Maldição Perfeita



     Se eu fosse sincera comigo mesma – e, em geral, eu costumava ser – deveria dizer o quão mal humorada eu estava naqueles últimos dias. Agora, analisando friamente a questão, eu poderia perceber que havia julgado errado o comportamento de Fred. E meu coração, partido em mil e um pedaços, sabia disso perfeitamente. Com muita freqüência, ênfase no muita, eu perdia a atenção nas aulas e rasurava em um pergaminho uma carta que jamais seria enviada.


     Por mais que minha mente oscilasse grande parte do tempo no dilema de enviar ou não a carta para ele, eu sabia que lá no fundo, ela jamais seria enviada. Não, não era orgulho. Era medo. Medo de perdê-lo. Medo de saber, definitivamente, que ele jamais a tocaria, jamais a olharia com aqueles dois pares de olhos azuis céu, jamais a quereria, jamais a beijaria. Jamais, jamais, jamais. Jamais lembraria dela, também.


      Em qualquer rua, Fred poderia encontrar sua alma gêmea e, tendo uma companheira magicamente escolhida devido aos poderes magid dele, ele jamais precisaria de alguém como eu. Talvez inteligência não fosse tudo, no final das contas. Ela dedicara-se longos anos para conseguir bons resultados. Eles vieram, certamente, mas, de que adiantava uma mente sagaz se seu coração estava vazio? Tivera ficadas com outros garotos e até mesmo despertara o sentimento deles, contudo, nenhum conseguiu a deixar tão exultante quanto seu ruivo perfeito.


     Os livros ensinaram me a fazer o feitiço ou a poção mais complexa do mundo bruxo. Entretanto, não me prepararam para o amor ou sobre as conseqüências que ele pode ter. Fred havia causado um enorme desapontamento, ela sabia, mas, se conversassem, eles poderiam ponderar e levar a relação adiante. Ele tentou: enviou inúmeras cartas. E eu, ao invés de agarrar essa chance com unhas e dentes, simplesmente enviei-as de volta. Parabéns, Hermione, agora você fez jus ao “tola” que seu professor Snape insiste em repetir.


     As palavras do professor Binns rodeavam sua mente. Duendes, duendes, duendes...o que eles estavam fazendo? Ah, sim. A guerra e os duendes. A guerra e os duendes. Droga. Sua boca continuava se movendo freneticamente mas tudo que eu conseguia lembrar era a guerra. De quem era a guerra, mesmo? Enquanto ele proferia seu interminável monólogo, minha mente vagava muito longe dali e pairava sobre dois olhos infinitamente azuis e cativantes. Eu conseguia ouvir a sua voz: doce e grave, máscula e suave. Se eu fechasse os olhos, conseguiria eternizá-lo em minha mente. Seus cabelos ruivos caindo displicentemente sobre os olhos, sua boca levemente entreaberta...ah, sua boca.


 


     - Senhorita Granger? – chamou o professor Binns – A professora McGonagall necessita de você, por favor, vá agora mesmo ao seu escritório e veja o que ela deseja. – falou o professor lendo um pergaminho trazido por um menino do primeiro ano.


    


     Sem hesitar, levantei rapidamente e quase corri até a sala de transfiguração. Será que o professor Binns havia reclamado da minha falta de atenção do meio da aula? Ora, pois, era impossível. Ele estivera falando a aula toda sobre... bem, não importa o conteúdo. Eu não vira ele escrevendo em um pergaminho. Bem, eu também não percebera que um garotinho havia entrado na sala e entregado uma carta. Pára, Hermione. Isso é paranóia. Repreendi mentalmente.


     Comecei a me aproximar da sala e pude ouvir umas boas risadas da professora. Isso era algo altamente favorável porque só poderia indicar uma coisa: seu humor era bom e o aviso deveria ser favorável. Após um último suspiro, bati levemente na porta. Estanquei na porta quando vi quem a abrira.


