Um novo começo



Era o fim, de Você-sabe-Quem, de todas as lutas, de guerreiros caídos, o fim de uma era e início de outra se assim posso dizer. Hogwarts estava em pedaços, pontes destruídas, mesas quebradas, vidros despedaçados, o estado não era bom, mas podia piorar, com certeza. Harry estava acomodado ao lado de Gina, observando um corpo em baixo de uma manta da Grifinória, o corpo inerte de Fred, a garota ruiva evitava olhar, se concentrava no pescoço de Harry, naquele cheiro que mesmo após a guerra não tinha saído dali, seus cabelos eram acariciados pelo garoto moreno de óculos numa tentativa de consola – lá. Luna estava ao lado de Neville, faziam planos para a reconstrução da escola, mais alguns alunos o ajudavam, os que não estavam machucados, claro. Estavam todos ali, com exceção de dois estudantes da Grifinória. Ronald e Hermione. Diferente do que se pensava, eles não estavam juntos, Hermione passava pelo castelo com mantas cobrindo corpos de jovens inertes, por incrível que parecesse ela estava bem, com um corte aqui e outro ali, alguns hematomas, mas nada que a impedisse de trabalhar, ao contrário de Ron, o osso de sua perna esquerda se projetava alguns centímetros para fora de sua perna com sangue coagulando em volta, Molly Weasley cuidava pessoalmente do ferimento do filho, que além da perna também tinha seu braço com um profundo corte. O ruivo emitia alguns sons desagradáveis enquanto sua mãe mexia em seu osso colocando-o no lugar, mas era só, nenhuma palavra, nenhuma lágrima, ainda estava em choque com a morte de seu irmão, o que não era fácil de se aceitar.

 


“Pronto Ron.” Disse Molly estalando um beijo na testa de seu filho. “Agora fique quieto ai, vou pedir a George que leve você, Gina, Harry e Hermione para a casa.”

"Mas e você, mãe?” Ele disse surpreendendo Molly por, enfim, ter falado.


 


“Tenho que cuidar de Remo, Fred e os outros que não sobreviveram.” Ela disse não muito feliz em responder aquilo


 


Ron torceu a boca de um jeito dolorido, parecia estar fazendo força para não chorar, sua mãe lhe deu um sorriso triste em resposta.


 


“Vai ficar tudo bem querido.” Disse ela depositando outro beijo na testa do garoto e saiu dali.


 


O ruivo encostou-se à parede e fechou os olhos bloqueando todos os pensamentos, viajou pelo escuro que suas pálpebras fechadas lhe proporcionavam, o que lhe pareceu uma eternidade. Na verdade durou apenas alguns segundos. Quando estava quase indo para a inconsciência alguém tocou seu braço. Se preparou para soltar um belo palavrão, mas se conteve ao se deparar com aqueles olhos familiares, era Hermione.


“Vamos Ron?” Ela disse num tom calmo com um sorriso triste.


 


Ronald apoiou seu pé bom no chão e se equilibrou tirando a perna esquerda da mesa que a apoiava, Harry logo estava ao seu lado passando o braço de Ron por cima de seu pescoço servindo de apoio. Deu o primeiro passo com dificuldade, então seguiu caminhada até a porta principal que estava demolida, porém, havia espaço para passagem. Todos seguiam em silêncio para fora, não tinham nada a falar, era tudo doloroso demais.


 


Para a surpresa de Ron, no gramado chamuscado, estava estacionado o carro voador de seu pai, pensara que o Salgueiro o havia destruído. Talvez fosse um novo ou a árvore havia decidido cuspi-lo. Harry ajudou Rony a se sentar no carro, então ocupou o lado do passageiro, enquanto Hermione sentava-se ao lado do jovem ruivo assim como Gina. George não tinha muita capacidade para dirigir, mas se arriscou, sua mãe havia pedido para fazer o melhor, queria tirar seus filhos daquela bagunça, poupá-los de ver tamanha desgraça, uma noite já tinha sido o suficiente.


 


O carro aterrissou suavemente ao lado da casa que parecia intacta, todos desceram em silêncio. A verdade era: ninguém estava pronto para falar ainda. Aquele era o luto deles. A porta foi aberta por George e o cheiro da casa fechada por algum tempo predominou. Harry ajudou Ron a subir e o deixou em seu quarto, Hermione estava logo atrás.


 


“Vou deixar vocês sozinhos.” Murmurou Harry quebrando o silêncio.


 


Estavam em estado de choque para protestar, então nenhum dos dois falou nada quando Harry saiu fechando a porta atrás de si. Tudo o que Hermione e Ronald fizeram por algum tempo foi se olhar, então algumas lágrimas traiçoeiras escorreram pelo canto do olho do ruivo e Hermione despertou correndo até o mesmo abraçando-o.


 


“ Ei Ron.” Disse ela num sussurro. “Vai ficar tudo bem, vai passar.”


 


Ronald parou de chorar abruptamente e se afastou da garota.


 


“Vai ficar tudo bem?” Ele disse erguendo seu tom de voz. “Meu irmão morreu e você ainda me diz que vai ficar tudo bem!?” Exclamou com raiva. “ Pois eu te digo que não vai!”


 


“Calma Ron, eu...Eu...Me desculpe, mas eu estou tão perdida quanto você, ok? Só porque você perdeu seu irmão não te da o direito de gritar comigo!” Falou Hermione com lágrimas irrompendo em seus olhos. “ Pois EU te digo uma coisa: Eu perdi meus pais, eu estou sozinha e não tenho pra onde ir, nem por isso fui rude com você.” Falou ela dando as costas para o garoto e saindo do quarto.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.