Escola trouxa
O despertador tocou às seis horas, como era de costume. Lucca esfregou os olhos com o dorso da mão e olhou o quarto que se mudara a cerca de uma semana. Um vento frio da manhã o invadiu e ele respirou fundo, preparando-se para o primeiro dia na escola trouxa. Lucca era bruxo, mas ninguém além do seu ‘responsável legal’ sabe disso. Lucca ficou órfão aos 3 anos, durante um acidente mágico.Ele não sabe muito sobre seus pais, Alice e John. Quando eles morreram, Lucca foi levado para um orfanato trouxa, onde foi adotado por um bruxo chamado Klaus que é um foragido no mundo bruxo, e por isso é obrigado a viver entre trouxas.
Klaus ensina magia ao Lucca, de forma violenta e arrogante, mas ensina. O garoto é obrigado a freqüentar escolas trouxas, onde é tão ruim quanto em casa. Lucca muda cada ano de escola, para não chamar a possível atenção de algum bruxo, o garoto começou a se arrumar. ‘’Primeiro dia de aula em uma escola trouxa, mas que inferno. ’’ Pensava ele, enquanto colocava a calça jeans, camisa preta simples e uma jaqueta com capuz, cobrindo grande parte do seu cabelo loiro.
Pegou um caderno de dez matérias e umas canetas, o celular e o fone de ouvido. Lucca nunca gostou de canetas, sempre preferiu as penas... Colocou em uma pequena mochila e foi caminhando até a escola, Klaus que ainda dormia havia mostrando dias atrás onde é a escola. Ele foi andando devagar, com as mãos nos bolsos para afastar o frio, escutando musica e olhando para os lados.
Logo ele chegou ao edifício, havia pessoas conversando, garotos e garotas da sua idade sorrindo e se divertindo. Reencontrando amigos e ficando em grupos. Lucca olhou em um papel que estava no seu bolso ‘‘sala 14’’. Ele respirou fundo e foi procurar sua sala.
Foi andando pelos corredores, sua sala ficava no segundo andar. Verificou seu nome na lista que estava pregada na frente da sala ‘Lucca Bryan Dawson’. Lucca entrou, olhou para a sala, havia poucos alunos. Estava cedo ainda, faltava cerca de meia hora para a aula começar. Ele foi se sentar, na ultima cadeira na fila da janela. Lá era bom, pois podia ficar olhando para o lado de fora e na ultima carteira, não precisava participar da aula, bastava prestar atenção.
Ficou lá, ouvindo musica e olhando as pessoas que chegavam. Depois de um tempo, todos já haviam entrado e o sino estava prestes a bater. Lucca viu algumas pessoas olharem para ele, porém nenhuma o chamou. O que não era ruim, pois Lucca se metia em encrencas muito facilmente. Logo, o professor chegou, os alunos foram entrando e sentando no lugar que preferiam. Na frente do Lucca estava um garoto, meio cara de trombadinha. Era alto, tinha um cabelo escuro e olhos da mesma cor. Era forte e não parava de conversar, digamos que era um dos populares da sala, aquele que é um ‘sonho’ das meninas, o ‘mano’ dos meninos e o inferno dos professores.
O professor começou a falar, sua voz era lenta e angustiante. Disse que se chamava Valério Frolich. Sua aparência lembrava um sapo desidratado. Era extremamente alto e magro e sua pele era oleosa, tendo verrugas e Lucca pode ver de longe algumas espinhas. Ele foi falando, lento e cansativo. ‘Vou ensinar história, não suporto conversar e gracinhas... ’. Lucca estava tentando prestar atenção no que o professor falava, porém a forma que ele falava era irritante. O garoto da sua frente também parecia achar isso.
Ele então se virou, talvez interessado na estranha aparência do Lucca. O garoto sorriu e começou a dizer.
- Quem é você? Novato com um estilo de...
O professor parece ter desviado a atenção diretamente nos dois.
- Adoraria saber sobre o que vocês falavam. - Falou ele, sarcástico.
- Nada professor, só estava dando as boas vindas ao novato. - Podia-se ouvir critica na voz do garoto. - Não se preocupe...
- Sr. Thomas, você já tem uma péssima ficha nesta escola, e se eu o ver conversando novamente vai sair da minha sala de aula.
- Claro professor.
- Não venha com gracinhas. – O professor começara a ficar vermelho, e agora parecia um sereiano bem feio. - Vire para frente, cale essa boca e não me deixe chamar sua atenção de novo.
O professor se virou, e voltou a falar.
