quarta-feira se almoçava peixe com arroz, podia até parecer coisa boa, mas era extremamente nojento, e o refeitório não era um lugar muito higiênico. Lilian sentava sozinha em uma mesa mais afastada de todos, preferia não ser incomodada por seus colegas irritantes. Gostava de ser a primeira a chegar para poder almoçar rapidamente e passar o resto do recreio na biblioteca da escola.

 

Como em qualquer outro dia, Lilian fez uma rápida refeição e saiu do refeitório quando a maioria dos estudantes ainda estava se acomodando. Ouvia risadinhas perturbadoras por todo lugar que passava e na saída do refeitório foi atingida por uma uva na nuca, se virou zangada e viu seu colega Gary Thinner e seus capangas gargalhando.

 

-Está nervosinha, bruxinha? Vamos ver o que mais você pode fazer... – ele disse com um sorriso idiota estampado na cara.

 

-Apenas me deixe em paz, todos vocês! – berrou Lilian e se afastou o mais rápido que pode, queria apenas poder ficar sozinha lendo qualquer coisa na biblioteca, e pra lá foi.

 

Era um lugar confortável e quentinho, Lilian escolheu ler um livro da série “As Crônicas de Nárnia”, ela adorava ler, mas como o que é bom dura pouco, em pouco tempo Gary veio com seus amigos e sentaram na mesa do fundo, atrás dela. Ela fez o possível pra ignorar, até que um deles atirou uma bolinha de papel em sua cabeça. Lilian levantou de um salto, vermelha de raiva feito um pimentão, e berrou:

 

-Eu avisei pra vocês pararem, vão se arrepender de ficarem fazendo isso!

 

As luzes da sala piscavam, seus colegas assustados deram um passo pra trás, Lilian estava descontrolada, mas no momento estava gostando disso e decidiu definitivamente tentar lhes dar uma lição: Ergueu as mãos para trás e as atirou para sempre, fazendo com que dezenas de livros voassem da estante em direção de todo mundo. Desesperados, tentavam se proteger com as mãos da chuva de livros grossos que os atingiam e correram para o mais longe que puderam.

 

Lilian voltou a si, estava confusa, como fez tudo aquilo? Sentia-se cansada e fraca depois da euforia que causou. No outro lado da biblioteca, viu a professora se erguendo detrás do balcão, ela observou espantada toda a bagunça que restou, livros e poeira espalhados por todo o chão, apenas conseguiu apontar um dedo trêmulo para Lilian dizendo:

 

-Você!

 

11 de Dezembro de 1970

 

“EXPULSA!! Fui expulsa da minha escola, dá pra acreditar? Meus colegas acabaram como vítimas e eu como culpada, injustiça com certeza é a pior coisa do mundo. Meus pais no início ficaram furiosos, mas eu tentei explicar tudo, e pelo jeito eles são os melhores pais que eu podia desejar, me compreenderam, e resolveram não me matricular em nenhuma outra escola, melhor assim, não quero mais me meter em confusão”

 

Fazia mais de um mês que Lilian não via Severo Snape, tinha tanta coisa para contar pra ele, precisava de alguém que a ouvisse, Petúnia sempre buscava a ignorar.

 

-Não quero saber nada sobre essas coisas, sua anormal! – dizia ela, mas  Lilian sentia uma pontada de dó, pois sempre via em seus olhos a vontade de fazer coisas diferentes.

 

Já era quase natal, Lilian saiu com muita roupa para se proteger do frio, havia nevado por dois dias seguidos. O parque estava muito bonito, todo branco, o lago congelado. Chegando lá, ela viu um ponto preto no meio de toda imensidão branca. Era Severo, claro, ele sempre estava por lá.

 

-Surpresa! – disse Lilian chegando perto dele.

 

-Lilian, que saudades de você. – disse Severo parecendo triste, mas tentando esboçar algum sorriso.

 

-Está tudo bem com você? – perguntou Lilian.

 

-Claro, tudo ótimo, e você? – respondeu Severo.

 

-Não tente me enganar, sei que aconteceu algo, pode contar, estou aqui para ouvir.

 

-Ah, não é nada de mais, são só meus pais, eles... vivem brigando, e aqui é onde eu sempre venho, gosto de ficar por aqui, não em casa.

 

-Nossa, não fica assim por causa disso, está tudo bem agora, posso ficar aqui a tarde toda. Mas me conta, como são seus pais?

