Eu também te amo.



"Ela morreu" Sussurrou num tom baixo, sem esperança, num som quase que de morte.


 


As lágrimas só vieram quando a realidade veio à tona, quando ele procurou sua mão e não a encontrou, então aquelas traiçoeiras gotas que deduravam a tristeza rolaram pelos seus olhos declarando que aquele era um fim do início de uma história de amor.


 


Harry passou o braço sob o ruivo que agora já soluçava entre os intervalos das lágrimas, o garoto de óculos não estava menos conformado, mas sabia que a dor maior ali era de Ron, havia acabado de ganha-lá e perdera entre seus próprios braços, mas o pior é que jogava sobre seus, agora, frágeis ombros aquela culpa de uma morte, a culpa de sua amada, uma culpa, que, na verdade não pertencia a Ronald.


 


Na cama ao lado um cobertor cobria o corpo de Hermione aumentando a dor e angustia de Ron, seus olhos se desviaram para que não visse tal cena, agora olhava para a parede, contava as tábuas velhas que estavam fixadas com pregos enferrujados, não seguiam um padrão normal. Aquelas tábuas perfuradas e velhas Ron julgava ser semelhantes ao seu coração, que estava completamente destruído.


 


“Vamos falar com George, ele vai saber o que fazer.” Falou Harry devagar.


 


Os dois jovens se levantaram da cama na qual estavam sentados. Os barulhos vindos da cozinha denunciavam George, então não foi uma tarefa difícil procurá-lo. Harry e Ron pararam ao lado da mesa. O Garoto moreno de óculos limpou a garganta chamando a atenção do irmão mais velho de Ronald, o mesmo se virou e ficou olhando como se procurasse alguma coisa.


 


“Cadê Hermione?” Perguntou George com cautela.


 


O rosto de Ronald se contorceu num a expressão de dor, lutou contra as lágrimas que de novo queriam invadir seus olhos, porém, desta vez elas foram evitadas. Harry respirou fundo e procurou forças para responder.


“Ela não agüentou.” Disse Harry num tom melancólico.


 


George esbugalhou os olhos em horror e percebeu como Rony reagiu as palavras de Harry. Para ele foram como navalhas perfurando e arrebentando ainda mais seu coração, que estava frágil. O irmão mais velho envolveu Ronald num abraço fraternal, ficaram ali por um minuto e Harry se concentrava em não chorar, seus lábios estavam apertados em uma linha e seus olhos se projetavam para dentro das pálpebras. A dor o afetava tanto quando Ron, mas era diferente.


“Bom d...” Gina adentrou na cozinha mas se interrompeu ao ver o irmão chorando. “O que aconteceu com Rony, Harry?” Tentou ser pacifica até perceber a aflição que Harry estampava nos olhos.


 


“Hermione...Não agüentou. Ela morreu.” Era a primeira vez que falava aquilo com todas as letras, doeu mais do que o esperado. Eram como se aquelas palavras o jogassem na realidade, que não era nada confortante.


 


Harry envolveu a cintura de Gina com seus braços e apoiou sua cabeça em seu ombro franzino, permitiu que suas lágrimas escorressem por sua face. Gina não foi diferente, sentiu a dor vinda de Harry e aquilo a machucava, além da morte de Hermione, todos estavam sentindo isso, obviamente.


 


Então foi isso, aquela pequena família havia acabado de perder mais um membro. Perder alguém era como perder um braço ou qualquer outro órgão do corpo que fizesse falta. Todos eles ali sentiam aquilo, sentiam a dor de perder alguém que, não merecia morrer, alguém que tivera sonhos interrompidos, planos quebrados por uma morte inesperada. E céus, só eles sabiam como aquilo doía.


 


Ouviram um vento mais forte rodopiar a casa, era um barulho familiar, sabiam muito bem o que era aquilo. Todos limparam seus olhos que agora estavam vermelhos e se prepararam para receber Molly Weasley.


“Desculpem a demora crianças.” Disse Molly ao entrar na casa num tom casual forçado.


 


“Tudo bem, mãe.” Disse George, se mantendo firme. “E Fred?” Disse ele num tom de melancolia.


 


“Foi enterrado no cemitério de Godric’s Hollow junto com os outros. Sinto não terem chamado vocês para o enterro, achei que estariam descansando.” Ela falou contendo a dor em sua voz.


 


“Esta tudo bem, depois iremos lá para dar um adeus.” Disse Gina dando um sorriso triste.


 


Molly retribuiu o sorriso com outro mais forçado ainda, pôs se a procurar alguém que não estava ali, nem nunca mais estaria.


 


“Cadê a...” Iniciou a frase, mas não teve a oportunidade de terminar.