     Os cabelos dele estavam mais longos que antes e agora batiam levemente nos ombros, continuavam tão radiantes, lisos e sedosos como sempre. Seus olhos estavam opacos, quase sem vida, e o azul céu deu lugar a um azul apático e sem graça, como se estivessem nublados. Sua boca estava fechada em uma linha fina e estava mais branca do que ela lembrara. Antes de qualquer outra análise, estiquei meus braços e envolvi Fred em um forte aperto.


     Minha cabeça estava na curva do pescoço dele e eu pude sentir seu cheiro mesclado com perfume. Era tão envolvente, tão...Fred. Sem delongas, comecei a lutar contra as lágrimas que teimavam em cair. Quando senti suas mãos apalpando minhas costas, deixando um rastro quente por cada lugar que passava, desisti de lutar em vão. Chorei tudo que estava engasgado em minha garganta por dias.


 


     - Eu senti tanto a sua falta. – titubeei – Eu fui uma tola por enviar as correspondências de volta.  


     - Você não tem que chorar. – falou Fred, suas mãos acariciando meus cabelos – Eu que lhe devo desculpas. Se você soubesse o quanto tenho me odiado nos últimos dias. – ele me afastou e encarou meus olhos, pude perceber que os dele também estavam vermelhos – Eu amo você, Hermione. Preciso explicar algumas coisas e, só depois, quero saber se os seus sentimentos ainda são os mesmos por mim.


 


     Eu poderia gritar, chorar – ainda mais – ou simplesmente relembrar da intensidade dos seus olhos ao dizer que me amava. Preferi relembrar por uns instantes até aquiescer e prestar atenção no que ele me diria. Ainda que meus sentimentos continuassem os mesmos e ainda mais fortes, fiquei ouvindo atentamente o que ele me diria. Após uns minutos, ele começou.


 


     - Quando soube que você havia começado a namorar o Ronald, senti cada parte do meu corpo desmoronar. Eu vivia para te chamar a atenção. Esperava até você sair da biblioteca, todos os dias, para começar a testar nos primeiranistas os kits da Gemialidades Weasley porque eu sabia que uma linda menina viria até a mim brigando e querendo me dar uma detenção. É claro que eu nunca deixei isso transparecer pelo mais óbvio motivo. – ele parou por um tempo e continuou – Ao ver que os meus sentimentos por você seriam platônicos, resolvi me envolver com a Angelina para ver se conseguia, por fim, provar para mim mesmo que tudo isso era loucura da minha cabeça.


     - Tudo mudou, entretanto, no dia que eu soube que o idiota do meu irmão a deixou por uma qualquer. Uma felicidade explodiu dentro de mim e eu fiquei tão feliz que mal podia me conter. Quando eu e meu irmão a hospedamos em nosso apartamento e eu comecei a conviver com você sem a interferência de Ronald ou de Harry, percebi que eu gostava de você ainda mais do que eu supunha. – ele baixou a cabeça, deixando os cabelos cobrir a face em um gesto acanhado – Levá-la para passear em Londres foi, ao mesmo tempo, um erro e uma felicidade concreta, se é que me entende. Naquele dia eu rompi a lealdade com meu irmão, contudo, descobri que eu a amava.


     - Desde então, eu sempre procurei viver ao seu lado e nunca me importei muito em pensar no que faria ao ver Ronald quando estivesse com você, até porque só começamos a namorar após sua volta a Hogwarts. – ele passou as mãos no cabelo, desajeitando-os – E, no dia que isso aconteceu, eu estraguei tudo. Fiz a pior coisa que poderia fazer. A abandonei e me transfigurei. Mas, eu não quero que me entenda. Fui covarde ao fazer isso. Quero apenas que me perdoe. – seus olhos se fixaram nos meus e eu pude perceber que ele estava chorando – Eu fui um cretino com meu irmão, por não ter lhe contado antes sobre nós. E fui um cretino ainda maior com você. Desculpa.