A expressão do Thomas era de raiva. Parece que sem nem mesmo abrir a boca Lucca já tem um garoto para não gostar dele. E tinha que ser justamente o garoto que praticamente a sala inteira apoiaria?
Lucca olhou para a janela. ‘Não posso me meter em encrenca, Klaus me mata se ele tiver que vir na escola’. E o professor com cara de sereiano feio não parava de falar... Lucca já percebeu que as aulas de história vão ser muito chatas...
Lucca estava distraído, fingindo prestar atenção ao que o professor com cara de sereiano feio falava, e percebia os olhares de ódio que Thomas ainda lhe lançava, quando se surpreendeu com o sinal, menos uma aula naquela manhã, estava comemorando mentalmente, quando o professor da próxima aula já se adiantava para entrar na sala, e ele começava a se arrepender de ter comemorado, pois o professor era... Como explicar... Estranho... Ele era loiro assim como Lucca, mas havia algo nele que era diferente, talvez a forma de andar ou algumas manias que logo se pode perceber, o fato é que esse professor de artes percebeu que Lucca o encarava com um olhar estranho... O professor que parecia entediado mudou sua expressão rapidamente e agora parecia disposto a dar aula...
Lucca nunca imaginou que uma aula de artes escrevesse tanto, afinal pra que servia arte?! Mas tudo era pior do que parecia, o professor estava se aproximando dele cada vez mais e a certeza veio quando, Lucca que fingia copiar escrevia uma linha pulava três, o professor falou ao seu lado...
- Qual o seu nome?
- Lucca Bryan Dawson. - Respondeu ele, lentamente.
- Ãh?! Seu cabelo é desta cor ou é pintado, Sr. Dawson.
Lucca ficou estático com uma cara de “como é que é?” numa guerra mental em responder o professor, esquecer ou ser ignorante e lhe dar uma cortada. Mas ai com certeza ele iria acabar na diretoria e o Klaus não ia gostar muito disso, então ele decidiu ter paciência e aturar as perguntas desse professor.
- Não senhor, meu cabelo é desta cor.
- Nossa mais é tão lindo e macio. – Disse ele colocando a mão na cabeça de Lucca. – Você deveria deixar crescer pra vender, eu seria o primeiro a comprar.
Lucca reparou no professor, obviamente doido isso ele já sabia e com o estilo estranho, mas isso todo mundo notava a quilômetros. Quer saber outra coisa que se nota a quilômetros? A roupa dele. Os sapatos amarelo ovo, seguido por uma calça jeans apertada, e uma camisa branca básica com uma estampa atrás super chamativa, isso tudo era um contraste com o cabelo loiro, e os olhos verdes, mais sinceramente parecia ser lente de contato, mais o pior era que ele usava uma boina, sim uma boina, ele se achava aqueles pintores franceses. Claro depois de umas cem surras e ser atropelado por um caminhão.
O professor de Artes então saiu. Lucca já estava apreensivo com o próximo professor que poderia chegar e ao mesmo tempo com muita raiva, pois Thomas não parava de dar risadinhas e falar coisas como ‘‘Oh, meu cabelo nem se compara ao do Sr. Dawson, quer me vender seu cabelo Lucca? ’’. Entrou então na sala, um professor com longas vestes escuras, batendo até quase o tornozelo. Ele entrou meio cambaleando, tropeçou no próprio pé e quase caiu, tirando risadinhas de quase todos os alunos.
Lucca não achou graça, o professor lembrava muito um bruxo desastrado. Tinha cabelos ruivos escuros e olhos amarelados. Ele olhou pra todos os alunos com um sorriso meio bobo, disse que era professor de ciências, e iria nos dar varias aulas praticas. Lucca ainda estava desconfiado e prestou atenção nessa aula. Ele estava decidido que o professor era um bruxo. O Professor se sentou, e foi fazer a chamada.
Todo mundo conversava, parecia que para todos; aquele professor não lhes dava motivo de respeito. Ele foi falando os nomes, e quando chegou ao do Lucca ele parou.
- Lucca Bryan Dawson...
O garoto apenas levantou a mão em sinal de presença. Mas o professor não parava de encará-lo. Ele então piscou e continuou a chamada. Lucca se abaixou um pouco na cadeira e foi olhar pela janela. Não era possível, o que ele mais queria era passar o ano despercebido e o que acontece é que todos os professores pareciam achar algo nele que chamava a atenção deles.