 


“Ela morreu.” Disse Rony num tom dolorido.


 


Molly cobriu a boca com as mãos e procurou uma cadeira para se sentar. Harry, que envolvia Gina com um dos braços, começou a contar o que tinha ocorrido. Rony parecia não fazer parte daquilo ali, estava alienado, como se estivesse em outro mundo e estava mesmo. Estava se lembrando do que Harry havia contado sobre sua batalha na Floresta proibida com Voldemort, então seus olhos brilharam, um brilho lunático e horrível.


 


Ronald se dirigiu a porta mancando, não deixaria que uma perna quebrada o impedisse de fazer qualquer coisa.


“Ron, aonde você vai?” Perguntou Molly preocupada.


 


“Vou tomar um ar, já volto, mãe. Preciso de um tempo sozinho.” Disse Ron uma mentirada camuflada de dor.


 


Assim que o garoto abriu a porta, uma lufada de ar o pegou de surpresa, tremeu mas a encarou. A Vassoura de sua mãe estava ao lado da porta, o que facilitou as coisas. Ajeitou-a na posição habitual e passou sua perna enfaixada por cima da mesma.  Sabia muito bem como fazer aquilo, então com um impulso da perna boa levantou vôo em direção a Hogwarts.


 


Hogwarts estava à mesma coisa de antes. Destruída. Mas não era bem lá que Ron queria chegar. Pousou a vassoura na entrada da Floresta proibida. Desceu da vassoura e pulando sob sua perna boa adentrou por entre as árvores que estavam aglomeradas. Fechou os olhos se lembrando das palavras de Harry. Onde ele tinha aberto o pomo de ouro? As palavras se derramaram em sua mente, então ele sabia exatamente aonde ir. O caminho foi difícil, o terreno era bem irregular e a cada passo era um tombo, mas depois de algum tempo atingiu uma pequena clareira, o sol adentrava timidamente pelos galhos de arvores que tinham o triplo do tamanho de Ronald, talvez até mais. O jovem se abaixou e pôs suas mãos para tatear o chão. Queria aquela pedra, aquilo poderia salvar Mione, era arriscado, mas para salva-la qualquer tentativa era válida.


 


O relógio estava passando na casa dos Weasley e nada de Ron aparecer. Molly já estava ficando preocupada.


 


No mundo da magia esse negócio de morte não tinha toda uma burocracia, então George havia saído com Gina para Godric Hollow levanto o corpo de Mione. Enquanto Harry fazia companhia a Molly e esperava Ron voltar. Mas ele não voltou, tinha se passado mais de uma hora.


“Harry, querido, se importa em ir procurar Ron. Estou ficando preocupada.” Disse Molly num tom baixo, porém audível.


 


Harry estava devastado demais pra falar novamente, então assentiu e saiu pela porta atrás de Ronald, sem saber que ele estava muito longe dali.


 


Os olhos do ruivo estavam começando a lacrimejar quando sua mão tocou algo pequeno, uma pequena pedra escura, continha o símbolo das Relíquias da Morte, então um sorriso triste abriu por seu rosto. Levantou-se com dificuldade e seguiu pulando para fora dali, outro demorado trajeto.


 


A vassoura estava no mesmo lugar, fez o mesmo processo que havia feito antes de sair de casa. Levantou vôo segurando firme a pedra em uma de suas mãos. O trajeto até a casa pareceu ser mais longo, quando aterrissou ao lado da porta não viu o carro no qual tinha vindo, um toque de medo tocou-lhe, talvez já tivessem levado-a dali. Encostou a vassoura na porta, era estranho, parecia que a casa estava vazia. Abriu a porta que estava apenas encostada e quando foi dar um passo caiu.


 


“Ai!” Exclamou Rony deitado ao chão.


 


“Filho!?” Exclamou Molly levantando-se da cadeira e auxiliando Ronald a se levantar. “Onde você esteve? Porque demorou?” Molly começou seu questionário habitual.


 


“Estava ali fora, precisava de um tempo sozinho. Cadê os outros” Indagou Ronald tentando não parece apavorado.


 


“Harry foi atrás de você, Gina e Fred foram a Godric’s Hollow.” Disse Molly tentando evitar o nome de Hermione.


 


“NÃO!” Gritou Rony expondo seu desespero.


 


Molly se assustou, mas não recuou. Agora estavam ambos sentados na cozinha novamente.


 


“Ron, calma, nós já vamos também, eles vão voltar para nos buscar.” Ela falou tentando parecer compreensiva.


 


“Não achei Ron...” Disse Harry adentrando a casa. “Onde você se meteu Ron? Te procurei todo canto!” Exclamou Harry, preocupado.