 

-Bem, meu pai é bruxo, minha mãe é trouxa, quem não é bruxo, sabe, então sou mestiço...

 

-Sei, Dumbledore comentou quando passou por aqui, eu sou nascida trouxa, mas tenho habilidades mágicas.

 

-Uau, você vai para Hogwarts, então? Eu também.

 

-Sim, não é demais? Vamos estar no mesmo ano lá.

 

-Pois é, mas lá existem 4 casas: Sonserina, Grifinória, Lufa-Lufa e Corvinal, não sei se vamos ficar nas mesmas.

 

-Ah, acho que temos muito em comum, mas se não ficarmos, podemos continuar nos encontrando mesmo assim, não é?

 

-Er... Claro, podemos sim.

 

A conversa estava boa, mas Lilian notava que Severo continuava um pouco pra baixo. Seus olhos, ainda que tão escuros, pareciam estar sem cor.

 

-Você já patinou no gelo? – perguntou Lilian.

 

-Não, você já? – disse Severo.

 

-Também não, mas pra tudo sempre tem uma primeira vez, não é?

 

Meia hora depois disso, Lilian voltou com dois pares de patins de gelo, Severo a esperava sentado num banco.

 

-Onde conseguiu isso? – ele indagou.

 

-Peguei escondida lá no sótão de minha casa, são bem velhos, mas devem servir em nós.

 

Os dois calçaram os patins, com muito esforço Lilian conseguiu calçar os dela, e então foram para o lago congelado, tentando ao máximo se manter em pé.

 

-Será que é seguro? O gelo não pode quebrar? – perguntava Severo.

 

Lílian desconcentrada acabou se desajeitando e caiu deslizando alguns metros pelo lago. Severo foi socorrer ela.

 

-Se com todo meu peso isso ainda não quebrou, é seguro sim. – falou, e os dois caíram na risada.

 

-Vamos, eu te ajudo a se levantar. – falou Severo esticando a mão, e finalmente aparentando estar alegre como nunca antes.

 

Lilian se levantou sorrindo envergonhada, e tentou voltar a postura inicial para começarem a patinar. E foram. Eles estavam conseguindo patinar facilmente, embora se desequilibrassem um pouco. Ela tentou tentava arriscar dando giros no gelo, mas quase sempre precisava se segurar em um Severo tímido, um pouco sorridente.

 

-Vai lá, tenta dar um giro também. – falou Lilian.

 

-Eu não vou conseguir, sou um desastre. – disse Severo.

 

-Olha, eu também não sou uma campeão olímpica, mas tenta só uma vez, por favor.

-Tudo bem, se você quiser...

 

Severo foi patinando rapidamente, e conseguiu impressionar, deu um pequeno salto e girou no ar, Lilian ficou maravilhada por uns segundos enquanto ele não levava um belo tombo.

 

Ele levantou com a mão na cabeça, a linda ruiva apenas o observava com um olhar preocupado. “Você está bem?”

 

Mas é claro que sim, Severo estava gargalhando já, e Lilian também, estava sendo uma tarde divertida, até que o sorriso dele desapareceu do rosto, junto com o dela.

 

O gelo estava rachando rapidamente. Sem falar uma palavra, Severo levantou de um salto e patinou rapidamente até uma Lilian assustada e sem voz. Segurou sua mão e foram em disparada até a grama coberta de gramo, deitando-se lá exaustos.

 

-Está tudo bem... – falou Severo.

 

-Está tudo bem? – disse Lilian com uma cara furiosa, mas logo estampou um enorme sorriso. – Está tudo ótimo, isso foi incrível!

 

-Nossa, já estava pronto pra levar o maior xingão.

 

-Que nada, adorei ficar aqui, mas agora está ficando tarde, meus pais já devem estar preocupados.

 

-Tudo bem, nós podemos nos ver algum outro dia, tudo bem?

 

-Claro. – disse Lilian, se despediu de Severo e foi para casa.

 

26 de julho de 1971

 

“Uau, já faz um bom tempo que não venho escrever coisas boas aqui, mas enfim, esses meses sem aula estão sendo as melhores coisas do mundo, ainda consegui me encontrar mais algumas poucas tardes com Severo, ele é um cara muito legal. Me falou sobre coisas como o Beco Diagonal e o Gringotes, o banco dos bruxos, vai estar tudo numa carta que uma coruja vai trazer aqui. A essa altura não me surpreendo com mais nada, apenas estou ansiosíssima pra conhecer Hogwarts e todo o mundo bruxo.”

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