A aula foi lenta, o professor era legal, porém não conseguia controlar a sala, e então só podiam-se ouvir conversas paralelas. Quando bateu o sino para o recreio, alguns alunos saíram correndo, outros saíram conversando e rindo. O professor Rodrigo permaneceu na sala, encarando Lucas seriamente. Quando o garoto passou perto do professor para sair da sala, foi chamado.
- Ei... Sr.Dawson certo?
- Sim senhor. Pode me chamar de Lucca, senhor. - Respondeu ele, parando de andar e se virando para o professor.
- Seu sobrenome, Dawson... Seu pai, quem é?
- Ah, bem... Eu não lembro muito dos meus pais senhor, eles faleceram quando eu tinha cerca de três anos...
- Oh, me desculpe então... Não sabia... É que eu tinha um amigo com o sobrenome Dawson...
- Ah, bem... Meu pai se chamava John...
- Ah, sim é o John... Você mora com quem Lucca?
- Com o Sr. Klaus... - Lucas se arrependeu de ter dito o nome. - Er, professor... Tenho que ir...
- Ah, claro. Depois conversamos Lucca.
O garoto saiu da sala para o pátio pensativo. De onde o professor poderia conhecer seu pai? Decidiu sentar-se em um banco vazio no pátio, e ficou olhando os alunos que passavam. Queria ficar um tempo sozinho com seus fones de ouvido, sem ninguém o irritar. Mas com certeza o destino não estava ao seu favor, um grupo de meninas se aproximava lentamente do seu lado direito e acenavam para alguém, uma garota. Mellissa, que vinha do seu lado esquerdo, ela acenava olhando pra as garotas sem realmente prestar atenção sua expressão era quase teatral e Lucca percebeu que o que vinha por ai era muito mais que uma garota mimada. Mellissa andou devagar até estar bem perto do banco e depois correu e numa queda quase ensaiada caiu no colo do garoto que não pode fazer nada ao não ser segura-lá, ela levantou o rosto e o encarou nos olhos.
- Obrigada, nossa como você é forte? – Falou ela tocando no braço dele após se sentar no banco ao seu lado.
- Sem problemas. – Sem saber o que falar ele olhou para o grupo de meninas. – Eu acho que suas amigas estão lhe esperando.
E mais uma vez ela tentou levantar, mas como se estivesse sentindo uma dor sentou-se novamente.
- Acho que não consigo levantar, meu tornozelo está doendo, talvez tenha quebrado.
- Acho melhor chamar alguém, então.
- Ah não, acho que vai passar logo... - Ela deu uma olhada para as amigas, que logo foram embora dando risadinhas. - Acho que machuquei o joelho também. Olha...
Mellissa colocou a perna direita em cima do Lucca.
- Tá doendo aqui oh... - Disse ela, encostando a própria coxa por cima da calça jeans.
Lucca sorriu e olhou nos olhos da garota, ela com certeza tem segundas, terças, quartas intenções com o garoto. Lucca olhou-a atentamente, Mellissa é bonita afinal. É um pouco mais baixa que o Lucca, tem pele clara, cabelos castanhos ondulados e olhos verdes. Ela olhava Lucca, sorrindo distraída.
O sino então tocou.
- Ah e agora como vou subir as escadas e ir até a sala? - Perguntou ela, melancólica. -Me ajuda Lucca?
Ele olhou para a garota, era obvio que aquilo era uma grande farsa. Ele se levantou, encarando-a. E então estendeu o braço, Mellissa sorriu e abraçou o braço do Lucca, colocando nele todo o seu peso. Eles foram até a sala assim, Mellissa praticamente deitada em cima do braço dele, e Lucca sério, e levemente irritado.
Deixou Mellissa em sua cadeira, que é pouco a frente da dele. Thomas havia visto a cena, Lucca que estava preparado para piadinhas, recebeu um olhar de raiva e desprezo. E logo depois Thomas foi falar com a Mellissa, realmente irritado.
Pouco depois a professora entrou e Lucca ainda sentia os olhares de nojo de Thomas, a senhora Rachel Hughes era uma das professoras mais antigas na escola e por isso era super respeitada, até mesmo pelo Thomas, apesar de não fazer nada na aula dela.
Ela não tinha preferências por alunos e dificilmente tinha problemas em dar aula, mas quando ela não gostava do aluno esse com certeza teria um grande problema em passar de ano.
Quando ela entrou naquela sala ela viu os novatos e demorou o olhar em Thomas um dos veteranos mais problemáticos, e depois olhou e tentou decifrar se um daqueles novatos teria algum problema. Ela olhou atentamente para Lucca, parece que não via possíveis problemas, mas resolveu ficar de olho.