 


“Não é isso mãe, eu preciso vê-la, você não entende!” Exclamou Ron ignorando a pergunta de Harry e se pondo de pé novamente. A pedra permanecia em sua mão, que a essa altura já emitia gotículas de suor pela pressão que ele fazia, mas não deixou-se vacilar por nenhum minuto, era a única esperança que Hermione tinha.


 


“Ronald! Onde você esta indo!?” Perguntou Molly aflita.


 


Ela foi ignorada. Harry o seguiu e segurou um de seus braços.


 


“Harry me deixe ir, por favor!” Exclamou num tom de suplica. “Por favor, Harry, não posso deixá-la. Eu a amava e agora, por negligencia minha ela esta morta. Deixe-me ao menos dizer adeus. Por favor.” Completou Rony aflito já com lágrimas nos olhos.


 


Harry se manteve firme, porém se deixava rastejar por Rony que mancava com determinação até a porta.


 


“Rony você não esta em condição de ir a lugar nenhum. George virá nos buscar, pare de com isso, vai ficar tudo bem. Nós vamos ver Mione, só não agora.” Disse Harry sentindo algumas lágrimas brotarem no canto de seus olhos, ver seu amigo daquele estado por causa de sua melhor amiga morta não era nada bom, era horrível, era como se alguém tivesse arrancado seu coração com uma faca de cozinha e logo depois pisotear sob ele.


 


Rony relaxou deixando-se atingir suas costas pelo chão. Um grito de dor estridente correu por seus lábios, não era dor física, era a dor emocional que o atingia como um balaço, talvez até pior.


 


“HERMIONE! HERMIONE!” Ele gritava histérico. Debatia-se contra os braços de Harry, mas sem abrir a mão que aprisionava a pequena pedra com um extenso poder.


 


Molly observava tudo de longe, por mais que o correto fosse confortar seu filho, apenas não conseguia, suas lágrimas a proibiam de ver qualquer coisa além de um vulto se mexendo no chão, suas pernas não a obedeciam, o maximo que conseguiu fazer foi chorar pela perda de um filho e a falta de sanidade de outro.


 


Os gritos de Rony aos poucos foram virando sussurros e então, lágrimas, lágrimas doloridas e pesarosas. Harry tinha se juntado a ele, sentado no chão com os braços envolvidos em suas pernas chorava pela falta de alguém que a pouco tempo tinha partido, mas não voltaria mais. O relógio foi correndo e a dor não diminuía, não passava, só aumentava.


 


Um ruído de algo pressionando os cascalhos pode ser ouvido de dentro da casa, era o carro estacionando. Ron sentou se e limpou suas lágrimas tentando conter-se. George abriu a porta se deparando com os dois jovens no chão e sua mãe chorando na mesa da cozinha. Gina adentrou e se abaixou ao lado de Harry envolvendo seu pescoço com seus braços, o abraço foi recíproco. George ajudou Ronald a se levantar e deu um sorriso pacifico tentando ser sincero.


 


“Mãe? Vamos?” Disse George num tom calmo forçado.


 


Molly levantou-se limpando os olhos vermelhos e dando um sorriso triste. A essa altura Harry ajudava Rony a ir para o carro enquanto Gina ia apoiar sua mãe. George esperou que todos passassem antes de fechar a casa e ir em direção ao banco do motorista do carro. O Carro levantou vôo e todos seguiram até Godric’s Hollow. Tudo lá parecia pacifico, sem ninguém, algumas luzes das casas estavam acesas, apenas algumas, mas só isso, sem ninguém nas ruas, sem nada. O carro aterrissou em uma clareira próxima do cemitério. Ronald saiu melancólico, assim como todos. Marcharam em silencio até uma pequena casa semelhante a uma capela. Dentro do recinto tocava uma música calma, nada de excepcional, no centro tinha um caixão com uma bela jovem dormindo, Hermione.


 


Ronald mancou até o caixão com dificuldade e conteve suas lágrimas. Abriu a palma de sua mão pegando a pedra e a colocando dentro da mão de Hermione. Ele então esperou. Nada. Mais um pouco. Nada. Os outros membros da família aguardavam na entrada, aparentemente não tinham percebido o pequeno ritual de Ron, se pudesse assim dizer. O tempo se passou. Nada. Seus olhos começaram a lacrimejar, segurava a mão de Hermione que continha a perda com tamanha força que, talvez, fosse capaz de machuca-lá. Deu um sobre salto ao sentir um movimento por entre seus dedos. Seus olhos, agora molhados, foram para o resto de Hermione que já não parecia mais tão pálido.


 


“Eu também te amo.” Falou Hermione num tom delicado, havia amor em sua voz, não dor.


 


Então, foi ali que se iniciou novamente uma história inacabada de amor.


 

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