     - Hoje, estava no café da manhã e recebi minhas cartas de volta e vi que você não tinha as lido. Imediatamente resolvi vir para cá. Eu pedi a Minerva que me permitisse falar com o Rony e ela disse que não poderia fazer isso. Apenas poderia ver uma pessoa. – ele sorriu tímido – Eu escolhi você, claro. Precisava explicar tudo a você e, quando for permitida minha visita novamente, irei falar pessoalmente com o Ronald. Tentei escrever mas acho que isso deve ser dito cara a cara.


 


     Se eu fosse analisar pelo ponto de vista dele, Fred tinha total razão. Ele fora desleal com o irmão e não fora nada anormal ter medo. Eu havia compreendido seus motivos e, embora secretamente, já o tinha perdoado há muito. Ele me amava e eu o amava, para mim, tudo estava perfeito.


 


     - Eu te amo, Fred. É claro que eu lhe perdôo. – e, sem esperar, me joguei em seus braços e o abracei com toda força possível.


    


     Acariciei seu rosto, seus olhos, suas sobrancelhas e meu dedo pairou sobre a boca. Tão vermelha, tão entreaberta, tão...minha. Capturei seus lábios e mordisquei-os. Ele pediu passagem para a língua e eu concedi, prontamente. Seu gosto era tão suave que parecia o néctar dos deuses. E ele era meu, só meu. Fred era algo do tipo uma maldição perfeita. Feita para mim.


 


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N/A: Bem, a Flawless Curse acabou. Eu amei escrever essa fanfic e espero que vocês tenham gostado de ler minha humilde história. Foi a primeira e espero não ser a última...


Espero não ter desapontado-os e, se acharem qualquer falha, é só me relatar que tentarei corrigir o mais rápido possível.


Obrigada por lerem, vocês são incríveis, mesmo! Ainda que eu desejasse mais uns comentários, já que alguns de vocês são bem sumidinhos, eu amei os que recebi. Muito obrigada, de coração.


PS: Espero que tenham reparado na última frase sobre o Fred ser uma maldição perfeita, pois é esse o significado do título em inglês: Flawless Curse = maldição perfeita.

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Comentários (6)

  • Srta. Zabini

    Nossa. Não descasei até ler inteiramente a fanfic.Amei a forma que você descreveu os personagens e conduziu a história.Parabéns!Você poderia fazer uma continuação, contando a vida deles pós hogwarts. Eu amaria! 

    2015-10-30
  • LeslieBlack

    Olha, eu não costumo comentar as fics que leio, principalmente por preguiça. Mas essa eu tinha que te dizer o quanto está maravilhosa, e olha que eu sou exigente. A história é linda, e mais raro ainda, é muito bem escrita. Gostaria de te parabenizar pela fic e agradecer pelas belas horas que passei lendo. E se for escrever outra, ou se já estiver escrita eu gostaria de saber. Você é muito talentosa, eu amei :)

    2015-06-21
  • Alicebeth

    Acabou já? Comccei no FeB e a sua foi uma das primeiras (e ultimas rsrs) fanfictions que li!!!, Gostei muito

    2012-04-14
  • Raygranger

    ont *-* que lindos eu amei seria legal se voce fizesse uma continuacao eu simples amei =)

    2012-03-01
  • more1weasley

    OMG ! Não acredito que acabou. Meu Merlim, é tão perfeita. Amei de mais, vou esperar por outra fanfic sua, fremione - oepiwopeiwpoeiwpoeiwpoeiwopiew - avisa aqui, ou sei lá, se for fazer outra. Beijos, e amei meeesmo a sua fic.

    2012-02-20
  • LiarGranger

    Que lindaaaaaaaa! Eu amei sua fanfic! Sou Fremione na veía e essa fanfic me emocionou, awn Não quero que acabe ); hahahah Espero por mais fanfics sua! Beijão

    2012-02-16
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