A aula foi... Lenta. A forma em que a professora Rachel falava era extremamente cansativa. Uma voz vagarosa e concentrada. Ela parecia explicar bem, pois, só de ouvir a professora, Lucca já conseguiu ter uma idéia do que iria aprender. Quando o sino bateu, pôde-se ouvir alguns alunos dizendo ‘aleluia’ ou ‘finalmente’.
A conversa recomeçou, mas todos se calaram ao ver o professor que entrava. Ele era novato na escola também e tinha cara de poucos amigos. Era alto, jovem, físico médio e tinha sobrancelhas grossas dando-lhe um ar de agressividade.
Ele entrava na sala como se estivesse esperando uma guerra, o professor colocou seus livros em cima da mesa e com a voz rouca falou:
- Espero que se comportem na minha aula, pois estou aqui para ensiná-los. Aprendendo ou não eu exijo que vocês prestem atenção na aula e fiquem de bico calado. Não permitirei que vocês fiquem na minha sala de aula, como ficam em uma feira livre.
Vendo as caras incrédulas dos alunos, o professor sorriu.
- Sou Fernando, seu professor de Matemática.
Ele começou a anotar no quadro negro, um grande esquema do que aprenderemos durante o ano. Lucca pegou o único caderno que havia trazido uma caneta qualquer e começou a anotar, com preguiça o que o professor escrevia. O professor ficou escrevendo até a aula acabar, e quando o sino da saída finalmente tocou, ele disse. ‘continuaremos na próxima aula’. Lucca percebeu que aquela aula seria realmente insuportável.
Lucca juntou suas coisas, colocou os fones de ouvido e saiu da escola, o mais rápido possível. Não podia se atrasar, Klaus deixou bem claro que, queria vê-lo logo após a aula.
Ele caminhava mais rápido que o normal, ansioso para a aula que teria logo com o Klaus. Deu uma ultima olhada na escola e respirou fundo. Realmente não via a hora de aprender magia com o Klaus. Apesar, de suas aulas serem praticamente torturas e castigos, Lucca ainda preferia. Ele era bruxo, e era obrigado a freqüentar uma escola trouxa... Qualquer coisa que lembrasse o seu mundo estava bom.
Klaus lhe ensinava um pouco de tudo, desde Adivinhação, Herbologia até Defesa contra as artes das trevas e a própria Arte das trevas. Ultimamente Lucca estava aprendendo Oclumencia. Felizmente nenhuma lembrança que Klaus visse seria um problema para Lucca, já que todas elas eram sobre a escola trouxa - que Klaus não se interessava nem um pouco - e nas fugas que todo ano eles faziam. As vezes, Lucca fugia das ‘detenções’ que são, basicamente, o motivo que Klaus acha para torturar o garoto. Porém, Lucca parou de tentar fugir, pois qualquer plano durante uma sessão de oclumencia seria descoberto facilmente.
No fim de toda aula ele ficava exausto, mas não podia reclamar afinal era exatamente disso que Klaus gostava... Vê-lo fraco, acabado.
Lucca se aproximava da casa com a sombra de um sorriso no rosto, mas Klaus não podia saber que ele estava gostando de aprender oclumencia.
Do jeito que o bruxo é, seria bem provável que Klaus parasse as aulas, e ensinaria feitiços inúteis, só para deixar Lucca irritado.
Teve uma vez em que Lucca ficou curioso, para saber com era possível praticar magia fora das escolas, e perguntou isso ao Klaus, mas como devia esperar, Klaus odiou ser perguntado sobre isso. Lucca tentou praticar um feitiço fora da casa, e logicamente, foi um desastre total assim que ele puxou a varinha Klaus o estuporou. Lucca, que era mais novo ficou dolorido por vários dias.
Klaus, para não correr mais risco, concluiu que era melhor explicá-lo.
Todos os anos, Klaus lança um feitiço poderoso na casa para que, um menor de idade possa fazer magia, sem ser rastreado pelo ministério.
Porém o feitiço só dura um ano exato, e por esse motivo Klaus e Lucca sempre mudavam de casa. Lucca mudava também todo ano de escola, para não levantar suspeitas entre os professores e alunos.
Lucca abriu a porta de casa e entrou quieto. Logo viu Klaus sentado em sua cadeira, lendo um livro muito grosso. Ele olhou secamente para Lucca e disse voltando para o livro.
- Está atrasado, e eu com fome. Seja rápido.
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